God Killer - PRIMEIRA VERSÃO

Od taemeetevil

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[CONCLUÍDO] O mundo é diferente. Os deuses agora vivem entre nós, expandindo seu poder e influência. São mu... Viac

Prólogo
Zeus
Hera
Hades
Apollo
Eclipse
Hermes
Ártemis
Moros
Iliada
Ares
Receptáculo
Destino
Memória
Tempo
Maldição
Assassino
Eternidade
Arcádia
Baco
Alma
Pothos
Epifania
Dia B
Universo
Hyun
Deus Ex Machina
Deus
Eros
Poseidon
Epilogo
Human Among Gods

Humano

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Od taemeetevil


Naquela noite sonhei com uma ilha. Me parecia familiar, mas não conseguia me lembrar de onde a conhecia, talvez de um filme, era bonita demais para ser real. Na ilha havia uma casa pequena, bem perto do mar e um homem velho numa cadeira de rodas. Ele não me viu aproximar, seus olhos estavam na água. Então sorriu como se tivesse visto alguém, olhei para trás e vi Taehyung. Ele riu se apressando em sair do mar e quando alcançou a areia suas roupas já estavam secas.

"Desculpe o atraso" ele disse, subindo os pequenos degraus até a varanda "Como está se sentindo? " Se ajoelhou ao lado do homem.

"Quero andar um pouco. Me ajude" estendeu a mão enrugada para Taehyung, o rapaz beijou sua mão e depois seu rosto.

"Você não pode mais" ele parecia a ponto de chorar "Talvez seja o momento de você ir comigo. No mar você vai viver muito melhor. " O velho tocou o rosto de Taehyung e acenou que não.

"Eu vou morrer na terra. Onde é o meu lugar. "

Houve uma longa pausa.

"Kookie-ah" Taehyung disse e achei que ele finalmente pudesse me ver e estava falando comigo, mas ele falava com o homem velho "Kookie, não. A gente não tem muito tempo, é sua única encarnação" seus olhos se encheram de lágrimas "Eu nunca mais vou te ver"

O homem velho olhou para mim e reconheci meu próprio rosto em suas feições.

Ele era eu.

Acordei e eram novamente 4:35 da manhã. Qual era meu problema com esse horário? Respirei fundo, mas a imagem de mim mesmo, velho numa cadeira de rodas, voltou como uma lembrança vivida. Parecia real. De certa forma era. Eu estava chorando antes que me desse conta. Provavelmente fora toda aquela conversa sobre Sun e a dor de Hoseok de vê-la envelhecer e morrer. Será que eu ainda teria contato com Taehyung? Seria algo muito parecido com o sonho.

Seu rosto belo e perfeito exatamente igual enquanto eu teria envelhecido e por fim morreria. Ele deve ter visto a morte muitas vezes, seus pais, irmãos, amigos, conhecidos.... Talvez seja por isso que ele disse não sentir o luto da mesma forma. Ele passou pelo luto centenas de vezes. Deitei novamente, eu podia dormir até mais tarde, mas o sono tinha me escapado. Fui até a sala arrastando meu edredom e liguei a TV, me surpreendendo ao ver meu próprio rosto na tela.

Essa era a parte da minha vida da qual não tinha me acostumado, a cobrança constante por uma resposta que eu ainda não podia dar, mas ao menos não havia paparazzis me perseguindo, apesar de tentarem constantemente saberem mais sobre minha vida.

Eu esperava que não começassem a fuçar demais.

Consegui dormir novamente quando o sol já estava nascendo, não tive sonhos ou pesadelos e senti uma paz estranha, que eu não sentia a muito tempo. Até ouvir alguém bater na minha porta. Imaginei se seria Taehyung, mas a voz chamando por mim era bem diferente.

— Filho!

"Filho? "

Minha mente demorou a processar que se tratava do meu pai, levantei no susto, tropeçando nos meus poucos móveis, recolhi o edredom e a xícara de café que deixei em cima da mesa e escondi ambos no meu quarto, fechando a porta para ter certeza que ele não iria bisbilhotar minha confusão.

— Filho?

— Só um minuto, pai — corri ao banheiro só para conferir minha cara péssima, suspirei de ter de ouvir suas reclamações sobre eu não me alimentar direito, mas não havia como escapar dessa, o máximo que pude fazer foi lavar o rosto ouvindo duas batidas impacientes na porta — Desculpe, desculpe — disse e abri a porta para ele vendo sua expressão carrancuda de sempre. — Oi, pai.

— Olá, filho — me abraçou e estranhei o ato, nem lembrava da última vez que meu pai me abraçou, mas ainda fora um abraço estranho, como se tentasse não me tocar, eu mal o encostei.

— O senhor veio sem avisar — dei espaço para que entrasse. — Não que seja um problema, mas o senhor sempre avisa e...

— Se eu lhe alertasse que viria você dispensaria seu velho pai como todas as vezes — dei um sorriso envergonhado, era bem verdade que eu evitava as visitas da família, sempre preferia ir a Busan do que deixá-los vir, porque lá eu podia mentir que minha vida era muito melhor. — Sua mãe está acompanhando tudo pela TV — se sentou na poltrona. — Seu irmão estaria orgulhoso.

"Eu não tenho tanta certeza..." Hyun era um policial muito melhor.

— Eu ainda não peguei o assassino, pai.

— Mas vai, é uma questão de tempo. Você é bom em tudo. Como seu irmão era — acenei que sim várias vezes. Nós tínhamos combinado que ele não voltaria com esse assunto, que me deixaria apenas esquecer e seguir com minha vida, mas de alguma forma, Hyun sempre seria meu fantasma. — Você tem o visto?

— Quem?

— O tal deus da água — o tom dele estava mais amargo que o usual.

Mesmo não gostando nem um pouco dos deuses, com um adendo especial para Taehyung, meu pai sempre os respeitou ou no mínimo tentava. Os tratava pelos nomes gregos, quase nunca os ofendia diretamente - a menos que meu irmão entrasse em questão - e para ser justo, ele gostava de Hoseok, já que pensou em dar a mim o nome dele. E Jimin também, já que o deus tornou Busan uma cidade-modelo desde que se tornou o patrono de lá. Busan no dia dos namorados era literalmente o lugar mais lindo do mundo.

— Eu tenho de vê-lo, pai. É parte do trabalho.

— Claro. Mas não se aproxime muito dessa gente, eles só o farão mal. Com hábitos nojentos e se relacionando entre si. Seres como eles não deveriam existir.

Aquilo fora cruel até para os seus padrões. Meu pai fazia parte da pequena parcela da população que não aceitava as mudanças feitas pelos deuses. Homossexualidade era errado e feria as leis do único e verdadeiro Deus. Deuses como Baek, dos vinhos e festas, com certeza não eram o seu tipo. Min Yoongi era o diabo disfarçado enquanto corrompia jovens.... Quanto mais eu pesquisava sobre os deuses, mas eu via pessoas pensarem assim sobre eles. Como se fossem monstros. Nos anos 80 até houve movimentos pró-expulsão, querendo-os longe das pessoas normais. Era uma sorte esse pensamento ser da minoria. E era muito azar, meu pai - mesmo que moderadamente - fazer parte dela.

— Pai — respirei fundo. — Quer alguma coisa? — desviei o assunto.

— Um pouco de café.

Café?

— Achei que não gostava.

— Aprendi a apreciar. Sua mãe aprendeu a fazer cappuccino — sorri, sentia falta dela. Segui para a cozinha para preparar a bebida.

— Como ela está?

— Cuidado das flores e mostrando suas fotos de bebê para os vizinhos — riu e eu quis esconder minha cara no pote de café. Não acredito que ela estava fazendo isso comigo. De novo! Todas as vezes que eu fazia algo significativo, minha mãe pegava o álbum de família e saia exibindo para as pessoas da floricultura. Metade de Busan já devia ter visto alguma foto minha com três anos em minha fantasia humilhante de coelho no Halloween — Como vai a investigação?

— Mal — suspirei, esperando a cafeteira resolver funcionar. — Eu não tenho prova nenhuma contra qualquer um. Só tenho meia dúzia de suspeitos que podem não ter feito nada — voltei para a sala e sentei no sofá de frente para ele, meu pai parecia um pouco diferente da última vez que o vi, talvez um pouco exausto, seus olhos tinham olheiras e parecia mais magro também — Pai, o senhor está bem?

— Sim, eu só peguei uma gripe muito forte e não me recuperei muito bem. Não precisa se preocupar, filho. Fale mais sobre o que está havendo, você nunca nos conta nada.

— É uma investigação, pai. Não é como se eu pudesse ficar falando sobre isso. Tenho que manter a parte essencial em segredo e eu já lhe disse mais do que devia.

— Não confia em seu próprio pai?

— Eu não disse que não confiava, não precisa levar para o pessoal. Deveria saber disso, o senhor era policial — calei quando ouvi batidas na porta, já estava começando a me perguntar porque tínhamos um porteiro no prédio se eu nunca recebia uma ligação do interfone para avisar sobre visitantes. — Só um minuto — me arrastei até a porta, abrindo-a e olhei incrédulo para o deus diante de mim — Taehyung?

Apesar de antes estar esperando que ele apareceria, não achei que realmente viesse.

— Percebi que está feliz em me ver — zombou.

— Você me ouviu reclamar? — ele inclinou a cabeça para o lado e deu de ombros. — Mas o que está fazendo aqui, hoje é meu dia de folga.

— Uma visita. Você parecia estranho depois do eclipse e mesmo não merecendo nem um pouco, fiquei preocupado — ele pareceu sincero, ou talvez fosse apenas um mentiroso muito bom.

— Meu pai está aqui.

— E isso é um problema?

"Devo citar os problemas em ordem alfabética ou cronológica? "

— É o deus da água? — meu pai falou, caminhando até a porta, logo atrás de mim. Respirei fundo. Isso não acabaria bem de nenhuma forma.

— Kim Taehyung — disse, estendendo a mão para o meu pai que não aceitou o aperto. Eu nunca o vira ser tão rude, nem com pessoas que ele não gostava. Lembro que nós tínhamos um vizinho detestável que ele até se esforçava para fingir gostar e agora estava agindo daquela maneira com Taehyung. Meu pai deu as costas e voltou para a sala.

— Talvez não seja uma boa ide... — antes que eu pudesse dispensá-lo, Taehyung me empurrou para o lado e entrou assim como Yoongi fez no outro dia. Será que ninguém nunca vai me respeitar? Suspirei, voltando para a cozinha e enchi as canecas de café colocando um pouco menos para o meu pai. Ainda estava descrente dele começar a gostar de café sendo que da última vez que fui a Busan ele até reclamou do meu consumo excessivo. — Aqui, pai — lhe entreguei a xícara, mas quando sua mão encostou rapidamente na minha, senti algo estranho. Como algo comprimindo meu peito e pressionando meus ombros pra baixo.

— O que veio fazer visitando meu filho?

— O senhor tem algo contra visitas?

— Numa investigação onde o senhor é um dos suspeitos, você não deveria estar aqui — os dois seguiram olhando um para o outro. Meu pai num ódio claro, enquanto Taehyung parecia inabalável como uma montanha. — Não importa se ele era seu irmão, você poderia muito bem tê-lo assassinado.

Os olhos do deus se estreitaram, o dedo indicador sobre seus lábios ia de um lado para o outro.

— O senhor era policial, certo?

— Sim, me aposentei há alguns anos.

— E fez Jungkook ser também?

Eu não sabia onde Taehyung estava querendo chegar, lancei um olhar questionador que foi brutalmente ignorado.

— Ele fez porque queria. Era o sonho dele.

— O sonho dele? Por que eu não acredito nisso?

— O que está tentando insinuar? — senti o peso nos meus ombros ficar mais forte, me remexi tentando me livrar da sensação. — Há quanto tempo conhece meu filho? Duas semanas? Talvez menos. E age como se o conhecesse a vida toda e soubesse os seus sonhos, sendo que não sabe sequer o que acontece em seu próprio território.

— O oceano é o meu território e eu sei tudo que ocorre nos oceanos.

— Realmente sabe?

— Pai... — alertei-o, a sensação incômoda arrastou-se pelos meus braços, o aperto em meu peito sufocando-me.

— Claro que sei, cada pequena forma de vida no mar está sob minha proteção.

— E mesmo assim...

— Pai! Já chega! — minha voz soou trêmula, os dois ao menos se calaram. — Chega dessa conversa. Vamos sair, ok? Essa casa está me sufocando — me apressei em direção ao quarto, meu corpo pesando ainda mais, assim como meus olhos. Fechei a porta, tentando respirar corretamente, mas o ar se recusava a entrar nos meus pulmões. Era a mesma sensação estranha que senti na casa de Min Yoongi. "De novo não, de novo não...". Por que isso estava acontecendo?

Minha mão se fechou em volta do punho da espada, recuei para longe da porta, indo para mais junto da janela. Porque aquela espada havia voltado? A lâmina emitiu um brilho dourado mais forte nas runas incrustadas.

— Taehyung... — minha voz saiu como um murmúrio. — Taehyung! — gritei mais alto, minha voz soou trêmula, assim como estavam minhas mãos.

Ele abriu a porta, olhando primeiro para o meu rosto e em seguida para a espada.

— Você quer me matar, garoto? — Mesmo zombando, havia medo nos olhos dele.

— N-Não — apertei os olhos, vendo exatamente quem eu deveria matar. — Meu pai — choraminguei. — Ela quer que eu mate meu pai.

Taehyung entrou no quarto e fechou a porta.

— Ok, onde está seu celular? — indiquei com a cabeça na direção da pequena mesa de cabeceira. — Preciso ligar para alguém — disse e em seguida colocou a chamada no viva-voz, apoiando o celular na cama. A pessoa atendeu após o terceiro toque.

"Filho? "

— M-Mãe — eu não estava esperando por isso, achei que ele ligaria para Hoseok ou talvez Yoongi.

— Pergunte por ele — Taehyung sussurrou.

— Mãe, cadê o papai?

— Seu pai? Ele está aqui, querido. — senti meu peito afundar. — Ele ficou meio doente esses dias, está de cama, não queríamos atrapalhar sua investigação e...

— Mãe, eu ligo daqui a pouco. Aconteceu algo no distrito.

— Oh, claro. Tudo bem, querido — e ela finalizou a ligação logo em seguida.

— Se aquele não é meu pai.... Quem está lá na sala? — Taehyung tirou algo do bolso, observei incrédulo quando de um segundo para outro ele segurava um tridente, reluzindo em ouro maciço. Era assustador vê-lo com aquilo, mesmo sendo a arma do deus dos mares.

— Eu vou primeiro, você vem em seguida e mata aquela coisa.

Matar?

— Matar o meu pai?

— Não é o seu pai.

— Mas tem a cara dele! — rebati num sussurro raivoso, mesmo não sendo meu pai, eu nunca sequer tive de atirar em alguém alguma vez, quanto mais atravessar uma espada no peito de uma pessoa ou coisa que tinha a aparência do meu pai.

— Filho? — O punho da espada esquentou e ergui a arma. — Filho, onde você está? — Taehyung voltou-se para a porta, segurando a maçaneta. — Você já descobriu — a voz não mudou realmente, mas podia sentir que não era meu pai falando ali — Me entregue a espada, Jungkook.

— Quem é você? — Taehyung perguntou, afastando a mão da maçaneta — Você não é um deus, eu saberia se fosse.

— Não sou. Mas um deus é o meu mestre.

— Diga um nome! Quem é o seu mestre? — me aproximei devagar, temendo o que poderia encontrar do outro lado — Me dê um nome!

— Kim... — sussurrou, e riu — Taehyung — o deus abriu a porta num rompante de ódio, mas não havia nada do outro lado. O segui, buscando algum rastro, com a maldita espada servindo de escudo e arma ao mesmo tempo. Seja lá o que aquilo fosse tinha desaparecido, porém deixou um possível rastro para trás. Larguei a espada, e antes de sequer alcançar o chão, ela tinha sumido.

— Você vê? — Taehyung se ajoelhou diante da poltrona e me indicou os finos fios presos a ela, eles brilhavam contra a luz, tão finos quanto fios de cabelo. — São fios de prata. Foi como ele conseguiu enganar você, atou seu pai a um fio de prata, por isso uma cópia tão convincente.

— O que é isso? O que esses fios fazem?

— O termo original é bíblico, mas o ritual vem de uma cerimônia bem mais antiga. Quando a alma humana deixa o corpo, para que um espírito bom ou ruim possa usá-lo. Espíritos não têm forma física, então precisam se atar a uma alma, por isso usam fio de prata. Sua mãe disse que seu pai estava doente, provavelmente foi o espírito que causou. Uma cópia tão boa iria usar muita energia vital. Foi sorte ele não usar o corpo do seu pai realmente, o processo de "possessão" envenena o corpo mortal. O teria matado.

Possessão? Como se deuses encarnados em humanos já não fosse insano o suficiente, agora haviam demônios também.

— Aquilo poderia matar Namjoon?

— Não. Eles não têm poder suficiente, não consigo entender porque o espírito que esteve aqui iria querer a espada. Talvez queira levar ao dito mestre, não tem como saber.

Assenti uma porção de vezes, tentando assimilar tudo que ouvi.

— Ele falava coisas que meu pai não dizia. Mas ainda parecia ele...

— As cópias são boas, mas não totalmente fiéis — Taehyung ainda estava com raiva, era bem óbvio em seu olhar, mas podia vez certa fascinação ao olhar os fios. Reparei que o tridente tinha desaparecido também. — Faz séculos desde que vi algo assim — sussurrou para si — Foi em Constantinopla, talvez? Yoongi provavelmente sab...

— Ele falou seu nome — lembrei-o, tirando de seus pensamentos. — Você pediu o nome do mestre e ele disse o seu.

— E você acredita nele?

— Você é um suspeito e aquela coisa disse seu nome, eu não posso ignorar isso!

— Então você acha que aquela coisa iria me entregar se eu fosse o assassino e mestre dele?

— Não sei, nada nessa merda faz algum sentido! — Eu não conseguia não gritar, minha voz saia mais alta como se eu não tivesse poder nenhum sobre meu corpo. — Aquela coisa veio aqui e parecia o meu pai e agia como meu pai. Eu não tinha nenhuma razão para duvidar ser ele até descobrir que era um espírito ou demônio ou qualquer outra aberração divina. Toda essa droga de deuses! Essas coisas não deviam existir!

— Eu estou incluído nas aberrações divinas? Nas coisas que não deviam existir? — se levantou, ficando de frente para mim. — Eu também sou uma aberração, Jungkook? Se eu não estivesse aqui aquilo teria te matado!

— Se deuses não existissem eu não teria de me preocupar com o espírito tentando me matar, porque ele também não existiria! — me arrependi do que disse no momento que calei. Na verdade, já estava arrependido quando abri a boca, mas fui burro o bastante para falar mesmo assim. — Taehyung...

— Não. Acho que aquele espírito estava certo, eu não devia ficar perto do policial que investiga um assassinato em que eu sou um óbvio suspeito, certo? — se adiantou em direção a porta. — Eu lamento muito se minha existência é um problema para você, mas eu não posso fazer nada a respeito disso.

— Eu não quis dizer que era um problema, eu estou nervoso e com raiva, simplesmente...

— Escapou — completou por mim. — Eu entendo. Você sempre disse que não dava a mínima para deuses e para o que éramos e não sei exatamente o que eu tentei buscar de diferente. Eu sou um suspeito, você é o policial, vamos ficar assim, certo?

— Taehyung, eu sinto muito — ele não parecia com tanta raiva assim nem mesmo quando tentou me ameaçar na casa de Yoongi. — Eu não quis dizer aquilo, me deixa... — cortou meu discurso, olhando-me uma última vez.

— Vá para Busan. Seu pai provavelmente está precisando de você.

E se foi, batendo a porta com tanta força que fez os quadros estremeceram nas paredes.

+++

Eu consegui pegar o trem de meio-dia para Busan, o horário não era bom especialmente num domingo, mas ver pessoas me distraiu da bagunça da minha mente. Taehyung saiu da minha casa e precisou de menos que uma hora para aparecer na TV que o rio seria interditado mais uma vez e metade dos portos do país foram fechados pelo agitamento estranho do mar. Não esperava que ele fosse ficar com tanta raiva, porém depois de chamá-lo de aberração, aquilo era o mínimo.

Eu estava tentando ver um lado positivo na situação, o fato dele se afastar por conta própria já me poupava o problema de ter de explicar meu desejo de seguir sozinho com a investigação. Mas entrava o porém de que eu não queria realmente cuidar disso sozinho. Eu tinha me acostumado a um parceiro - ou eu ser o parceiro dele - e assumir a dianteira da investigação me deixava inseguro.

— Eu realmente não devia ser policial — murmurei para mim mesmo, com a cabeça apoiada na janela vendo a paisagem passar rapidamente. Hyun estaria decepcionado, não orgulhoso. Na verdade, ele estaria bem triste se pudesse ver a droga da minha vida. Ele era um bom policial, tinha uma casa bacana com a namorada, fazia faculdade, era legal com as pessoas, tinha amigos e todo mundo que o conhecia, o adorava. Ele era perfeito. E quando ele se foi, por minha causa, senti que eu deveria preencher o vazio que ele deixou.

No todo eu era um policial ruim, com um apartamento horrível, que inventava a intervalos esporádicos uma namorada nova que eu nunca apresentava aos meus pais, já que ela nem existia, não fiz faculdade e também não tinha amigos já que era tímido demais para interagir com alguém. Se restou algum deus nos céus para nos olhar do alto de toda sua glória, eu provavelmente era a piada favorita dele.

Fechei os olhos quando me aproximei da estação e só os abri novamente quando as portas da locomotiva se abriram, saindo sem vontade nenhuma, segui alguns metros adiante até ver Jimin, sorrindo num dos painéis de led.

"Dia 14 é o "Dia Amarelo", lembre-se de dar rosas a quem você ama" ele sorria segurando uma rosa amarela. O aviso se foi, formando outro "A guarda costeira adverte para evitarem as praias e passeios de barco. " E lá estava a imagem de Taehyung triste, as lágrimas desenhadas escorriam e formavam um pequeno mar revolto, a animação se repetia várias vezes. Eu sabia que faziam isso para ser divertido, mas me fez sentir pior. Eu evitaria olhar todas as telas de led dali até em casa.

(...)

— Filho, você veio mesmo! — Minha mãe estava em êxtase por ver sua única cria ingrata diante da porta, ela me encheu de abraços antes de me puxar para dentro. — Achei que você não poderia vir, com tudo isso de investigação, seu pai está tão feliz por ver seu progresso.

— Como ele está?

— Muito bem, ele melhorou muito logo depois da ligação. Ele está na cozinha — ela tirou minha mochila e levou para o meu antigo quarto. Segui para a cozinha, meu pai tomava em silêncio sua não-tão-boa sopa de algas, já que ele mesmo fazia questão de preparar.

— Oi, pai.

— Finalmente veio até aqui — resmungou. — Sente, pegue um pouco de sopa.

— Na verdade... — era bom fazer um teste. — Eu queria um pouco de café — ele fez uma careta.

— Você vive de café, aquela porcaria. Por isso que você não dorme direito — parecia realmente ele. Me aproximei, abraçando-o, desajeitado — O que houve? — afastei para o olhar para o seu rosto, muito mais saudável do que a versão criada pela criatura. Meu pai era um homem velho em idade, meu irmão tinha 18 anos quando nasci e meu pai já bem passava dos 30 na época, entretanto ele nunca pareceu ser idoso ou algo assim. Eu devia ter notado a diferença, porém eu não sabia que coisas daquele tipo eram possíveis.

— Nada. Só estou feliz em te ver, pai — ele sorriu, bagunçando meu cabelo como fazia quando eu era criança.

— Como está sendo a investigação? E lidar com os deuses? Você viu Apollo? — Vê-lo chamar Hoseok dessa forma fora um pouco engraçado.

— Sim. E Jimin também. — arregalou os olhos e acenou satisfeito.

— A floricultura está indo muito bem desde que ele se tornou patrono, as pessoas estão mais românticas. Busan devia lhe dar logo a posse da cidade, quase não há crimes. Criar seus filhos aqui vai ser ótimo — "Filhos? " — E como vai sua namorada?

— Então... ela terminou comigo — menti. — Mas, tá tudo bem. Eu tenho muito que me ocupar com a investigação.

— Como assim o que houve?

— Ah, não estava dando certo. Eu fico ocupado e não a via muito, ela não aguentava mais — minha cara de pau estava quase me surpreendendo. Eu não um mentiroso excepcional, porém o discurso foi convincente. — Acho que foi o melhor.

— Você está bem?

— Claro, pai. Eu vou conhecer outra pessoa.

Encerrei o assunto com um sorriso estranho. Quando essa investigação acabasse eu teria de dar um jeito em minha vida amorosa. E financeira. E psicológica também já que duvido que minha mente terminará em bom estado depois dos deuses e demônios.

— Eu vi na TV o tal Kyungsoo dizer que Poseidon era o novo líder dos deuses — puxei a cadeira ao seu lado e me sentei, meu pai voltou a tomar sua sopa e aguardei, já sabendo que ele tinha mais a dizer — Não acho que foi Taehyung.

— O que? — Só o fato de meu pai falar o nome dele e não seu nome divino já era surpreendente o bastante.

— O assassino. Você bem sabe que ele não é meu deus favorito, depois do que houve ao seu irmão eu nunca mais pude ver o mar da mesma forma — deu um longo suspiro. — Não consigo acreditar que ele seria tão perverso a ponto de matar o próprio irmão, posso não gostar tanto de deuses, mas acredito que ele seja melhor que isso. Ele foi bom em trazer o corpo de Hyun de volta e...

— Espera — cortei sua fala diante da nova informação. — Como assim trazer de volta?

Falar sobre meu irmão sempre fora um problema. Foram meses - logo após o acidente - até pararem os pesadelos, mais alguns anos de terapia e mesmo assim eu nunca superei o medo da água - quase fui rejeitado na corporação por esse fato em especial - e nunca consegui me livrar da ideia de que a culpa era minha.

Os pesadelos se foram, mas o trauma nunca foi embora. Nos anos seguintes nós falávamos de tudo sobre meu irmão, porém nunca sobre como ele morreu e na época eu tinha seis anos, não me lembrava com exatidão como o corpo chegou a nós. Eu já vira alguns mortos por afogamento, não era uma cena bonita. O corpo incha e o processo de decomposição já estava iniciado na maioria das vezes, porém eu lembrava do velório e Hyun não parecia assim. Talvez Taehyung tenha feito algo, para não deteriorar o corpo dele.

Respirei fundo, eu já tinha chorado por isso vezes demais e ficar emocionado só faria meu pai se calar.

— Você era muito pequeno para se lembrar. Mas depois do acidente ele trouxe o seu irmão. Sua mãe que o recebeu, eu estava com tanta raiva.... Se ele sabia tudo que acontecia no mar, porque não poderia salvar o Hyun? Se tinha o poder de fazer alguma coisa, porque não o fez? Sua mãe aceitou as desculpas dele, chorou dias com a carta que ele enviou depois.

— Ele nos mandou uma carta? — assentiu, respirou fundo, passando a mão pelos cabelos brancos.

— Ele não falou sobre isso com você? — neguei. — Acho que ele não lembra. E você não o viu de qualquer maneira, não tinha mesmo porque associar Hyun a você.

Ele levantou-se levando o bowl, com o restante da sopa que não havia tomado, e colocou na pia. Reparei naquele momento em minha mãe parada junto à entrada da cozinha. Meu pai voltou, puxando a cadeira para sentar mais perto de mim.

— O mar podia ter levado os dois, mas você conseguiu sobreviver. Às vezes eu penso se ele te ajudou. Poseidon. Você tinha acabado de fazer seis anos, sozinho na água, seu avô disse que não conseguia ver nenhum dos dois, mesmo estando num barco pequeno e próximo, mas os homens num navio te acharam.

— Eu já estava perto do porto, a tempestade tinha amenizado, era mais fácil para eles me verem — lembrei-o desse fato em específico que acabou salvando minha vida. Se eu tivesse ficado um pouco mais a deriva com certeza não teria me salvado.

Eu tinha a lembrança bem vaga. Das ondas que me arrastavam para baixo e eu constantemente me desesperar por não alcançar o fundo, minha mente infantil se recusando a aceitar que eu estava em alto-mar, lembrava de Hyun gritar para que eu segurasse a corda do barco, mas eu não conseguia alcançá-la. Ainda tinha a imagem do momento que a água me puxou para mais longe, me soltando da mão dele e Hyun escolheu largar a corda para me salvar. Eu afundei e emergi. Meu irmão afundou e não voltou mais.

— O porto estava a quilômetros e a correnteza te levou para lá. Vivo. Poseidon pode não ser meu deus favorito, pelo que houve ao seu irmão, mas quero acreditar que ele poupou você.

Ouvir aquilo tudo só me fez sentir pior por ter gritado com Taehyung e dito todas aquelas coisas horríveis. Nunca tive raiva de Poseidon por causa do meu irmão, eu realmente nunca dei importância a deuses na minha vida pois estava muito ocupado em tapar o buraco deixado por Hyun. Tentar ser bom como ele me dava um motivo para ir adiante.

— Mãe?

— Sim — ela deu um meio sorriso triste, enquanto ainda olhava para nós dois.

— Você ainda tem a carta?

Pokračovať v čítaní

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