Moros

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O mar estava calmo, mas o céu estava escuro como numa tempestade. Os barcos rapidamente enchendo de pessoas com rostos pintados de vermelho, roxo e verde, balançando grandes bandeiras nórdicas com símbolos que não pude ver a distância, cambistas gritavam o tempo todo anunciando ingressos para o show no mar e para a transmissão fechada, seja lá o que isso queria dizer.

"Encerra hoje! Yifan, Yixing e Tao, a trindade nórdica se enfrenta no grande campeonato, não percam a chance de assistir. "

"Combo família por 50 mil wons"

"Barcos para Jeju saem às oito! " consegui ouvir por cima da gritaria de pessoas eufóricas e vendedores. Ainda eram seis e meia então eu tinha algum tempo para apreciar a confusão de pessoas e me preparar psicologicamente para entrar num barco após tantos anos. Se eu já não estivesse tão longe de Seul, teria retornado.

"São só algumas horas num barco, vai dar tudo certo. Tudo certo" estava tentando me convencer. Abri um dos botões da camisa, tentando sentir melhor a brisa marítima. Não era tão ruim quanto me lembrava.

— Garoto, ei garoto! — demorei a notar que o rapaz falava comigo, a cara pintada de três cores dificultava em identificar seu rosto, porém era óbvio ser jovem, talvez da minha idade ou um pouco menos. — E aí, está afim de ingressos? — balançou os bilhetes que brilhavam como folhas de ouro contra a luz do sol.

— O que é isso? — perguntei, o rapaz me olhou como se eu fosse um alien, às vezes me sentia ridículo por ser tão fora deste mundo. Parecia que todos sabiam tudo sobre deuses enquanto eu era o único ignorante do país.

— São os jogos nórdicos. A olimpíada dos deuses, semifinal entre Odin, Thor e Loki. Loki é o favorito se quiser apostar — me mostrou uma planilha onde anotava as apostas, havia fotos dos três deuses, olhei qual deles era Loki e havia um rapaz de cabelos pretos e sorriso largo, abaixo estava seu nome humano: Yixing. — Eu apostaria no Yifan, ele é Odin, nunca perdeu nenhuma edição que competiu. Mas Yixing é dos bons.

— Eu não vim para as olimpíadas — expliquei. — Só vou à ilha — o garoto apontou para mim como se estivesse compreendendo o que eu ia fazer e sorriu. Tentei não rir do fato de até seus dentes estarem sujos de tinta.

— Você é um dos que vai procurar a casa do Destino, certo?

Essa era uma das poucas histórias que eu conhecia, já que todos da minha família me falaram sobre ela. Para resumir, havia uma lenda de que o próprio Destino encarnou como humano e sua casa era em Jeju. Ninguém nunca encontrou a verdadeira casa - muito menos o Destino - mesmo vasculhando toda a ilha, mas havia o complemento de que, se você fosse com alguém durante a busca, ou encontrasse uma pessoa enquanto procurava, essa pessoa estaria de alguma forma destinada a você. Meu avô foi um dos que procurou pela tal casa quando conheceu minha avó. Minha mãe encontrou meu pai da mesma forma. Eu não acreditava em nada disso, mas para eles deu certo, apesar de tudo.

— Não. Eu vou apenas procurar um... amigo.

— Se ele for apenas um amigo é melhor não o encontrar. Ele estará destinado a você.

— Isso não é válido somente para quem procura a casa?

— Não. Pelo menos não foi como me contaram. Encontrar alguém em Jeju quer dizer que ela é seu destino. — A parte ruim de lendas, é a variedade de versões. — Foi assim com minha irmã.

— Destino não quer dizer que as pessoas têm de ficar juntas, isso é muito vago.

— Verdade — ele assentiu uma porção de vezes. — Não vai querer apostar em nada? — deu um sorriso sugestivo.

God Killer - PRIMEIRA VERSÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora