Hermes

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— A carta? Sim, eu a guardei — minha mãe saiu, indo em direção ao seu quarto. Meu pai me lançou um olhar questionador.

— Por que nunca me falaram sobre isso antes? — perguntei, ele deu de ombros.

— Nunca importou. Você já tinha sofrido o suficiente por todos esses anos e passou tanto tempo, eu nem me lembrava dela — assenti, fazia algum sentido, mas eu ainda me sentia mal por não saber da carta antes. Talvez eu tivesse me importado com os deuses antes ou no mínimo me adaptaria melhor a eles. Não seria um mundo completamente novo para mim.

Eu não teria raiva de Taehyung por saber de sua pequena aproximação através da carta. Na verdade, nunca tive, mesmo no começo, quando meu pai o acusava. Sempre me vi muito mais como culpado do que qualquer força divina. Eu que insisti para pescarmos com nosso avô e Hyun foi porque era meu aniversário e ele só teria aquele fim de semana em Busan antes de se mudar oficialmente para Seul. A vida dele iria mudar para melhor e eu arruinei tudo.

— Não foi culpa sua — meu pai disse como se pudesse ler meus pensamentos. — Poseidon mandou a tempestade, não você. Quando o alerta da guarda costeira foi emitido, vocês já estavam no mar há muito tempo.

— Não foi culpa de ninguém — minha mãe interrompeu, com a carta da mão. O material tinha um brilho diferente e não parecia tão velha, mas era bem provável que fosse algum tipo de magia divina para mantê-la assim. — Jungkook, você devia descansar da viagem e seu pai descansar da gripe, você ficou muito mal esses dias.

— Não fale como se eu estivesse com o pé na cova — meu pai resmungou como uma criança birrenta.

— Ora, vá logo. Vocês podem conversar mais no jantar — ri comigo mesmo, vendo-o resmungar e sair da cozinha reclamando de como ele era desrespeitado pela própria esposa na frente do filho. Minha mãe apenas riu — Não puxe novamente esse assunto — pediu. — Já houve sofrimento demais nessa casa.

— Tudo bem. Desculpe, mãe — ela se inclinou e beijou meu rosto. — Preciso dar uma olhada no Jeonghan na floricultura.

— Está aberta hoje?

— Sim, está tendo um festival. Podemos ir amanhã se quiser.

— Amanhã eu volto pra Seul. Não posso me ausentar da investigação por mais de um dia — ela assentiu.

— Sem problemas, querido — esperei ouvi-la sair de casa para dar atenção a carta, já estava começando a repensar se era uma boa ideia lê-la, contudo não iria conseguir resistir a curiosidade de saber o que Taehyung escreveu. Respirei fundo e abri de uma vez.

"Sra. Jeon.

Você provavelmente não quer saber sobre meus sentimentos a respeito do que aconteceu, mas gostaria de me explicar pelo que houve. A tempestade que chegou até seus filhos não foi iniciada por mim ou Namjoon - Zeus seria o menor dos culpados por isso já que a chuva naquela manhã sequer foi um fator tão agravante - aconteceu porque a natureza tem seu próprio curso. Porque os ventos e principalmente o mar tem seu próprio poder que não pode ser controlado, nem mesmo pelo deus dos mares. Nós somos uma força conjunta, o mar faz parte de mim e eu dele. Respeito sua força e ele respeita a minha, tem sido assim há gerações.

Como um deus, poucas vezes tive de pedir desculpas. Na verdade, durante toda minha existência - anterior a essa - não lembro de tê-lo feito. O usual é que os humanos me peçam perdão. Que ajoelhem e imploram por misericórdia. Ninguém espera o caminho inverso. Entretanto desde essa encarnação e desde que tive uma vida humana mais longa, pedidos de desculpas tornaram-se mais necessários. Então eu lhe peço perdão pela dor que lhe causei, mesmo de forma indireta.

God Killer - PRIMEIRA VERSÃOKde žijí příběhy. Začni objevovat