Zeus

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Havia uma marca no meu rosto, a cicatriz parecia antiga, como se eu tivesse há muitos anos, porém a lembrança da dor ainda estava fresca em minha mente. A dor de Seul também estava tão recente quanto. A cidade entrou em luto oficial, assim como quase toda a Coreia. Mesmo sendo primavera as flores sumiram, começou a nevar e as pontes foram fechadas porque o rio estava ameaçando as estruturas. A notícia sobre o deus assassinado se espalhou rápido e a notícia de que eu era o investigador responsável mais ainda. O telefone de casa não parava de tocar e o escritório na delegacia vivia cheio de repórteres.

A perícia não achou nada relevante.

Nenhum fio de cabelo, impressão digital, nenhuma ligação estranha, nenhuma câmera de lugar algum tinha filmado nada. Seokjin apenas disse que o marido tinha ido visitar a mãe humana e não havia voltado de manhã. A mãe do rapaz não sabia de nada, ou pelo menos não conseguiu dizer nada aceitável sem chorar querendo poder ver o rapaz novamente. Uma mãe comum imploraria aos deuses para trazer o filho de volta, mas o que fazer quando seu filho é um deus?

O corpo foi liberado pela polícia três dias depois, ninguém queria admitir, porém estavam aguardando a possibilidade de ele simplesmente ressuscitar. Deuses fazem isso, certo? Mas não aconteceu então iriam enterrá-lo. Logo depois meu trabalho iniciaria e não tinha ideia de como começar, mas os deuses irmãos se dispuseram a me ajudar, segundo o que Seokjin afirmou.

Eu precisava estudar sobre eles o quanto antes, já que o dia seguinte seria meu primeiro dia de trabalho oficial.

Aquela manhã eu iria ao velório.

Depois que o mundo descobriu sobre os deuses, a idolatria a eles voltou e com ela, os templos. Em Gangnam ficava o templo de Zeus no mundo conhecido, uma estrutura gigantesca que na maior parte do tempo era uma grande galeria de arte. Seria lá o "velório", ou seja lá como eles chamam essas cerimônias. No meu primeiro ano no colegial, fui numa excursão até ao templo. Na minha turma havia uns cinco alunos que se chamavam Namjoon por causa dele, meu pai disse que minha mãe queria me dar esse nome também, porque ela o achava muito atraente, mas ele não deixou. Disse que se eu tivesse nome de algum deus seria Hoseok, a encarnação de Apolo. No fim acabei como Jungkook.

Nada de deuses, apenas eu.

Enquanto o carro enviado para me buscar seguia pelas ruas vazias e atoladas em neve, eu tentava fazer um trabalho porco de pesquisa. Não que eu fosse completamente leigo, mas também não era um expert. O artigo que encontrei era de 2009. Os mais recentes falavam da vida pessoal de cada um e isso não me interessava, pelo menos por enquanto.

"(...). Com o retorno dos deuses para o nosso mundo, eles tiveram de se dividir em zonas, para distribuir melhor seu poder sem afetar os demais. Os deuses gregos e nórdicos no extremo asiático. Deuses indianos, egípcios e africanos na Europa, África e América do Sul. Deuses menores e de culturas europeias na América central e Norte.

A decisão foi tomada para que houvesse uma nova distribuição de influências. Deuses de zonas distintas não interagem ou se comunicam a menos que seja autorizado por todos os deuses.

Histórias dizem que humanos que passam muito tempo na presença deles tende a sofrer "mudanças". Não há nenhum relato oficial sobre isso, mas há boatos de mudanças de percepção, acréscimo de força e velocidade. Dois competidores da equipe coreana de atletismo nas olimpíadas do ano passado foram penalizados por descobrirem uma proximidade deles com o Deus Baek, encarnação de Dionísio. A vantagem deles sobre os competidores fora muito alta para ser ignorada pela banca de juízes (...)"

Isso significava que eu seria afetado por eles? Quer dizer, eu os veria todos os dias até que o caso se encerrasse. Afastei os pensamentos. Eu precisava de foco. Procurei por algo mais específico, como uma lista de deuses. Acabei achando uma página de um blog sobre cultura pop nomeando cada um. Era melhor que nada.

God Killer - PRIMEIRA VERSÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora