Humano

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Naquela noite sonhei com uma ilha. Me parecia familiar, mas não conseguia me lembrar de onde a conhecia, talvez de um filme, era bonita demais para ser real. Na ilha havia uma casa pequena, bem perto do mar e um homem velho numa cadeira de rodas. Ele não me viu aproximar, seus olhos estavam na água. Então sorriu como se tivesse visto alguém, olhei para trás e vi Taehyung. Ele riu se apressando em sair do mar e quando alcançou a areia suas roupas já estavam secas.

"Desculpe o atraso" ele disse, subindo os pequenos degraus até a varanda "Como está se sentindo? " Se ajoelhou ao lado do homem.

"Quero andar um pouco. Me ajude" estendeu a mão enrugada para Taehyung, o rapaz beijou sua mão e depois seu rosto.

"Você não pode mais" ele parecia a ponto de chorar "Talvez seja o momento de você ir comigo. No mar você vai viver muito melhor. " O velho tocou o rosto de Taehyung e acenou que não.

"Eu vou morrer na terra. Onde é o meu lugar. "

Houve uma longa pausa.

"Kookie-ah" Taehyung disse e achei que ele finalmente pudesse me ver e estava falando comigo, mas ele falava com o homem velho "Kookie, não. A gente não tem muito tempo, é sua única encarnação" seus olhos se encheram de lágrimas "Eu nunca mais vou te ver"

O homem velho olhou para mim e reconheci meu próprio rosto em suas feições.

Ele era eu.

Acordei e eram novamente 4:35 da manhã. Qual era meu problema com esse horário? Respirei fundo, mas a imagem de mim mesmo, velho numa cadeira de rodas, voltou como uma lembrança vivida. Parecia real. De certa forma era. Eu estava chorando antes que me desse conta. Provavelmente fora toda aquela conversa sobre Sun e a dor de Hoseok de vê-la envelhecer e morrer. Será que eu ainda teria contato com Taehyung? Seria algo muito parecido com o sonho.

Seu rosto belo e perfeito exatamente igual enquanto eu teria envelhecido e por fim morreria. Ele deve ter visto a morte muitas vezes, seus pais, irmãos, amigos, conhecidos.... Talvez seja por isso que ele disse não sentir o luto da mesma forma. Ele passou pelo luto centenas de vezes. Deitei novamente, eu podia dormir até mais tarde, mas o sono tinha me escapado. Fui até a sala arrastando meu edredom e liguei a TV, me surpreendendo ao ver meu próprio rosto na tela.

Essa era a parte da minha vida da qual não tinha me acostumado, a cobrança constante por uma resposta que eu ainda não podia dar, mas ao menos não havia paparazzis me perseguindo, apesar de tentarem constantemente saberem mais sobre minha vida.

Eu esperava que não começassem a fuçar demais.

Consegui dormir novamente quando o sol já estava nascendo, não tive sonhos ou pesadelos e senti uma paz estranha, que eu não sentia a muito tempo. Até ouvir alguém bater na minha porta. Imaginei se seria Taehyung, mas a voz chamando por mim era bem diferente.

— Filho!

"Filho? "

Minha mente demorou a processar que se tratava do meu pai, levantei no susto, tropeçando nos meus poucos móveis, recolhi o edredom e a xícara de café que deixei em cima da mesa e escondi ambos no meu quarto, fechando a porta para ter certeza que ele não iria bisbilhotar minha confusão.

— Filho?

— Só um minuto, pai — corri ao banheiro só para conferir minha cara péssima, suspirei de ter de ouvir suas reclamações sobre eu não me alimentar direito, mas não havia como escapar dessa, o máximo que pude fazer foi lavar o rosto ouvindo duas batidas impacientes na porta — Desculpe, desculpe — disse e abri a porta para ele vendo sua expressão carrancuda de sempre. — Oi, pai.

God Killer - PRIMEIRA VERSÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora