- Porra, Benedita, pensavas que tinhas caído no balneário! - Bernardo resmungou e eu mostrei-lhe a língua.
- Olha a linguagem Bernardo Tomé. - a minha mãe ralhou e gargalhei com a expressão do meu irmão ao ouvir nome, este que tinha uma pequena aversão ao mesmo.
- Bernardo Tomé, olha o respeito. - fiz troça e o mais novo mostrou-me a língua.
- Meninos, comportem-se. - entre risos, o meu avô interviu e nós o acompanhamos, acabando por obedecer.
- Hoje, a Benedita é que escolhe o local onde vamos comer. Ela merece. - o meu pai abraçou-me pelos ombros e eu sorri, beijando a sua bochecha em forma de agradecimento.
- Epá, lá vamos nós comer aquelas comidas cheias de quinoa e que têm uma aparência exterior horrível. - Bernardo protestou e todos rimos.
- Estás muito resmungão, menino Bernardo. - a minha mãe apreciou, de forma crítica, e o mais novo revirou os olhos, acabando por rir.
- Hoje, por acaso, apetece-me comer assim um prato gigante com batatas fritas e um bife de vaca bem passado. - fechei os olhos por segundos, imaginando o prato confeccionado e eles riram.
- Por favor, isso sim! - o mais novo exclamou, levando as mãos ao alto e gargalhei.
Acabámos por ir a um restaurante que já nos era conhecido e que os meus pais eram clientes assíduos do mesmo, sendo calorosamente bem recebidos pelos seus funcionários.
Efectuámos os nossos pedidos e, durante o tempo de espera, ficámos a conviver.
- Reparei que o Rúben Dias estava presente no duelo de hoje. - o meu avô, num tom curioso, comentou. - Achei bem mas, ao mesmo tempo, estranho. Não é comum vê-lo por lá. Nem a ele, nem a qualquer outro jogador de futebol. - deu de ombros e quase me engasguei com a água que bebia.
- Estás bem, Benny? - a minha avó olhou-me preocupada e apenas fiz o sinal de like com o polegar, assegurando que estava tudo bem, enquanto tossia numa forma de me tentar recompor.
- Sim, concordo com o avô. - Bernardo interviu. - Até porque vocês não se dão nada bem. Pelo menos, da última vez em que estivemos todos juntos, não houve um minuto de conversa civilizada da vossa parte. - relembrou o caricato episódio no McDonald's.
- Vocês não se dão bem? - curioso, Henrique quis saber e revirei os olhos, incomodada com o assunto que, de forma súbita, se tornara o centro das atenções.
- Aliás, desde quando é que tu conheces esse jogador? - o meu progenitor interrogou sério e bufei com a curiosidade sobre a minha relação com Rúben, não evitando rir com a habitual proteção por parte do mais velho, nomeadamente, no que dizia respeito ao assunto namorados ou possíveis candidatos a genro.
- Ai meu deus, mas agora vamos perder todo o nosso tempo a falar de algo que, não é, relevante para as nossas vidas? - revirei os olhos, numa tentativa de os fazer esquecer o tópico.
- Benedita, tu não estás a namorar esse rapaz, pois não? - o meu pai voltou a intervir e quase gritei, frustrada pelo constante interrogatório.
- Não pai, e se estivesse, não havia qualquer problema. Já sei decidir por mim. - rebati, tendo em conta os cenários possíveis de acontecer, uma vez que eu e o central estávamos longe de ser namorados mas, ultimamente, a forma como nos relacionávamos não era de duas pessoas que não se podiam ver à frente.
- Então, deixa-me reformular a pergunta. - bebeu um pouco do seu vinho. - Tu sentes alguma coisa pelo Rúben Dias? - mirou-me atentamente, esperando uma resposta da minha parte.
Engoli em seco e sorri-lhe amarelo, irritada comigo mesmo ao notar a minha hesitação em negar a sua pergunta.
- A comida chegou! - animada, exclamei, ao ver os funcionários servirem os diversos pratos. Simultaneamente, estava aliviada por não ter de responder a algo cuja verdade eu ainda estava a tentar assimilar para mim mesma.
Agradecemos e depois de saírem, continuámos a conviver.
- Eu achei estranho mas, acho muito bem que assim seja. - o meu avô continuou e rezava, interiormente, para que ele pudesse, ali, encerrar o tema Rúben Dias. - Uma vez que a modalidade com mais visibilidade do Sport Lisboa e Benfica, tal como de todas as equipas em geral, é o futebol, acho muito bem que as grandes figuras do mesmo possam começar a assistir às outras modalidades que, embora não tenham a mesma percetibilidade são, igualmente, muito importantes para a constituição do clube que é o Benfica. A presença de jogadores como ele é um incentivo ao convite às pessoas a marcarem, também elas, presença. - concluiu e vi grande parte dos presentes acenarem em concordância.
- Deixe estar, avô, que ainda tivemos uma grande audiência. E o apoio fez-se sentir em todos os momentos. - contradisse. - Mas concordo igualmente. Acho que devem ser os próprios atletas do clube a instigar a presença do público, em todas as modalidades.
Acabamos por mudar de assunto e, respirei de alívio interiormente por isso mesmo.
- Quais são os vossos planos seguintes? - a minha mãe quis saber e eu ri.
- Não sei quanto a vocês mas preciso, urgentemente, de limpar todo o meu apartamento que, infelizmente, não se limpa sozinho. - confessei, dando de ombros e todos riram.
- É uma pena. - Bernardo gracejou e mostrei-lhe a língua.
- Falas assim porque, quando chegas a casa, tens a papinha toda feita. - apontei para a nossa progenitora. - És muito mimado tu. - acusei e o mais novo mostrou-se emburrado, o que me fez rir.
- Vocês estão numa fase em que não fazem nada mais senão embirrar um com o outro. - o meu pai criticou e nós rimos.
- Essa é a minha melhor forma de mostrar que gosto muito dela. - o mais novo acabou por admitir e todos caímos na gargalhada. Fui até ao seu encontro e beijei os seus cabelos, aproveitando o facto de estar de pé para me despedir de todos.
- E eu também te adoro, Bernardo Tomé. - gritei quando já estava perto da saída e vi-o revirar os olhos.
- Retiro o que disse! - exclamou e gargalhei, abandonando o estabelecimento com um sorriso na cara.
Estava grata pela família que tinha pois jamais estaria onde estava nos dias de hoje, sem a retaguarda familiar. Até poderia um dia lá chegar mas, tudo seria tão mais difícil.
Fiz uma paragem rápida no hipermercado a fim de adquirir alguns ingredientes que estavam em falta para a confecção do jantar de hoje à noite.
Depois disso conduzi, de forma calma, até ao meu apartamento onde troquei a minha roupa para uma mais prática e confortável e tratei da refeição, sendo que, durante o tempo que esta estaria no forno, conseguiria fazer uma limpeza geral em todas as divisões.
Preparei a mesa e ao olhar o relógio da parede, e notar que faltava cerca de meia hora para que Rúben chegasse, corri para o duche, saindo muito mais relaxada.
Penteei os cabelos e vesti uma camisola que pertencera ao meu irmão mais velho, dos seus tempos de caloiro na faculdade, e uns calções mais antigos, caso tivesse o azar de me sujar.
Andei apressadamente até à cozinha, olhando por diversas vezes ao meu redor, certificando-me que nada faltava. Nunca me tinha visto tão ansiosa antes. Engoli em seco quando a campainha tocou e respirei fundo, deslocando-me até à porta e abrindo a mesma.
- Ansiosa para o nosso encontro? - foi a primeira coisa que disse quando me viu e revirei os olhos, gesto que o fez rir.
- Isto não é um encontro. - deixei claro, apontando-lhe o dedo e Rúben riu novamente. - Eu estou obrigada a fazer isto. - reforcei.
- Até quando é que vais usar essa desculpa? - olhou-me convencido e bufei.
- Entra logo se queres comer. - dei-lhe espaço para que o pudesse fazer.
- Cheira mesmo bem! - exclamou, andando em direção à cozinha e eu ri, seguindo-o.
- Mas espera lá, não foste tu que disseste já ter comido melhor do que a minha comida? - cruzei os braços e olhei-o debochada. O central gargalhou, puxando-me pelos ombros e deixando um beijo nos meus cabelos, gesto que me fez derreter por dentro e sorrir de lado.
- Só a da minha mãe. - admitiu e ri.
- Óbvio. - reconheci, sabendo que não havia concorrência aos cozinhados das nossas progenitoras.
- Já agora, onde deixo isso? - mostrou-me o saco que trazia consigo. - É um doce que pedi para a minha mãe fazer. Vais adorar. - sorri, beijando os seus lábios rapidamente e a sua expressão surpresa fez-me rir.
- Não te habitues. - apontei e o jovem gargalhou.
- Anda cá. - puxou-me pelo braço de forma suave e colou a sua boca na minha, num beijo profundo que eu fiz questão de não rebater.
- Vamos comer? - perguntei, depois de nos afastarmos.
- nos? - piscou o olho e dei-lhe um valente estalo no seu braço quando percebi o seu atrevimento.
- Rúben, tu és ninfomaníaco ou o quê? - gracejei e o jovem da Amadora riu alto.
- Não, só estou completamente encantado por ti. - naturalmente proferiu e não evitei corar.
Acabei por me afastar dele, a fim de este não reparar mas a sua risada fez-me perceber que a minha missão falhara redondamente.
Retirei a massa à carbonara do forno e deitei-a na mesa, olhando Rúben que contemplava o prato de forma apaixonada, o que me fez rir.
- Bora comer. - sentou-se sem demora e gargalhei perante a sua infantilidade.
Deixei que nos servisse e comemos por meio de conversas normais com as já habituais picardias que não podiam ficar de fora.
- Tu não me podes trazer mais disso ou vou engordar uns quilitos e ser repreendida pela nossa nutricionista. - comi mais um pedaço da torta de côco, e o jovem riu.
- É impossível resistir às doçarias da Dona Bernardete. - calculei que aquele fosse o nome da sua progenitora. - Eu nunca te disse mas, estiveste muito bem no duelo com a Clara. - elogiou e eu sorri em forma de agradecimento, não deixando de sentir-me um pouco incomodada pela forma como este falara da vice-campeã.
- Tu conheces a Clara? - tentei parecer desinteressada, focando a minha atenção na comida à minha frente.
- E se eu te dissesse que sim, haveria algum problema?
- Nenhum. - dei de ombros e ouvi a sua risada, o que me fez revirar os olhos.
- Ela esteve enrolada com o meu irmão à algum tempo atrás. Chegámos a conhecer-nos quando ele a levou a um convívio entre amigos. - explicou e não pude deixar de admitir estar satisfeita pela resposta dada.
- Muito bem. Ela é muito simpática e focada nos outros. É simples e humilde. - fui verdadeira, reconhecendo as características da judoca.
Depois de comermos, ele ajudou-me na limpeza da cozinha e sentamo-nos no sofá, pousando os dois copos de vinho ainda meio cheios na mesa de centro da sala de estar.
- Tens a certeza que queres ir ao cinema? - sussurrou ao meu ouvido quando se aproximou de mim.
Não o olhei pois, se o fizesse, iríamos ficar com as nossas bocas coladas uma à outra.
- Sim! - exclamei, afastando-me um pouco dele e Rúben riu. - Tu apresentaste-me o Mamma Mia: Here We Go Again, é óbvio que eu não vou perder o filme. - dei de ombros e o central bufou, fazendo uma careta descontente.
- A Carminho disse-me que, já à muito tempo que, o querias assistir mas desde que iniciaste a preparação para a época, não tiveste muito tempo para o lazer. - explicou e olhei-o de canto.
- Desde quando é que tu falas com a minha melhor amiga pelas minhas costas? - fuzilei-o com o olhar e levantei-me mas apenas para me sentar novamente quando este me abraçou pela cintura, puxando-me para o seu colo.
- Não sejas ciumenta. - deixou um beijo na minha bochecha. - Tive de me informar sobre como agradar a princesa. - gracejou e revirei os olhos, acabando a rir.
- Se me queres realmente agradar, vais ter de levar-me a ver o filme. - levantei-me novamente, desta vez, puxando-o comigo, que não fez qualquer esforço para rebater.
- Tudo bem. - cedeu e eu sorri-lhe como uma criança quando ganha algo dos pais. - És linda. - elogiou e revirei os olhos para esconder o embaraço, acabando por virar costas.
- Vou vestir-me. - avisei. - Não te atrevas a seguir-me. - apontei-lhe o dedo e o internacional português gargalhou, levando as mãos ao ar em forma de rendição.
Uma vez que já escolhera o outfit horas antes, fui rápida a preparar-me, nem me preocupando com a maquilhagem. Peguei a minha mala e meti-a ao ombro, abandonando a divisão.
- Vamos? Estou pronta. - avisei e fiquei confusa pela forma como este me olhava. - O que foi? Nunca viste uma rapariga com um cropp top? - ele riu.
- Já vi as outras mas nunca te tinha visto a ti. É completamente diferente. - revirei os olhos e Rúben tornou a rir.
- Agora já viste. - rimos. - Bora. - puxei-o para o exterior do apartamento.
- Começo a achar mesmo que só aceitaste estar comigo pelo filme. - fiz beicinho e gargalhei.
- Mas tu ainda puseste a hipótese de ser por outro motivo qualquer? - fingi surpresa e ele bufou frustrado, indo à minha frente.- Olha que eu não divido as pipocas. - gritei quando ele já ia perto elevador.
Fechei a porta e corri até ele, saltando para as suas cavalitas, gargalhando quando este não me agarrou.
- Primeiro tu e depois o Mamma Mia. - sussurrei ao seu ouvido, não evitando outra risada quando senti os seus braços segurarem as minhas pernas.
Entrámos no elevador e o central puxou-me para um beijo demorado.
- Mas tu ainda acreditaste nisso? - perguntei, não evitando gargalhar com a sua expressão atónita, deixando-o para trás quando as portas abriram. - E já disse que não partilho as pipocas!
A/N: Olá, olá. Espero que esteja tudo bem!
Desculpem pelo capítulo um pouco desleixado e tardio, foi um dia caótico.
Estes dois apesar de estarem melhor, ainda têm de andar às turras 😂. O próximo capítulo é a ida ao cinema haha.
Espero que esteja do vosso agrado! E se quiserem comentar, eu adoraria saber a vossa sincera opinião. ☺️
Desde já obrigado por todas as leituras, votos e comentários! ❤️
Beijinhos e até breve! 👋