Opostos | Rúben Dias

By suotempore

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Benedita Varandas Fernandes. Rúben Dias. Um jogador e uma judoca. Dois opostos que dispostos, completavam-se... More

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O relógio despertador fez-se escutar e resmunguei, querendo ficar mais um pouco na cama.

Não evitei um sorriso ao lembrar a noite anterior e levei a minha mão ao outro lado, rapidamente, levantando-me ao ver que este se encontrava vazio.

Suspirei pesado, deixando-me cair de novo, praguejando mentalmente por me ter deixado enganar por ele.
Os meus pensamentos matadores foram interrompidos quando notei que, sob a mesa de cabeceira, do lado onde Rúben dormira, residia um bilhete que, antes ali não estava.

Rapidamente rolei na cama, pegando o papel e não evitei esboçar um sorriso ao ler o seu conteúdo. O central desejava-me um ótimo duelo e desculpava-se por ter saído cedo mas, tinha de preparar-se para o treino da manhã, o único daquele Domingo.

Corri para a casa de banho, tomei um duche rápido e vesti-me apressadamente. Comi o pequeno almoço enquanto prestava atenção às notícias e, depois disso, dirigi-me ao pavilhão onde iria decorrer a jornada de abertura, do campeonato nacional feminino de judo.

- Bom dia. - saudei o porteiro aquando da minha entrada na construção benfiquista.

- Benedita. - evocaram e olhei na direção da voz, sorrindo ao ver os meus irmãos.

- Rapazes. - abracei cada um deles, cumprimentando, igualmente Sara que chegava um pouco mais atrás. - Estão bem? - quis saber e todos acenaram.

- E tu? - a morena retribuiu. - Nervosa? - acenei.

- Como não podia deixar de ser. - admiti. - É o primeiro de muitos mas, quero manter-me sempre regular no desempenho durante toda a época e conseguir os melhores resultados possíveis, a fim de manter o título nas minhas mãos. - suspirei, abrindo um sorriso quando Henrique puxou-me para um abraço de ombros.

- És a melhor, Benny. E, independentemente do que aqui hoje acontecer, ninguém te poderá retirar a qualidade que é tua. - incentivou e sorri, beijando a sua bochecha.

- Os pais e os avós? - perguntei, olhando ao meu redor.

- A avó vem com os pais, uma vez que o avô deslocou-se mais cedo, a fim de tratar algumas coisas pelo Caixa Futebol Campus. Devem estar a chegar. - avisou e acenei.

- Sendo assim, vou equipar-me e depois passo aqui para lhes dar um beijinho. - antecipei.

Despedi-me deles e dirigi-me ao balneário, onde me preparei. Apanhei o cabelo num rabo de cavalo e sorri, satisfeita por me ver trajada no judogi, o tradicional uniforme usado para a prática da arte marcial, depois da habitual longa paragem nas diversas competições, para tempo de descanso. Já tinha saudades.

Abandonei a divisão para saudar os restantes membros da família que, entretanto, tinham chegado. Ficámos um pouco à conversa, despedindo-me algum tempo depois para organizar a minha entrada no recinto onde a disputa iria ocorrer.

Fui cumprimentada por membros da equipa do Sport Lisboa e Benfica, que auxiliam a modalidade do judo e os seus respectivos atletas dos diversos escalões, com os votos de boa sorte, sinceramente agradecidos por mim.

- Benedita. - o meu treinador chegou ao meu encontro, abraçando-me pelos ombros. - Nós confiamos em ti e temos muito orgulho no teu percurso. Dá o teu melhor e, aconteça o que acontecer, o objetivo é nunca desistir. - incentivou e sorri em forma de agradecimento, abraçando-o rapidamente.

Entrámos no recinto, sendo calorosamente recebidos pelos adeptos benfiquistas que ali se encontravam, mostrando o seu apoio. Sorri e bati palmas junto com eles, agradecendo a presença e o seu constante suporte.

Olhei em volta, sorrindo ao ver a minha família toda junta e, quase me saltaram os olhos da cara, ao notar Rúben entre a multidão, enquanto tentava chegar ao lugar que lhe pertencia. Assim que se sentou, mirou a minha pessoa e abriu um sorriso de encorajamento, acenando com a cabeça. Respirei fundo e acenei de volta, retribuindo a sua simpatia com um fraco sorriso, devidos à pilha de nervos com que eu estava naquele momento.

O árbitro da partida ordenou que nos apresentássemos no centro do recinto, o tatami, e assim o fizemos, ficando frente a frente. Esbocei um sorriso a Clara, a minha oponente, e juntas, fizemos o cumprimento de pé, exigido no início e final de cada competição, como demonstração de profundo respeito para com os adversários pois a prática do judo era regida por este, pela cordialidade e pelo primor.

O duelo foi iniciado, começando a morena vice-campeã da passada época a mostrar maiores sinais de conforto, ao pontuar um terço de um ponto, o Yuko, fazendo-me cair de lado, sendo eu ainda dominada pelos nervos. Engoli em seco e olhei de relance para Rúben que me observava atentamente. Concentrei-me novamente, dando início ao meu contra-ataque e na sequência de um movimento perfeito e muito praticado nos treinos, consegui com que Clara caísse de costas no chão, conseguindo um Ippon, que significava um ponto completo, dando por terminado o primeiro combate do campeonato nacional feminino.

Por meros segundos, deixei-me ficar sentada no tapete, não evitando um sorriso ao ver o público levantar-se, enquanto aplaudia e um sentimento de dever cumprido preencheu todo o meu ser. Terminámos a disputa com o habitual cumprimento de pé, acabando por nos abraçar rapidamente e trocar sorrisos de respeito e elogios quanto à prestação uma da outra.

- Quem é a maior, quem é? - Bernardo puxou-me para um abraço, o que me fez sorrir.

- Tu! - exclamei. - Vê lá se paras de crescer que eu sou mais velha e já estás maior do que eu. - reclamei e todos riram.

- Parabéns, minha querida. - o meu avô beijou os meus cabelos e eu sorri, agradecendo. - É um orgulho ver-te ser a melhor, na representação do melhor clube do mundo. - elogiou e eu ri, deixando um beijo na sua bochecha.

- Tenho de corresponder à grandeza de um símbolo como o Sport Lisboa e Benfica. - pisquei o olho e ele riu.

- Acho que é mais o contrário. - a minha avó e a minha mãe falaram em simultâneo e nós caímos na gargalhada.

Olhei para as bancadas, notando que ainda eram muitos aqueles que esperavam para abandonar o recinto, por meio de conversas que os faziam parar, por diversas vezes, a marcha. Procurei por Rúben, não havendo qualquer sinal dele. Dei de ombros, não deixando de ficar contente por este marcar presença no pontapé de saída para aquela que seria mais uma difícil e competitiva época, com o grande objetivo de segurar o título que nas minhas mãos residia.

- Eu vou tomar um duche, que estou a precisar. - fiz uma careta e todos riram.

- Vai lá. Nós esperamos-te na saída para irmos almoçar todos juntos. - o meu pai avisou e sorri, anuindo em concordância.

- Até já então. - despedi-me, correndo até ao balneário, retirando o cinto pelo caminho.

Fechei a porta e despi-me, correndo para o duche, sentindo todos os meus músculos relaxarem com o morno da água.

Depois de largos minutos dentro do compartimento, enrolei a toalha no meu corpo e cabelos e dirigi-me para o espaço onde as minhas coisas se encontravam.

Soltei um valente grito quando dei de caras com Rúben sentado nos bancos, de braços cruzados, este que me encarava pasmado.

- O que é que tu estás aqui a fazer? Como é que tu entraste sem seres visto? - murmurei, entre dentes, olhando entre a porta fechada e o central.

- Eu consigo ser muito persuasivo. E ajuda o facto de toda a gente adorar-me. - convencido proferiu e revirei os olhos. - Isto é bem melhor do que a primeira vez que eu te vi no balneário. - sem qualquer pudor, percorreu todo o meu corpo com o olhar, gesto que me fez olhá-lo atónita.

- Rúben, este chinelo vai voar. - ameacei, tirando a havaiana branca que calçava e apontando na direção do jogador, que riu.

- Tu não tens coragem. - desafiou e arqueei a sobrancelha, achando piada à sua certeza e segurança em demasia.

E sem esperar, atirei-lhe o calçado para a cabeça, que por pouco não lhe acertou pois este, por ventura dos seus bons reflexos, acabou por se baixar.

- Caralho, miúda. - resmungou e sorri-lhe debochada, segurando com certa força a toalha, receosa de que algo acontecesse.

- Tu não tens coragem. - imitei o seu tom de voz e o defesa gargalhou.

- Eu não falo assim. - apontou-me o dedo e mostrei-lhe a língua.

- Como queiras. - dei de ombros. - Agora sai que eu preciso vestir-me. - avisei e ele riu, sentando-se novamente.

- Podes vestir-te aqui, eu não me importo nada. - sorriu-me inocente e bufei, tentando conter a minha vontade enorme de lhe bater.

- Eu juro que hoje vou-te bater. - murmurei, entre dentes, e o jovem olhou-me sugestivo, fazendo-me chegar à conclusão que este levara a minha conversa noutro sentido. - Ai meu deus, mas tu não consegues pensar em outra coisa? - levei a mão ao meu rosto, numa tentativa falhada de não corar, gesto que o fez gargalhar.

- Não quando tu estás à minha frente apenas de toalha e ainda toda molhada. - foi direto, contribuindo ainda mais para o meu embaraço.

- Então vai embora! - quase gritei e ele riu, aproximando-se de mim.

- Podíamos ir almoçar e passar o dia juntos. - retirou a toalha dos meus cabelos, deixando os mesmos livres.

- Não posso, tenho um almoço de família daqui a pouco. - sorri-lhe fraco, num pedido de desculpas silencioso.

- Tudo bem. - acenou, passeando o dedo pelo meu pescoço descoberto, o que me fez engolir em seco. - É hoje que eu levo-te ao cinema. Esta noite. Posso? - pediu.

- Podes. - cedi, o que o fez sorrir. - Mas fica sabendo que, só vou porque não falto àquilo a que me comprometo. Ou seja, eu estou a ser obrigada. - deixei claro e o central luso gargalhou.

- Como queiras, Benny. - revirou os olhos, enquanto ainda ria. - E posso beijar-te? - levou aos mãos à minha cintura e dei-lhe um leve estalo nas mesmas, gesto que o fez resmungar.

- Não sejas abusado, Dias. - avisei e ele riu, levantando as mãos em forma de rendição.

- Deixaste-me ser abusado ontem à noite. - resmungou e olhei-o, fingindo pensar.

- A sério? Não me recordo. - dei de ombros, desentendida.

- Não brinques comigo, Benedita. - inquieto resmungou e gargalhei da sua expressão.

- Desculpa. - acabei por pedir ao vê-lo fazer beicinho, quando uma súbita vontade de beijar o mesmo me assolou.

E foi isso mesmo que acabei por fazer. Puxei-o para um beijo que o jogador encarnado não hesitou em corresponder, pedindo a invasão da sua língua na minha boca, esta de imediato concedida.

- Assim está muito melhor. - ofegante, sussurrou contra os meus lábios e eu ri.

- Não te habitues. Só o fiz porque é a única maneira de ires embora. - dei de ombros e Rúben gargalhou alto.

- Desculpas, Benedita, desculpas.. - piscou o olho e eu revirei os meus, conduzindo-o até à saída.

- Está calado e vai andando. - ordenei, este que se deixou levar pelos meus empurrões.

- Vou buscar-te às 20h para irmos assistir na sessão das 21h30m. - avisou.

- Porque é que vais buscar-me uma hora e meia mais cedo? - confusa, inquiri e ele revirou os olhos.

- Vou levar-te a jantar. - sorriu-me.

- Posso ser eu a fazer o jantar - a minha grande paixão pela culinária, instigou-me a sugerir. - E depois vamos ao cinema. - ele acenou, fazendo-me sorrir contente.

- Por mim, é na boa. - concordou. - Daqui a umas horas estou em tua casa. - beijou os meus lábios de forma rápida, nem dando tempo de conseguir protestar o seu atrevimento.

- Tu estás a pedir para levar um tabefe. - ralhei e ele gargalhou, puxando-me para si.

- Admite lá que gostas tanto disto como eu. - pediu, baixinho, acariciando os meus cabelos.

- Não sei o que é o isto que tanto falas. Agora vai. - enxotei e ele riu.

- Vejo-te à noite. - piscou o olho e desapareceu da minha vista, ao virar o corredor.

Fechei a porta e encostei-me à mesma, acabando por esboçar um sorriso ao lembrar os momentos antes.

- Eu gosto disto tanto como tu, Rúben.


A/N: Estes dois são do tipo "quanto mais me bates, mais eu gosto de ti." 😂
Espero que estejam bem e que a semana de aulas tenha corrido pelo melhor! 😁
Espero, igualmente, que o desenrolar do enredo esteja a ser do vosso agrado! Já podemos observar algumas melhorias na relação entre eles, embora a Benedita ainda recue um pouco.
Não deixem de comentar, se assim o entenderem. É sempre bom ter uma percepção do que estão a achar, muito sinceramente. 🙏
Obrigado por todas as leituras, votos e comentários! ❤️
Um beijinho e até breve. 👋


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