Folhas De Outono

By joycexsous

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Numa noite de outono, após sofrer um acidente, Ana Clara Caetano, que carrega o nome um tanto quanto conhecid... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Bônus
Esclarecimento

Capitulo 28

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By joycexsous

Ana, desde que chegara em Milão, segundo Bárbara, parecia uma criança encantada em um parque de diversões, mesmo estando lá pela segunda vez, parecia a primeira. O novo apartamento em que ficaria pelos sete meses era totalmente o oposto do seu, não perdia no quesito luxo, mas nada além disso era semelhante. Seu novo local de trabalho lhe era tão convidativo, a primeira vez em que pisou na sala de aula em que lecionaria estava em êxtase. Se contassem à Ana de um ano atrás que ela estaria em Milão para fazer o que sempre pretendeu desde quando ingressara na faculdade de moda mas que não estaria se sentindo totalmente completa com isso, no mínimo, chamaria de louca a pessoa que ousou dizer algo assim. Porém, era exatamente como se sentia.

Nas primeiras semanas, quando ainda não estava habituada ao fuso horário de Milão, suas madrugadas eram em claro em ligações ou chamadas de vídeo com Vitória. Nada substituiria estar junto a ela, poder tocá-la, beijá-la e dividir uma cama, porém, na situação em que estavam, qualquer contato supria a necessidade de estarem próximas. Se adaptando à sua nova rotina, Ana teve o sono regulado de acordo com o horário de Milão, o que acabou não condizendo com o horário de Vitória em São Paulo. O horário em que costumavam conversar, passou a ser as horas de sono de Ana. Durante o dia, as mensagens trocadas eram poucas, Vitória mal pegava seu celular durante o plantão, assim como Ana não poderia pegar enquanto dava aula.

O contato estava ficando raro. Várias foram as madrugadas em que Ana ficara acordada aguardando Vitória encerrar seu plantão para ao menos desejar uma boa noite, porém, assim como quando a conhecera, Vitória estava excedendo o tempo de trabalho. Ana sabia que era isso que fazia quando não estava bem, quando precisava ocupar a cabeça e não ficar sozinha. Não tinha total convicção de que isso era totalmente culpa do que vinha acontecendo entre elas, mas o tempo para falar era pouco, não sabia ao certo o motivo.

No começo, o tempo parecia totalmente a favor. A areia da ampulheta caía rapidamente, agora, tudo parecia ter ganhado o dobro de lentidão. Ana estava em sua terceira caneca de café desde quando acabara de preparar a aula do dia seguinte. Seu período da noite era em eventos para os quais era convidada ou ia acompanhar Bárbara, em reunião, ou em seu apartamento programando o que seria dado no próximo dia. Passar à outras pessoas o que sabia era melhor do que imaginava. Facilmente aceitaria ser professora em São Paulo também, aprenderia a conciliar o tempo da grife com o tempo que passaria lecionando. Tinha essa ideia até Bárbara lhe mostrar o outro lado da moeda. Definitivamente, o único lugar para fazer isso, era ali em Milão e bastava. As mudanças significativas que estava trazendo à sua vida poderia atrapalhar totalmente tudo o que tinha em São Paulo.

Com quatro meses para seu desfile e para quem estava dando ordens de outro continente, tudo estava caminhando bem, pelo menos do que lhe era passado, tudo estava certo. Questionava os pais sempre que podia quanto ao andamento das coisas em sua própria grife e à organização do desfile. Nessa parte, tudo estava como o planejado, um peso a menos em sua consciência. Desviou os olhos da televisão quando seu celular começou a tocar. Se passava das três da manhã em Milão, enquanto em São Paulo ainda não eram dez da noite. Estava quase fechando os olhos, mas não conseguiria ir dormir mais uma vez tendo que se passar de satisfeita com as poucas mensagens que trocara com a namorada ao longo do dia.

— Finalmente retornou.

— Acabei ficando preocupada com o tanto de ligações.

— Você voltou mesmo a passar do seu horário de plantão...

— É necessário, Ninha.

— Você sabe que não. O que está acontecendo, Vitória?

— O que poderia estar acontecendo?

— Está tudo bem por aí? Há dias que não me fala como andam as coisas.

— Está tudo normal, tudo como deveria estar, só falta você aqui.

— Está quase na metade, logo estaremos juntas de novo. — Silenciou podendo ouvir Vitória respirar fundo.

— Como está? Como foi seu dia? Você deveria estar dormindo.

— Não conseguiria dormir sem falar com você, três dias sem ouvir sua voz é uma tortura. Aqui está tudo ótimo. Meu dia foi como todos os outros, aula e a preparação da próxima.

— Estou orgulhosa por estar se dando tão bem assim, faz valer a pena essa distância toda.

— Vitória?

— Hum?

— Eu amo você.

— Eu também amo você, amor.— A ouviu suspirar pesado novamente.

— Sei que não estamos tão bem como lhe prometi, mas vamos ficar.

— Eu espero. — Sua voz soou baixa. Ana não soube o que responder e pelo visto nem Vitória o que acrescentar, foram segundos em silêncio. — Vou desligar, você precisa descansar, está tarde aí.

— Você também precisa. Promete para mim que vai ir para casa no horário em que seu plantão acabar?

— Não estou fazendo por querer...

— Eu conheço você, Vitória, até em coisas que você não imagina.

— É o que tem me ocupado, é o meu trabalho, é o que eu amo fazer. Da mesma forma como você está aí.

— Tem razão. Só não quero que fique sobrecarregada.— Não havia o que discutir, Vitória estava certa, ambas estavam fazendo o que sempre fora prioridade, não podia cobrar dela o que também não fazia.

— Não vou... Boa noite, Ninha.

— Boa noite Vi.

***

Vitória encerrou a ligação e encarou o celular por segundos. Fora a conversa mais longa que teve com Ana em três dias e ainda assim não estava satisfeita. Não estava conseguindo se contentar com tão pouco. Os assuntos estavam faltando e tudo estava ficando frio. Temia ter que admitir a si mesma que o relacionamento já não era o mesmo. O que haviam evoluído em três meses, decaíram proporcionalmente. E o pior era saber que a culpa não era de nenhuma das duas. Não havia muito o que fazer. Quando acordava, Ana já estava ocupada. Quando chegava em casa, Ana já deveria estar dormindo. Aumentando ou não as suas horas de plantão, não mudaria nada em relação às duas. Lhes restavam os finais de semana, os quais Ana estava sempre ocupada por lá, seu nome estava na lista de diversos eventos, desfiles e jantares. Não negaria que estava orgulhosa de como tudo estava tão bem para a estilista, acalmava seu coração farto de saudade quando via Ana sorrir ao contar sobre como as coisas funcionavam por lá, das pessoas que havia conhecido – as quais sentia inveja por poder tê-la perto –, dos lugares que visitara e de como estava sendo tão bem recepcionada, como estava satisfeita ao ver pessoas apaixonadas pelo mesmo que ela aprendendo.

Sua rotina em São Paulo continuava a mesma, estaria mentindo se dissesse que não estava sabendo lidar com tudo isso. Nunca tivera Ana na sua vida até meses atrás, apesar do quão incrível foi tê-la conhecido e ter a sorte de ter todo seu amor correspondido, não poderia e nem queria fazer sua vida girar em torno de um relacionamento. Ana estava se dando bem em Milão. Sua vida continuava sem muitas diferenças notórias em São Paulo.

O relacionamento desgastando cada dia mais era só um detalhe, um maldito detalhe que estava tomando conta dos seus pensamentos. Sentiu falta até mesmo do modo como a morena era presente em sua cabeça, antes por motivos que a fazia suspirar, agora, motivos que a desestruturaria. Apesar de não poder e não querer parar a sua vida por conta de alguém, era quase isso que estava acontecendo. Ana realmente a tirava do eixo com qualquer coisa, e dessa vez, infelizmente, não era algo bom. Deixou o celular sobre a cama e entrou no banheiro. Se olhar no espelho e notar sua própria aparência de cansaço a lembrou de quando seu cansaço físico não era nada perto do que passava dentro de si. Antes, o que lhe atormentava era estar muito perto de alguém a quem hoje procurava nem lembrar da existência. Dessa vez, tudo o que precisava era dos braços que sempre lhe fariam descansar depois de um dia corrido no hospital. Ana havia mudado até sua rotina, tinha lhe oferecido tanto e tudo estava sendo tirado aos poucos.

Imergiu seu corpo na banheira, encostando sua cabeça e fechando os olhos. Não tinha como fugir do caminho que tudo estava tomando e, infelizmente, o destino final não era o que nenhuma das duas esperava quando Ana partira. Já era claro para ambas que não tinha como manter um relacionamento que até mesmo Flávia dizia a Vitória que se tornara um iceberg. Levaria ainda quatro meses para ter Ana de volta ali. Se em três havia tido essa reviravolta imprevisível, em quatro, se tornariam praticamente desconhecidas. E como seria quando Ana voltasse? Estavam sendo pacientes até então, sustentando até onde era possível, mas uma hora sairia do alcance segurar tudo que estava prestes a desabar.

Viviam em tanta sintonia.

Viviam.

****

— Aninha! — Bárbara estalou os dedos em frente ao rosto da morena. Ana observava as pessoas andando ao seu redor, seus olhos pararam em um casal sentado em uma mesa no canto do café e foi impossível não pensar em Vitória, sempre escolhiam os lugares mais reservados, as mesas de canto. Seus dedos tamborilavam a madeira da mesa, próximo ao seu copo ainda cheio de café.

— Ah, me desculpe sis. — Voltou seu olhar à amiga à sua frente. Bárbara seguiu seu olhar e encontrou o que a morena tanto observava. Se lembrou de quando Ana a buscou no aeroporto, estava transbordando seus conflitos internos, tudo porque uma médica entrara em sua vida. Já imaginava que a partir daquele dia, naquele café em São Paulo, num fim de tarde, a conversa e os conselhos dados resultaria em algo, só não imaginava que seria algo tão grande assim, no máximo, achava que Ana tinha atração pela mulher e um mero desejo de ter sua companhia, não cogitaria a ideia de que veria a amiga dispersa, dispensando tomar café por conta de estar longe da mulher que amava.

— Falta pouco, patinha, essa ansiedade de vocês só faz o tempo parecer passar lentamente. — Pousou sua mão sobre a de Ana a acariciando e recebeu um leve sorriso de puro desânimo.

— Não sei se vamos aguentar esse tempo, sis. Acho que acabamos discordando dessa ideia de conversarmos cinco minutos por ligação a cada três ou quatro dias, de nem podermos nos ver direito e trocar mensagens básicas de bom dia e boa noite. Suponho que nenhum relacionamento possa se basear nisso.

— Aninha, não, por favor! — Falou quando viu que os olhos de Ana estavam brilhando por conta das lágrimas.

— É tão estranho ter ela tão fora assim, à parte de tudo. Nenhuma de nós está bem com isso.

— Tem como consertar, patinha, é tudo questão de tempo, paciência.

— Já estamos tendo paciência, se não tivéssemos, nem desse jeito estaríamos ainda.

— Aninha...

— Acho que nossos dias juntas estão contados.

Desde quando Vitória encerrara a ligação de madrugada, seu coração estava apertado. Não era a primeira vez que tinham uma conversa fria daquela forma e via que também não seria a última. Era por um tempo determinado, entretanto, nada impedia de que quando voltasse a São Paulo, o relacionamento continuasse o mesmo. Pensaram que aprenderiam a conviver esse tempo longe e aparentemente estavam enganadas, era provável que poderiam se enganar ao pensar que tudo voltaria a ser um mar de rosas quando estivessem próximas de novo.

O que desaba de uma vez leva tempo para ser reconstruído.

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