Capítulo 15

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— O seu terraço? Você tem certeza? — Bárbara perguntou enquanto olhava incrédula para Ana que mantinha um olhar tranquilo enquanto tomava seu café e contava a amiga sobre o que havia acontecido na noite anterior e sobre sua ideia de usar seu lugar favorito. Estavam no mesmo café em que contara a Bárbara sobre seus sentimentos por Vitória. Suas dúvidas lá expostas uma vez, agora eram certezas absolutas.

— Eu não sei o porquê de tanto espanto, você quem mandou ela subir lá.

— Vocês precisavam conversar.

— Precisamos agora de uma boa memória naquele lugar.

— Você está certa. Mas, vem cá, a primeira vez de vocês no terraço seria épico. — Seus lábios formaram um sorriso lascivo. — Não sei como conseguiram dormir juntas duas vezes e se controlarem.

— Você consegue entender que duas pessoas podem ficar no mesmo ambiente sem tentar qualquer insinuação de sexo?

— Não. Eu acho que vocês duas se controlam demais.

— Existe uma coisa chamada tempo certo e... — respirou fundo — Vitória respeita meus limites.

— Em relação a nunca ter ido para a cama com uma mulher? — Ana assentiu. — Você não se sente segura sendo com ela?

— A questão não é ela, e sim o que vai acontecer entre a gente. É inevitável a insegurança, mesmo que seja mínima.

— Pelo o que sei, ela parece ser incrível com você, não vai ser diferente dessa vez.

— Eu sei. — Sorriu.

A tarde estava se findando enquanto as duas permaneciam na mesa do café que estava parcialmente cheio. O dia de Ana havia começado da melhor maneira possível, como se tivesse apagado tudo o que acontecera durante o resto da semana. Acabou dormindo com Vitória depois de a mesma insistir que era tarde para que fosse embora; seus desejos eram quase sempre uma ordem. Vitória estava mais que ciente da insegurança de Ana, se conheciam o suficiente para ela poder perceber, as vezes, o que se passava com a outra. Não poderia negar que certos beijos a faziam querer ir além, porém, sua consciência gritava que ainda não era a hora, e que deveria ser quando Ana estivesse tão preparada quanto. Respeitaria todos os limites e esperaria o tempo que fosse necessário. Até porque não haviam nem motivos para ter pressa, tinham todo o tempo do mundo.

Dormiram juntas como da outra vez após a festa de Letícia, provando de novo que seus corpos tinham o encaixe perfeito e que não era necessário muito mais que aquilo para se sentirem em casa, ao lugar que pertencem. O ápice do dia de ambas foi já da forma como ele começou. Vitória a acordou com seu despertador tocando e o desligou o mais rápido que pôde, Ana mal se moveu, mesmo com o barulho alto. Vitória achava impossível poder achar alguém tão linda enquanto dormia, até dormir com Ana. Não queria acordá-la, mas precisava ir trabalhar.

Acordar com beijos em seu ombro, fazendo uma trilha até seu pescoço, fez Ana acordar com arrepios e causou um sorriso bobo em seus lábios ao notar de quem se tratava. Se pudessem, a cama teria aqueles dois corpos juntos presentes o dia todo, entretanto, o ditado: "tudo que é bom dura pouco" é verídico. Bárbara apareceu na grife no meio da tarde depois de outra viagem. Ana era sempre uma das primeiras pessoas que ela procurava quando chegava em São Paulo e vice-versa. Nem precisou pedir para saber como tudo tinha sido resolvido, com apenas um olhar inquisitivo e as unhas batendo contra a mesa do escritório, Ana já sabia o que a outra queria.

***

Ana pedira ao porteiro do prédio para que os outros modos de subirem até o terraço fossem impedidos. Explicou o motivo e sua vontade foi feita. Assim sendo, seu terraço, nessa noite, era literalmente só seu. Seu e de Vitória. O clima ameno do outono colaborou para que Ana conseguisse concretizar seu plano. Se sentia no dever de criar boas memórias no topo daquele prédio que tanto prezava. Não subia lá desde quando Vitória aparecera nele. Não era digno ter seu espaço com más lembranças, entretanto, era capaz de fazer as boas. Nunca passara pela sua cabeça algo como o que estava prestes a fazer. Iria fazer um jantar em um terraço. Jamais pensara em levar alguém ali. Jamais pensara em planejar um jantar para e com alguém. Muito menos nos dois ao mesmo tempo. Quantas vezes já tinha se perguntado o que seria capaz de fazer por Vitória. Bárbara a ajudara em algumas coisas por livre e espontânea vontade, alegando que queria fazer parte de qualquer forma.

Folhas De OutonoWhere stories live. Discover now