Capítulo 17

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— Hey. — Vitória disse ao parar o carro no semáforo e olhar para Ana que estava calada desde quando se despediram de Bárbara. Havia pedido a Ana que dirigisse e a mesma cedeu sem pensar duas vezes. — Minha casa ou sua casa?

— Minha, por favor.

— Ok. — Vitória estendeu sua mão procurando pela de Ana mas a mesma não lhe correspondeu. — Ninha?

— Eu estou me sentindo suja, Vitória.

Cinco palavras que fizera vir à tona todo o ódio que Vitória estava sentindo desde que chegou perto do banheiro. Estava ficando insuportável ver Ana segurando as lágrimas com a cabeça encostada no banco do carro. Se arrependeu imediatamente de não ter deixado Bárbara fazer algo na hora. Voltou sua mão ao volante quando o sinal abriu, não iria insistir, deixou para tentar todas as formas de confortá-la quando chegassem em casa.

No elevador, Ana encostou num dos cantos, de costas para o espelho, deixando-se a si mesma sem saída quando Vitória se aproximou.

— Não fuja de mim por estar se sentindo assim.

— Não estou fugindo, só é... — A frase morreu em sua boca antes de ser concluída.

— Você sabe que temos esse negócio de empatia forte até demais, não sabe? Eu consigo nitidamente pelo menos imaginar como está se sentindo. Mas me deixe ao menos ficar perto de você.

— Você está.

— Tudo bem, não vou nem tocar em você sem sua permissão. Só quero que saiba que eu não esqueci do que já foi dito nesse mesmo elevador, e reafirmar que da mesma forma que você quis cuidar de mim para que eu ficasse bem, eu estou aqui agora.

— Estou acumulando tudo que você faz por mim para poder retribuir algum dia, só não sei se conseguirei chegar ao alcance. — Ana proferiu baixo olhando seus próprios pés.

Estava ficando impossível para Ana ouvir coisas assim vindo da outra e não sentir uma sensação gostosa que muitos chamam de borboletas no estômago. Colocou seus dedos sob o queixo da cacheada e levantou seu rosto, procurando alinhar seus olhos aos dela.

— Cuido porque gosto de você, Vitória, já é uma grande retribuição ver você bem.

— Obrigada. — Ana levantou o olhar e deu um meio sorriso.

— Eu não quero que me agradeça, não estou fazendo por obrigação.

As portas do elevador se abriram, Vitória esperou que Ana saísse e a seguiu até a porta do apartamento, que foi aberta sem demora.

— Você precisa de alguma coisa? — Vitória perguntou ao fechar a porta.

— Eu só vou tomar banho. Você vai ficar?

— Não sou louca para te deixar sozinha. — Colocou sua clutch em cima do aparador ao lado da porta.

— Fique à vontade no closet, você...

— Ninha — a interrompeu —, não se preocupe comigo.

Ela assentiu e foi em direção ao quarto. Vitória se sentou no sofá e notou que suas mãos tremiam, o que acontecia toda vez que ficava nervosa demais. Se fosse possível, gostaria de ao menos poder dividir o que Ana sentia ou tirar tudo de uma vez. Seu coração apertava por vê-la mal. Até a voz de Ana mais baixa que o habitual estava lhe deixando ainda mais atordoada. Não conseguia nem imaginar o que teria acontecido dentro daquele banheiro se não tivessem chegado a tempo.

Nunca vira Ana daquele jeito e estava odiando com todas as forças. Não seria fácil deixá-la melhor, isso só aconteceria com o tempo, mas nada a impedia de fazer o possível. Olhou a cortina aberta, a porta de vidro estava fechada, mas a levou à lembrança de dias atrás quando teve que ir até o hospital atender a uma emergência. Ana estava se entregando a ela de uma maneira tão natural naquela noite, e agora a ver se retraindo, sem ao menos querer dar a sua mão causava um misto de sensações ruins.

Como alguém no mundo poderia querer fazer mal a alguém como Ana? Entrou no closet de Ana depois de passar minutos na sala sozinha tentando acalmar a si mesma antes de tentar fazer algo pela outra. Pegou o mesmo pijama que usou na primeira noite em que dormiram juntas e deixou sua roupa exatamente no mesmo lugar que deixara naquele dia. As maquiagens de Ana estavam espalhadas sobre a bancada do closet, as luzes em torno do espelho estavam acesas, mostrando que provavelmente ela tinha saído em cima da hora. Uma noite que havia começado tão bem, acabar da forma que estava...

Voltou à sala para dar privacidade a Ana quando saísse do banho, que foi demasiadamente demorado, e só retornou ao quarto quando deixou de ouvir o barulho do secador. A porta estava aberta e assim que parou na mesma, Ana saiu do closet.

— Só me tira a dúvida de onde eu vou dormir?

— Comigo.

— Está se sentindo um pouquinho melhor então? — Disse entrando no quarto e se sentando ao lado dela na cama.

— Sim.

— O tempo que levar para ficar bem, eu vou estar aqui. — Voltou a estender sua mão e dessa vez teve uma resposta mais agradável. Ana colocou a mão sobre a sua, entrelaçando seus dedos.

— Obrigada.

— Pare com isso de me agradecer.

— Eu não tenho como não agradecer. Se não fosse você e Bárbara... — Novamente a frase não foi concluída.

— Passou, ok? Eu posso te garantir que ele vai pagar por isso, Em, mas no momento minha preocupação é você ficar melhor, nele a gente pensa numa outra hora. — Vitória levantou sua mão, beijando o dorso da mão de Ana que abriu um pequeno sorriso com o ato, e quando voltou seus braços, notou que o de Ana tinha uma mancha roxa. — Está doendo? — Passou sua outra mão devagar sobre o hematoma e Ana negou com um meneio. — Eu poderia deixar ele inteiro assim agora mesmo. — Murmurou.

— Você não é louca para me deixar sozinha. — Deu um meio sorriso, fazendo Vitória olhá-la e sorrir também.

Folhas De OutonoWhere stories live. Discover now