Capítulo 29

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Não se pode adaptar uma vida a um namoro e a tarefa de adaptar o namoro à essa nova fase não estava sendo muito bem realizada. Mais duas semanas se passaram baseadas em ligações de prazo de cinco minutos, mensagens monótonas e nenhuma chamada de vídeo sequer, a qual deixaram para o final de semana em que Ana estaria livre.

Bárbara estava se esforçando para colocar na cabeça da amiga que tudo se resolveria, outra tarefa complicada. Ana parecia bem quando estava em sala de aula, o amor e a dedicação que tinha em relação a isso era importante para que não deixasse de aproveitar a viagem, contudo, quando estava em casa, Bárbara mal via um sorriso em seu rosto, tocar no nome de Vitória era um gatilho para qualquer resquício de ânimo se esvair. Sempre fora sincera com Ana e via que tudo estava indo por água abaixo em relação ao namoro, mas seu papel era ajudar a colocar o mínimo que fosse de positividade, e não duvidava que teria que ajudar Ana juntar seus caquinhos. Se colocando em seu lugar, via que não tinha muita saída para um relacionamento que estava por um fio. Era inacreditável. Vitória e Ana pareciam um casal de porta-retrato que nada abalaria.

— Me ligue se precisar, sis, não estarei muito longe.

— Não se preocupe. — Sorriu ao desviar os olhos da tela do notebook para observar Bárbara parada na porta, pronta para sair. A intenção era deixá-la sozinha para poder conversar com Vitória.

— Fica bem, viu? É até um pecado ficar triste em Milão. — Falou fazendo Ana soltar um riso baixo.

— Eu estou bem. — Sorriu forçado.

— Então tá. Tchau, sis.

— Divirta-se. — Falou enquanto Bárbara já estava indo em direção à porta.

— Com certeza irei. — Falou alto o suficiente para que Ana ouvisse do quarto. Ana havia deixado seu sábado para ao menos tentar ter uma conversa decente com Vitória. Passara as duas semanas tentando um contato maior, porém falhou em todas as suas tentativas, não porque Vitória não estava tentando o mesmo, mas porque não havia tempo suficiente e horário condizente. Já estava anoitecendo em Milão, em São Paulo ainda era início de tarde, e em um sábado, Vitória provavelmente estaria com Flávia ou Sabra, esperava que ao menos visse suas mensagens logo. Aguardou por um tempo, ocupando-se fazendo um novo modelo que lhe veio no momento como uma luz no final do túnel, era seu escape. Só foi tirada de seus devaneios quando o barulho de uma chamada de vídeo se iniciou. Deixou suas coisas de lado, voltando a endireitar seu corpo na cadeira em frente ao notebook e aceitou a chamada.

Se sentia novamente como uma adolescente tendo seu primeiro amor ao ver Vitória em meio às tempestades que acontecia entre elas, era como o arco-íris pintando o céu azul de um dia ensolarado após a chuva de coisas ruins passarem.

— Oi. — Deu um meio sorriso analisando o rosto de Vitória na tela do seu computador, a mesma estava vestindo uma blusa sua que deixara em seu apartamento. — Gostei da blusa. — Sorriu abertamente dessa vez.

— Ainda tem seu cheiro. — Sorriu de volta, porém não tão abertamente quanto.

— Sinto falta do seu. — Foi a última coisa dita antes do silêncio se instalar entre elas.

— Ana... acho que precisamos conversar. — Disse finalmente.

— Eu tenho certeza que precisamos.— Tinha certeza também de que essa conversa não traria boas consequências.

— Acho que atingimos um patamar que está machucando nós duas. — Falou depois de segundos em silêncio. Ana apenas assentiu. — Não parecemos mais namoradas, Ana no máximo colegas ou nem isso. — Tentou manter seu tom firme, porém Ana percebia que estava tentando falar sem hesitar. Até o jeito como falava seu nome estava estranho, nem o modo como a chamava estava sendo usado ultimamente.

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