Capítulo 9

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— Está tarde para você ir embora. Dorme comigo hoje?

— Infelizmente não posso, — respirou fundo — eu preciso mesmo ir.

— Tudo bem, — colocou-se de pé também — eu te acompanho até o térreo.

— Não precisa, volte a dormir. — Se aproximou dela, lhe dando um beijo no rosto. — Obrigada, escape.

— Pelo que? — Ana a encarou confusa.

— Por ter sido meu escape mais uma vez. — Sorriu e deu as costas. Quando estava prestes a abrir a porta para sair, Ana a chamou fazendo com que se voltasse para ela.

— Cuidado.

Vitória sorriu com a única palavra dita por Ana e assentiu, saindo logo em seguida. Ana desligou a televisão e caminhou quase arrastada para o quarto. Já fora do prédio, Vitória olhou a rua quase deserta, só não completamente porque um carro ou outro passava. Entrou no seu carro com uma sensação contrária da que entrara para vir até aqui. Estava começando acreditar que Ana tem algum dom que a deixa mais leve, colocando um pouquinho mais de paz onde é puro caos.

*****

Vitória desceu para tomar café da manhã antes de ir para o hospital, assim que colocou os pés no último degrau, pôde ouvir uma voz que conhecia perfeitamente vindo da cozinha. O que Isabel fazia aqui uma hora dessas?

Seguiu para onde vinham as vozes de Luis e sua mãe e olhou para os dois procurando por uma explicação. Ambos estavam sentados próximos a bancada, onde estava servido o café da manhã e agiam normalmente, como se fosse rotineira a presença de Isabel em sua casa às seis da manhã.

— Bom dia, querida. — Isabel deu um meio sorriso.

— Bom dia. — Respondeu de má vontade. — O que faz aqui tão cedo? — Pegou uma xícara e esperou a resposta enquanto a enchia com um café que desejava que estivesse amargo para fazer o par perfeito com seu humor.

— Seu marido — enfatizou — me disse ontem à noite que você não voltou para casa e estava preocupado. Vim saber se estava tudo bem.

— Tudo ótimo. — Pousou a xícara já vazia de volta na bancada. — Espero que seu advogado lhe avise logo quando deverá assinar os papéis do divórcio. — Disse mantendo seu olhar sobre Luis, saindo da cozinha em seguida.

O aviso estava dado, todo o temor por sua mãe ali presente se esvaiu no momento em que a raiva por lembrar que estavam unidos a favor da sua infelicidade se acendeu. Isabel não estava ali por preocupação, estava ali por querer controlar a vida dela e continuar com suas rédeas curtas, Vitória tinha a plena consciência disso. Se não fosse por Sabra, estaria entrando em uma armadilha perfeita criada por sua própria mãe, a pessoa que deveria apoiá-la em suas decisões independentes de quais fossem, ou dar um puxão de orelha quando necessário para ajudar, a pessoa que deveria estar ao seu lado nas horas que sua vida estava de ponta cabeça por ter se cansado da estabilidade de um casamento fracassado. Doía ver que a pessoa que estava disposta a tê-la a todo custo por puro egoísmo ainda tinha o apoio de quem deveria ter sua felicidade como prioridade. Passou a vida tentando agradar sua mãe, sempre fora a melhor aluna, um exemplo de filha até mesmo na adolescência, que mal quebrava uma regra por mais besta que fosse, casou-se porque sua mãe prezava por sua imagem e Luis era o homem perfeito para posar nas fotos das festas de final de ano, para apresentar aos colegas de classe alta como o marido da sua filha mais nova.

Era hora de se colocar em primeiro plano, era hora de ver que há anos não dependia mais de sua mãe e por isso era desnecessário fazer algo para agradá-la. Não importa o quanto esse divórcio afeta Isabel, estava decidida a prosseguir com isso mesmo com os empecilhos que teria por conta da mais velha. Era pedir demais ter uma família estruturada, onde mãe e filha mantém uma relação que beira a algo saudável.

*****

Escape: "Chegou bem em casa de madrugada?"

Sorriu boba ao ler a mensagem enviada pelo contato salvo como Escape. A mensagem chegara há duas horas atrás, porém era um momento inapropriado para respondê-la. Ana já estava acostumada a ter respostas demoradas se mandava mensagens durante seu plantão.

Vitória: "Apesar do tanto de vinho que você me deu, sim, cheguei bem"

Respondeu assim que pôde se sentar para tomar um copo de café quente e amargo.

Escape: "Como estão as coisas? Como você está?"

Vitória: "Se você considera que o estado caótico da minha vida já é normal, então está tudo normal"

Escape: "Seu conformismo me irrita, doutora Falcão"

Vitória teve uma imagem perfeita em sua mente de como Ana diria isso se estivessem cara a cara e sorriu sozinha.

— É... doutora Falcão? — Uma voz baixa a chamou. Vitória virou-se procurando pela dona e a encontrou parada atrás de si.

— Sim? — Respondeu à Letícia.

Letícia deu mais três passos e se sentou ao lado de Vitória.

— Sei que não temos tanta intimidade assim, mas no sábado é meu aniversário e vim te convidar para ir até minha casa, é algo como... uma festa?! — Mordeu o canto do lábio inferior, desviando o olhar rapidamente. — Faça isso por Aninha, ela vai adorar ter você por perto. — Sorriu genuinamente ao voltar seus olhos para a médica.

Letícia fez duas visitas à Ana durante a semana, como havia prometido à amiga, e numa delas acabou por descobrir o contato que a médica e a paciente manteram. Suspeitava de que era algo que ultrapassava os limites do profissionalismo desde quando percebeu a prioridade que Vitória dava ao caso da amiga quando a mesma estava internada. Tirou de Ana que as duas conversavam diariamente e se davam bem até demais. Não poderia deixar Ana sozinha na comemoração do seu aniversário. O círculo de amigos não era o mesmo, se recusava a falar para Ana levar sua melhor amiga que julgava ter tomado seu lugar, e a morena já não tinha mais namorado. Vitória seria a pessoa perfeita para lhe fazer companhia e a nortear e não era algo anormal convidar a médica já que viviam no mesmo ambiente de trabalho.

Vitória a analisou por segundos e esboçou um sorriso sereno, assentindo em seguida. Letícia sabia que se envolvesse o nome da amiga seu convite não seria negado. Anotou no bloco de notas do celular da médica o endereço e o horário e voltou à sua ala.

Vitória: "Acabo de ser convidada para uma festa por sua causa, escape"

Trocou a pauta.

Escape: "Letícia?"

Vitória: "A própria"

Escape: "Me sinto honrada por sua companhia no meio de estranhos"

Vitória: "Serei seu escape por uma noite

****

O que vocês acha que vai acontecer nessa festa ? Eu só sei que estou bastante ansiosa pra saber hahahaha. Não esqueça de me dizer o que estão achando dos capitulos e também de dar o votinho na estrelinha. Tudo isso é bem importante pra mim. :)

Obs: Vai entrar um (a) personagem novo(a) no próximo capitulo (Como participação).

Folhas De OutonoWhere stories live. Discover now