Capítulo 14

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Vitória quase se negou a levantar quando sentiu sua cabeça doer ao sentar na cama, resultado de uma noite mal dormida. Estava atordoada demais para fazer outra coisa que não fosse pensar no erro que cometera e na forma como a consequência dele a deixou pior do que deveria. Não esperava mesmo que Ana agisse normalmente, que a entendesse, mas ao menos se ela tivesse a escutado e tentado por um segundo a compreender já seria alguma coisa. Um simples pedido de desculpas realmente era pouco e, mais uma vez, agiu por impulso quando disse a Ana que tinha se arrependido de ir até lá. A verdade é que não havia arrependimento, fez certo ao ir até lá tentar consertar a situação, só que na hora, a primeira incompreensão de Ana a deixou sem rumo, fazendo com que as palavras saíssem sem serem medidas antes.

Acompanhada pelo silêncio no seu novo apartamento, por horas tentou pegar no sono, entretanto, a voz de Ana estava perfeitamente audível dentro da sua cabeça.

Eu não sei para você, mas para mim o que aconteceu significou muito. Se você se arrependeu, eu deveria saber, e saber através de uma conversa e não por um afastamento repentino e inexplicado.

Só conseguia pensar em arrumar de novo a desordem que ela mesma causou tentando colocar a sua própria no lugar. Tinha que dar um jeito de mostrar a Ana que realmente não estava arrependida e o seu afastamento repentino e inexplicado não foi por motivos ruins.

Com o celular na mão e o contato ainda com o nome Escape aberto, digitou três mensagens que foram apagadas por falta de coragem de enviar. O medo de enviar e ser ignorada como fez com ela a impediu. Digitou pela quarta vez a mensagem e por fim a enviou antes que a falta de coragem a impedisse de novo. Que Ana aceitasse o convite da mensagem. Que fosse como Bárbara havia dito.

— Ana é orgulhosa as vezes mas seu rancor passa rápido, vai por mim, Vitória...

***

"Hey. Lembra de quando me perguntou se eu ainda a usaria como meu escape? Estou precisando de um agora e você é o meu. Você também disse que esperava ser convidada para vir até meu apartamento e não retiro minhas palavras de que é bem-vinda. Apenas me dê a oportunidade de me desculpar direito quando se sentir preparada para isso."

Ana leu a mensagem seguida de um endereço ainda deitada em sua cama. Foi a primeira coisa que fez após acordar. Conseguiu se acalmar um pouco depois de ter pensado e repensado incontáveis vezes na tentativa de um pedido de desculpas e explicações de Vitória. Não queria satisfações, queria apenas que não tivesse acontecido daquela forma, mas estava feito e tinha conserto, cabia a ela querer consertar, já que Vitória demonstrou claramente que estava arrependida.

***

Em todos os minutos vagos que teve entre um atendimento e outro, Vitória checou o celular caso houvesse alguma resposta vinda de Ana, mas sua expectativa diminuía a cada vez que via novamente que tinha sido ignorada.

Ouviu a campainha tocar sem parar enquanto ainda estava saindo do banheiro. Mal pensou em colocar uma roupa, foi ver quem era apenas com a toalha cobrindo seu corpo e agradeceu mentalmente por não ser outra pessoa que não fosse Flávia quando olhou através do olho mágico.

— Eu não posso mais tomar banho em paz? — Vitória perguntou enquanto Flávia entrava sem nem ser convidada – o que realmente não precisava.

— Eu venho ver como minha amiga está e é assim que sou recebida? — Levou a mão ao peito fingindo indignação.

— Ah, ela é preocupada. — Sorriu de forma irônica.

— Você é uma ingrata mesmo. — Rolou os olhos.

— Veio realmente só para saber como estou?

— Vim saber das coisas. Você ignorou ela, me ignorou ontem à noite também.

Folhas De OutonoWhere stories live. Discover now