Capítulo 11

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O dia em São Paulo amanheceu chuvoso, o vento frio entrava pela janela a ponto de fazer Vitória se encolher ainda mais nos braços de Ana. O calor dos seus corpos cobertos pelo edredom a deixou quente durante toda a noite, mas a brisa gélida repentina fez seu corpo estremecer. Abriu os olhos devagar e na mesma velocidade se deu conta de onde estava. Sem se mover, olhou para Ana que estava exatamente na mesma na posição em que dormiram. Suas pernas ainda entrelaçadas, seus braços em volta dos corpos e a cabeça encostada sobre o peito de Ana. Foi tanto tempo sem se sentir bem dividindo a cama com outra pessoa. Olhou para a janela e os pingos finos de água que caía lá fora a fez ponderar a possibilidade de ficar ali o dia todo, contudo, infelizmente, o universo não estava conspirando muito a seu favor. Precisava criar coragem e sair dali. Estava tão bem, estava tão segura, que um nó se formava em sua garganta quando pensava em chegar em sua casa e encontrar quem menos gostaria de ver. Não se surpreenderia se Isabel estivesse a esperando como um bônus no pacote falta de empatia.

Ana estava dormindo tão tranquilamente que Vitória imaginara que não acordaria tão cedo, portanto, tirou devagar seu braço que estava passado por sua cintura e suas pernas estavam tão entrelaçadas que tentou com todo cuidado se desvencilhar. Ao conseguir se desfazer do emaranhado que elas haviam virado na cama, se distanciou um pouco e quase se recusou a se distanciar mais, seus corpos encaixaram tão perfeitamente um no outro como duas peças de um quebra-cabeça. Seus olhos estavam fixados no rosto da morena que não dava nenhum sinal de que acordaria. Sorriu sozinha só por vê-la tão serena. Embora havia visto ela dormindo várias vezes, era em uma cama de hospital, após um acidente, não era um sono sereno que merecia ser velado como esse. Se Ana pudesse sentir o tanto de gratidão que Vitória estava sentindo naquele momento só assim teria noção de que mesmo parecendo fazer pouco, estava fazendo muito. Vitória se sentia acolhida e tão bem cuidada, e durante a noite que pôde literalmente estar nos braços dela se sentiu segura. Levantou da cama devagar após arrumar o edredom sobre Ana como estava antes, andou até o banheiro tentando não fazer qualquer barulho que pudesse acordá-la, fez sua higiene matinal, seguindo para o closet em seguida. Tirou a roupa que pertencia a Ana e trocou pela sua, saindo com os saltos nas mãos para não fazer barulho. Parou por mais alguns segundos na porta do quarto e sorriu ao ver que Ana ainda dormia aparentemente bem. Andou até a porta de entrada nas pontas dos pés, pegou a chave em cima do aparador que Ana havia jogado na noite passada e encaixou na fechadura, a girou e colocou as mãos na maçaneta.

— Eu te ofereço a minha cama e você sai sem me dar um bom dia? — A mole atrás de si a fez virar num impulso.

— Você parecia estar dormindo tão bem, não quis te acordar. — Encolheu os ombros. — Bom dia. — Seus lábios se abriram num sorriso e Ana negou com a cabeça.

— Se afasta dessa porta agora.

— Por que? Ana, eu vou em...

— Você não sai daqui — a interrompeu — sem um café da manhã.

— Não quero abusar da sua boa vontade, já basta eu ter passado a noite aqui.

— Eu estou te pedindo para ficar e tomar café comigo. — Ana a olhava com as sobrancelhas arqueadas esperando por uma decisão. Vitória a olhava pensando se ficaria ou não. Usou suas roupas para dormir, dormiu na sua cama, seu corpo a aqueceu mais que o próprio edredom, não podia passar dos limites, Ana já tinha feito demais por ela. — Vitória, é um café da manhã, não é um pedido de casamento. Mas tudo bem se não quiser, vou entender.

— Eu fico. — Disse sorrindo, o que refletiu em Ana.

— Me espere na cozinha então. — Disse enquanto se afastava em direção ao quarto.

Vitória calçou os scarpins e foi para a cozinha, de acordo com o que Ana pedira. Assim como a primeira vez que esteve nos outros cômodos, se encostou na bancada e observou todos os detalhes da cozinha também preta e branca com poucos detalhes coloridos. Não podia negar que bom gosto era o que não faltava para a outra. Ana apareceu na cozinha sem demorar, com o mesmo pijama, descalça e com o cabelo preso.

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