Quando a manhã chegou, um clarão cegou-me mesmo que eu estivesse com os olhos fechados.
- Bom dia, senhorita Hamilton - Joana disse com sua habitual voz alegre após erguer as persianas brancas. Franzi o nariz e apertei mais os olhos, em seguida me espreguicei, sentando-me na cama.
- Bom dia, Joana - respondi em meio a um bocejo, estiquei os braços acima da minha cabeça novamente e esfreguei os olhos.
- O café está pronto, todos já estão lá em baixo - ela me avisou, reclamei e joguei meus pés para fora da confortável cama. Se todos estavam na mesa, eu sabia que deveria me apressar ou escutaria um sermão da minha mãe até o fim do século. Tomei um banho, coloquei um vestido curto lilás, uma rasteirinha e desci. Como já havia sido avisada antecipadamente, todos estão postos à mesa; meu pai estava na cabeceira como todos os dias, minha irmã sentada ao seu lado direito, minha mãe ao lado de Diana e eu me posicionei ao lado esquerdo do meu pai.
- Bom dia - cumprimentei e todos me retornaram em um uníssono.
Comemos em silêncio e quando nos colocamos de pé, meu dia tedioso começou. Enquanto andava pelo jardim fiquei pensando no que eu faria, mas de uma coisa eu tinha certeza, eu tinha que sair de casa. O que seria muito complicado, pois se eu fugisse de avião, o meio de transporte mais rápido e fácil, me reconheceriam e me mandariam de volta para casa. Desmoronei na grama úmida, não me importando com o sol escaldante queimando minha pele. Eu sentiria muita falta da minha família, mas não é como se eu fosse fugir e nunca mais voltar, eu apenas ia tirar um tempo para aproveitar um pouco a vida.
No dia seguinte, eu já estava pensando que a história de fuga era uma bobagem. Eu não fazia ideia do que encontraria muito longe daqueles portões, talvez meu pai estivesse certo me mantendo em segurança. Mas eu mudaria de ideia quando soubesse o que estava me esperando.
Minha vida era uma rotina enjoativa, totalmente previsível. Como sempre, Joana acordou-me erguendo as persianas, me espreguicei, estiquei-me, bocejei e blá blá blá, enfim, logo eu estava descendo o lance de escadas e quando olhei para a mesa algo estava diferente. Ao lado da cadeira vazia onde eu deveria me sentar, havia um homem, o qual se colocou de pé rapidamente ao me avistar.
- Bom dia, senhorita Hamilton - Michael Philips se afastou de sua cadeira, aproximando-se da minha e a puxando para trás. Caminhei lentamente, forçando um pé na frente do outro até que consegui colar meu traseiro no assento almofadado. Comemos em absoluto silêncio e uma angustia crescia dentro do meu peito a cada minuto que passava. Forçar a comida por minha garganta estava complicado, mas logo fiquei satisfeita e me coloquei de pé, tentando fugir dali o mais rápido que consegui. Infelizmente, não rápido o suficiente.
- Luciana, espere - a voz do meu pai ecoou por todo o cômodo, engoli em seco e me virei - precisamos conversar.
O segui até a biblioteca, onde eu me encontrava dois dias atrás olhando pela janela, me sentei em uma poltrona, Michael sentou-se ao meu lado e franzi o cenho, aquilo não poderia significar coisa boa.
- Lucy, querida, você já deve conhecer o Michael, não é? - papai perguntou de um jeito leve, aconchegando-se na nossa frente.
- Sim - respondi laconicamente.
- Bem, eu andei pensando muito na conversa que tivemos outra noite e decidi te dar o passe para se casar - ele disse e abriu um largo sorriso, assim como o que surgiu no meu rosto, lancei meus braços ao redor do seu pescoço e dei-lhe um beijo estralado.
- Obrigada, papai, muito obrigada - falei e o abracei mais firmemente. Se eu tinha passe para me casar, eu tinha passe para andar por ai e encontrar alguém para mim, já seria um começo.
- Por nada, eu só quero ver minha princesinha feliz. - Túlio disse - Por isso escolhi um homem apropriado para ser seu futuro marido. Michael - ele acenou com a cabeça para a pessoa atrás de mim - conversei com ele e ficou contentíssimo com a ideia, aceitando prontamente se casar com você.
- Me sinto honrado pela proposta que me fez, Sua Graça - Michael falou, chamando meu pai por seu título.