Capítulo 12

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LUCIANA

Ficamos alguns minutos em silêncio enquanto rodávamos pelo salão em uma bela valsa. Realmente era uma festa como as antigas. Trajes antiquados, beijos em mãos enluvadas ao invés da bochecha, danças que só poderiam ocorrer a dois. Porém, essa última parte não me incomodou nadinha, para ser sincera nem as outras partes. Para falar a verdade, eu gostava dos vestidos rodados, cheio de babados e do cavalheirismo que indicava o selinho na luva; não obstante, a dança entre casais tinha conquistado meu voto como a parte favorita. E claro, isso não tem nada a ver com o fato de eu estar com meu corpo tão perto do de um cara lindo de morrer. Pff, mas é claro que não. Ah, e eu comentei que havia ponche? Pois bem, havia.

- Está pensativa - Willian disse, arrancando-me de minhas reflexões momentâneas.

- Apenas com a cabeça um pouco longe - dei de ombros ligeiramente.

- Isso é uma pena, quer dizer que não estou fazendo meu papel bem feito - ele fez uma cara triste e eu ri - acho que... - ele sussurrou em meu ouvido com uma voz profunda e sexy, que fez minhas pernas virarem geleia e eu agradeci mentalmente por ele estar me segurando.

- Acho que... - repeti, animando-o a continuar. Ele sorriu de lado, um sorriso pícaro, e me puxou para mais perto, colando nossos corpos.

- Acho que vou ter que mudar minhas táticas - concluiu e eu engoli em seco. Para minha sorte, ou azar, a música acabou e eu consegui me afastar.

- Poupe seu galanteio para a próxima moça, senhor - falei em um tom de brincadeira e um sorriso gentil, fiz uma leve despedida com a cabeça e ergui um pouco o longo vestido para que eu pudesse caminhar. Como eu esperava, e se eu fosse sincera comigo torcia, ele segurou meu pulso e eu me virei para ele.

- Permita-me pegar-lhe um pouco de ponche - ele disse e fez uma cara pidona que eu não consegui recusar.

- Não é necessário - comentei - mas permito-lhe que me acompanhe até a mesa onde ele está.

Não esperei sua resposta e comecei a caminhar, não olhei para trás para conferir se ele me seguia, porém logo ele estava ao meu lado e eu pousei minha mão no braço que ele estava oferecendo. Caminhamos lentamente, costurando entre as pessoas.

- À propósito, eu sou Willian Drake - anunciou de repente, sua voz leve.

- É um prazer, senhor Drake - e ali eu me calei. Paramos em frente a mesa de ponche e ele arqueou uma sobrancelha, que ao contrário da minha, sua máscara não tampava quase nada, apenas a volta dos seus olhos azuis. Ah, vocês sabem, tipo a máscara do zorro.

- Não me dirá seu nome? - ele perguntou.

- Oh, não, isso não está em meus planos - comentei casualmente e me servi com um pouco da bebida vermelha na minha frente.

- Isso não é justo - ele falou como um garoto de 6 anos que não conseguiu o que queria.

- A vida não é justa, meu caro - levei meu copo aos meus lábios para esconder o sorriso que surgia neles.

- Porém, os planos podem ser alterados - Willian deu outro de seus sorrisos conquistadores e irresistíveis - Dê-me a honra de me acompanhar até o jardim? - ele perguntou e eu engoli em seco.

- Não acho que seja uma boa ideia - falei com a voz um pouco entrecortada e ele riu.

- Acalme-se, não é como se eu estivesse indo violentá-la de algum modo. Palavra de escoteiro - ergueu a mão e não consegui segurar a risada. Pensando bem, eu estava preocupada de que eu pudesse violentá-lo. Acalme-se Luciana, acalme-se. Esse homem é muita areia para o seu caminhãozinho e uma areia muito perigosa.

- Bem, não parece ter sido um escoteiro.

- Touché - ele apontou com um dedo em minha direção e piscou - entretanto, prometo comportar-me como um perfeito cavalheiro. - que mal faria conversarmos um pouco? Assim, eu poderia conhecê-lo melhor.

- Tudo bem - tomei seu braço e nós seguimos até o jardim. Não passou-me despercebido os olhares maliciosos lançados na direção do homem ao meu lado, ao mesmo tempo que vinham em minha direção, porém com pura raiva e inveja.

Nenhuma palavra foi dita até que estávamos vagando através do jardim do senhor... bem, não me lembro o nome do anfitrião. Havia muito verde ali, tipo muito mesmo, mas as rosas carmesins avivavam o lugar.

- Nós vamos pintando assim, as rosas cor de carmim - cantarolei enquanto passava as mãos nas belas flores. Notei o silêncio que pairava no ambiente e me virei para encontrar um Willian vermelho de segurar a risada.

- Ora vamos, pode rir - falei, não demorou nem um segundo e uma gargalhada soou no local. Era uma risada contagiante que me fez rir também.

- Sério? Alice? - ele perguntou entre risadas.

- Se você sabe de onde eu tirei, então é porque já assistiu - falei e me sentei em um banco que ali havia.

- Não negarei e nem afirmarei nada - ele sentou-se ao meu lado - tudo que eu disser poderá ser usado contra mim.

- Claro, tem o direito de permanecer calado - anunciei rindo e não notei o quão próximo estávamos.

- Por mim tudo bem, não direi nenhuma palavra mais - seu tom agora era rouca e suave. Ele colocou seu braço no encosto do banco e se aproximou de mim. "Ele vai me beijar, eu sei que vai", pensei. E quando isso passou em minha mente, eu deveria ter me levantado, agradecido pelo passeio e saído dali rapidamente. Ou talvez poupasse tempo e apenas corresse dali. Porém, o beijo não aconteceu. Willian estava bem perto, mas parou antes que nossos lábios se encontrassem. Ele disse que não iria me violentar de nenhuma maneira e talvez, em sua mente, roubar-me um beijo seria descumprir sua promessa porque talvez eu não quisesse.

Mas quando eu ergui meu olhar e o mesmo encontrou seus lábios perfeitos e levemente corados, eu soube que eu queria. Ah, como eu queria ser beijada por esse homem. Eu sempre quis que meu primeiro beijo fosse perfeito e eu sabia que esse homem não me decepcionaria, pelo menos não nesse assunto. Eu queria mesmo arriscar a perfeição que eu sonhava como sendo o beijo com Willian? O homem irritante, cruel e frio, que habitava a maior parte do tempo em um navio e tinha mulheres em cada parte do mundo? Olhei seus olhos azuis e sua boca entreaberta apenas esperando que eu encerrasse a distância se quisesse e então eu soube. Sim, eu queria arriscar. 

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now