Capítulo 7

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Mas o que eu estava esperando? Marinheiros uniformizados que por acaso fizeram uma boa ação resgatando um garoto perdido em um beco? Ou piratas bonzinhos, elegantes e charmosos, que sorriam com os olhos e diziam palavras bonitas? Eu provavelmente andaria sobre a prancha com uma espada em minhas costas e seria jogada ao mar para ser comida de tubarões caso descobrissem que sou uma mulher. Os minutos transcorridos pareceram horas enfurnada naquele lugar. Eu já estava quase cochilando quando a porta se abriu mas não me preocupei em levantar, achando que era Stefan.

- Uau, você parece estar se divertindo ai - uma voz jocosa e masculina soou no cômodo e me coloquei de pé em uma respiração.

Arregalei os olhos quando encontrei um rapaz, provavelmente da minha idade, encostado na porta de uma maneira despreocupada, os tornozelos cruzados assim como os braços. Seus cabelos eram negros e curtos, os olhos de um verde esmeralda brilhantes e dentes brancos e retos surgiram quando ele sorriu; usava uma blusa de manga como dos outros, aberta no colarinho e uma calça justa enfiada em suas botas. Diferente dos outros, não usava colete e nem um chapéu. Eu mesma queria ter esse privilégio, pois o meu estava desconfortável e começando a suar, além de ter que me preocupar com ele parado em minha cabeça o tempo inteiro.

- Você acha? - perguntei, forçando minha voz um pouco mais rouca.

- Não, estou sendo apenas irônico - deu de ombros e inclinou a cabeça de lado. Uau, ele era realmente bonito. Senti que meus olhos brilharam e tive que reprimir um sorriso quando o pensamento de que pelo menos eu teria alguém para observar enquanto trabalhava como uma condenada surgiu em minha mente. - Então, quem é você?

- Ian - disse prontamente, agora um pouco mais confortável. Apesar da atrocidade do destino que eu havia escolhido para mim, ou vice-versa, pelo menos um homem bonito e jovial havia entrado por minha porta, literalmente.

- Eu sou Julian - ele se aproximou e estendeu a mão, a qual eu a segurei firmemente, a balançando. Ele era alto, apesar que perto de mim quase todo mundo era alto, e esbelto, entretanto, parecia bem formoso sob suas roupas, apesar de eu não estar vendo concretamente, é claro. Mas eu podia imaginar, e como eu estava imaginando.

- Então Ian, como veio parar aqui no navio? E não me diga que foi a cegonha que o descarregou aqui, não acredito mais nessa história faz alguns dias - perguntou, sentando-se ao meu lado. Não consegui reprimir um sorriso, mas virei o rosto para que Julian não olhasse bem para mim assim, caso contrário não teria dúvidas de que eu era uma garota.

- Na verdade, eu fugi antes que ela me enrolasse naquele maldito pano branco e então, Stefan me achou. Disse que precisava de ajudantes - comentei e dei de ombros. Julian riu e o som era contagiante.

- Espero que saiba onde está se metendo. Apesar de eu ser filho do capitão, não me dão mole - agora ele estava falando sério. Filho do capitão? Uau. Não sabia qual situação era mais difícil de lidar, mas apostava todas as minhas fichas que eu estava me enfiando em uma baita confusão que me mandaria direto para o mar e não estou dizendo através de um meio de transporte.

- Eu aguento - afirmei, tentando mostrar uma certeza que eu não sentia. Porém, pareceu convencer o homem lindo ao meu lado que apenas assentiu com a cabeça.

- Bem, tenho que voltar. Quer vir comigo? - perguntou enquanto se colocava de pé.

- Stefan disse para esperar aqui - falei e esperei sua reação. Ele me olhou por um tempo e sorriu.

- Certo, eu também permaneceria aqui se fosse você. Stefan como toda aquela idade mental e aquela cabeleira é amedrontador - ele fingiu um arrepio e nós dois rimos. Até mesmo a minha risada tive que fingi-la mais rouca. Não poderia dar brechas para dúvidas, muito menos para certezas do que eu realmente era.

Me senti completamente sozinha quando Julian foi embora, o tédio surgiu com força total e brincou comigo como se eu fosse uma boneca de pano. Pulei na cama, brinquei de amarelinha imaginário, sentei no chão para meditar um pouco e Stefan escolheu esse momento para entrar, seus olhos se arregalaram e ele franziu a boca para segurar um sorriso.

- Se acha que precisa acalmar seus nervos, posso voltar mais tarde - ele disse sorrindo, ri e me pus de pé.

- Só estava entediado - comentei, dando de ombros.

- Venha garoto - ele apontou para a porta com um leve gesto de cabeça, passei na sua frente mas consegui ouvi-lo sussurrar - maluquiiiinho - eu não o culpava por pensar assim, acharia o mesmo se encontrasse alguém na mesma situação.

Saímos do pequeno cômodo, Stefan na minha frente e eu quase pisando em seus calcanhares para não correr o risco de perdê-lo; porém, eu passei a desejar mais a solidão e pequenez do quarto. Ele me apresentou o navio inteiro, da proa até a popa, e todos os seus tripulantes e posso dizer que a maioria deles fizeram com que todos os meus pelos se eriçassem violentamente. Mas me mantive firme diante de sorrisos amarelados e olhares atrozes, tirando Julian é claro.

- Onde está o capitão? - me atrevi a perguntar enquanto Stefan me escoltava novamente para o cubículo que havia me instalado.

- Quase nunca o verá aqui, tem pessoas para fazer o trabalho por ele. E para nos vigiar deixa seus filhos, principalmente o mais velho. - respondeu calmamente e abriu a porta para que eu entrasse, olhou no relógio e novamente para mim - Agora são 04:30, tem 01:30 para dormir ou fazer o que quiser, mas se apresente às 06:00 em ponto perto do mastro - falou sucintamente e se foi.

Joguei-me de costas na cama e fechei os olhos. 06:00 em ponto? Como ele queria que eu acordasse? Eu não tinha trago meu celular, nem um galo e meu relógio biológico não era tão eficiente assim. Mas sabia que se não dormisse um pouco, teria que evitar encostar em qualquer coisa, ou em qualquer pessoa por ali. Com certeza teria que providenciar um galo, urgentemente.

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now