Capítulo 75

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Não consegui reprimir um sorriso enviesado, que exalava puro sarcasmo, por conta de sua expressão. Desencostei-me da parede e dei um passo na direção deles; os olhos do homem parecia que iam pular para fora e um sorriso brilhante surgiu no rosto de Lucy.

- Não se aproxime - disse Pedro - ou não pensarei duas vezes antes de rasgar-lhe o pescoço.

Notei que ele suava em bicas, sua respiração parecia irregular se o movimento descompassado de sua caixa torácica fosse uma indicação e sua língua saía de tempos em tempos para umedecer sua boca levemente esbranquiçada pela sequidão. Ele estava nervoso. Nervoso não do tipo bravo, irritado ou qualquer outro sinônimo, nervoso do tipo que eu fiquei esperando que ele iria cair duro no chão a qualquer momento. Bem, se isso acontecesse, eu não poderia dizer que sentiria por ele. O garoto era visivelmente inexperiente nesse assunto, o que me levou a pensar o que eu havia feito para ele que o fez ficar daquele modo. 

Dei mais um passo em sua direção, minhas mãos enfiadas nos bolsos da frente da minha calça e falei descontraidamente:

- Vejo que não há nada na sua mão nesse momento, então, quando você pensar em tirar a sua faca para machuca-la, eu já terei dado um tiro na sua cabeça. 

Girei a arma em meus dedos e notei o movimento do seu pomo-de-Adão quando ele engoliu.

- Mesmo que pudesse acerta-la? - questionou e pigarreou para falar com mais clareza - eu poderia coloca-la na minha frente no último momento. 

- Poderia, mas mesmo assim eu atingiria meu objetivo - falei, mostrando uma calma que eu já não sentia - ela é mais baixa do que você e, para seu azar, eu considero-me um homem de boa mira. 

Eu queria acabar com aquilo logo ao invés de ficar explicando coisas para ele. O vento que soprava em nossos ouvidos era o único som que estava naquele lugar distante e vazio. 

- Você está tão lindo - a voz de Lucy praticamente ecoou no silêncio. Olhei em sua direção e um sorriso estava estampado em seu rosto - eu quero te beijar agora. 

Franzi o cenho por ela estar com aquela atitude em uma situação como aquela e dizendo coisas que pareciam impossíveis permanecerem dentro de sua boca. Eu também estava louco para toma-la em meus braços e beija-la loucamente. 

- Diga logo qual o seu problema - falei, agora rangendo os dentes. O garoto permaneceu calado e parecia que iria manter-se daquele modo antes que gritasse a plenos pulmões:

- Você matou o meu pai - seu rosto estava adquirindo um tom escarlate - você já deve ter matado tantas pessoas que nem deve se lembrar. Village, lembra desse nome? 

Na verdade, não era estranho, mas não, eu não me lembrava.

- Era uma noite de sábado qualquer, minha mãe sorria enquanto colocava uma xícara de chocolate quente e marshmallow na minha frente, eu era apenas um garoto de três anos e achava que aquilo era a melhor coisa no mundo. Então, a campainha tocou, meu pai disse: "eu atendo", beijou minha mãe no rosto e levantou-se. Um tiro soou assim que a porta se abriu e logo meu pai estava no chão e do lado de fora um garoto com uma arma nas mãos. Eu não vi nada, minha mãe me mandou para cima e foi ver o que estava acontecendo e ela me contou tudo. Você é um monstro desde criança, assim como o resto da sua família.

 Eu me lembrei daquela história e revivi na minha mente como se fosse ontem. Relembrar daquela história fez meu sangue ferver dentro das minhas veias, minha cabeça girou e eu queria esmurrar o que estivesse na minha frente; minha mandíbula estava apertada e meus dentes doíam pela força que eu estava fazendo. 

- Você o matou friamente - as lágrimas começavam a escorrer pelo seu rosto - ele não havia feito nada para você. Era um ótimo marido e um ótimo pai, sempre foi um homem bom. 

- Isso foi o que sua mãe disse? - questionei. 

- Não tente dizer nada da minha mãe - gritou. 

- EEEEEEEEEEEEEEEEI - Lucy esbravejou e atraiu os nossos olhares - parem de gritar. Quer saber, eu cansei disso tudo - e antes que pudéssemos reagir, ela mordeu o braço que a segurava e começou ao correr - vem me pegar, Will - e rindo, escapuliu para dentro da floresta. 

Eu estava atônito no lugar e Pedro parecia sentir a mesma coisa, pois também estava apenas olhando para onde ela sumiu. Voltei da minha letargia e dei uma coronhada forte em Pedro, o joguei sobre meus ombros quando ele caiu no chão, pois não o perderia de vista, e entrei no meio das árvores.

- Lucy - eu gritava e não havia nem sinal dela - Lucy. 

Um vulto passou por ali perto e ouvi uma risadinha baixa. Deixei o garoto no chão e corri para encontra-la. Notei o seu pé atrás de uma árvore alta e tronco espesso, ela olhou para ver onde eu estava e quando me encontrou tentou correr, mas eu a alcancei. Segurei em sua cintura e, sem pensar, a beijei. Seus braços vieram para meu pescoço, suas mãos tocando os cabelos da minha nuca e retornava o beijo em abandono, entregando-se totalmente. Nossas línguas brincavam em perfeita sintonia e minhas mãos passeavam pelo seu corpo, não conseguindo permanecer paradas. 

- Oh Will, eu senti tanta sua falta - ela murmurou quando nos separamos, sem fôlego. Seus olhos brilharam e parecia que um fogo havia tomado conta deles - eu quero transar com você, William, aqui e agora - e veio para cima de mim como se fosse uma predadora e eu seu alimento.

 - Ei - segurei seus braços e ela sorriu - te deram alguma coisa? 

- Aham - ela disse rindo e jogou os braços ao redor do meu pescoço novamente. E então, eis o motivo de sua sinceridade. 

- Vamos voltar para o garoto, dar um jeito nele e logo vamos embora - murmurei e selei nossos lábios novamente.

- Will, ligue para a polícia - ela disse, fincando os calcanhares no chão. O quê? O cara a sequestra e quer que eu o deixe sair assim?

- Lucy, não...

- Por favor - ela disse, suspirando - já tivemos muita coisa e o garoto fez o que fez por conta do que a mãe dele disse para ele. Já chega disso, eu só quero ir para casa. 

Eu não era o tipo de cara que era ameaçado, tinha a mulher que ama sequestrada e deixava o tipo sair ileso, no caso apenas ser preso. Eu gostava de fazer a minha justiça e sempre foi assim. Mas quando encarei os grandes olhos claros de Lucy, eu suspirei rendido e eu apenas queria leva-la para casa.

- Tudo bem - cedi. 

Ligamos para a polícia, voltamos para a cabana e depois de alguns minutos, as sirenes avisavam a chegada deles. Lucy foi quem cuidou da situação dos dois homens desmaiados, conseguindo inventar uma história onde eu não estava envolvido após a droga ter saído um tanto bom da sua circulação. Eu não queria me arriscar, apesar de não ser tão conhecido como meu pai era. Quando o homem que estava recobrando a consciência era colocado dentro do carro da polícia, ainda fora de si, eu abracei Lucy pela cintura e a puxei para mim. 

- Vamos para casa - falei e logo senti quando o ataque da sua boca veio sobre a minha.

- Vamos para casa - ela respondeu e sorriu. Caminhamos por entre as enormes árvores, abraçados de lado. 

- Will?

- Sim? 

- Ignore a minha eu de mais cedo, por favor - olhei para ela e seu rosto estava pegando fogo. Joguei minha cabeça para trás e soltei uma sonora gargalhada. 

- Não há nada demais em dizer o que quer - dei de ombros - e eu gostei de saber que queria meu corpo nu ali - ela me olhou indignada, socou meu braço em brincadeira enquanto eu ria. Olhei em sua direção novamente enquanto continuávamos nossa caminhada e a verdade estava bem ali. Lucy era o motivo do meu sorriso e eu não poderia deixa-la ir. Coloquei meu braço em seus ombros e a puxei para mim, beijei o topo da sua cabeça e sussurrei:

- Eu te amo.

ღ Perigosa AtraçãoUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum