Capítulo 20

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LUCIANA

Se arrependimento matasse, eu já estaria estirada no chão. Eu realmente acreditava que essa farsa duraria para sempre? Bem, era exatamente o que eu pensava, ou pelo menos torcia. E agora eu estava aqui, enjaulada como um animal selvagem, suja e morrendo de fome. Eu nunca vou me esquecer do brilho malicioso nos olhos daquele homem quando notou que eu era uma mulher. Ele me puxou para que eu ficasse em pé e colou nossos corpos, uma onda de vertigem passou por meu corpo e eu achei que ia vomitar ali mesmo.

- Agora você será meu novo brinquedinho, querida, será seu castigo - ele havia dito e eu queria chorar até que ficasse ressecada e morresse. Preferia isso do que ser usada por esse homem horrível e repulsivo. Ele me agarrou, atirou a mulher no mar sem piedade e colocou-me em seu lugar e enfim, me permiti chorar.

- Lucy - olhei para cima e Julian estava ali. Ele abriu a porta e eu pulei nele, abraçando-o - me perdoe.

- Não precisa pedir perdão - falei, fungando pelas lágrimas que rolavam até agorinha.

- Sim, preciso. Disse que ia protegê-la e vou, ficarei de olho, ninguém entrará aqui, tudo bem? - assenti e o abracei novamente, eu realmente precisava disso - Stefan irá me ajudar.

Ele ficou ali mais um tempinho e partiu. Então eu estava sozinha novamente e o desespero tomou conta de mim. O que eu iria fazer? Estávamos em alto mar e me afogar não era uma opção muito agradável. Me encolhi novamente em um canto, abraçando as pernas e colocando o rosto entre as mesmas. A porta abriu novamente, mas como ninguém disse nada, não me atrevi a levantar o rosto.

- Levante-se e coma, menina - a voz masculina era rouca e familiar, fazendo com que todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. Permaneci do mesmo jeito, esperando que ele deixasse a comida ali e simplesmente partisse. Mas eu deveria saber que eu não tinha essa sorte toda. - Vamos, levante-se. Agora - William vociferou, mas eu me mantive firme, não queria que ele me visse. Então, senti sua mão no meu braço e em um puxão eu estava de pé, meu olhar focado em seus olhos azuis.

- Quando eu disser algo, espero ser ouvido - ele falou com uma voz perigosamente baixa, sua mão ainda segurava meu braço e eu estava ficando nervosa, tudo estava tornando-se vermelho. Ele estava muito perto e mesmo que meu corpo traidor o quisesse, eu o empurrei.

- E quem pensa que é? - perguntei, arrumando coragem não sabia de onde. Ele me olhou com uma carranca, que não o deixava menos bonito, e deu um passo para trás.

- Ora garota atrevi... - sua voz morreu e seus olhos me vasculharam de cima a baixo. Ele havia me reconhecido, tinha certeza disso e sorri por dentro de satisfação.

- Foi um prazer encontrá-lo novamente, senhor Drake - sorri ironicamente e dei alguns passos em sua direção enquanto falava, toquei seu peito com a palma da mão e uma onda de calor passou por todo meu corpo. Controle-se, falei para mim mesma - mas eu realmente gostaria que partisse - o empurrei para fora e fechei a porta da cela. 

Ele ficou parado, atônito, do outro lado. Quando finalmente acordou do transe em que estava envolto, abriu a "jaula" com um movimento rápido, encostou-me na parede pelos ombros e grudou seus lábios nos meus violentamente

Sua boca se movia rapidamente e com voracidade, sem a gentileza e paciência de sempre, me proporcionando uma certa dificuldade em acompanha-lo. Suas mãos estavam apoiadas na parede em cada lado do meu rosto, sem me tocar, e as minhas estavam caídas aos flancos. Então ele enterrou a face na curva do meu pescoço, soltou uma maldição e deu um soco na parede, afastando-se de mim.

William saiu da cela e eu consegui respirar, mas me mover era uma outra história. Notei que ele havia saído apenas para trancar a porta para que ninguém mais descesse ali, pois logo ele surgiu, uma veia saltando em sua testa de raiva.

- O que você está fazendo aqui ? - perguntou dando passos largos e parando na minha frente - Eu a procurei por quatro meses, sabe o que é isso? E você estava aqui, bem debaixo do meu nariz - sua voz estava muito mais alta e grave do que eu já havia escutado.

- Bom... - comecei mais fui interrompida bruscamente.

- Sabia que eu estava ficando em Londres por sua causa e mesmo assim deixou-me ficar - esbravejou andando de um lado para o outro no pequeno espaço em que estávamos contidos.

- Não sabia que ficaria por mim - falei tentando controlar a minha voz.

- E por qual outro motivo eu ficaria? - ele parou e me olhou.

- Bom, talvez por causa de sua amante - dei de ombros. Sabia que o movimento iria enlouquece-lo e ele bem merecia isso. William ficou em silêncio por um tempo apenas me fitando e a intensidade que havia neles quase fez com que eu me encolhesse.

- Quem lhe disse sobre isso? - ele murmurou, provavelmente mais para si mesmo.

- Não importa - falei. William passou uma mão em seus cabelos áureos e retomou suas voltas de um lado para o outro. Era um homem pecaminosamente bonito, alto, forte, o sonho de toda mulher em seu juízo perfeito. Mas agora que eu conhecia seu pai, seria William tão mal como ele? Eu realmente estava com medo nesse momento, mas não dele. Na verdade, era a situação que eu temia. Esse era o meu destino então? Ser abusada, esquartejada e jogada no mar? Engoli em seco, eu não queria isso e ninguém poderia me ajudar. Sei que Julian e Stefan tentariam, mas não seriam capazes de enfrentar o monstro que era Orion Drake ou acabariam mortos, e sabiam disso.

- Pare ou vai fazer um buraco na madeira - reclamei, sentei-me no chão e puxei o prato para meu colo - e se não se incomodar, peço-lhe que se retire - um silêncio assustador pairou no ar enquanto eu baixava a cabeça e dava uma mordida no sanduíche em minhas mãos, em seguida houve um grunhido e passos para longe. Olhei para cima, a jaula estava aberta, ABERTA. Mas logo minha empolgação desvaneceu-se. Para onde eu iria? Poderia me refugiar na cabine de alguém? Qualquer lugar era melhor do que isso.

Durante todo o dia eu estava atenta a tudo e a cada barulho eu tremia e me encolhia em um canto. Joe havia descido sorrateiramente e me trazido uma garrafa de tequila.

- Acho que você vai preisar - disse e logo desapareceu de repente, assim como havia chegado. 

Stefan havia me contado que todos haviam ficado atônitos quando souberam da verdade, mas nenhum se atreveria a fazer qualquer coisa comigo. Entretanto, não era com eles que eu estava preocupada, e cada vez que eu pensava naquele maldito homem e no que ele poderia, e iria, fazer comigo, eu tomava um gole da garrafa. Eu nunca havia bebido isso, mas o desespero nos obriga a fazer coisas.

A noite caiu e eu estava sentada com as pernas cruzadas como um índio, no meio da cela, a garrafa jogada em um canto. Ouvi o barulho de algo abrindo-se, mas eu estava em uma letargia profunda que eu não fiz questão de me mover. Foi então que o amedrontador homem apareceu na minha frente.

- Olá, minha querida - ele disse e apenas a sua voz causou-me repulsa. Ele se aproximou e abriu a porta de grades, entrou e naquele momento eu sabia que meu destino estava traçado. Joe estava certo, eu realmente precisava daquilo, pois assim eu estava anestesiada e quase não senti, ou pelo menos fingi que não, quando Orion me ergueu e começou a passar a mão sobre o meu corpo. Primeiro no meu pescoço, então ombros, cintura e quadris, seus olhos queimando os meus e um sorriso lascivo não desaparecia dos seus lábios.

- Você tem curvas perfeitas - ele murmurou no meu ouvido e eu queria desabar ali. Eu nunca fui tocada por um homem intimamente, eu queria isso, claro, mas não passou por minha mente que seria assim e com esse velho babão que aconteceria; para minha primeira vez eu pensava em algo bonito e romântico, com um homem atraente, que fosse carinhoso comigo. Eu não poderia estar mais enganada.

- Relaxe, você vai se divertir - eu realmente queria rir sardonicamente ou cuspir em sua cara, mas a mão que subia por minha barriga sob a camisa me deixou paralisada e apertei os olhos fechados, sua mão estava alcançando a faixa que eu havia colocado para ocultar meus seios e sua boca estava no meu pescoço e subindo para encontrar meus lábios.

- Pai - disseram e nós dois olhamos para ver William parado do lado de fora da cela, com os braços cruzados sobre o peito - preciso falar com você.

- Não vê que estou ocupado William ?- o homem afastou-se de mim, caminhou para fora e pegou a chave para trancar a porta que dava para baixo - suba e conversamos depois - mas William não deu ouvidos, apenas pegou no braço do seu pai que era bem mais baixo que ele e o puxou para fora. Eu consegui respirar novamente. Pelo menos por um tempo.

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now