Capítulo 5

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- Luciana, meu amor - Clô disse, me abraçando e beijando-me nas bochechas - Como você está? 

- Eu estou bem e você? - perguntei sorrindo. 

-Maravilhoso como sempre - ele voltou sua atenção para a mulher morena que estava sentada com a metade do cabelo escovado. 

- Desculpe-me vir sem avisar... - comecei mas fui interrompida.

- Querida, sente-se que logo que eu terminar aqui dou um jeito em você - agradeci e me sentei. Senti os olhares das outras moças em mim, mas não virei meu rosto para ter certeza. Quando chegou minha vez, meu cabelos foram lavados e fui conduzida para uma cadeira giratória de couro preto, em frente a um espelho. 

- Então minha garota, o que vai ser? - Clô questionou para meu reflexo à sua frente - apenas as pontinhas, como sempre? 

Clô sempre desejou botar as mãos em meus cabelos e fazer o que quisesse, pois fazia o favor de me lembrar a cada vez em que eu aparecia de como eram maravilhosos. Hoje eu tornaria seu sonho em realidade.

- Corte-o na altura dos ombros - falei com um suspiro desanimado. 

- Como é? - ele gritou, me fazendo pular da cadeira. Seus olhos verdes estavam arregalados mas o brilho que surgiu neles não passou despercebido. 

- Faça a sua arte - dei de ombros e ele me deu um sorriso amplo, já pegando a tesoura e começou seu trabalho, sem mais perguntas.

 - Terá que me dizer o motivo dessa mudança - ele falou enquanto secava a parte que faltava. Respirei fundo e contei a minha situação, a qual deixou Clô com o queixo caído e enfurecido, adjetivando meu pai de nomes que eu poderia ser enforcada se pronunciasse em minha casa. Quase me debrucei em lágrimas quando notei as mechas acobreadas espalhadas pelo chão e a garota de cabelos curtos me devolvendo o olhar no espelho.

- Você ficou maravilhosa - meu cabeleireiro sussurrou em meu ouvido, o que me fez me sentir um pouco melhor. Apenas um pouco. 

- Preciso de sua ajuda - anunciei e o arrastei para o fundo do estabelecimento, não me importando com os olhares fulminantes que as mulheres me lançavam por estar surrupiando o homem que deveria estar cuidando de seus cabelos. 

- Está me matando de curiosidade - ele disse e quando paramos colocou suas mãos na cintura. 

- Preciso que me transforme em um homem - soltei as palavras de uma vez ou elas ficariam presas em minha garganta.

- O quê? - ele perguntou arqueando uma sobrancelha.

- Eu não posso ser reconhecida. Ajude-me - implorei e fiz beicinho. Ele ficou me observando por um tempo, depois suspirou e bateu com a mão no ar, desdenhando. 

- Pare com essa cara, eu irei te ajudar - dei pulinhos de júbilo e o abracei. 

Vesti uma das roupas que eu havia comprado, uma camisa branca e um colete beje por cima para que não deixasse nenhuma pista de curvas, coloquei uma calça da mesma cor do colete e me enfiei em um par de botas marrons. Clô me ensinou a fazer um penteado onde alguns fios ficavam à mostra sob o chapéu e realmente parecia que estava cortado, como de um rapaz e me deu um pedaço considerável de pano fino para enrolar em torno dos meus seios para não deixá-los visíveis.

- Então, te agrada? - perguntei piscando para o reflexo de Clô atrás de mim. 

- Se me agrada? Estou com tesão por você... - ele respondeu me fazendo soltar uma risada, mas sua expressão pensativa calou-me - que tal... Ian?

- Como? - perguntei franzindo o cenho.

- Ora essa, seu novo nome. Ou você quer ser um macho com nome feminino? - ele me olhou com se eu fosse uma parva por não ter pensado nisso.

- Qual o problema? - rebati - eu posso ter feito uma troca de sexo.

Ficamos nos olhando por um segundo e logo caímos em uma risada deliciosa que reverberou por todo o local.

- Ian, eu gosto - falei secando uma lágrima que surgiu no canto de um dos meus olhos - sentirei sua falta - o abracei. 

- Não mais do que eu - comentou e me devolveu o aperto, tirando-me os pés do chão.

- Mande notícias - Clô gritou quando eu já caminhava para fora do seu local de trabalho. 

- Com toda certeza - acenei e mandei-lhe um beijo.

Gostaria de ter organizado corretamente meu plano, ordenando minuciosamente meus passos. Agora eu estava vagando por uma calçada não muito movimentada, com uma mochila nas costas e uma garrafa de água mineral na mão, pensando como eu iria escapar dessa cidade e para onde eu deveria ir. Além disso, uma letargia poderosa havia tomado conta do meu corpo pela caminhada que estava fazendo, não imaginando quantos quilômetros havia percorrido. 

Quando o céu se tornou de azul para laranja-avermelhado, em seguida para um azul-enegrecido, parei em um beco, estreito e solitário. Olhei para os lados e não encontrei uma alma viva no local, então deixei que minha mochila no chão imundo e deitei, recostando a cabeça na mesma. Não me importando com nada além da dor insuportável em meus pés, não ligando para a roupa clara ou com a enorme chance de ser assaltada, adormeci. 

- Ei, garoto, - ouvi uma voz soando no fundo da minha mente, mas não estava com absoluta certeza se eu estava sonhando ou se havia mesmo escutado alguém - acorde.   

             

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now