Olho do Feiticeiro

By EleonorHertzog

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Já há dias o brilho e as cores do Talismã se intensificavam. Rei, rainha e princesa se revezavam na vigilânci... More

01. SARAH
02. FEVEREIRO
03. DEZ DE MARÇO
04. ABRIL
05. SARAH E RAFAEL
06. DECIDINDO SOBRE RAFAEL
07. PLANO DE RETALIAÇÃO
08. COM A SABEDORIA ONIPOTENTE DOS BEBUNS...
09. ENRIQUE
10. PESADELOS!
11. JOIA DE FAMÍLIA
12. O PSICÓLOGO
13. OS ANTIGOS
14. UMA BESTA HUMANA DESOCUPADA
15. NA RETA FINAL
16. ARANHAS, ASFIXIA, FOGO, QUEDA
17. A CAMPINA
18. LORDE DE MOOLNA
19. NO BAR DO BERTO
20. ... NAMORANDO?
21. O PROGRAMA DA NOITE
22. FLUXO DAS COISAS
23. ADVERTÊNCIA OU PRESSA?
24. SALINHA ESCONDIDA
25. ALIANÇAS
26. EU NUNCA...!
27. POLVO SEM CONTROLE
28. PRAIA
29. REIS DE ONDE?
30. O OLHO DO FEITICEIRO
31. VOCÊ ACREDITOU FÁCIL DEMAIS
32. VOU ACEITAR O CONVITE.
33. CUMPRIMENTO DE PROMESSA
34. DOIS DE JUNHO
35. SANGUE DE MOOLNA
36. A JANTA
37. VULCÕES
38. MINIATURA MAIS PERIGOSA
39. A ILHA ROCHOSA
40. DIA DOS NAMORADOS
41. UMA SENSAÇÃO RUIM
42. RAFAEL
43. UMA VELHA AMIGA
44. REALIDADE E ILUSÃO
45. DESESPERO
46. ARRAIAS
47. PRONTOS PARA PARTIR
48. PALÁCIO DE DURINA
49. AS FAISQUINHAS
50. CORRER!
51. SALÃO DOS TRONOS
52. PERIGOS
53. LILA DE SENIRA
54. A ESPERA ESTAVA TERMINANDO
55. EXTERMINEM.
56. REI VERMELHO
57. ACABOU
58. SENTENÇA IRREVOGÁVEL
59. PRISIONEIRO DE SUAS LEIS
60. SENIRA
61. MOOLNA
62. DEZ DIAS
63. ALICERCES DE DURINA
64. RECUPERAÇÃO
65. CRIALELAR
66. INFORMAÇÕES INESPERADAS
67. HÓSPEDES
68. JANTAR
69. LEALDADE A ESTA LINHAGEM
70. TRITÕES
71. PRIMEIRA SEMANA
72. O TEMPO NÃO PASSAVA
73. DURINA
74. MUDAR DE ESTRATÉGIA
75. ATAQUES
76. A ANTIGA LIÇÃO
77. PREVISÃO COLORIDA
79. UM NOVO REI
80. PALÁCIOS
81. AS LEIS ERAM COMPLEXAS, MAS CLARAS
82. ESTRATÉGIAS
83. ... QUE SE ALASTROU PARA UM MÊS
84. ME DEIXE PENSAR
85. COMPROMISSO
86. RETORNO
87. EM SENIRA
88. DE VOLTA A SENIRA
89. E DE VOLTA A DURINA
90. REPETIÇÕES
91. LÁ VAMOS NÓS DE NOVO...
93. UM ANO E MEIO
93. COLCHA DE RETALHOS
94. CONVIDADOS
95. MORTE NEGRA
96. RESPONSÁVEIS
97. MORTES
98. BEM-VINDO DE VOLTA
99. PALAVRA DE LINHAGEM
100. SALA DE CONTROLE
101. DOUTORA DARAH
102. ACALMAR O CORAÇÃO
103. LILA
104. TEM GELO DENTRO DELE
105. ADVERTIR OU NÃO
106. PREPOSTO
107. SARAH E LILA
108. PRESENÇA
109. UM IDIOTA
110. UM ANO
111. OUTRO ANO
Oi, gente!
112. A TEORIA DE BEL
113. ESPIONAGEM?
114. CHACOALHADAS
115 - ENRIQUE
116. ... PEDINDO AJUDA?
117. NO JATO
118 - AMIZADE E CONFIANÇA
119 - O PROTAGONISTA DOS NOTICIÁRIOS
120. ENRIQUE
121. AINDA ENRIQUE
122. UMA SEMANA
123. GUARDIÕES
124. CÚPULAS
125 - NAS ÁGUAS
RECADO
126 - GUARDIÃO
127 - RELANA NÃO PODE ELIMINÁ-LO
128 - "PEQUENO" ACIDENTE
129 - AMIGOS
130 - Alguém se abanando lá fora
131. REENCONTROS
132 - ESPAÇO
133. DIAS DE EXPECTATIVA
134. PERSEVERANÇA
135 - INÍCIOS E FINAIS
136. COMEMORAÇÕES... E LUTO
137. EMPATIA CRIALE
138. DE NOVO, SENIRA
139. RAFA
140. FOCO EM RAFAEL
141 - INVESTIGANDO
142 - INVESTIGANDO AINDA

78. FOI A ESCOLHA DE MINHA FILHA

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By EleonorHertzog

A PREVISÃO DO OLHO do Feiticeiro fora apavorante e cataclísmica, mas se referia a um futuro ainda distante, e Enrique conseguia encará-la com o distanciamento correto. O que a Linhagem e Durina relataram, no entanto, era assustadoramente próximo e presente. A matança no Salão dos Tronos, a coragem de Senira... Muitas informações sobre os temidos Reis Vermelhos. A morte do Rei de Senira e seu riso. A morte dos Patriarcas de Durina, de Tonar, a única pessoa que, em toda a sua vida, Enrique chamara de avô, mesmo que por poucas vezes. Os jovens guardas da escolta de Sarah, que o rapaz estava começando a conhecer... A fuga de Jamion de Relana, escapando por pouco da morte. O sumiço de dez dias de Enrique, desaparecido junto com o Olho do Feiticeiro. Lila o encontrando... Os natils de Linhagem e a afirmação de Durina de que ele, Enrique, era um príncipe da Linhagem dos Antigos, algo que o Império pensava que nem existia. Outros natils colocados sobre os seus, para ocultar o enorme nível de poder.

Instruído pelo Palácio, Enrique precisou apenas um leve toque para retirar os natils metade dourados que escondiam seus natils originais. Olhou-os com vagar, analisando o fluxo de energia que corria por eles – as tais luzes que só ele podia ver. Era um fluxo totalmente diferente do imperial. Seus natils de Antigo podiam seguir o código de cores atlante, mas sua essência não era a mesma.

Outro leve toque, e Enrique retirou os natils dourados, entregando-os para Durina guardar. Recolocou os natils metade dourados que usara até aí.

O relato seguiu pelos vinte e dois dias restantes. O príncipe soube dos ataques cada vez mais selvagens de Jamion de Relana, e também da presença de Donasô. Aí foi a vez do doutor Carl contar sobre a destruição quase completa da Escola de Entre Rios e sobre as providências tomadas para proteger seus amigos superficianos.

– Se ele está com uma nova guarda, que é mais mortífera e menos escrupulosa do que a outra, se Reis Vermelhos são ainda mais violentos do que ele já era, e se, ainda por cima, ele não pode mais dormir por causa do golpe de pesadelos do... vovô... O que vai ser do pessoal da superfície, que nem sabe que o Império existe para poder se defender dele?! Vai ter que passar o resto da vida cuidando da segurança deles, doutor Carl?!

– Reis Vermelhos não podem sair do Império nem abrir o bloqueio oceânico para que outros saiam, Enrique – explicou o Lorde, surpreendendo Durina também. – É um mecanismo de contenção que Relana ativa automaticamente ao identificar um Rei Vermelho. Acredito que ele ainda não sabe, porque ainda não tentou sair.

– Seria ótimo se Relana tivesse mais mecanismos de contenção pra segurá-lo! – exclamou Enrique, aflito pelos amigos. – O senhor falou só da guarda, mas ainda tem aqueles Lordes que iam a todo lugar com o Imperador! Eles podem abrir o bloqueio, não podem? E ir para a superfície e fazer o que quiserem! E também tem os outros Reinos, que de repente podem preferir ficar bem com o Imperador e prestar uns favores pra ele na superfície! Isto é um pesadelo. Só pode ser!

– A maioria dos Lordes Imperiais está morta. Os que sobreviveram estão trancados em suas Mansões e, se tiveram o mínimo bom senso, não vão sair enquanto Jamion for Imperador. Quanto aos Reinos, todos bloquearam seus meios de contato com Relana. Sabem dos riscos de se aliar a um Rei Vermelho... E recordam agora dos riscos de se indispor com Moolna.

– Riscos? Mas sua Linhagem é uma Linhagem de sábios, doutor Carl!

– Também somos uma Linhagem de assassinos – retrucou o homem, calando Enrique de espanto. E, com calma e frieza, o Lorde relatou como ele e seus pais haviam eliminado todos os aliados do Imperador. Descreveu a chegada de Moolna ao Salão dos Tronos de Relana e o recado que fora passado a todos os Reinos.

– Foi bem impressionante ouvir o doutor Carl falando dos Tronos de Relana – admitiu Sarah, arrepiando-se só de lembrar. – Aprendemos que Moolna é a única Linhagem que pode alcançar todos os Tronos, mas ver fazendo isto com os de Relana foi... impressionante!

– Somos uma espécie de último recurso para acessar Tronos – explicou o Lorde. – Como uma medida de segurança, caso a Linhagem falte e o Palácio precise de controle. É uma habilidade que evitamos usar, mas, desta vez, abrimos uma exceção. Era uma forma simples de mostrar a Jamion de Relana para não atacar Moolna novamente, e para lembrar aos Reinos o que acontece quando alguém afronta Moolna. Jamion, como Rei Vermelho, deixou de inspirar o respeito que inspirava como Imperador legítimo. Continua inspirando medo, até mais do que antes, mas o vácuo de respeito à liderança de Relana poderia provocar reações desagradáveis em alguns Reinos. Agora, todos lembraram que, na falta da liderança de Relana, Moolna assume a responsabilidade sobre o Império.

– Tipo, além de tudo, vocês são como uma Linhagem de regentes que não precisam nem ser empossados?!

– Mais ou menos isto – concordou o Lorde.

Enrique ainda não sabia o suficiente sobre o Império para ter uma noção correta do que significava o Lorde ter falado ao Império dos Tronos de Relana, mas, pela expressão de Sarah, podia ter uma boa ideia. Bem... Que bom que uma Linhagem tão especial estava do lado deles!

Então, o Lorde relatou como as vilas dos sem-dono, antes muito numerosas em torno de Relana, estavam abandonadas. Falou também do êxodo dos trabalhadores e moradores do Palácio Imperial.

– O senhor está dizendo que agora ele é Imperador sem Império? E que tudo foi desencadeado aqui, no Salão dos Tronos de Durina?!

– Quem desencadeou foi ele, Enrique! – protestou Sarah.

– E é assim que ele vai pensar?! Pra ele, a culpa vai ser sempre nossa! Sarah, você não entende?! Nunca mais vamos ter paz!

A parte pior é que Enrique estava absolutamente certo.

***

TERMINADA A PARTE mais urgente da conversa, Enrique saiu do núcleo de Durina para encontrar Donasô, que quase caiu dura ao vê-lo com cabelos. Depois, examinou-o todo para ter certeza de que continuava inteiro, e fez uma guerra quando Enrique disse que precisava voltar ao núcleo, onde Donasô ainda não conseguia entrar.

Ver o novo príncipe ileso e bem fez Durina inteiro suspirar de alívio. Finalmente, a longa recuperação havia terminado!

Naquele mesmo dia, com a permissão de Enrique, primeiro o Palácio e depois o Lorde de Moolna vistoriaram e absorveram suas recordações da previsão colorida. Seriam meses, talvez anos, até conseguirem analisar tudo, e haveria coisas perdidas para sempre.

– Principalmente o final da previsão, que devia ser o mais importante – suspirou Enrique. – Desculpem. Aguentei o máximo que pude.

– O problema não foi você – desabafou Sarah. – O problema foi aquele louco irresponsável que estragou uma previsão de tanta importância!

– Sarah... O que o seu pai falou sobre a previsão sempre se cumprir... Não tem furos neste sempre? Quer dizer, não tem algo que a gente possa fazer pra evitar toda esta destruição?

A garota suspirou profundamente e respondeu com a verdade:

– Até agora, nunca houve.

***

RELANA, NO MESMO DIA.

O príncipe herdeiro contava com trinta horas de vida e se mostrava um bebê saudável e faminto. As mulheres que acompanhavam a Imperatriz não compreendiam a tristeza dela, nem as lágrimas que muitas vezes escorriam por suas faces. Não podia, com certeza, se relacionar à ausência do seu terrível companheiro! As lembranças de todas eram de um parto rápido e sem problemas, com o nascimento de um menininho saudável de cabelos castanhos; eram lembranças implantadas por Relana, mas, para elas, estas lembranças falsas eram a única verdade que conheciam. E era bom que fosse, porque seriam interrogadas pelo Imperador, quando ele voltasse. Nada melhor do que elas mesmas não saberem que estavam mentindo.

A tristeza da Imperatriz era pela Rainha de Senira, que entregara a vida pela segurança de seu filhinho. O corpo da Rainha permanecia no Salão dos Tronos. Relana se encarregaria de preservá-lo até que pudesse ser levado para Senira.

Quando, no meio da madrugada, o Palácio Imperial finalmente adormeceu, a Matriarca de Senira levantou silenciosamente. Era a acompanhante da Imperatriz naquela noite.

– Vai levá-la para Senira? – perguntou Dayar, mostrando que estava acordada.

– Sim, majestade. – A voz da Matriarca era firme e controlada. – Retorno em algumas horas. O Palácio se encarregará de sua segurança durante minha ausência.

– Diga à sua Linhagem que eu sinto muitíssimo... Eu não sabia...!

– Foi a escolha de minha filha, majestade. Eu devo ir agora.

Em mais alguns minutos, um belo clarão dourado entregava a Matriarca e o corpo da Rainha nos salões de cristal de Senira. Lá fora, no exterior emerso do Palácio, o furacão continuava, enfurecido. No entanto, nem uma folha de grama era tocada. Um bolsão de calmaria cobria todo o jardim de Senira. Não adiantava mais chorar; então, Senira não chorava. Senira caçava. Se encontrasse o responsável pela perda de sua Rainha, ele não viveria para ver o próximo nascer do Sol.

Denaro e Sulon não sabiam o que esperar da Linhagem... Certamente, não esperavam lágrimas silenciosas e dor controlada. Por tudo que haviam aprendido, não era assim que Senira deveria ser. Mas era assim que Senira era.

A Matriarca despediu-se da filha e do restante da Linhagem. Agora, não havia mais com quem revezar. Seu dever era permanecer junto com o pequeno herdeiro de Relana e não, Lila não tinha permissão de substituí-la na tarefa. Quando fosse possível, quando fosse seguro para o menino e a Imperatriz, a Matriarca viria para Senira, mas isto aconteceria com o intervalo de semanas ou meses.

E, com uma frieza desapaixonada, incompatível com a Linhagem sensitiva mais escandalosa do Império, a Matriarca determinou as diretrizes do Palácio: a morte da Rainha deveria ser atribuída ao ataque de Relana e ao esforço de Senira (e de sua Rainha) na defesa do Palácio. Lila e Denaro deveriam assumir compromisso imediatamente e ser empossados como novos Reis de Senira, pois, oficialmente, o Rei já estava morto. O Rei deveria ensinar o máximo possível a Denaro sobre técnicas criale de luta no tempo que ainda tinha, e nem Senira sabia quanto tempo seria isto. Como todos os criale, o Rei morreria após a morte de sua companheira. Se ele tinha semanas ou meses, Senira não sabia.

– Esqueça seu luto. – A Matriarca colocou a mão no braço musculoso do seu querido genro, que agora parecia tão frágil, com os olhos apagados de futuro e esperança. – Pense no agora e no que pode fazer pelo Rei que irá substituí-lo em nossos Tronos. Lila...

A princesa se aproximou, enlaçando avó e pai no mesmo abraço. Fungou, contendo bravamente as lágrimas.

– Se o Rei está oficialmente morto, nosso compromisso precisa ser formalizado pela senhora, vovó. Faça isto agora. Ou você tem algo a opor, Denaro?

Ele não tinha.

Assim, junto ao corpo de uma Rainha ao qual estava abraçado um Rei com os dias contados, a Matriarca de Senira formalizou o compromisso da neta com seu companheiro escolhido. Não houve comemorações nem alegria, apenas as palavras corretas diante do Palácio.

A Matriarca olhou o genro, que apenas assentiu de leve com a cabeça.

Uma única lágrima rolou pelo rosto da Matriarca. Um dia, com alegria, passara seu Palácio para a filha e o genro, desejando a ambos vida longa e um próspero reinado. Jamais imaginara que teria que repetir o ritual e passar Senira para uma nova Rainha... Aquela tarefa deveria ser de sua filha.

Secou a lágrima e empossou Lila e Denaro como os novos Reis de Senira.

Sulon não teve coragem de parabenizar o amigo. Nunca imaginara que o preço das Linhagens podia ser tão alto.

***

NO DIA SEGUINTE, a Rainha foi entregue às cristalinas águas de Senira. Correntezas, tempestade e golfinhos continuaram procurando o maldito Imperador, que não podia ter saído do perímetro de Senira tão depressa. Mas, ali no núcleo, onde as ondas batiam a algumas dezenas de metros dos Tronos, as nuvens abriram, as ondas acalmaram... Um oásis de paz se abriu para receber a Rainha. Seu corpo afundou, sendo recebido por toda a Natureza que Senira tanto amava e respeitava. E, em segundos, simplesmente sumiu.

Denaro e Sulon não se atreveram a fazer perguntas.

– Não desapareceu – informou Lila, secando algumas lágrimas. – Nada desaparece assim. Nós fazemos parte do mesmo ciclo que move todas as vidas, e nosso dever, quando a vida encerra, é retornar a ele. Senira apenas nos poupa dos diversos estágios de decomposição. Quando a Linhagem morre e é devolvida ao mar, o corpo se dissolve e se mistura com a água.

Denaro olhou sua companheira, sem saber o que pensar.

Em Durina, havia se apaixonado por uma encantadora princesinha que parecia pouco mais do que uma menina estouvada e alegre, sem outra preocupação na vida que não atormentar a princesa Sarah. A menina que retornara a Durina após o massacre do Salão dos Tronos já não mostrava mais a mesma alegria esfuziante, mas parecia ainda mais bela. Em Senira, a princesa demonstrara que não tinha nada de estouvada ou infantil... E o perplexo jovem a vira crescer e amadurecer diante de seus olhos de forma impressionante. O Palácio de Senira sabia que logo precisaria de uma nova Rainha.

Agora, a nova Rainha estava ali: Lila. Sua aparência era de dezesseis, dezessete anos... Seu modo de pensar não tinha mais idade. Era como se Lila tivesse de repente exteriorizado toda uma experiência de vida que ninguém suspeitava existir nela. A morte do avô, dez anos atrás, certamente havia sido um marco na vida da menina. A morte da mãe, também honrando um dever de Linhagem, servira como uma espécie de catalisador no caráter da jovem Rainha. Isto, e saber que logo se despediria de seu pai também...

Ela continuava linda e delicada, avaliou Denaro. Cabelos louros brilhando ao Sol, olhos claros repletos de lágrimas, a delicadeza suave do rosto, a silhueta ágil e esguia... Denaro nunca mais confundiria a aparência dela com a verdadeira força que movia a Linhagem de Senira.

Naquele momento, sentiu um imenso orgulho de fazer parte daquela Linhagem.

Como se pressentisse seus pensamentos, Lila voltou-se para o rapaz. Apesar do rosto lavado de lágrimas, ela nunca parecera tão linda.

– Agora você entendeu, Denaro?

– Entendi. Me desculpe.

– Não tem do que se desculpar, Rei de Senira. Mas tem muito a aprender. – Devagar, Lila afrouxou o abraço em que prendia o pai. – Pai, Denaro precisa do senhor. Ensine a ele tudo o que puder. Os Tronos estão me chamando.

Desde que sentira a morte da companheira, o Rei de Senira havia se encolhido, como se todo o seu mundo houvesse desaparecido com sua Rainha. Cabeça baixa, ombros caídos, corpo encurvado, olhos sem brilho... Denaro receou que ele não resistisse muito tempo, pois era visível que o amor entre ele e sua companheira era profundo e intenso. Quanto mais forte esta ligação, menos um criale sobrevivia.

Naquele momento, o antigo Rei de Senira estava ajoelhado no limite das ondas, olhando talvez sem ver as águas cristalinas às quais seu grande amor havia se misturado.

Quando Lila pediu a ajuda dele, Denaro pensou que ele não responderia, afundado na sua própria dor.

Mas, mais uma vez, Senira mostrou do que sua Linhagem era feita.

Ele não era mais o Rei. Agora era o Patriarca, e foi como o Patriarca de Senira que ele se ergueu, estendendo sua majestade e poder como uma borboleta desenrola as asas.

– Sim, há muito a ser ensinado, e, quando não se sabe quanto tempo ainda existe, o mais sábio é aproveitar cada instante. Venham cá.

Ele estendeu as mãos. Lila aproximou-se de uma, que tocou suavemente seu rosto e cabelos antes de se acomodar no seu ombro. Denaro postou-se ao lado da companheira, admirando a força daquele homem. A outra mão pousou em seu ombro, e o Patriarca olhou o jovem par à sua frente.

– Um ciclo foi encerrado. Outro deve iniciar. Esta noite, vocês vão compartilhar o mesmo leito e consumar o compromisso. Os elos mentais entre vocês devem amadurecer o mais rápido possível para que possam agir com a sintonia que um Palácio exige. Além disto, Senira precisa de um herdeiro... E eu preciso de um neto.

– Mas, senhor...! – começou Denaro.

– Tenho certeza de que minha Rainha apreciaria muito mais uma nova vida em Senira do que lágrimas por sua partida. Também tenho certeza de que você não considera mais a idade de Lila um impedimento. Portanto, sem mas. Venha comigo, Rei de Senira. A partir de hoje, seu treinamento será intensivo. No final do dia, testaremos seu ajuste aos Tronos. Sulon, acompanhe-nos.

O Patriarca de Senira não deu um instante de descanso ao seu sucessor. No final do dia, Denaro e Sulon, seu parceiro nos incessantes treinamentos físicos, estavam exaustos.

– Ele é pior do que nosso oficial no treinamento para a guarda – reclamou Sulon, moído. – E eu que pensei que ninguém podia ser pior do que aquele velhote ranzinza! Vai ter condições de testar o tal ajuste aos Tronos?

– Tenho a impressão que ninguém vai perguntar se tenho condições ou não – respondeu Denaro, testando com cautela o braço direito. Seu ombro fora duramente atingido, chegara a pensar que não o moveria por dias... Mas já estava melhorando. Senira cuidava bem de sua Linhagem. – Há pressa em todo este Palácio. Além disto, um Rei que não pode chegar ao seu Trono não é uma criatura muito útil.

– Hm. Então, depois de um dia onde tivemos uma despedida, treinamento físico pesado e mais o esforço mental que os Tronos vão exigir... Você vai ter fôlego para a noite? – Sulon sorriu, malicioso. – Apesar da minha impecável performance com garotas e mesmo sem Tronos na minha vida, esta noite, eu não teria!

– Molenga.

– É, amigo, é bem com este problema que você deveria estar se preocupando! – riu-se Sulon, mas logo sufocou as risadas. Quando ria, doía tudo!



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