95. MORTE NEGRA

333 36 4
                                    

– Se for menino, vai se chamar Aldaret, como o pai de Lila. Ele foi um grande Rei para Senira. Seria uma enorme honra ter um filho com o nome dele!

Denaro recordava suas palavras de anos atrás como se tivessem sido ditas há apenas poucas horas, e mal acreditava que, no dia seguinte, teria seu segundo filho nos braços. Segundo filho! Desde que soubera da nova gravidez de Lila, um sorriso se estampara em seu rosto para não sair mais. E, naquela noite, não conseguiria dormir nem se quisesse! Obrigara-se a sair do quarto, deixando Lila sozinha, pois, se ficasse lá, não conseguiria parar de admirá-la... Seus sentimentos eram tão fortes que a sensibilidade a acordaria mais uma vez.

Dá pra você se apaixonar um pouco mais de longe? Assim eu não consigo dormir!

Ele já tinha ouvido a frase incontáveis vezes, nos últimos meses, vinda da companheira mais sorridente e linda do mundo. Lila estava simplesmente deslumbrante! Denaro a beijava, beijava a barriga onde tantas vezes sentira o menino se mover, e ia se apaixonar mais longe...

Encontrou o sogro, Aldaret, admirando a noite enluarada também, e aguardaram juntos a chegada da Grande Matriarca de Senira. Não precisaram esperar muito; logo ela surgia, com um sinal de transporte mínimo. Abraçou carinhosamente os dois homens, checou a neta, a bisneta e o bisneto prestes a nascer através do Palácio e foi se trocar, enquanto eles providenciavam um bom lanche.

Como na madrugada antes de Deila nascer, eles sentaram juntos, comendo e conversando.

Os relatórios da Matriarca eram frequentes e detalhados, de modo que Senira estava bem atualizado sobre os acontecimentos no Arquipélago e arredores.

Nada mudara tanto assim.

Jamion de Relana continuava mantendo o comportamento sob controle quando em público, subvertendo todas as regras conhecidas sobre Reis Vermelhos. Continuava, também, a extravasar sua ferocidade com as imagens mentais que Relana criava. Quando isto não era suficiente, vilas distantes de sem-dono desapareciam, e os renegados continuavam levando a culpa. Devido a estes ataques de extermínio dos renegados, o Imperador refizera sua guarda, mas não era, de forma alguma, uma guarda semelhante às anteriores. Era uma guarda forte, disciplinada, bem treinada, com orgulho de fazer seu trabalho sem precisar usar violência, tão admirável que o grande sonho dos jovens do Arquipélago era fazer parte da fantástica guarda de Relana. O grande problema dos jovens é que se tratava de uma guarda muito reduzida, também: apenas cem integrantes cuidadosamente selecionados. Só quando um deles saía, um novo guarda era selecionado. E, como nenhum renegado jamais se aproximaria tanto assim do Palácio Imperial, não havia baixas entre eles.

Ainda sobre Jamion de Relana, ele continuava tentando extorquir respostas de seu Palácio, e seu Palácio continuava resistindo. Também continuava tentando ter mais um filho, igualmente sem sucesso.

O principezinho Julian crescia sem causar preocupações a ninguém. Dayar agradecia todos os dias pelo caráter afável e tranquilo do filho, nada semelhante ao de seu pai. O menino, agora com quatro anos, iniciara os estudos regulares, e aprendia com grande facilidade. Iniciara também o treinamento de armas, mostrando, para a surpresa de seus instrutores, grande aptidão no manejo de qualquer uma delas. Espada, punhais, lança, bastões – bastava entregar ao garoto e dar as primeiras instruções, e ele logo parecia ter anos de treinamento, muitos mais do que sua idade. O Imperador olhara com atenção a habilidade do filho nas armas, e perguntara o que ele gostava mais: de lutar ou estudar? Julian garantira que preferia estudar, mas sabia que precisava aprender a lutar também.

O senhor é um grande guerreiro, papai. Quero que se orgulhe de mim.

O Imperador concluíra, acertadamente, que a inesperada facilidade do filho com armas era resultado da interferência do Palácio de Relana. Só seria preocupante se a força mental do garoto fosse equivalente à sua habilidade física, o que não acontecia. O poder de Julian era apenas o que se esperaria de um primogênito comum da Linhagem. Era muito inferior ao poder de um príncipe dourado, e imensamente inferior ao de um vermelho. O Palácio podia interferir o quanto quisesse, decidiu o Imperador. Aquele menino jamais teria força para enfrentá-lo. Então, como um bom pai, Jamion selecionou os melhores instrutores para o filho, a fim de que ele desenvolvesse ao máximo suas habilidades.

Olho do FeiticeiroWhere stories live. Discover now