46. ARRAIAS

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O GRUPO de atlantes se movia com enorme velocidade.

No começo, quando estavam próximos da Ilha Torta e suas águas rasas, iam próximos ao fundo, por vezes desviando de rochas e corais. Mas logo o mar se tornava mais profundo e só havia água em torno deles. Água, e arraias.

Os atlantes não brilhavam para não atrair a atenção dos muitos barcos que transitavam pelo arquipélago. Mas, mesmo sem luz, Enrique podia ver as arraias. Elas haviam nadado acima deles, enquanto iam pelo fundo. Agora eram centenas, movendo-se como um gigantesco tapete vivo abaixo deles. Enrique estava fascinado. Os atlantes estavam surpresos e desconfiados. Nunca tinham visto coisa igual.

O Rei avaliou que estavam longe o suficiente da parte mais habitada do arquipélago e ordenou luz, intrigado com o comportamento dos animais.

Com iluminação, a cena era ainda mais impressionante: arraias se estendiam a perder de vista para os lados, para frente e atrás, nadando de forma perfeitamente coordenada. Abaixo, não se via nada além de arraias.

O Rei deu ordem de diminuir a velocidade; as arraias diminuíram a velocidade. Mandou então acelerar ao máximo. As arraias fizeram o mesmo. Não era casualidade. Os animais estavam acompanhando o grupo.

Era muito inesperado e, para atlantes, inesperado sempre significava espadas sem travas, escudos em posição e mentes preparadas para lutar.

Mas não parecia haver perigo. Só arraias.

O bloqueio oceânico estava alguns quilômetros à frente e o guerreiro grisalho perguntou qual seria o procedimento. Precisavam parar para o Rei abrir o bloqueio, e nenhum deles se sentia tranquilo com paradas naquela situação.

(– Não há como evitar.) – O Rei Sammal respondeu por telepatia, alcançando todo o grupo exceto Enrique.

(– São muitos animais, senhor. Se houver um exército renegado abaixo deles, só os veremos quando atacarem.)

(– Estamos do lado de fora do bloqueio. Não há renegados aqui. Considerando o comportamento atípico dos animais, me preocupa o que pode estar nos esperando do lado de dentro.)

(– Arraias e renegados nunca trabalharam juntos, pai) – opôs Sarah.

(– Sempre há uma primeira vez. Sarah e Enrique são as prioridades de segurança.)

Era óbvio, mas todo o grupo assentiu.

(– E se eu disser que minha intuição está gritando que elas estão aqui por causa de Enrique?)

(– Explique-se, filha.)

(– Ele parece muito familiarizado com elas, apesar de arraias não costumarem se aproximar de mergulhadores. Viu as arraias à nossa volta lá na ilha e não se assustou nem mesmo com o tamanho da maior, que era enorme e me assustou quando chegou quase até nós. Agora está encantado com elas e já sinalizou que gostaria de se aproximar. Pai, Enrique está comportando de um jeito completamente... sem sentido! Está até ignorando a água fria, é como se o corpo dele estivesse tão adaptado quanto os nossos! Ele estava mais frio, como qualquer superficiano ficaria, quando subi para o iate. Quando voltei, pensei que tinham dado as algas a ele, porque a temperatura dele estava normal. Mas ele não recebeu alga alguma!)

Quando em águas mais frias, atlantes ingeriam um tipo específico de algas para se manterem aquecidos. Haviam trazido, na certeza de o superficiano precisar delas. Mas Enrique havia compensado o frio como qualquer atlante faria.

(– Eu vou descer um pouco. Quero ver o que acontece!)

O Rei concordou, mas deu ordem para irem mais devagar e ficarem com as armas a postos.

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora