03. DEZ DE MARÇO

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DEZ DE MARÇO deveria ser um dia como outro qualquer, mas se tornou inesquecível para Sarah, Anabel, Rafael e Enrique.

Pela manhã, Rafael chegou ao campus com sua nova moto. Era fantástica. Fabulosa. De catálogo. Do tipo que os amigos tocavam devagarinho, como quem se certifica de que é real. Dúzias de garotas cercaram Rafael para obter uma volta na cobiçada moto. Rafael e seu ego estavam novamente por cima, e ele se sentiu feliz pela primeira vez desde que as aulas haviam iniciado.

Ao meio-dia, Enrique chegou com sua nova moto. Era mais do que uma moto de catálogo. Era uma moto FORA do catálogo, que ele havia mandado modificar de acordo com suas especificações. Era tão incrível que parecia coisa de filme de ficção científica. Toda a atenção saiu de Rafael e foi para Enrique. Mais uma vez.

Enrique não fez de propósito. Não sabia da nova moto do veterano. Na verdade, nem suspeitava que sua moto anterior havia causado tanto despeito em Rafael. A moto ficou pronta e Enrique veio com ela, simples assim. Até os professores foram ver de perto aquela maravilha. Enrique adorava motos e estava contentíssimo com seu brinquedo novo; resultado, sua criatividade explodiu em ideias no laboratório de Aerodinâmica, à tarde. Resolveu de forma brilhante um espinhoso problema de turbilhonamento e sobreaquecimento de ar em superfícies curvas. Os professores, atônitos, chamaram outros professores para ver. Enrique ficou até tarde no campus, detalhando sua solução.

- Enrique, você acaba de tornar possível um novo tipo de nave espaço-atmosfera! Isso vai revolucionar o programa espacial da Terra!

- Ora, professor, é só Aerodinâmica! - sorriu, feliz, o jovem gênio.

***

ANABEL FOI mais uma vez passear na área do campus preferida pelos estudantes de Humanas. Parecia ter uma fascinação obcecada por Sarah, a caloura que detestava. Foi fácil encontrar Sarah, que estava com sua câmera a postos, concentrada num canteiro florido. Anabel e suas amigas pretendiam passar perto da caloura cheias de dignidade, falando sobre a inconveniência de roupas desleixadas em estudantes daquela Escola.

Uma enorme e rara borboleta verde mudou tudo.

A borboleta pousou na parte de baixo de uma folha e Sarah, encantada com o magnífico animal, atirou-se no chão para fotografá-la. O movimento brusco fez a correntinha dourada com o cristal saltar do pescoço da garota, caindo no gramado. O cristal brilhou em mil tons de azul e todas as garotas, em especial Anabel, soltaram um ohhhh! cheio de espanto.

Antes que Sarah compreendesse o que tinha acontecido, Anabel estava com a corrente na mão, olhando deslumbrada a gema que cintilava em azuis encantados.

Sarah levantou de imediato diante da veterana.

- Que pedra é essa? - Anabel nem olhava a caloura. Só tinha olhos para a joia. - É incrível!

- É minha. Devolva!

Havia tanta autoridade na voz que Anabel olhou para baixo, para a caloura. Seu metro e setenta mais saltos eram um contraste tremendo contra o metro e meio mais tênis com apliques de estrelinhas.

- Eu perguntei que pedra é essa, caloura!

- E eu respondi que é minha! - encarou Sarah. - Devolva já!

Anabel riu do pingo de gente, debochada. Ergueu bem alto a mão e exibiu lá em cima o colar da outra.

- Ora... Pegue, se puder!

A perna de Sarah voou numa eficaz rasteira e Anabel se estatelou no chão. Suas amigas recuaram, pasmas com a rapidez da lourinha. No momento seguinte, Sarah estava com o colar de volta no pescoço. Guardou a joia dentro da camiseta, olhou a adversária ainda no chão e disse:

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora