11. JOIA DE FAMÍLIA

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– MEU COLAR – conferiu Sarah. – A gente não estava falando de Rafael?

– Eu disse que eram dois assuntos – respondeu Anabel. – Na verdade, o que me trouxe aqui foi o seu colar. Sei que é uma joia de família e que você mandou de volta para casa, mas quero comprá-lo. Quanto você quer por ele?

– Ele está na família faz muito tempo. E não está à venda.

– Tudo está à venda. Basta chegar ao preço certo.

– Você usa joias sempre, Anabel. Por que quer com meu colar? Não tem nada de tão especial nele!

– Eu gostei dele.

– Tanto assim? E se eu quiser, por exemplo, um carro como o seu em troca dele?

– Eu trocava na hora. – Anabel animou-se. – Se é meu carro que quer, considere a troca feita!

– Eu não quero trocar, só perguntei se! E não esperava que você concordasse. Desde quando está fascinada pelo meu colar?

– Desde o dia em que o vi. – A resposta de Anabel foi rápida demais; Sarah gostava cada vez menos da situação. Recordou sua queda e o voo do colar, lembrou-se de ter virado depressa e visto Anabel com a corrente na mão e o cristal balançando ao Sol. Droga. Droga, droga, droga!

Deixou todos os droga só no pensamento e disse, com um sorriso:

– É... Aquele foi dia de show completo! Até eu me espantei. Como sempre usava dentro da roupa, tinha esquecido como ele brilha forte no Sol. Chegou a tocar na pedra? Sentiu como ela parece quente e gelada ao mesmo tempo?

– Senti. Foi incrível!

Em vez de responder, Sarah pegou sua bolsinha de moedas, escolhendo uma moeda bem nova e prateada. Anabel não entendeu, mas é claro que olhou com curiosidade (na verdade, quase com esperança de que Sarah tirasse o cristal de dentro da bolsinha). Os últimos raios do Sol poente bateram no metal, fazendo-o cintilar como um espelho. O poder de Sarah cintilou junto, misturado com o Sol. Anabel, ofuscada, piscou forte.

Sarah deslocou a moeda devagar. Os olhos de Anabel seguiram o brilho sem questionar.

– A moeda é bonita?

– É bonita – ecoou Anabel, o que fez Sarah suspirar com alívio. Durina, os Reis Feiticeiros... Sarah era perita em hipnose, mas havia pessoas muito difíceis de se colocar sob controle. Ainda bem que Anabel não era uma dessas!

– Continue olhando a moeda – instruiu Sarah. Acendeu seu abajur de mesa e moveu a moeda de modo a captar a luz do abajur. O Sol e seu brilho logo desapareceriam. – Nós vamos conversar agora, Anabel. Quando eu disser acorde¸ você não vai se lembrar de nada do que tiver falado, ouvido, visto ou sentido enquanto eu estiver com esta moeda na mão. Você compreendeu?

– Sim.

– Você vai falar só a verdade.

– Sim.

– Qual é o seu nome?

– Anabel Maria Silveira de Matos Monardin.

– O que você estuda?

– Engenharia Espacial na Escola Superior de Entre Rios.

– Qual é a sua cor preferida?

– Verde.

Os olhos de Anabel estavam tranquilos, mas parados e sem expressão. As respostas vinham fáceis. Sarah passou para uma pergunta mais pessoal:

– O que você sente por Rafael?

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora