119 - O PROTAGONISTA DOS NOTICIÁRIOS

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Capítulo gordinho.

Aproveitem!

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EM NOME DE MOOLNA, JANSON ou um de seus numerosos pseudônimos, a família tinha propriedades na Terra toda. Agora, com a pequena moita de macieiras brotando a partir da fruta ainda vermelha e suculenta, Carl avaliava onde plantar aquele raro e precioso presente. Simbolizava a confiança de uma jovem Rainha de Senira. Significava esperança para Lucas.

Desde que identificara a temível Maldição, pela primeira vez o Lorde se permitiu acreditar que poderia haver alguma chance para seu filho. Ilusão, fé ou crença, o coração do homem bateu mais aliviado e um sorriso sincero brotou em seu rosto.

– Carl, não se deixe levar por sonhos loucos – disse a si mesmo, com a maçã nas mãos. – Ela falou em adiamento, não em cura. – Sorriu novamente. – O que é muito mais do que eu tinha.

De repente, compreendeu qual era o lugar perfeito para a dádiva de Senira: um grande e selvagem terreno próximo à Capital Terrestre e contíguo à Reserva Planetária. Moolna já possuía um antigo casarão nos arredores da Capital, mas no lado oposto da cidade. Carl comprara aquele lugar num impulso – um impulso de esperança – quando Lucas nascera. Leonard, o mais velho, ficaria com o casarão tradicional da família. Lucas construiria sua casa na nova propriedade, cercado de verde e Natureza.

Desde que identificara a Maldição, Carl não voltara ao terreno que simbolizava o futuro que Lucas não teria.

Transportou-se.

Amanhecia. O céu intensamente azul guardava ainda restos de noite e estrelas. Pássaros cantavam e voavam entre as árvores centenárias. Flores silvestres desabrochavam na relva, regadas de orvalho.

Mais uma vez, o Lorde sorriu. A terra era fértil; o clima, perfeito. Escolheu o lugar, uma grande clareira próxima ao riacho que separava o terreno da Reserva Planetária. E, bem no centro da clareira, com calma e carinho, abriu uma cova com as mãos e um pedaço de galho. Assim que atingiu a profundidade necessária, acomodou gentilmente a maçã em sua nova moradia. Os primeiros raios de Sol atingiram as plantinhas e elas reluziram, repletas de poeira de luz: a Vida de Senira permaneceria com elas durante muito tempo.

As habilidades de Moolna não costumavam incluir poder verde, mas sempre havia um pouquinho dele dentro de cada mente. Com o coração leve, Carl não teve dificuldades em alcançar aquela habilidade tão especial. Colocou as mãos sobre as mudas e entregou, de bom grado e com alegria, todo o verde que conseguiu reunir em si.

Um movimento atraiu sua atenção, e ergueu os olhos.

Do outro lado do riacho, um imponente cervo o observava, acompanhado de sua parceira e um filhote muito jovem. Numerosos animais menores o cercavam, em especial coelhos e esquilos. Os galhos de árvores estavam coalhados de passarinhos de diversas espécies, todos calados, observando. Uma inacreditável nuvem de borboletas oscilava acima de sua cabeça.

Carl olhou lentamente em torno, encontrando mais e mais animais atraídos pela Vida e pelo verde.

Era assombroso. E lindo.

Com movimentos lentos, cobriu a mação com terra e completou o plantio. Levantou-se, o que não provocou qualquer movimento de recuo na sua interessada plateia.

– Cuidem das macieiras – pediu, como se pudessem realmente entendê-lo. – Cuidem de Lucas, e de todos os segundos Lordes que vierem depois dele.

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora