123. GUARDIÕES

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Eis-me de volta, pessoal.

Será um capítulo a cada 14 dias até o final da história.

Vamos que vamos!

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PAI E FILHO mantiveram-se ocupados durante muitas horas.

Surgiram em um Palácio que parecia feito de gelo, iluminado pela aurora boreal. Ali, não foram sombras. Camuflaram-se na luz para observar a Linhagem que, afortunadamente, agia de maneira sensata.

Depois, a planície açoitada por vento e raios. Dois homens lutaram até a morte. Um morreu no duelo; o outro, minutos após. O menino suspirou. Que burrice.

Num vulcão em erupção nas profundezas do mar, fogo e água se digladiavam, indiferentes às vidas que ceifavam. Não lhes cabia interferir, apenas monitorar, e foi o que fizeram.

O topo gelado de uma montanha, o ar rarefeito, o bólido de luz branca cruzando o céu. Caiu sobre picos cobertos por neve eterna. Não causou estragos.

Uma jovem e delicada sereia que a tristeza consumira respirava pela última vez, enquanto anciãs de Crialelar observavam com resignação. Novamente, o menino suspirou pelo desperdício de vida.

Em ravinas escuras, sereias e tritões enfrentavam a correnteza que os arrastava, caudas chicoteando ferozmente a água, determinados a sobreviver. Pai e filho viram com satisfação quando eles, exaustos e vitoriosos, se libertaram da armadilha. Dessa vez, o garoto sorriu.

Visitaram uma mãe com seu bebê recém-nascido, uma rua pobre repleta de risos, um castelo no qual o choro e os gritos de desespero se multiplicavam em ecos, atravessando corredores e aposentos desertos.

Num local remoto, abutres devoravam uma criatura alienígena e, a dois passos, um portal escuro se fechou quando os guardiões surgiram.

Borboletas de asas prateadas ergueram-se em revoada e desapareceram entre as árvores.

Serpentes se arrastaram nos abismos, amaldiçoando a luz pela qual ansiavam.

Um velho procurava em desespero seu bem mais precioso enquanto uma gralha escondia a pedra brilhante no oco de uma árvore.

O mundo se modificava. Em grandes eventos e pequenas coisas, tudo se movia, se transformava, mudava. E os guardiães observavam, pouco alterando os acontecimentos.

Duas figuras feitas de escuridão apareceram afinal na casa de pedra. Logo ganharam cores e se tornaram humanos.

Suani os aguardava. Os anos passavam, mas a velha parteira continuava vigorosa, atenta e lúcida. Levantou-se prontamente.

– Mestre Reis, afinal aconteceu. O Imperador partiu há duas horas com a Guarda. Toda ela. Nenhum ficou para trás.

– O pretexto?

– Eliminar os renegados que têm exterminado as vilas de sem-dono.

A Guarda Imperial tinha certeza de que o próprio Imperador era o responsável por tantas mortes. O Imperador sabia que tinha sido descoberto; matar os que conheciam a verdade era questão de tempo. Josep Reis acreditava que aconteceria de uma só vez, longe do Arquipélago.

Então, aquele seria o dia.

Voltou-se para a mulher:

– Como soube?

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora