79. UM NOVO REI

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Tenho que terminar estes capítulos num horário mais civilizado...

Uma da madrugada não é hora de estar escrevendo!

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OS TRONOS DE DURINA eram imponentes e maciços, passando a sensação de grande solidez. Os Tronos de Senira, ao contrário, pareciam leves, semelhantes a grandes folhas levadas pelo vento. Sua escadaria estava repleta de plantas e flores; em alguns locais, o cristal era escondido pela relva. Para completar, os Tronos de Senira erguiam-se ao ar livre, cobertos por uma gigantesca árvore que estendia sobre eles um igualmente gigantesco dossel de galhos, folhas e flores. Sem a proteção de um Salão de Tronos, pareciam assustadoramente vulneráveis, ainda mais considerando que o adversário era Jamion de Relana.

Para guardas acostumados aos Tronos de Durina, era muito inquietante.

– Mas observe que os Tronos de Durina se viram no maior aperto por causa do Imperador – analisou Sulon. – E, aqui em Senira, o mesmo Imperador não chegou nem perto do que seria o Salão dos Tronos, se existisse um. Acho que estes Tronos são bem menos inofensivos do que parecem!

– Como Senira.

– É. Como Senira! – concordou Sulon, levantando com uma coleção de gemidos digna de um velhote reumático. – Bom, vamos lá. Vamos ver como se sai, majestade!

***

PELAS NORMAS DE DURINA, ninguém podia chegar a menos de quatro metros da base da escadaria dos Tronos, e nenhum guarda tentava infringir a regra, mesmo que estivesse sozinho no Salão dos Tronos. Primeiro, porque a consequência quase sempre era uma tremenda dor de cabeça; segundo, porque, se a dor de cabeça não denunciasse o infrator, o próprio Palácio denunciava. Os Tronos eram o coração do poder do Palácio, e as escadarias eram o primeiro estágio para o acesso a eles. Dizia-se que, em Durina, guardas comuns podiam chegar até o terceiro dos dezesseis degraus, se tivessem a permissão da Linhagem. Oficiais da guarda conseguiam alcançar um degrau a mais.

Denaro e Sulon nunca tinham sido convidados a subir nem no primeiro degrau e, como obedientes (e cautelosos) guardas, sempre se mantiveram à distância da escadaria.

Ao ser aceito como companheiro da princesa Lila e futuro Rei de Senira, Denaro aguardara o convite da Linhagem para se aproximar da escadaria. Como o convite não veio, ele se manteve respeitosamente afastado. Aprendera em Chor e depois com os Ramasi, a família de Sulon, que sempre era melhor respeitar a mais do que a menos, especialmente se o poder em questão fosse de uma Linhagem.

Lila olhou o companheiro com um sorriso de aprovação. De propósito, Senira não dera instruções sobre como se vestir ou se portar. Era uma boa forma de avaliar o novo Rei. Denaro, muito mais preocupado com o desafio que teria pela frente do que com a elegância, escolheu roupas simples e confortáveis. Sulon olhou a escolha e ficou quieto, avaliando se o amigo se vestira assim por instruções de Senira, ou se era porque não tinha se dado conta que estava prestes a ser empossado como Rei. Na dúvida, não fez perguntas e se vestiu igual. Ao se aproximarem dos Tronos, Sulon viu que Denaro tinha escolhido certo: o Patriarca também estava com roupas bastante despojadas. Lila, como sempre, parecia perfeita em qualquer vestido. O daquela noite era verde com branco e, como sempre, chispava como se houvesse estrelas no tecido.

Sulon parou a protocolares quatro metros da escadaria e Denaro continuou avançando até alcançar Lila, que o esperava diante da escadaria. Com um sorriso, ela estendeu a mão para o companheiro. Ele segurou-a firme e forçou-se a sorrir, nervoso.

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