134. PERSEVERANÇA

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Determinei  a mim mesma em que ponto terminaria esse capítulo.

Como mantive a decisão, acabou um capítulo grande, porque resolveu se espichar por conta própria. Como sempre.

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– GRAVIDADE!

A voz de Neco ao telefone era tão alta que nem precisaria do viva-voz. Era qualquer coisa entre um berro e um esganiçamento desafinado, e provocou riso na turma da sala de Bel: a própria, Rafa, Sarah, Clara e Trovão.

– Ficamos mais de dois anos encravados na atmosfera por causa da GRAVIDADE?! Não dá pra acreditar! Eu me sinto uma besta! Todo mundo aqui da estação se sente uma besta! Por que não me disseram que era uma coisa tão simples?!

– Bom, você meio que nos proibiu de contar.

– Porque pensei que era uma coisa inacreditável, uma DESCOBERTA! Mas gravidade?! É diferente! TINHAM que ter me contado!

– Você só proibiu, não especificou exceções.

– Odeio todos vocês!

Neco esbravejou durante mais alguns minutos e enfim se calou, estourando numa grande gargalhada.

– Isso foi genial! Fantasticamente genial! Precisa de muita genialidade pra pensar em algo tão simples, tão óbvio que ninguém pensa em analisar! De quem foi a ideia?

Explicaram que tinha sido de Bel, e que, originalmente, seu nome era Você só enxerga as coisas se olhar para elas.

– Muito adequado! Bel, parabéns. Já se deu conta que vai entrar pra História da Terra? Que já entrou, aliás?

O segundo nome da ideia de Bel era Sim, o raio cai duas vezes no mesmo lugar. Por duas vezes, medidores de gravidade haviam sido inventados... sem querer.

– Essa parte também está causando furor por aqui – assegurou Neco. – Gravidade, uma das forças mais difíceis de detectar, e agora temos dois sistemas completamente diferentes de medição! É inacreditável. Estão tão tontos aqui com a novidade que nem sabem o que fazer com ela, além de babar por ela existir. Pensaram em alguma coisa sobre utilidades de medidores de gravidade que gostariam de dividir com o amigo aqui?

– Tivemos pouco tempo para isso, com o prazo para finalizar o artigo – disse Rafa. – Estávamos com a cabeça mais em matemática, possíveis erros de interpretação e coisas do tipo.

– Gente, vocês foram fenomenais. Queria ter estado com vocês nesses dias, e nem digam que eu não estava por culpa minha. Eu sei.

Aí foi a vez de os amigos perguntarem sobre a viagem inaugural da Perseverança. Neco riu, disse que deveria ser sigiloso antes de o Comando de Espaço divulgar oficialmente, mas a próxima janela seria em dezesseis dias.

– A nave está pronta, a tripulação está treinada, só faltava termos certeza que nenhuma radiação maligna ia nos torrar no espaço. Agora não falta mais. Graças a vocês. Também graças a vocês, acho que vamos levar uma grande carga de medidores de gravidade pra testar!

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ENTENDENDO MAIS (quem tinha conhecimentos científicos) ou entendendo menos (a maior parte das pessoas), todos festejaram juntos. Finalmente, o espaço estava aberto, escancarado, ao alcance de todos! A Lua primeiro, depois Marte e os outros planetas e a galáxia inteira!

Cada preparativo da Perseverança se tornou notícia. Os rostos de seus tripulantes logo ficaram conhecidos no planeta inteiro, em especial porque os jovens matemáticos e engenheiros responsáveis pela descoberta faziam questão de se manter longe da mídia. Eram brilhantes, mas tímidos, diziam todos, rindo felizes.

Olho do FeiticeiroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora