Rádio | JÃO

By alminothing

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"Quando me ouvir no rádio Será que vai dar pra perceber Que tudo o que eu canto ou falo Ainda é só sobre você... More

Prólogo
📻
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29 (Parte I)
Capítulo 29 (Parte II)
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
📻
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
📻
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59

Capítulo 41

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By alminothing

CECÍLIA

São Paulo, março de 2023

Na semana passada, Malu encucou que precisávamos de uma festinha do grupo.

A vida estava muito corrida e ninguém estava pensando em algo como aquilo.

Depois da produção de Me Liga — em literalmente menos de uma semana — voltamos a todo vapor para a produção do álbum novo de Jão.

A conta de músicas que entraria no álbum não fechava, então ainda precisávamos trabalhar muito.

Em resumo, poucas pessoas da equipe ainda tinham alguma vida fora daquele escritório. Eu e João nem jantávamos direito sem comentar sobre a produção.

E, no fim, acho que Malu sempre tem razão sobre essas coisas.
Realmente precisamos de uma distração.

Jão demorou um pouco para topar. Apesar de parecer festeiro, ele sempre foi muito certinho com essas coisas de trabalho. Porém, muito do que eu falo tem grande impacto para ele, então convencê-lo a me acompanhar não foi tão impossível.

Ele disse que passaria aqui em casa para me pegar em algumas horas, então fui escolher minha roupa.
Escolhi um vestido azul claro com um pouco de brilho.

Pontualmente, assim que acabei minha maquiagem, recebi uma ligação de meu namorado dizendo que já estava lá embaixo.

Eu coloquei a minha carteira na bolsa e desci rapidinho pelo elevador.

— Oi — eu disse dando um beijo na bochecha de João assim que entrei no carro

— Oi — ele me roubou um selinho

O caminho até a casa da Malu foi tranquilo.

Eu conectei meu celular no rádio do carro via bluetooth e coloquei Taylor Swift, então foi quase como um karaokê, o que serviu para nos deixar animados para a festinha logo de cara.

Quando chegamos no andar de minha amiga, eu bati na porta. A música estava alta do lado de dentro.

Eu pensava que era só uma festinha do grupo.

Pelo jeito era bem maior. O que, conhecendo Malu, fazia total sentido.

— Oi — um cara que eu não conheço abriu a porta

— Oi — Jão disse do meu lado

— A Malu tá aí? — eu perguntei

— Tá ali no fundo — ele disse alto para que ouvíssemos por cima da música

Eu não me importei se ele tinha algo mais para adicionar a sua fala, uma vez que vi o cabelo de minha amiga no canto da sala. Fui andando até ela com Jão atrás de mim, enquanto me esquivava dos outros.

— AMIGA! Que festa é essa? — eu berrei abraçando-a — Eu sou mulher de casa, comprometida, não frequento esses lugares, não — brinquei

— É só uma distração, Ci — ela respondeu rindo, parecendo meio alterada — Cê quer alguma coisa?

Ela não esperou minha resposta e me puxou pela mão para a cozinha.

Eu não sei em que momento eu perdi meu namorado de vista, mas quando vi ele não estava mais atrás de mim.

— Malu, eu nem bebo assim. Não precisa se preocupar comigo. Já já eu acho um....

— Toma isso aqui, eu acho que você vai gostar — ela me interrompeu

— O que que é isso? — perguntei pegando o copo que ela direcionava a mim

— Só toma

Eu não tenho ideia do que tinha ali dentro. Só sei que era muito bom.

Eu tomei aquele copo.

Depois outro. E outro.

E, antes que eu me desse por conta, a música batia mais alta, minhas bochechas queimavam como fogo e tudo se parecia mais com um borrão.

JÃO

Eu não tinha ideia de que horas eram.

Muito menos de onde estava Cecília.

A casa de Malu nem era tão grande assim.

Como eu podia ter perdido minha namorada ali no meio?

Quando eu estava prestes a sentar no sofá e tirar um cochilo no lugar de continuar procurando, me senti sendo abraçado por trás.

— João! Meu amor — era ela que falava gritando alterada — Onde você tava?

— Eu...

— A Malu me apresentou um monte de amigos

Ela começou a rir sem parar. Um riso frouxo de
gente embriagada.

— Pai amado, quanto você bebeu, Cici?

— Um pouquinho assim — falou fazendo um sinal de pouco com a mão voltando a rir, quase caindo em meus braços — O mais legal foi lá no quarto da Malu... Tava tedo colorido, se mexendo

— Puta que pariu, não foi só bebida. Vou matar
a Maria Luísa

— Não, não — ela disse me puxando pelo braço, mesmo que eu não tivesse mexido um dedo — Eu tô me divertindo. Eu nunca tinha feito nada disso. É como... ser adolescente de novo

Algo dentro de mim me fez ficar estático lembrando de tudo que eu havia vivido naqueles anos de faculdade.

...

São Paulo, 10 de dezembro de 2013

Um ano depois de ter entrado na USP, aqui estava eu, na minha primeira festa na faculdade.

Ana tinha me chamado no fim das aulas. Era uma comemoração pelas férias.

Pensei que ia me sentir perdido ali no meio, mas bastou que eu entrasse por aquela porta para que me oferecessem bebida.

Tudo é diferente da minha cidade natal. A música é mais alta, o cheiro de bebida mais forte. Tudo é mais intenso.

Aceitei o primeiro drink e fui para o canto da sala.

Do outro lado daquele cômodo, Pedro, um menino que eu tinha conhecido fazia pouco tempo, me encarava disfarçadamente.

Eu fiquei envergonhado.

Quando eu me dei por conta, ele já estava do meu lado.

— João! — ele falou quando se aproximou e me abraçou com dois copos de bebida na mão — Bebe mais um pouco

Eu peguei um dos copos e começamos a conversar.

Instantes depois, porém, alguém me abraçou e ficou entre meus braços.

— É bom te ver de novo — a menina que tinha me abraçado, a qual eu acreditava ser de meu curso, falou

Eu me senti culpado, porque, não sei se por causa da bebida ou da memória fraca, eu não tinha ideia do nome dela, apesar de ela parecer ter tanta intimidade comigo.

— Eu tava indo lá em cima acender um — ela disse despreocupada — Vocês querem?

Eu não sei o que passou na minha cabeça naquele momento. Eu só aceitei.

Eu sou jovem, no fim, e é isso que jovens fazem, não?

Eu não sei bem o que aconteceu depois. Ficou tudo em flashes.

Me lembro de subir escadas. De muita fumaça e olhos vermelhos. De risadas altas.

Tudo acabou com uma ressaca enorme no dia seguinte. E mais uma musiquinha em meu caderno de músicas que o mundo nunca conheceria.

...

Eu meio que entendia, então, tudo o que Cecí estava sentindo.

Ela nunca foi a garota que fez as coisas erradas. Acho que finalmente estava tendo sua adolescência ali.

Cecília nunca foi problema para a mãe, porque se sentia culpada por Dalva ter tido que criar seus dois filhos sem a ajuda de ninguém. Ela se esforçava mais do que qualquer outra pessoa que eu conhecia para ser a menininha perfeita.

O máximo que eu já vi minha namorada beber foi numa balada há uns dois anos, da "primeira" vez que a gente ficou. E ela devia ter tomado no máximo umas três doses ali.

Hoje o número de bebida consumida deve ter extrapolado qualquer outro.

Eu decidi deixá-la viver o momento, só estando ali por ela.

Eu abracei-a e comecei a dançar à sua companhia.

— Me fala quando quiser ir embora, gatinha — eu falei em seu ouvido e ela assentiu.

Ficamos ali na pista de dança improvisada na casa de Malu.

Cecí não quis mais beber nada, o que foi um alívio para mim, porque eu não queria discutir sobre isso. Afinal, eu que não deixaria ela colocar mais álcool em seu corpo — eu morria de medo de algo acontecer.

Depois de uma hora e longos minutos ali, ela começou a ficar com sono e eu achei melhor levá-la para casa.

Ajudei-a a tomar banho e a vestir uma blusa minha, e, no fim, me deitei ao seu lado.

Seria um dia de bastante dor de cabeça para ela amanhã.

Mas eu estaria aqui.

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