OLHOS DO DIA [LIVRO 1]

By kleumaMaciel

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Sarah é uma mulher gentil, e dona de um gigantesco coração. Aos 24 anos tudo o que estava em seus planos era... More

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35

Capítulo 25

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By kleumaMaciel

Olhei para o sol que já estava nascendo do outro lado da cidade.

Deixei o café preparado em cima da mesa e saí de casa antes mesmo de Ana acordar.

Terminei todas as minhas atividades no modo robô. Meu corpo respondia mecanicamente ao trabalho, enquanto minha mente estava descendo de bicicleta por ladeira abaixo, sem fim.

No final do dia, desliguei o computador e peguei as chaves da sala. Ele disse ontem para eu vê-lo no final do expediente e buscar a planilha. Mas com que semblante eu iria encará-lo?

Com esses olhos inchados que não ia rolar.

Ele mandou uns cinco e-mails dizendo que eu já poderia ir buscá-la, mas eu nunca fui, e nem iria tão cedo.

Saí apressada pelo setor com a cabeça baixa.

O elevador se abriu, e eu levantei involuntariamente meu rosto. Para meu desespero, a imagem daquele lindo homem diante de mim; Sr. Edan.

Ele vinha com minhas planilhas em uma das mãos, enquanto a outra permanecia dentro de seu bolso, elegantemente vestido em um terno cinza com uma gravata listrada. Meu coração acelerou. Não somente acelerou, ele se alvoraçou em desespero.

Olhar em seu rosto de uma maneira tão brusca foi o suficiente para me fazer ser invadida de memórias. De modo que eu não podia explicar e nem entender os sentimentos que foram despertados em mim.

— Srta. Sarah, eu estava justamente lhe procuran...

Antes que ele pudesse terminar sua fala, saí pela outra direção o mais rápido possível, na tentativa de pegar o outro elevador. De maneira alguma deixaria o Sr. Edan ver minhas lágrimas descerem assim.

Ah, por que eu era tão chorona? Por que essa história não saia da minha cabeça?

Eu saí apressada pela porta principal, e antes de sair, pude ouvir o som de sua voz atrás de mim; alta e grave.

— Sarah?!

Apressei os passos, eu não ia para o ponto de ônibus, porque até o ônibus chegar, ele já teria me alcançado.

Comecei a caminhar com toda a minha agilidade pela calçada da rua da empresa, atravessando becos e mais becos, e quando finalmente percebi que ele não me seguia mais, e sem fazer a mínima ideia de onde estava, sentei-me sobre a fria calçada daquele beco sem saída, onde a última parede estava totalmente pichada, e abracei meus joelhos.

As memórias daquela mulher não saíam da minha cabeça e seus olhos vagos e distantes rondavam minha mente como um lobo à espreita da sua presa. Como ele deve ter sofrido com toda essa história, e como saber disso me machucava! Ela estava grávida, grávida! Seria a doce menininha, seria a doce Margarida...

Lembrei-me dos meus pais, e lembrei-me do triste dia em que todas as minhas expectativas e as minhas esperanças foram jogadas fora, quando o Sr. Gerôncio e Dona Hermínia me deram a trágica notícia sobre meus pais.

Eu sabia como ele se sentia, eu sabia! Porque eu também já senti essa dor.

As lágrimas me invadiram de tal modo, que eu soluçava e sentia o gosto salgado da água que escorria por meu rosto.

De repente, ouvi um som de carro vindo em minha direção, levantei o rosto, e novamente para meu desespero, era o inconfundível carro preto do Sr. Edan. O mesmo que parou quase em cima de mim no dia que nos vimos pela primeira vez.

O carro parou quase dando um cavalo de pau na rua.

Edan saiu deixando a porta aberta e veio apressado na minha direção.

Não, por favor, não venha, não venha!

Seu olhar estava desesperado, e assustado ao mesmo tempo. Era o mesmo olhar da noite do quase acidente, era o mesmo olhar da noite que eu caí na piscina. Mas ainda mais voraz, e ainda mais cheio de confusão.

— Sarah, o que houve?! — Insistia — O que aconteceu?!

Abaixei o rosto. Ver em seus olhos só me fazia sentir o coração mais pesado, enrolado em um grande e angustiante laço vermelho, cheio de voltas, sem começo, nem final.

Senti seus braços em volta de mim. Eu parecia uma criança chorando de medo em uma noite escura depois de um pesadelo, uma adolescente sobre a cama em uma de suas mais profundas crises existenciais.

Mas de alguma maneira aquele abraço me consolou. Meu coração se acalmou, e de maneira tão suave, as lágrimas foram gradualmente cessando.

— Calma. Calma. Eu estou aqui. — Sua voz saiu enrouquecida.

Então eu levantei o rosto, e pude ver seu rosto preocupado, só que cheio de afeto. Ele ainda me abraçava, mas mantinha seus olhos fechados.

Mantivemos o silêncio. Nem eu e nem ele fomos capazes de falar alguma coisa. Ele só se manteve me abraçando, ali, naquele beco sem saída, e eu, mantive-me dentro de seu abraço.

Era como o abraço da minha mãe, era como o abraço do meu pai e isso ao mesmo tempo que foi surpreendente, foi reconfortante, foi consolador.

Então ele se afastou e olhou nos meus olhos, depois apenas se sentou ao meu lado, apoiado nos seus braços que estavam atrás de si.

Hora ou outra nos olhávamos, e ficamos por muitos minutos apenas assim.

— Obrigada, Edan.

sorriu, afetuoso, compreensivo.

— Eu preciso ir. — Tentei pôr um sorriso no rosto.

Ele se levantou antes de mim, e me deu a mão para que eu pudesse levantar.

— Talvez ainda não esteja bem para ir. Venha, eu te levarei para um lugar que sempre me fez sentir melhor, se não sair correndo de mim outra vez. — Edan sorriu de maneira gentil, e passou-me confiança.

Peguei em sua mão e me levantei.

Ele abriu a porta do carro e eu entrei.

Logo após, colocou o cinto de segurança em mim, e várias vezes se certificou se estavam bem colocados.

— Eu sou um pouco traumatizado com carros. Então não se assuste, é apenas por questão de segurança.

Suas palavras tristemente me tocaram, mas eu apenas mantive-me em silêncio.

Edan levantou-se, e antes que ele pudesse vir e abrir o meu lado da porta, eu mesma abri.

Ele sorriu de maneira muito gentil e apontou para o meio da floresta.

— Aqui tem uma trilha secreta, que leva para um lugar especial. Edan estendeu suas mãos, até que entendi que era para eu segurá-las.

Ele ligou uma lanterna com a outra mão e foi me guiando por uma trilha bem aberta e cheia de vagalumes.

— São vagalumes. — Sussurrei.

— Quando pequenos, normalmente eu e meus amigos pegávamos em um pote, mas logo soltávamos na natureza novamente.

Eu não sabia o que era mais brilhante, se eram os vagalumes ou o sorriso do Sr. Edan, sorriso esse que esvanecia qualquer perturbante aflição.

Deixei-me levar por aquele sorriso tão lindo, e sorri também, mesmo que de maneira pacata e um tanto reprimida.

Então ali estava, no meio da floresta; uma gigante estufa de vidro. Ah

Não brinca.

— Só um momento, vou ligar as luzes.

Ele foi na direção da entrada correndo, e eu fiquei parada, totalmente perplexa.

Era uma estufa gigante e quadrada, completamente de vidro, com um colorido de flores fenomenal. Nem as maiores floriculturas que já fui tinha uma diversidade tão vasta de flores e cores assim! Talvez isso justificava o fato dele ter conseguido identificar tão bem o meu perfume de Jasmim aquele dia.

Ele acendeu as luzes, então uma surpresa ainda maior deixou meu queixo no chão; as luzes amarelas começaram a acender gradualmente do final da estufa até o começo. Uma fileira após a outra, e, para o contento de minha surpresa, a estufa era ainda maior do que eu pensei que fosse.

Entrei pela gigante entrada e comecei a andar, pasme, por entre os espaçamentos de uma fileira de flores e outras, e enquanto caminhava, tocava delicadamente sobre cada florzinha, sobre cada folhinha.

Ele pareceu notar minha surpresa e colocou as mãos nos bolsos.

— Eu mandei fazer para uma pessoa. Ia dar de presente de aniversário, mas ela não chegou a vê-lo.

Eu mantive-me em silêncio. Eu não queria instigá-lo sobre esse assunto. Teresa alertou-me sobre o fato de não falar isso com ele. Então o que eu faria? Fingir que nunca ouvi sobre o que aconteceu? Fingir, quando era esse assunto que me entristecia? O que eu faria toda vez que o ouvisse falar sobre isso?

Silêncio.

Sim, talvez fosse o melhor a se fazer.

— Sr. Edan... — Olhei em seus olhos.

— Sim? — Ele respondeu.

Eu sinto muito – Falei comigo mesma.

— Nada... — Continuei andando, enquanto ele me acompanhava caminhando pelo outro corredor. — Era só que... eu nunca tinha visitado uma estufa antes.

— Então, se sente melhor? — Ele virou-se para mim e deu alguns passos de costas, ainda no outro corredor.

— Eu me sinto sim. — Sorri, tentando não me concentrar no que tudo isso um dia representou para ele. A dor que ele deveria sentir por todas as outras vezes que veio visitar esse lugar. Era como se tudo isso, eu pudesse sentir. Mas tentei não me concentrar em todas essas coisas, pelo menos não agora.

Continuamos a caminhada. Passar a mão pelas flores era relaxante, e realmente muito bom.

— Você costuma vir aqui? — Perguntei.

— Só quando não estou me sentindo muito bem. — Ele parou, e eu parei também — Fiquei com medo de ter-lhe machucado, sem nem saber o motivo.

— Você não me fez nada. — Eu não poderia dizer que o ver me fazia recordar das palavras de Teresa, que fazia eu me colocar no seu lugar e sentir exatamente o que ele sentia — Eu só não queria que visse minhas lágrimas. Algumas lembranças me trouxeram à tona a imagem da perda dos meus pais. — E eu não estava mentindo quanto a isso — Então eu me entristeci.

Edan ficou parado, apenas ouvindo minhas palavras.

— Eu perdi meus pais aos seis anos de idade. Meu pai era um excelente piloto, mas em um dos voos de helicóptero com minha mãe, ele perdeu o controle, e caíram os dois no mar.

— Sinto muito, Sarah. — Ele me olhou com uma expressão compreensiva no rosto.

— Não me sinto mais nas profundezas da minha dor, eu aprendi a lidar com isso. Perguntou-me porque falo tanto sobre minha irmã, pois bem, a leveza e a legria dela curam a minha alma.

Ficamos parados, com os olhares presos um ao outro, até que desviei meu olhar para os pés. Umas formiguinhas subiam nele.

Virei-me para o lado e me deparei com minhas flores preferidas. O jasmim. Caminhei até elas, e Edan veio logo atrás.

— Não é linda? — Sorri.

Ele continuava fitando meu rosto, ainda com as mãos nos bolsos.

— Sim, é linda.

Caminhei por longos minutos, até chegar no final da estufa. O final da estufa terminava no topo de uma montanha, que dava vista para uma queda de cachoeira.

Talvez, fosse aquela das fotografias que estavam na sala do Sr. Júlio.

— Esse lugar é maravilhoso.

— Sim, é. — Ele sorriu, radiantemente.

Ficamos ali por mais alguns minutos, apenas parados observando a queda de água.

Então olhei no relógio e percebi o quanto estava tarde. Peguei o celular e vi nove chamadas perdidas de Ana.

— Algum problema?

— Acredito que minha irmã deva estar um pouco preocupada. — Sorri.

— Oh sim. — Ele sorriu — É justificável. Mas antes de irmos. — Ele retirou alguma coisa do bolso, era uma caixinha azul. — Queria lhe dar isto — Ele abriu a caixinha, que evidenciou uma correntinha prateada com uma flor de jasmim. — Vi que tem um colar com a flor de jasmim, então vi esse modelo em uma joalheiria cliente da empresa. Pensei que formaria um conjunto incrível. Era para eu ter dado antes, mas eu...

Ele parou no meio de suas palavras.

— Eu não consegui. — Completou.

— Obrigada Sr. Edan. É linda. — Sorri levada pela timidez — Eu só não sei se posso aceitá-la.

Ele me olhou um pouco confuso, baixou ligeiramente sua cabeça, e sorriu.

— Seria falta de educação minha se quisesse saber o porquê?

— De maneira alguma. É que, lembra do pato que lhe falei? Então, ele come tudo o que vê pela frente.

Edan sorriu de maneira tão expressiva, que gargalhou, e eu não pude segurar -me.

— É mesmo? — Ele me encarou.

Ele pegou meu pulso direito e colocou a correntinha, que ficou incrível, e realmente combinou com o meu colar.

Aproximei meu pulso para perto dos meus olhos e apreciei cada detalhe. Era realmente muito linda.

— Então, vamos? — Ele sorriu.

— Vamos sim. — Sorri de volta.

Nós andamos até o seu carro. Por nenhum momento Edan soltou minha mão. A trilha já estava muito escura, mas sua lanterna era eficaz.

Entrei em seu carro, e mais uma vez, ele passou minutos intermináveis se certificando diversas vezes que o cinto estava bem colocado.

Hora ou outra eu apreciava a correntinha no meu pulso, e tocava gentilmente com a outra mão.

E quando menos esperava, já estava na porta da entrada de casa.

— Se seu pato de pelos comer essa corrente, avise-me, conheço um bom veterinário. —

Edan sorriu, ao me pegar em flagrante contemplando a pulseirinha.

Esaiu.

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