Capítulo 31

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Quando acordei naquela imensidão de quarto, minha primeira reação foi me levantar, colocar os pés descalços no chão e ir até a piscina que estava do lado de fora do quarto. Toquei na água, e olhei para o céu, deixando-me tomar pelo sol que já começava a aparecer, e permitindo-me ser tomada de gratidão, pelo simples, ou talvez não tão simples assim, fato de estar podendo receber os raios de um sol tão lindo.

As folhas do pequeno jardim ainda estavam molhadas pela chuva da noite, assim como tudo que estava do lado de fora.

Eu gostava de ver o sol depois de uma longa noite de chuva.

Isso dava-me esperanças.

— Senhorita? – Denise apareceu. — Edan não pôde ficar e esperá-la, por motivos urgentes, mas o motorista está esperando-lhe lá fora.

Quando desci, logo percebi uma mesa posta. O que era aquilo? Um banquete de rainha?

Sentei-me sobre a mesa, envergonha e extremamente tomada pela timidez. Eram tantos talheres, e a única coisa que sabia usar era uma colher.

Engoli em seco, e peguei um pãozinho com as mãos. Olhei para todos os lados da casa, ninguém a não ser os funcionários. Isso era algo bom? O clima por aqui sempre parecia ser tão frio e sem vida. Nem sequer os grilos ou as cigarras cantavam.

— Bom dia! — Falei com algumas funcionárias que passavam de um cômodo ao outro da casa.

— Bom dia! — As duas me responderam, com um sorriso.

A sra. Denise apareceu diante de mim, e sorriu.

Continuei comendo meu pãozinho. Até que o silêncio falou mais alto que minha própria inquietação interna.

— Sra. Denise?

— Sim querida? — Ela respondeu, atenta. Sempre atenta.

— Por acaso, essas paredes estão com cores diferentes?

— Sim, querida. Edan mandou pintá-las recentemente, ele mandou mudar a cor de todos os cômodos da casa.

***

Mais um dia de trabalho.

Então ouvi um pigarreio. Levantei meu rosto, e ali estava, diante de mim. Sr. Edan.

Ele me olhou, e abriu um sorriso. Um sorriso discreto, mas ainda assim, capaz de fazer um verdadeiro rebuliço.

— Bom dia, Srta. Sarah. É um prazer vê-la tão cedo,— entramos os dois no elevador ao mesmo tempo — Dormiu bem?

— Bom dia Sr. Edan. — Sorri — Dormi bem sim, e o senhor?

Ele ficou parado, em silêncio. Até que eu finalmente pude ouvir o som de sua voz.

— Por mais incrível que pareça, pensei que a noite de ontem seria horrível, como todas as outras. — Ele baixou o tom da voz — Mas surpreendentemente não foi, e eu... consegui dormir muito bem. — Ele me encarou, com um olhar sério, e sincero.

E meu coração acelerou em resposta.

— Desculpe-me não estar em casa para trazê-la, como o combinado. Fui devolver o guarda-sol e quase fui preso.

Ele ainda mantinha seu olhar no meu, mas então eu analisei suas palavras. Espera. Ele disse preso?

Eu não sabia se ficava assustada ou se sorria.

— Espere Sr. Edan, eu ouvi bem?

— Realmente quis lhe trazer ao trabalho hoje, mas não dava para fazer isso de dentro de uma delegacia.

Edan sorriu, e eu sorri junto com ele.

— Então tive que chamar Fábio e o seu Riveira para que eu fosse liberado. Porque ninguém quis acreditar na minha versão.

Nossos olhares se cruzaram nesse espaço de tempo, e senti-me incrivelmente balanceada pelo seu olhar tão zeloso sobre mim.

A luz do elevador acendeu. As portas se abriram e alguns funcionários ficaram nos observando desconfiados, antes de entrarem.

— Que bom que tudo terminou bem, afinal.

— Tenha um bom dia, senhorita.

Cheguei na empresa apressada, hoje era finalmente o último dia trabalhando nas atribuições do Sr. Júlio.

Quando terminei o último trabalho da planilha, arrumei todas as pastas e toda a sala conforme o Sr. Júlio deixou. E deixei um bilhete escrito a mão.

Obrigada pela confiança. Tudo está conforme o senhor deixou.

Bem vindo de volta. Att. Sarah Oliveira

Então o telefone tocou, atendi, e era o Sr. Edan.

— Boa tarde Srta. Sarah, poderia vir aqui antes de sair?

— Claro que sim, Sr. Edan.

— Certo. Estou na espera.

Saí da sala do Sr. Júlio, tranquei a porta e peguei o elevador. Um pequeno frio percorreu meu estômago, então respirei fundo e passei pela sala da recepção.

— Boa tarde Srta. Teresa. — Sorri.

— Boa tarde Sarah. — Ela respondeu, com o telefone entre o ouvido e o ombro.

Então finalmente estava de frente com a porta da sala do Sr. Edan.

Bati, e entrei em seguida.

Ele estava sentado, lendo alguma coisa, mas quando percebeu minha presença, levantou o rosto e sorriu.

— Boa tarde, Sr. Edan.

Ele se levantou, e veio na minha direção.

— Boa tarde, Srta. Sarah.

Então ele colocou as mãos em seus bolsos, e manteve seu olhar fixo em meu rosto.

— É seu último dia nas atribuições do Sr. Júlio e fiquei muito feliz em saber que se saiu tão bem. Saiba que mantenho por você muita admiração e gratidão, Srta. Sarah. No que precisar, pode contar conosco.

— Sr. Edan, eu quem agradeço, e ainda agradecerei o Sr. Júlio pessoalmente por me confiar esse papel. Foi de imensa alegria e experiência. Eu que sou grata por cada minuto, de verdade. E no que precisar, saiba que sempre poderá contar comigo. — Sorri.

Ele ficou parado, observando meu sorriso, como se estivesse inteiramente perdido.

— Posso convidá-la para um jantar, como uma forma de encerrarmos esse memento com chave de ouro?

Meus olhos brilharam de alegria.

— Claro que sim!

OLHOS DO DIA [LIVRO 1]Where stories live. Discover now