Capítulo 25

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Olhei para o sol que já estava nascendo do outro lado da cidade.

Deixei o café preparado em cima da mesa e saí de casa antes mesmo de Ana acordar.

Terminei todas as minhas atividades no modo robô. Meu corpo respondia mecanicamente ao trabalho, enquanto minha mente estava descendo de bicicleta por ladeira abaixo, sem fim.

No final do dia, desliguei o computador e peguei as chaves da sala. Ele disse ontem para eu vê-lo no final do expediente e buscar a planilha. Mas com que semblante eu iria encará-lo?

Com esses olhos inchados que não ia rolar.

Ele mandou uns cinco e-mails dizendo que eu já poderia ir buscá-la, mas eu nunca fui, e nem iria tão cedo.

Saí apressada pelo setor com a cabeça baixa.

O elevador se abriu, e eu levantei involuntariamente meu rosto. Para meu desespero, a imagem daquele lindo homem diante de mim; Sr. Edan.

Ele vinha com minhas planilhas em uma das mãos, enquanto a outra permanecia dentro de seu bolso, elegantemente vestido em um terno cinza com uma gravata listrada. Meu coração acelerou. Não somente acelerou, ele se alvoraçou em desespero.

Olhar em seu rosto de uma maneira tão brusca foi o suficiente para me fazer ser invadida de memórias. De modo que eu não podia explicar e nem entender os sentimentos que foram despertados em mim.

— Srta. Sarah, eu estava justamente lhe procuran...

Antes que ele pudesse terminar sua fala, saí pela outra direção o mais rápido possível, na tentativa de pegar o outro elevador. De maneira alguma deixaria o Sr. Edan ver minhas lágrimas descerem assim.

Ah, por que eu era tão chorona? Por que essa história não saia da minha cabeça?

Eu saí apressada pela porta principal, e antes de sair, pude ouvir o som de sua voz atrás de mim; alta e grave.

— Sarah?!

Apressei os passos, eu não ia para o ponto de ônibus, porque até o ônibus chegar, ele já teria me alcançado.

Comecei a caminhar com toda a minha agilidade pela calçada da rua da empresa, atravessando becos e mais becos, e quando finalmente percebi que ele não me seguia mais, e sem fazer a mínima ideia de onde estava, sentei-me sobre a fria calçada daquele beco sem saída, onde a última parede estava totalmente pichada, e abracei meus joelhos.

As memórias daquela mulher não saíam da minha cabeça e seus olhos vagos e distantes rondavam minha mente como um lobo à espreita da sua presa. Como ele deve ter sofrido com toda essa história, e como saber disso me machucava! Ela estava grávida, grávida! Seria a doce menininha, seria a doce Margarida...

Lembrei-me dos meus pais, e lembrei-me do triste dia em que todas as minhas expectativas e as minhas esperanças foram jogadas fora, quando o Sr. Gerôncio e Dona Hermínia me deram a trágica notícia sobre meus pais.

Eu sabia como ele se sentia, eu sabia! Porque eu também já senti essa dor.

As lágrimas me invadiram de tal modo, que eu soluçava e sentia o gosto salgado da água que escorria por meu rosto.

De repente, ouvi um som de carro vindo em minha direção, levantei o rosto, e novamente para meu desespero, era o inconfundível carro preto do Sr. Edan. O mesmo que parou quase em cima de mim no dia que nos vimos pela primeira vez.

O carro parou quase dando um cavalo de pau na rua.

Edan saiu deixando a porta aberta e veio apressado na minha direção.

OLHOS DO DIA [LIVRO 1]Where stories live. Discover now