Capítulo 11

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Abri meus olhos, e ainda atordoada, me deparei com um ambiente muito perfumado, de cores claras.

Onde eu estou?

Sentei-me rapidamente naquela cama tão confortável como plumas, mas a rispidez de meu movimento fez minha cabeça doer. Coloquei minha mão na testa e desviei minha atenção para o lado de fora, onde o sol brilhava através de uma cortina cor de neve, quase transparente, pegando uma parede inteira, que dava acesso a uma área externa de piscina que refletia a luz do sol, enquanto a água balançava e quebrava o reflexo.

Olhei minha outra mão que estava recebendo soro. Soro?! Isso é um hospital? Mas não tem cara de hospital.

Uma voz conhecida ressoou do outro lado da porta, que foi aberta por... Maurício.

— Bom dia! Como está se sentindo? — Ele foi até o suporte de soro que estava posicionado ao meu lado — Acredito que já podemos tirar isso.

O acidente da noite passada.

— As pessoas estão bem? — Perguntei com meu coração acelerado, atropelando as palavras.

— Felizmente, por um milagre, sim. O caso mais grave teve uma perna com fratura externa, mas já passou por cirurgia e está em um quadro estável.

Respirei. Tomada de alívio.

Analisei mais uma vez o quarto enquanto ele tirava a agulha da minha mão — E onde estou?

— É a casa do meu irmão. Minha também, já que atualmente estou morando aqui com ele, por questões preventivas. — Maurício sorriu gentilmente.

— Ele me ligou dizendo que estava indo para o hospital com você. Eu não estava no meu plantão, mas fui urgentemente, fiz alguns exames, ajudei as outras pessoas que sofreram o acidente, e depois que vimos que seus exames estavam quase normais, decidi te trazer para casa e te medicar aqui.

O que ele quis dizer com "quase" normais?

Ele colocou um algodão na minha mão já sem o soro, e colocou seus equipamentos no criado mudo.

— Eu recomendo que você descanse mais. Seu corpo teve um esgotamento. Você precisa de nutrientes, hidratação e um bom descanso. Mas ficará bem.

— Muito obrigada. Eu... eu realmente nem sei como agradecer.

Ai minha nossa! Minha irmã!

— A minha irmã deve estar preocupada. — Sussurrei.

— Eu consegui o número dela hoje de manhã. Ela está aqui.

— Ana está aqui?!

Levantei-me, devagar, e ele ajudou a me manter de pé.

— Estávamos conversando, até eu ter um leve pressentimento de que já estava acordada. — Ele me observou, atento. — Se me der sua palavra de que vai descansar por todo o fim do dia, te levarei até ela.

— Dou-lhe minha palavra.

Ele abriu a porta com sua digital, e eu passei.

Passamos por uma grande sala de estar que ficava no andar de cima, com um piano, alguns jarros de flores, um lustre posicionado acima do piano e... quadros.

Muitos quadros de uma mulher.

Uma mulher de sorriso fácil, aberto e sincero. Com roupas modestas, e com expressões muito cheias de vida. Ela sorria de maneira tão... Leve.

Sem falar que era linda, seus cabelos enormes e brilhantes eram pretos e iam até seus quadris. Seus olhos eram verdes e alegres. Muito alegres.

Quem era... ela?

Maurício notou minha admiração e parou seu percurso. Eu parei também, e fiquei observando admirada cada quadro, pormenorizadamente.

Em um dos quadros, ela segurava uma margarida branca em um belo dia ensolarado no jardim. Essa família deve ter algum fascínio muito grande por margaridas.

— Você a conhece? — Perguntei para Maurício.

— Sim. — Ele sorriu, com um olhar tomado de brilho e de recordação — A conheci sim.

Essas foram suas únicas respostas. Então entendi que essa mulher deveria ter sido alguém muito especial em suas vidas.

Uma amiga muito querida, ou até mesmo, uma irmã.

Ele continuou caminhando, e eu o segui por aquela imensidão que ele chamou de casa.

Uma casa muito espaçosa, requintada e moderna, mas ao mesmo tempo tão vazia, vaga e melancólica.

Meu peito foi tomado por algum sentimento de repuxa, como se fosse quase possível sentir a angústia de dentro das paredes.

Ao descer as escadas, avistei de longe minha irmã. Ela notou minha presença e se levantou.

— Oh minha nossa Sarah! Você quer me matar de preocupação?! — Os olhos dela se encheram de lágrimas.

Eu corri até ela para um abraço.

— Perdoe-me, irmã.

— Sei que não tem culpa, mas não faça mais isso. — Senti suas lágrimas descendo sobre meu ombro.

Saímos do abraço e Maurício se aproximou.

— Muito obrigada Maurício. Obrigada de verdade.

— O café da manhã está sobre a mesa. Por favor, alimente-se antes de sair. —

Maurício apontou para a linda e exuberante mesa de café da manhã.

— Muito obrigada pela gentileza, mas você já fez muito por mim.

Ana sorriu.

— Eu já tomei o café da manhã.

— Logo que ela chegou, perguntei se não queria se juntar comigo na refeição. – disse Maurício.

Ana pegou uma de suas pulseirinhas e lhe deu. E ele recebeu.

— Obrigada por ter cuidado da minha irmã.

Ela mesma amarrou a pulseirinha no pulso dele.

OLHOS DO DIA [LIVRO 1]Where stories live. Discover now