Capítulo 24

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— O Sr. Edan gosta muito de margaridas, não? — Perguntei-lhe.

— Muito. Eram as preferidas dela.

Dela?

Aproximei-me de Teresa. Então era isso, ela era a pessoa que melhor convivia com Edan e ninguém melhor do que ela para me ajudar a compreender todos esses fatos conexos.

— Me perdoe pela curiosidade, Srta. Teresa. Mas ela quem?

— Não sabe Sarah? — A Srta. Teresa encarou-me surpresa — Pensei que soubesse. Todos dessa empresa sabem e normalmente nos proibimos de falar sobre isso por aqui. Não que isso seja um segredo — ela sorriu gentilmente — Só que é doloroso para o Sr. Edan, vai que ele acaba ouvindo sobre esse assunto acidentalmente?

Doloroso?

— Essas margaridas lembram a falecida esposa do Sr. Edan. Ele é viúvo.

Ele...

É...

Viúvo...

De repente, tudo fez sentido, o chão pareceu sumir e minhas pernas quase cambalearam.

O Sr. Edan é viúvo?!

Minha mente foi invadida de pensamentos avulsos.

— Talvez não saiba disso porque é uma funcionária nova. Mas o Sr. Edan vivenciou uma tremenda tragédia há exatos oito anos atrás.

Nesse exato momento, minha mente estava subindo e descendo por uma montanha russa. Sendo levada em todas as direções possíveis e impossíveis.

As margaridas que ele comprou. As lágrimas.

As fotografias na parede.

Seus sorrisos.

...

— Sarah, você está bem? — Ela me encarou. Provavelmente eu estava mais pálida que o pó do arroz.

— Estou sim, Srta. Teresa. Poderia me contar mais sobre isso?

— Claro que sim, contando que nunca toque nesse assunto com ele. O Sr. Edan ainda se sente mal com isso, mesmo depois de tanto tempo. — Ela colocou o pequeno regador sobre uma das mesinhas — Ele se casou ainda novo, e depois de um tempo, soube que seria pai. Foi uma alegria ao saber que seria pai de uma menininha. A Margarida Berllini, que foi amada desde o ventre da mãe.

Ela parou suas palavras para observar-me, e continuou.

— A Sra. Laura Berllini, era uma pessoa sensacional, uma versão feminina do Sr. Edan. Tinha um coração tão bom, respeitoso, prestativo, gentil... Todos nós a amávamos, e era recíproco. Sem falar que ela era uma artista nata. O Sr. Edan fundou essa empresa com a ajuda dela, mesmo indo contra a vontade da família, que queria que ele fosse continuar seus estudos na Alemanha.

Ela parou novamente para me observar, dessa vez, com um olhar entristecido.

— Mas, neste mesmo mês a oito anos atrás, o Sr. Edan recebia uma triste notícia da pior maneira possível. Ela sofreu um acidente fatal, que foi manchete em todos os jornais desse estado. Ele perdeu as duas de uma única vez. Brutalmente. O carro capotou muitas vezes, era um dia de chuva, então sofreu um deslize na pista molhada...

Isso me remeteu instantaneamente ao acontecimento do quase acidente que sofri, e a reação dele. O porquê da reação dele.

— Ele ficou arrasado, ficou quase um ano sem vir trabalhar de novo e quase a empresa foi à falência. Naquele tempo, o Sr. Júlio tomou a direção, ou nem estaria aqui nessa empresa te contando essa história agora. Quando ele voltou, apesar de ainda ser aquele Edan gentil e tão íntegro, nunca mais foi o mesmo Sr. Edan brincalhão do sorriso solto.

— Edan luta contra uma profunda depressão, e por esse motivo, seu irmão largou tudo na alemanha para vir ficar com ele, pois tinha medo do que ele poderia fazer contra sua própria vida, sozinho em casa, depois de tantas tentativas de... tentar tirar a própria vida.

Meu coração ficou pesado.

— Por muitas vezes eu tive que desmarcar reuniões em cima da hora, porque ia procurá-lo em sua sala, e via que ele não estava nada bem. — Ela me encarou. — Sarah, você está bem mesmo?

Engoli em seco. Parecia que eu tinha acabado de levar um soco no meio do estômago.

— Estou sim. — Respondi, sabendo que minhas palavras não condiziam com o que de fato eu estava sentindo — Obrigada pelas informações, Srta. Teresa. Até mais tarde.

Saí apressada, antes que ela pudesse ver as primeiras lágrimas se formando e descendo sobre meu rosto. Por que saber disso me entristeceu dessa maneira? Por que todas aquelas informações deixaram meu coração tão abalado? Era como se eu pudesse sentir um pouco da dor dele.

Peguei o elevador e coloquei meu andar.

— Sarah? — Ouvi uma voz familiar. Era Fábio, o advogado da empresa.

— Aconteceu alguma coisa? — Ele me perguntou, apreensivo. Apesar de ter agido mal aquele dia, Fábio pareceu se importar verdadeiramente.

— N-nada. — Enxuguei as lágrimas e mantive-me olhando para baixo.

— Você estava chorando. — Ele se aproximou — Alguém machucou você?

— Não foi nada, Fábio. — Levantei o rosto — Ninguém me machucou.

Ele realmente pareceu preocupado. Seus olhos azuis estavam tomados de incerteza. Era como se ele soubesse que eu estava mentindo.

— Se precisar de alguma coisa, pode me falar. — Ele me encarou — E me perdoe por aquele acontecimento, eu estava um pouco fora de mim. Isso não acontecerá novamente, Sarah.

Notei sinceridade nos seus olhos.

— Tudo bem.

— Obrigado, Sarah. — Ele sorriu de maneira leve. — Tenha um bom dia.

— Tenha um bom dia, Fábio. — Não fui capaz de sorrir de volta.

Eu estava esmagada.

Saí do elevador ainda com a cabeça baixa diretamente para a sala do Sr. Júlio.

Sentei-me, e não consegui me concentrar em mais nada. As palavras de Teresa não saíram da minha cabeça. Era por isso que o olhar de Edan era tão fechado. Ele tentava esconder sua dor das pessoas, esconder sua dor do mundo.

Dei com minha cabeça sem querer no teclado do computador, e lá mesmo eu fiquei. Com algumas lágrimas quentes descendo sobre minhas bochechas.

Eles gostavam tanto de margaridas que esse foi o nome do bebê. Que dor o Sr. Edan não deve ter sentido! Por isso ele falou aquelas palavras quando perguntei sobre romance, por isso às vezes era possível vê-lo tão entristecido e distante... por isso que... caramba.

Fui diretamente para casa. Não tinha como ir para a floricultura me sentindo tão mal desse jeito. Mandei uma mensagem para minha irmã, dizendo que eu estava muito cansada.

Esperei que todos do meu setor saíssem para que eu finalmente pudesse sair. Eu estava tomada de uma dor de cabeça, talvez por ter passado o resto do dia chorando e com a cabeça repleta de pensamentos desarmônicos e tão conflitantes.

Hora ou outra eu era tomada pela lembrança do olhar confuso dele.

Minha cabeça estava tomada de pensamentos, pensamentos e mais pensamentos! Como alguém poderia guardar tanto para si? Como alguém ainda conseguia se doar ao próximo mesmo estando tão destruído por dentro?

OLHOS DO DIA [LIVRO 1]Where stories live. Discover now