Capítulo 5

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Cheguei na empresa arfando. O ônibus chegou quase vinte minutos atrasado e isso não era nada bom para quem tinha mania de ser pontual.

Olhei-me rapidamente pelo vidro e passei a mão no cabelo para arrumá-lo. E enquanto caminhava, ajustei rapidamente o pingente do meu colar no pescoço.

— Bom dia! — Cumprimentei o segurança e alguns zeladores que estavam perto da entrada principal.

— Bom dia! — O zelador comprido e magro de cabelos grisalhos respondeu.

Todos os dias eu passava por ele, e todos os dias, ele estava trabalhando sem preguiça, sempre muito animado e disposto.

Fui para o elevador com outras duas pessoas que iam para andares diferentes do meu, um deles tinha o nome "Fábio" escrito em seu crachá.

E quando cheguei ao meu andar, pude respirar aliviada.

Um dia me acostumarei com elevadores.

Um dia.

Passei quase correndo para meu assento e percebi que o assento ao meu lado estava vazio.

A mesa da Karina.

Talvez ela só estivesse atrasada.

O telefone que ficava entre nossas mesas tocou e eu atendi.

— Bom dia, Karina, aqui é o chefe do setor. — Uma voz masculina ressoou do outro lado da ligação.

— Bom dia, senhor. A Karina não está. Quem atendeu foi a Sarah, a nova funcionária.

— Oh, sim, sim. Serve. Pode vir aqui?

— Posso sim.

Ele desligou o telefone de maneira nada educada. Levantei-me e fui até sua sala. Normalmente eu via o chefe do setor passar para ir embora, mas nunca tinha falado com ele pessoalmente.

Bati na porta, e entrei.

O chefe do setor era um homem jovem, de talvez trinta e quatro anos. Seus olhos eram claros, como os olhos da minha irmã, mas não tão amigáveis quanto os dela.

— Bom dia, senhorita. — Ele sorriu. — A Catacrine, né?

Contorci o nariz.

Catacrine?

— Sarah, senhor.

— Isso mesmo. Eu sou o Júlio, prazer em conhecê-la e me perdoe por não ter me apresentado antes, eu estive bastante ocupado. — Ele se levantou — Indo direto ao ponto, é o seguinte, senhorita, peço para que leve esses papéis presencialmente até o Sr. Edan. Eu já tentei me comunicar com ele e a Srta. Teresa, mas ambos não me atendem, nem por telefone móvel e nem por fixo. Esse é um documento que precisa ser entregue urgentemente, mas daqui a cinco minutos eu terei uma reunião dos preparativos do meu casamento. Ou seja, atrasado.

Ele falou muito rápido e saiu pela porta, arrumando a gravata e olhando no relógio, deixando-me sozinha em sua sala.

Espera. O que?

Fiquei sem entender muita coisa. Documento de casamento? Teresa urgente?

Saí de sua sala com a penca de documentos na mão e passei para o elevador. Pelo menos uma informação eu consegui reter: Entregar isso aqui para o Sr. Edan.

O elevador parou no último andar e eu saí tentando não derrubar tudo no chão. Era muito papel. Qual o problema de enviar tudo isso anexado por e-mail? Mesmo que fosse papel reciclável, não seria bem mais prático usar a tecnologia?

Passei pelo corredor da sala do gabinete, sala de reuniões e por fim, a sala de Edan.

Bati na porta, e entrei.

Bom dia Sr. Edan, eu trouxe os papéis...

Uma mulher estava sentada sobre sua mesa, com as pernas cruzadas, e Edan parecia totalmente sério, como se estivesse muito bravo.

Vendo bem, ela parecia com a mulher que se sentava todos os dias ao meu lado no setor.

A Karina?!

— Voltarei outra hora. — Sussurrei.

— Não, Srta. Sarah, por favor, entre. Essa mulher já estava de saída. Saída permanente. — Ele a encarou, com uma solidez tão dura no olhar, que me fez engolir em seco.

Eu não sei o que acabou de acontecer aqui, mas ela deve ter-lhe irritado muito para ele ter ficado dessa forma.

Ela saiu pela porta, e o Sr. Edan se virou para o janelão de vidro, e suspirou.

— O Sr. Júlio pediu para eu trazer esses papéis ao senhor. Se não me engano, disse que tentou se comunicar, mas não conseguiu.

— Coloque sobre a mesa, Srta. Sarah. E se ver Teresa no seu trajeto de volta, diga que pedi para ela vir aqui, por favor. — Ele parecia inquieto — Infelizmente meu celular desligou e não consigo ligá-lo por nada, e mesmo que conseguisse ligar para ela, ela deixou seu celular sobre minha mesa. Os computadores das centrais e núcleos administrativos simplesmente pararam de funcionar. Acredito que sofremos uma séria pane parcial dos nossos sistemas.

Está explicado então o porquê de tantos papéis e a falta de comunicação entre o Sr. Júlio e eles.

Edan se virou para mim e se sentou novamente em sua cadeira. Ele parecia cansado, irritado e triste.

— E Srta. Sarah. — ele me olhou, com seu olhar entristecido — Muito obrigado.

Acenei positivamente para ele e saí da sala, fechando a porta devagar.

Peguei o elevador e desci até o meu setor.

Teresa estava vindo pelo corredor principal, apressada.

— Srta. Teresa, o Sr. Edan pediu para eu chamá-la, caso a visse.

Ela sorriu simpaticamente.

— Obrigada. Eu estava na central de tecnologia e suporte do prédio justamente tentando resolver a pane que sofremos.

— Resolveram? — Observei-lhe aflita.

— Atingiu apenas os computadores das salas das administrações e algumas câmeras internas de segurança. Felizmente conseguimos identificar a causa e daqui a alguns minutos os computadores voltarão ao normal. As câmeras talvez só funcionem amanhã. Algumas foram queimadas e vão precisar ser trocadas.

Teresa saiu pelo corredor e eu fui de volta para o meu trabalho.

Karina estava sentada ao meu lado, normalmente. Virei-me e dei um sorriso para ela, que não correspondeu.

Por acaso eu fiz algo errado?

Deixei meu e-mail aberto após abrir uma mensagem do chefe do setor, o Sr. Júlio. Ele queria marcar uma reunião na próxima semana e estava perguntando de maneira democrática se estaríamos disponíveis.

Meu feedback foi sim.

Desliguei e fechei o computador.

 Quase perdia o elevador.

Felizmente, um homem alto e de boa aparência, vestido em um terno azul marinho, colocou a mão na porta para que pudesse entrar.

— Muito obrigada. — Falei, e olhei meu relógio.

— Eu quem agradeço, é uma honra poder pegar o mesmo elevador com uma moça tão bela como você.

Olhei novamente em seu rosto, mas ele logo desviou sua atenção para os números dos andares.

Olhei para seu crachá, ele era um dos advogados da empresa.

O elevador parou.

— Até, Sarah.

Então percebi que seu rosto era familiar e que costumávamos pegar o elevador quase sempre no mesmo horário.

Olhei para trás, e ele só acenou, apoiado na parte detrás do elevador com uma das mãos no bolso.

Como ele sabia meu nome?

Olhei para meu crachá; talvez ele só tivesse lido. Sorri comigo mesma. Não que ele fosse algum duende leitor de bolas de cristais. — Sorri da minha própria imaginação.

Respirei o ar do lado de fora da Huffmann's e tomei coragem.

OLHOS DO DIA [LIVRO 1]Where stories live. Discover now