CECÍLIA
Americo Brasiliense, 2021
Era tão bom estar de volta.
Fazia 2 anos que eu não vinha para cá.
2 anos que pareceram mais com 2 séculos.
2 anos em que eu me senti mais viva do que nunca e, ao mesmo tempo, mais exausta do que nunca.
Tanta coisa aconteceu.
Depois de entrar na faculdade e passar 2 anos lá, eu descobri um programa de intercâmbio.
As opções incluíam vários países, dentre eles o meu favorito: a Itália.
Não pensei duas vezes antes de me inscrever para o programa. E eu fui aprovada. Passaria um ano naquele país maravilhoso, em uma das universidades de moda mais renomadas do mundo.
Só tinha um problema: eu precisava me manter.
Era algo muito mais caro do que meus pais conseguiriam pagar, afinal era outra moeda.
Foi por isso que desde o momento em que cheguei lá arrumei dois empregos — que não ajudaram em meu desempenho acadêmico, porém, pelo menos colocavam comida na mesa.
Depois de um tempo, passei a amar cada vez mais o que eu fazia lá.
Mas as contas não se importavam com o que eu sentia pelo país. Elas continuavam a chegar e pareciam se tornar um monstro cada vez maior.
No último ano se tornou impossível me manter, mesmo com os dois empregos.
Eu sabia que se ligasse para os meus pais eles dobrariam os trabalhos para me manter. Mas eles já davam muito duro pelo que me mandavam a cada mês.
A culpa de fazê-los trabalharem tanto doía mais do que a saudade que eu sentiria daquele país.
Foi então que eu decidi voltar para o Brasil.
Ninguém além de meus colegas de turma ficou sabendo. E ninguém vai saber.
Não me leve a mal, foi maravilhoso ter voltado. Eu percebi que meu lugar é aqui mesmo. Com essa gente maravilhosa, esse clima e esse sentimento de casa.
Passei o último ano acabando a faculdade na USP enquanto na cabeça de meus pais ainda estava na Europa.
Para mim, sempre foi difícil mentir. Especialmente para a minha família.
Mas foi necessário, e eu faria tudo de novo.
No mês passado eu me formei e, juro, nunca vi meus pais tão orgulhosos.
Depois de ter organizado algumas coisas em São Paulo eu decidi visitá-los.
A saudade da minha cidade natal também já estava forte.
Eu já estava procurando por algum trabalho, mas precisava de ao menos uma semaninha para me recompor depois de todo o trabalho para a formatura.
Foi por isso que eu vim pra cá.