Next Dimension

By CupcakeChoco

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O que você faria se ficasse presa no seu jogo favorito? Diva é uma jovem comum que acaba indo parar no que mu... More

Epígrafe
Prologue
Fall out!
Is this a dream?
What is behind!
What really is?
Not everything that looks really is, right?
The Real Enemy
When The Darkness Comes
The sad melody of death: Hail the ending song!
She Lost in Darkness
Hear the Request from the Other Side
In Your Only Memory of Me? Please, Never forget me!
A Little Piece Of Heaven
The Story Behind the Story
Each one Fights with what They Have
Never Underestimate the Truth
Twisted Fate
Destined for One
What Destiny Holds
Closer to the Holy Grail
Eternal Night Festival
The Reason for All Things
Dante's Inferno: After Darkness
Dante's Inferno: On the Edge of Life and Death
Dante's Inferno: The World of Darkness
Dante's Inferno: End of the Line
Dante's Inferno: Overdose of Illusions
Dante's Inferno: A Fabricated World
Dante's Inferno: Heroes Don't Cry
Dante's Inferno: Devil's Destiny
Dante's Inferno: Advice from Heaven
Dante's Inferno: A Heart That Refuses to Give Up
Dante's Inferno: Bonds That Release, Return
Tu Fui, Ego Eris
The Pulsar of Red and Silver
Watchful Eyes
Girls Just Want to Have Fun
Secrets Between Girls
The One Who Lurks in the Shadows
Uncertain, Unreal and Hidden
Frozen Rain
Dark Reunion
Broken
Collision of Two Forces
Endless Night
Aviso
A Dangerous Mind
The Goddess and the Devil
Future in My Hands
A Secret Hidden in Time
Temperance and Unity
Aviso de Aniversário
Especial de Aniversário
Dear Whispers
Behind Blue Eyes

Dante's Inferno: What It Shouldn't Be

27 2 3
By CupcakeChoco

But I want to know my fate
Eu gostaria de descobrir o meu destino
Before my every hope fades away
Antes que toda a minha esperança desapareça
Take my breath away
Tirando meu fôlego
[...]
In the silence you can listen to your own heartbeat
No silêncio você pode ouvir o seu coração batendo,
Just believe what you see and feel
Basta você acreditar no que vê e sente.

My Fate — Anna Tsuchiya

INCENDIANDO MEU CORPO, os toque dele não saíram da zona de conforto até ter plena autorização para tal. Os dedos dele, ágeis e suaves, perseguiram em busca de mais pele pra explorar, mapeando cada centímetro de mim — das zonas delicadas a serem descobertas. Tony plantou um beijo lânguido em meu pescoço, despertando reações em mim que nem sabia que tinha, e me arrepiando com as cócegas que o gesto resultou. Seu olhar, os azuis resplendorosos e engendrado de carinho, se susteve em meu rosto por segundos antes de capturar meus lábios em um beijo magnético demais para negar.

Sem oferecer resistência, me rendendo completamente a ele e suas ministrações, me deitei com ele por cima, sem nenhum sinal de contragosto. Tony realmente desejava isso, não era uma mera convenção para saciar uma vontade pontual, conseguia ver bem as nuances de suas emoções através do oceano infindável nos olhos dele. Mesmo que houvesse um ínfimo rastro de medo, a segurança que transmitia revigorava minha decisão e expurgava as dúvidas do meu coração.

No entanto, no meio do percurso, quando já estava me adaptando a nova experiência, Tony se afasta com um sorriso apologético. Fiquei, com toda razão, desorientada com a mudança brusca, mas conforme os hormônios, que nublava o bom senso, se aquietavam pude entender que talvez não devesse ter sido tão complacente se for considerar que ainda não sabia se era uma realidade alternativa ou um delírio muito bem articulado pela minha imaginação bastante fértil.

— Sei que não estou cumprindo minha parte com os votos. — não sei bem o motivo, mas algo em mim achou graça e ele mesmo riu. — É só um pouco difícil as vezes.

Votos?

Corei quando me dei conta do que queria dizer.

— Vou me comportar. Tem a minha palavra.

Sorri com sua amabilidade.

— Vou tomar um banho. — anunciou.

Enquanto refletia sobre a conversa e em como esse mundo parecia mais... Saudável, reparei em como Tony não foi moldado pelo trauma, a perda do irmão dele foi por circunstâncias desafortunadas e não por suas mãos, ele tinha uma vida.

Tirada da meditação, engasguei com a visão de Tony só de toalha zanzando pelo quarto como se não fosse nada de mais.

— Ei, você não disse que precisava cumprir os votos? — acusei corada.

— O que? Estou cumprindo, mas não há nada que diga que não posso andar de toalha na minha própria casa. — ele claramente se divertia com minha reação.

Minha mente traiçoeira maquinava ideias mirabolantes para revidar essas provocações, mas a minha parte sã e sensata, que agradeço por estar intacta me impediu.

— Eu vou fazer... — chacoalhei a cabeça. — Aí!

Depois de escovar os dentes e vestir uma roupa mais confortável, encontrei Tony deitado preguiçosamente na cama, vestido unicamente uma calça que se acomodava perigosamente um pouco abaixo da cintura. Podia ver detalhadamente cada ponto do peito definido. Fiquei alguns minutos apenas encarando sem tomar uma atitude decente, e meus olhos sempre paravam onde não deviam.

Dei meia volta e entrei no banheiro, trancando a porta por precaução. Joguei água fria da torneira no meu rosto e tentei me acalmar.

Recomposta e fingindo indiferença, sai do banheiro confiante e dizendo a mim mesma que eu podia qualquer coisa. Inclusive dormir com um lindo e sexy na mesma cama como fizera muitas ocasiões antes. Entrei no quarto como quem não quer nada e fingi que a atitude provocativa não me afetava. Sorri descaradamente para a reação surpresa de Tony. Não satisfeito pegou meu braço e me puxou contra seu peito.

Pois é, essa ele venceu.

Tony caiu no sono antes de mim. Fechei meus olhos esperando a sonolência chegar. Mas estava difícil. Velei pelo sono de Tony, vendo dormir tranquilamente. Permaneci assim até enfim dormir.

 Meu histórico com o reino onírico não me favorecia em nada, exceto quando Alexander estava neles, o que já não acontecia, tudo se moldava para uma nova leva de pesadelos tenebrosos que se originavam do mais profundo dos meus temores encubados associados a traumas passados. Contudo, para variar, não tinha a “coisa” lá, a figura de trevas que se tornou figurinha carimbada dos meus sonhos. Estava presa em uma árvore e envolta por galhos secos que me imobilizaram. As ramificações afiadas pressionavam minha garganta, algumas apertavam fortemente meus braços e pernas deixando minúsculos cortes, dilacerando a pele.

Elas se mexeram, pressionando-me ainda mais forte. Abaixo de onde estava, havia dois pares de olhos muito familiares que gritavam continuamente meu nome. Tentei me mover e dizer a eles que estava bem, porém não pude mesmo com todo esforço que fazia. Em meio a isso, tive uma diferente impressão de que algo tentava alcançar minha consciência através de dimensões distantes e inimagináveis. Ouvi frases e palavras entrecortadas e cheias de preocupação. Uma estranha dor atingiu minha nuca e penetrou por ela, causando uma ardência incomoda. A escuridão parecia tão acolhedora e confortável.

E não resisti quando ela me dominou.

Acordei num rompante e pouco tensa, por sorte, devido ao Tony dormir feito uma pedra, não despertei meu parceiro no processo. Sem muita escolha, voltei a adormecer torcendo para que os pesadelos dessem uma trégua.

Pela manhã o sol brotava timidamente no horizonte com nuvens obstruindo a visão com um ar de amanhecer melancólico. Por um evento raro, Tony se levantou mais cedo que julgava ser o habitual, comparado ao Dante, ele tinha um horário biológico bem regular... A sua maneira. Meio grogue e cambaleante, me dirigi a cozinha onde o meu noivo conversava com algum cliente que esqueceu de vigiar as horas para ter ligado tão cedo. Ele me deu um beijo rápido na bochecha antes de sair porta a fora sem detalhar muito sobre sua atividade. Ao menos não teria que elaborar uma desculpa esfarrapada para sair na surdina sem atrair suspeitas.

 Grue me mostrou algumas ideias confabuladas por ele e suas filhas de como realizaremos a festa. Franzi o cenho com uma das opções riscadas da lista que incluía “comprar cerveja barata”, “não convidar strippers” e a cereja do bolo “dar um par de meias a Tony de presente “.

Caí na gargalhada com essa linha em específico.

Me unindo a tropa de escudeiras, enfeitei a sala e a cozinha com balões vermelhos e aquisitivos comemorativos — mais para agradar as pequenas que o aniversariante que não tinha certeza se gostava. No fim, examinando o resultado final da obra, soava mais como um aniversário de um menino de oito anos que um homem com seus trinta e pouco.

Grue pediu que eu fosse ao mercado para comprar uns ingredientes que faltava para fazer as guloseimas. Peguei a lista que ele fizera e parti para o mercado.

As ruas estavam com os habituais tumultos do cotidiano. O céu agora estava limpo e a temperatura amena e agradável. Na rua que antecedia o caminho do mercado, notei que tinha uma livraria. Sempre adorei livrarias e mesmo quando não tinha nem um tostão, entrava para ficar babando — um recheio completo de clichê.

Acho que não teria problemas se eu entrar um pouquinho.

As variedades de livros eram impressionantes e tudo tão perfeitamente organizado. Andei por entre as prateleiras e um me chamou bastante atenção entre todos os outros, peguei e comecei a folheá-lo.

— Bom dia, Diva! Procura algo? — para minha surpresa, quem conversava comigo era Nero.

— Nero? Oh, que bom que te encontrei! — peguei suas mãos, apertando entre as minhas. Ele tentou se afastar envergonhado. — Estávamos no Inferno, agora todos... Parecem estar no meu mundo! — a ficha tinha caído, a mão de Nero que devia ter a Devil Bringer, estava humana. Uma mão humana. — Nero... O que houve com sua mão? Cadê seu Devil Bringer?

— Do que você esta falando? Bebeu ou algo do tipo? — ele colocou a mão na minha testa para certificar se não estava com febre — Pelo menos não está doente.

Tentei absorver todas as informações com cuidado, para que minha mente pudesse administrar e ter uma lucidez mental. Cada minuto que passava, cada momento que se seguia tudo parecia não fazer nenhum sentido. Se bem que tudo que vivia não tinha um propósito real... Mesmo o normal, aquela altura, parecia estranho.

— E a Kyrie?

— Ela deve estar fazendo trabalho voluntário, logo esta aqui.

— Ah, está bem.

— Vai levar esse livro? — agora lembrei que ainda segurava o livro.

— Ah, não sei... Talvez.

— É um bom livro! — afirmou, fazendo sua — que considero — marca registrada, que era coçar o nariz quando ficava constrangido. Nero pegou delicadamente o livro e o folheou. — Ele é exemplar sobre mitologia baseado na Divina Comédia, sei que adora esse assunto.

Sorri.

— Bem — fiz Nero parar em uma determinada parte do livro, onde havia uma figura de um enorme pinheiro cujas raízes pareciam pernas grotescas que estendiam pelo chão. Para pessoas comuns seria imagem de uma árvore qualquer, mas alguma coisa no meu interior se agitou bruscamente. — O que é isso?

— Ah, é uma Ikhon. — Nero mostrou a figura.

— Ikhon?

— É a singular árvore e a única "viva" do inferno, ela suga energia espiritual e manipula e incapacita suas vitimas. Dizem que apesar dessas estranhas capacidades, ela não é perigosa. Sabe-se que elas concedem desejos, porém não é muito certo que já que é uma árvore demoníaca. — Nero deu de ombros. — De qualquer forma, são somente lendas, não é? Demônios e todo esse tipo de coisa não existem.

— Claro... Só lendas. — concordei, distraída. — Tenho que ir, até mais, Nero.

Acenei e sai apressadamente da livraria.

Consegui comprar tudo que era necessário. Chegando à casa de Grue, fui direto para cozinha ajudar Jessica a fazer doces. Ela, por sua vez, mal conversava comigo e quando falava algo era exclusivamente sobre nossas tarefas. Com toda convicção podia afirmar que nenhuma de nós estava à vontade. Finalizamos o trabalho e nos preparamos para receber Tony. Mal via a hora dele chegar para abraça-lo e desejar um bom aniversario.

Eram quase duas da tarde quando Tony entrou na casa, não muito contente. Ele reclamava sobre algo relacionado com uma pirralha que não o deixava cochilar em paz e uma montanha de dividas. Grue reprimiu uma risada e foi recebê-lo como um bom anfitrião.

Tony observou todos os enfeites extras que Tiki e Nesty acrescentaram antes do meu retorno; a parede estava cheia de desenhos de bichinhos fofos e ursinhos. Tudo cor de rosa. Ele torceu o nariz, depois soltou um suspiro cansado e resignado.

— Parabéns, tio Tony! — disseram em uníssono.

— Obrigado, principalmente pelos lindos enfeites — o tom de Tony reclinava em sarcasmo, as meninas não notaram e ficaram animadas com o elogio.

— Parabéns, — antes que tivesse chance de abraçar Tony, uma figura tomou minha frente.

Era Jessica.

Ver ela se engalfinhando com Tony me deixou meio irritada. Fiquei paralisada e não via mais nada além dos dois abraçados. Jessica sorriu abertamente, e estendeu a mão para tirar o cabelo de cima do olho dele. Meu coração disparou e busquei forças para não ficar enjoada. Respirei fundo algumas vezes para me acalmar.

Não é nada, são só amigos.

Mantenha o controle, rosnei para mim mesma, sentindo o sabor amargo do ciúme. Tony me olhou, talvez reparando na minha expressão endurecida. Como se lesse minha mente, ele me pegou em seus braços em um abraço apertado e quente.

— Não fique assim, doçura. Sabe que só tenho olhos para você, não é?— sussurrou contra meus ouvidos, e piscou para mim. Aquilo fora o suficiente para derreter minhas barreiras.

— Feliz aniversário, Tony.

Durante toda à tarde, passamos comemorando com Tony que não estava tão animado quanto deixava manifestar. Sabia que por debaixo do sorriso de contentamento jazia um segredo muito profundo. Minha intuição falava mais alto e quando tive a oportunidade de ficar sozinha com Tony, poderia enfim interrogá-lo para saber o motivo daquilo. A princípio, ele não quis me dizer o que era, mas graças a minha insistência ele partilhou pra mim a falta que sentia do irmão mesmo que, segundo ele, não fosse tão unidos como deveriam. Eu o acolhi em meus braços e dei todo carinho que precisava. Ficamos abraçados até sermos interrompidos pelas garotas que nos apressavam para comermos o bolo.

No pôr do sol, todos — incluindo o próprio aniversariante, que não estava tão cooperativo — se revezaram para arrumar a bagunça que ficou depois da festa. Decidi que lavaria a louça, ainda que não gostasse nem um pouco de fazê-lo. Havia uma faca na pia, ela estava suja de glacê e a lavei deixando-a reluzindo. Por ele pude ver meu reflexo, mas não era exatamente o que deveria ser. Na imagem mostrava como eu estava no sonho, meu rosto estava com palidez quase mórbida e meus olhos sem vida e opacos, era quase como se visse um cadáver. Vendo a minha mesma em outra perspectiva, muito intimidante. Era terrivelmente assustador.

Assimilei a imagem em silencio sombrio e sufocante.

Estava quase enterrada em galhos. Esses galhos moviam-se e se entrelaçavam, prendendo minhas mãos e pernas e contorcendo-se ao redor deles. Cortando e rasgando com firmeza, deixando vergões vermelhos ou minúsculos ferimentos de perfuração.

O mundo inteiro vacilou ao meu redor.

Nero tinha me falado sobre isso; Ikhon a árvore demoníaca... Então tudo isso era um sonho?

Um sonho...

Esquadrinhei o cômodo com tristeza ciente de que nunca teria uma relação plena com a normalidade tampouco com Dante como tinha com Tony. Ele não era meu quiçá nunca seria e me contentaria com isso.

Só há somente um jeito de me libertar. Sonhos terminam quando se morre dentro deles.

Apontei a faca diretamente para o meu coração.

Mesmo de costas senti a presença de Tony. O olhei e vi uma corrente de expressões inteligíveis passaram rapidamente pelo rosto de Tony, até que seu semblante se contorceu em pura surpresa e inquietação.

— O que esta fazendo? — indagou, perplexo.

— Colocando um fim nesse sonho...

— Não seja estúpida, não faça isso.

— Isso é apenas um sonho, nada disso é real... Mas foi bom enquanto durou... — minhas lágrimas caiam sem controle, desfocando momentaneamente minha visão e um soluço irrompeu pela minha garganta.

Com a discussão, logo apareceu Grue e as garotas.

— Diva, pare! — Nesty pediu, seus lábios tremeram pelo choro iminente.

Todos tentaram me parar, mas estava convencida de que fazia a coisa certa.

— Ilusões são apenas isso... Ilusões. Acho que isso não era concebido para ser. — pronunciei antes de me apunhalar. E foi assim que morri.

Abrir os olhos e recobrar a consciência de que estava de volta à realidade era estranha. Fria e inóspita. Meu corpo tremia e senti algo tocar minha mão, um aperto quente e vivo. Meus olhos fracos captaram um para de olhos azuis. Estava coberta de fragmentos de galhos e farpas, que grudavam na minha roupa. Apertei os olhos tentando reconhecer a presença, tudo parecia novo e diferente para mim. Um toque foi quase como ser jogada de um precipício com todas as sensações a flor da pele. Quando puder ver com nitidez, compreendi que estava nos braços de Nero. Ele me embalava como uma criança que precisava ser protegida das coisas do mundo a sua volta. E era isso que senti que precisava, estava vulnerável e distante da lucidez.

— Bem vinda de volta — ele sussurrou gentilmente.

Apertei-me firme em seus braços, deixando a tristeza e a consternação se libertar em lágrimas. Lamentos daquilo que perdi em outro lugar — em uma doce ilusão.

Os braços ao meu redor se apertaram.

Estava escuro e frio, principalmente por causa das minhas lágrimas. E mesmo depois de ter chorado tudo que podia, elas ainda insistiam em cair quase despercebidas pelo meu rosto corado. Se não fosse pelo frio, nunca as teria sentido.

Agora, graças a situação, a fraqueza me consumia e agonia.

O vento rugiu, sacudindo o que sobrou do carvalho. Apertei os olhos, ainda podia ver, mas as lágrimas nublaram minha visão e fez tudo parecer assustadoramente escuro. Quando consegui abri-los novamente, tudo ficou claro e nítido, porém o frio ainda permanecia. Estava tremendo, congelando até os ossos e a dormência se espalhava por todo meu corpo.

Encarei o céu vermelho escarlate.

Fiquei um bom tempo absorvendo a repentina volta à realidade. O forte e pungente cheiro de sangue e terra incomodou meu nariz. Com todo cuidado, Nero me colocou de pé mantendo-se perto para me dar suporte. Minhas pernas tremeram, mas consegui estabilizá-las. Tirei os restos de galhos e farpas das minhas roupas, que mesmo cortadas se mexia como se tentassem crescer e se reparar ali.

 Meu corpo doía horrores e estava quase sem energia. O cansaço, tanto físico quanto psicológico, se apoderou de cada célula. Foi necessário muita força de vontade para ficar de pé. Nero me guiou para longe do que sobrou da árvore.

A grande e assustadora árvore se encontrava quebrada e fumegante como se um grande poder tivesse a esmagado e destroçado com voracidade e violência. Essa tinha certeza que fora Nero que fizera isso com o auxílio de Alexander. Olhei para o Devil Bringer e agradeci internamente por estar com o verdadeiro Nero. Depois de tudo, — e mesmo tendo uma ínfima parte minha queira um pouco de normalidade mais do que qualquer coisa — me acostumei a viver intensamente nesse mundo. No qual não havia espaço para temores e nem para se esconder em ilusões, essa é a verdadeira realidade que faço parte agora.

Tenho a chance de salvar Dante.

Nero pegou minha mão me tirando do transe. Acho devo mais uma para ele.

Alexander se aproximou de nós, os olhos púrpuras estreitos em apreensão. Ele tocou meus ombros e beijou minha testa, os lábios macios roçando delicadamente. Aproveitei aqueles breves segundos com a doce e gentil sensação de estar acolhida, ser amada. O calor da aura de Alexander me envolveu, espantando o frio e dando-me forças. Ele deu um sorriso e recuou um passo para dar caminho a outra presença. A figura que arrastava um longo vestido pelo chão em sua volta, claro e cintilante. 

Uma escultura de gelo da mais imaculada perfeição, isso que pensava enquanto a admirava. Ela ergueu lentamente a cabeça para que pudesse vê-la completamente. Para minha surpresa pude ver meu próprio rosto, ligeiramente mais velho, pálido e bonito. Havia muitas diferenças como os longos e ondulados cabelos castanhos que caiam em ondas pelos seus ombros, os olhos castanhos claros em um misto de verde lago e avelã — uma cor que nunca vira antes —, e os lábios carnudos e rosados. Ela era mais alta que eu e movia-se com graciosidade mexendo a nuvem escuras que eram seus cabelos.

Frente a frente a ela, senti-me intimidada e constrangida.

Era a...

— Arya? — arquejei, perplexa. — Isso é possível?

Arya sorriu.

— Estou feliz em vê-la bem.

— Bem eu não estou totalmente, diria que estou inteira. — respondi. — Mas... Como você está aqui? Não somos a... Mesma pessoa?

— Eu sou apenas uma manifestação de seu subconsciente e memórias. — explicou, em tom sereno e firme. — Uma forma criada para te guiar até seu objetivo. Apenas assumi uma forma conhecida.

— Uau! — suspirei, estupefata. — Então é como se estivesse guiando a mim mesma?

Arya concordou.

— Ela nos trouxe até aqui — Alexander expôs, tomando a frente. — Onde você estava.

— Oh! — exclamei, surpreendida, então sorri agradecida: — Obrigada, Arya.

Arya sorriu reconfortantemente.

Um vento gelado espalhou meu cabelo pelo rosto e açoitou minha pele, estremeci pela brusca queda da temperatura depois de me afastar da aura quente de Alexander. Por um momento, o ar pareceu pesado e sufocante em minha volta, como se um peso esmagador fizesse extrema pressão pelo ar. Ignorei a estranha sensação, pois não valia de nada ficar preocupada. Empinei o queixo para olhar novamente o céu avermelhado num misto estranho de vermelho e cinza. Respirei profundamente e apertei os passos. A passagem estreita era um tanto íngreme, as pedras, pedaços de raízes e o lamaçal piorava e muito. Andei com rapidez, minhas pernas devorando a distância entre o além da árvore morta atrás de mim.

Nero, Alexander e Arya me seguiram, podia ouvir seus passos convictos atrás de mim. Eu ainda me sentia fraca, mas isso não me impediu de continuar. Determinada, andei usando o cordão prateado para me mostrar o caminho.

Seria apenas um destino possível, este, suponho que seja o de Dante.

×××

Paramos na beira de um vale e uma espécie cidade se estendia abaixo de nós. Ela estava devastada e em completa ruína; alguns prédios se elevavam sob nossos pés parecendo sombrios pilares, outros estavam caídos ou simplesmente desgastados e também veículos arrasados e em pedaços. O céu parecia uma cortina de chamas pela mistura de vermelho, laranja e um leve amarelo. Havia pessoas correndo de um lado para outro desesperados junto a elas tinha figuras com vestes negras portando foices, chicotes e todo tipo de arma de tortura. Outras criaturas grotescas imergiam e tomaram a frente do que supus ser uma batalha. Obviamente, as almas humanas estavam em patética desvantagem. Ouvi grunhidos ameaçadores bem distantes, aqueles sons fez um arrepio correr a espinha. De repente, o ar tornou-se amargo misturado ao forte cheiro de sangue, enxofre e decomposição. Gritos de agonia, gemidos e murmúrios foram jogados à brisa. Para descemos o vale, escorregando pelo chão arenoso até por fim estacarmos no terreno plano.

Fomos cercados por um grande grupo de demônios assim que chegamos. Eles nos acuaram pela frente, muitos pares de olhos vermelhos brilharam sombriamente e debilmente com excitação assassina. No chão eclodiram vários zumbis, a carne podre e deformada alguns tinha a pele lívida e buracos nos olhos. Em outra direção, vieram outros cadáveres cobertos de sangue e com corpos retorcidos numa forma bestial, asquerosa e horrível. Preparamo-nos para atacar, porém Arya simplesmente levou a mão aos céus lançou uma poderosa onda de poder luminoso. O brilho intenso e ardente varreu o campo, limpando qualquer rastro de demônios. Nada sobrou, nada além de rastros de energia, poeira e plumas. Ela jogou o sedoso cabelo castanho para trás e soltou um suspiro.

Sério, vendo em primeira mão os poderes da Arya eram muito impressionantes.

Por partes, estar no mesmo lugar que a Arya e vê-la usando suas habilidades: Será que poderia ser igual a ela algum dia? — e sabendo que sou a reencarnação dela é bizarro e confuso. Isso atiçou minha curiosidade de uma forma que não podia controlar, todavia  podia saber por ela um pouco mais sobre mim.

Uma oportunidade única.

Arya não disse nada quando tomou a frente na caminhada elegante por dentre as antigas ruínas, que aos poucos fora se tornando silhuetas escuras atrás de nós. Alguns prédios ainda de pé pareciam perturbadores, não somente por não conter vida nenhuma — que tornava tudo muito pior — mas por causa da densa energia que nela emanava.

A terrível e sinistra escuridão.

Pressentia que em algum lugar nas sombras estavam observando-nos, não dava para saber se era apenas impressão ou não. E mesmo com todos meus sentidos alertas não consegui distinguir o que era. Minhas pernas tremiam e minha respiração rasgava na garganta. Eu estava meio atordoada, quase com vertigem tanto pelo cansaço como pelo medo. Tudo bem, que não havia um real perigo, contudo  a energia por si só era pesada e acarretava a aversão. O ar estava carregado e o cinza soturno das nuvens dava ao céu uma aparência de letargo. Combinava bem com o assombroso cenário, ameaçador e de outro mundo — literalmente. Parecia que tinha sido lançada no pesadelo mais apavorante de todos. Não só estava na escuridão, como também no completo silêncio. Depois do ataque de Arya e da destruição em massa, não houve nenhum outro empecilho e ninguém ousou quebrar a tensa quietude imposto naquele momento. Os únicos ruídos audíveis eram o bater dos nossos pés no chão lamacentos e nossas respirações aceleradas. Principalmente minha e do Nero, já que nós estávamos vivos.

Entre as ruas desertas encontravam-se restos mortais; sangue, partes de membros e vísceras. Cada um mais repugnante e grotesco que os outros. Havia também entulhos em toda parte. Passamos silenciosamente por entre os destroços ate chegarmos a uma estrada longa e sinuosa. O cheiro forte e enjoativo de gás inundou minhas narinas.  A estrada principal estava bloqueada, havia muitas carcaças de veículos pegando fogo impedindo a passagem, — embora não houvesse rastros de vida ali — as altas chamas iluminavam o local enquanto crepitavam suavemente. Meu estômago apertou violentamente em náusea e recuei para perto de Arya. O calor da aura dela me envolveu de um modo familiar, nossas auras se mesclaram tornando-se novamente uma só.

Cautelosamente desviamos por outro caminho que conseguimos encontrar em meio ao fogo crescente. Olhei distintamente para cada acompanhante; Alexander tinha uma expressão serena e inabalável, Nero estava serio e alerta como um tigre pronto para o ataque, Arya er,a sem dúvida, a mais alheia à energia, ignorando-a como se não a comprometesse em nada. Acho que de todos que estavam ali, eu era a mais afetada. Afinal, não tinha energia para me proteger da vibração negativa que o Inferno emanava.

Aproveitei para estudar Arya um pouco mais.

Fiquei um bom tempo reparando em cada respiração e movimento dela e até conseguia classificar bem cada diferença entre nós. Meus cabelos são mais escuros e não possuíam tantas ondas do que de Arya e eram curtos, enquanto os dela parecia chocolate derretido caindo em suas costas. O corpo de Arya era curvilíneo e perfeito, suas feições mostrava fragilidade ao mesmo tempo uma sensualidade e maturidade notáveis. Ela também se movimentava com classe e poder digna de uma dama do século XV. A forte presença e a confiança que emanava dela faziam que ficasse ainda mais bonita. Arya possuía uma beleza quase divina.

Por que não sou como ela? Era para ser, não?

Encolhi-me um pouco, e percebendo meu desconforto Arya sorriu amavelmente.

— Tem algo errado? — ela indagou.

— Hm, nada. — forcei um sorriso.

Arya fitava-me de frente e fixando sem pestanejar. Os olhos um pouco estreitos feito um felino. Ela tombou lentamente a cabeça, talvez estivesse refletindo em algo.

— Você me lembra eu mesma... No passado. Quando era jovem sem conhecimento. — deslizou a mão pelo sedoso cabelo. — O mundo era novo para mim naquela época, assim como é para você.

Desviei o olhar.

— A última vez que estive aqui Sparda me falou que poderia ser uma escolha sem volta. Não pelo que teríamos que enfrentar e sim pelo que a decisão desencadearia.

Ela soava nostálgica ao mencionar Sparda.

— Vocês eram... Amigos?

Arya assentiu.

— Amigos é um termo não muito exato. Éramos como duas faces da mesma moeda. — riu com a comparação. — Alguém do mundo das trevas e alguém do mundo da luz...

Ela chacoalhou a cabeça.

— Melhor continuarmos.

Um rastro de tristeza se desenhou nas feições dela.

Prosseguimos sem mais pausas. E um ponto do trajeto, Arya parou.

— Acho que esse é o momento de deixá-los. Antes, Diva eu tenho um presente para você.

Arya andou serenamente até estar diretamente em minha frente. A aura que irradiava dela era cheia de intensidade, ternura e paz ilimitada e incondicional que me fez estremecer e fechar os olhos. Ela tocou suavemente meus ombros, e nesse momento, abri os olhos para encará-la. Os olhos verdes-avelã estavam radiantes como uma criança que ganha um doce. Senti meu rosto arder com tamanha proximidade. Então, esticou os braços para mim. Não compreendi no inicio, mas aparentemente ela queria me abraçar. Com uma expressão pacífica e majestosa, ela me tomou em seus braços.

Deixei que ela me guiasse para si, e foi tudo muito rápido, mal pude me preparar para o impulso, apenas senti os lábios dela acertarem em cheio os meus.

Permaneci parada, em choque. Digamos que ser beijada por uma garota era muito — muito mesmo — diferente e fora do que esperava. E não era apenas um selinho rápido e quase despercebido. Era um forte e envolvente beijo, Arya enlaçou os braços ao redor do meu pescoço e me apertou firme. Não sabia o que devia fazer, meu interior estava em choque. No entanto, não senti nada sexual naquele beijo, era casto e carregado de poder. Era isso, Arya estava retornando a forma original, que sou eu

Consegui experimentar nossas mente se conectando, a turbilhão de emoções se ligando e nossas energias se unindo e tornando-se uma só.

Retribui o beijo com mais intensidade. Quando meu corpo se encheu com poder novamente, Arya tinha desaparecido e eu me senti mais forte que nunca.

Esse deve ser o presente que Arya queria me dar. O Poder.

Não senti mais frio ou fraqueza, estava plena e maravilhosamente bem. Sorridente, voltei minha atenção a Nero e Alexander. Eles desviaram o olhar de mim, constrangidos. Até o ponderado e enigmático Alexander estava com o rosto vermelho vivo. A cena deve ter sido muito constrangedora tanto para eles quanto foi para mim.

Eu ri internamente.

Olhe pra frente!, a voz doce de Arya ecoou na minha mente.

Meus olhos varreram o campo a adiante de nós e não consegui ver nada além da figura que estava ali. Em meio a espinhos que perfuravam agressivamente sua carne preso a própria sorte ensanguentado, um Dante inconsciente. Havia demônios cercando o local. Poder vê-lo fez meu coração se encheu de mistos de sentimentos; alegria, compaixão, raiva, uma fúria animal. A cólera me inundou com uma nova onda de fôlego, juntamente com a felicidade quase imediata e a atitude protetora.

— Dante, vou te salvar nem que tenha que destruir o Inferno no processo! — rosnei ao vento.

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