Carpe Diem

By GabbySaky

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Felicity e Oliver estavam finalmente vivendo aquele amor tranquilo no qual sempre sonharam. Finalmente estava... More

Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e Um
Capítulo Quarenta e Dois
Capítulo Quarenta e Três
Capítulo quarenta e quatro

Capítulo Vinte e Dois

85 8 26
By GabbySaky




Notas Iniciais

Alguém aí enlouquecendo de curiosidade com o que vem por aí?

Porque já digo... preparem Seus corações.












10 de Agosto

Oliver via Felicity andando de um lado para o outro, e se divertia enquanto a via reclamar sem parar de como a casa estava uma bagunça. Ele havia tentado fazê-la se aquietar e aproveitar que as crianças estavam na escola, mas havia sido impossível. Ela ficava toda energética quando os pequeninos estavam em aula; isso quando eles não aproveitavam para namorar um pouquinho; e como naquele dia estava atarefado com alguns documentos que havia levado para casa, sobrou a amada procurar algo para distraí-la. E a distração era exatamente arrumar a bagunça que os trigêmeos haviam deixado antes de irem para a aula. Normalmente ela os fazia arrumarem, ou após o almoço ou após o cochilo deles, mas como naquele dia ela se encontrava totalmente sem o que fazer, ela decidiu que ela mesma o faria.

As almofadas estavam todas fora do lugar — por conta de uma guerra que os pequeninos haviam feito na noite anterior —, os brinquedos se encontravam fora das caixas, havia sapatos e roupas espalhadas pelo quarto infantil; e a loirinha reclamava de tudo que encontrava fora do lugar. Ela estava agitada, e esse era o motivo para tanta reclamação. E enquanto isso, o marido dela só a observava volta e meia, já que havia sido impossível fazê-la se sentar e esquecer daquela bagunça, principalmente quando a empregada chegaria na parte da tarde para organizar a cozinha.

Em um dado momento da parte daquela manhã, ele finalmente a viu sentar-se, ao seu lado, com um notebook em suas pernas. Deu uma olhadinha e percebeu que ela havia começado a organizar o que faltava para a festa de aniversário das gêmeas. Naquele ano não teria comemoração muito grande. Elas haviam decidido por uma festa do pijama diferenciado. O que isso queria dizer? Que haveria vários pré-adolescentes na casa deles, dormindo em barracas no jardim de frente para uma fogueira improvisada regrado a tudo quanto é besteira. Felicity já havia compro tudo que seria consumido naqueles dois dias: tanto os doces quanto os salgados.

Oliver quem não estava gostando muito daquela ideia, e tudo porque não estava nada feliz com aquela comemoração mista. Sentia que aquela era uma má ideia; mais ainda por saber quem era os garotos que estariam presentes naquela festinha. Dois de seus sobrinhos, nos quais suas filhas eram apaixonadas e agora estavam namorando. Nem mesmo havia acontecido a festa, e já se sentia enciumado. Extremamente enciumado. Só de imaginar, já ficava desgostoso com aquela ideia de suas primogênitas. Por que não uma festa normal? Por que não uma festa que durava apenas um dia e que não levaria garotos a dormir em sua casa? Não que tivesse problemas com Lyon e Killian, eram seus adorados sobrinhos, mas ainda assim, sobrinhos, sobrinhos, filhas a parte, não é assim que diziam?

De repente, já não conseguia mais trabalhar.

Pensar naquela festa fez com que todos os seus pensamentos se voltassem para ela, e apenas para ela. Nada mais. Nada o faria se concentrar novamente naqueles documentos irritantes e cansativos, principalmente quando via sua garota conversar com a mulher que estava organizando a decoração do jardim para aquele festejo tão importante para April e Amily. Gostaria de poder fazer ambas desistirem, mas sabia que seria impossível; e sabia também que seria completamente impedido por sua esposa caso tentasse. Ela jamais permitiria que ele estragasse a felicidade das meninas. Não que esse fosse o desejo dele, mas ainda assim não conseguia deixar de pensar que aquela era a pior ideia da face da terra.

— Por que essa carranca?

Oliver então fitou a amada, que o olhava um tanto desconfiada.

— Por acaso novamente está pensando na festa das meninas?

— Acampamento? Sério, Feli?

A mulher revirou os olhos.

— Primeiro, festa do pijama, segundo, achei legal.

— Para mim dá no mesmo. – Murmurou, e a esposa voltou a revirar os olhos. – Se fosse apenas garotinhas, mas não, elas insistem em uma festa mista.

— Nada vai acontecer, Oliver, estaremos aqui.

— Ah, eu vou mesmo, e vou até montar uma barraca bem pertinho...

— Mas nem por cima do meu cadáver! – O cortou. – Oliver, pelo amor, né! É uma festa juvenil, meu amor, você não vai ficar em cima como se fosse um urubu, né!

— Urubu? – Reclamou, ouvindo a amada dar uma sonora gargalhada logo em seguida. – Obrigado pela parte que me toca.

— Ah, você entendeu. – Diz ainda rindo. – Nossas filhas querem um momento só delas e dos amigos, e elas merecem. São boas garotas.

— Seria tão melhor se elas não estivessem apaixonadas.

— De novo. – Reclamou, revirando os olhos mais uma vez. – Você algum dia vai se conformar com isso?

— Nunca.

E ela não se surpreendeu com a resposta.

— Nós iremos dormir em nosso quarto.

Era uma ordem, ele tinha percebido em seu tom, ainda que tivesse um sorriso em seus lábios; e ele não seria capaz ou teria coragem de fazer diferente do que ela "pedia".

**--** **--**

Thomy Merlyn estava um tanto atrasado naquele dia, e esse era o motivo de seu filho e sobrinhos — cada um deles — estarem do lado de fora da escola em uma conversa interessante com alguns colegas de classe. Ele quem os buscaria, já que nos dois dias anteriores haviam sido seu melhor amigo — quase irmão — e Barry Allen. Os jovens não se importavam, menos ainda quando tinham algo interessante para fazer. Eles falavam sobre a comemoração da festa de aniversário das gêmeas Queen. Estavam todos muito ansiosos. As festas delas sempre acabava sendo comentário de quase uma semana em todos os anos. Os amigos adoravam os planejamentos da mãe das meninas, ainda que a ideia viesse sempre de ambas; e esse era mais um motivo para estarem tão ansiosos para o dia da festa chegar.

Faltava apenas um mês.

April e Amily eram as mais ansiosas. Seria a primeira festa do pijama barra acampamento que fariam em sua casa. Pelo menos depois que viraram pré-adolescentes, pois quando tinham seis, sua mãe organizou uma festa do pijama com alguns amiguinhos da escola junto a seus primos. E havia sido incrível. Ninguém nunca se esqueceu. E elas imaginavam que aquela festa também seria inesquecível, como tudo que sua mãe preparava. Mesmo que soubessem como ela era caprichosa, sempre se surpreendia com tudo que ela preparava. Mas um motivo maior para estarem ansiosas, era por sua amada mãe estar preparando tudo em segredo; ela deixaria não só os amigos das filhas, mas também ambas verem como havia ficado tudo só no dia da festa. E ainda que estivessem curiosas, não se importaram, principalmente por saberem que Felicity adorava aquelas surpresas; e elas se sentiam ainda mais amadas por ela por isso.

Ainda que estivessem todos em um único ponto a espera de seus pais — próximo ao meio fio —, as meninas se encontravam reunidas de um lado e os meninos de outro. Havia chegado no mesmo assunto quase ao mesmo tempo, mas chegou o tempo em que os garotos começaram a falar sobre o jogo de basebol que aconteceria na cidade, e que estavam animados para assistir à partida; quanto as jovens ao lado, ainda se encontravam entusiasmadas com a festa de aniversário das Queen.

Por um momento, April se viu sozinha quando seu celular tocou. Ela preferiu se afastar para poder escutar melhor. Era seu tio avisando que não havia conseguido falar com o filho, mas que estava quase chegando; havia acontecido um problema na empresa e por isso o atraso. Rapidamente — e com um sorriso meigo nos lábios — ela o tranquilizou; disse que estava tudo bem e que o esperavam na porta da escola como sempre. Desligou a chamada — após se despedir — e o colocou no bolso, momentos antes de perceber um carro escuro se aproximar cada vez mais em alta velocidade. Seu coração quase saiu pela boca quando percebeu em que — ou melhor, quem — ele bateria em cheio. Fitou o carro mais uma vez após fitar o garoto a poucos passos de si, fazendo essa mesma ação mais uma vez antes de correr e empurrá-lo, sendo acertada em cheio.

Os olhos de Killian se arregalaram ao perceber o que estava acontecendo. Por um momento não compreendeu nada quando sentiu seu corpo ser empurrado para o lado, quase indo ao chão, ainda que tivesse esbarrado em Lyon. E então viu o corpo da garota que amava ser arremessado por um carro.

— APRIL!

Não conseguiu reagir, por um momento, mesmo depois do grito de sua prima — irmã dela; seu corpo tremia de uma forma que ele nunca havia sentido antes. E quando finalmente conseguiu se mexer, correu em direção a April, se ajoelhando ao lado dela e de Lyon, que havia sido o primeiro a se mover. Alguns amigos diziam para não mexer nela, outros apenas desesperados ao seu lado não compreendendo nada, outros, mal conseguiam se mover ou dizer alguma coisa, pelo choque que levaram com aquele acontecimento.

Adam e Andrew eram os únicos de pé, próximo a Amily, que se encontrava desesperada, chamando pela irmã quase que aos berros enquanto chorava. Todos tinham os olhos sobre a jovem de cabelos loiros, mas eles acabaram fitando o carro que havia feito aquela monstruosidade; ele era todo preto, e pelo vidro estar fechado não dava para ver quem estava dentro, mas eles o perceberam andar devagar, parecendo que a pessoa dentro dele esteva querendo ver um pouquinho o estrago que havia feito. De repente, saiu cantando pneu, deixando os garotos muito desconfiados.

Para eles, aquilo não havia sido um acidente. Mas não se preocupariam com aquilo naquele momento. O mais importante era a prima, que se encontrava inconsciente no chão a poucos passos deles. Ela tinha sangue na testa — era onde mais tinha sangue —, o corpo todo ralado e cortado por pedaços de vidro, o rosto machucado...

Se ela não estivesse respirando, qualquer um ali pensaria que ela estava morta, por não se mexer mesmo depois de ser balançada desesperadamente por sua irmã gêmea.

— Eu liguei para uma ambulância.

Os primos e irmã de April escutaram de um dos colegas de sala.

— Será que ela está viva?

Uma das colegas se virou para a outra.

— Não diga bobagens!

— Ela me salvou.

Todos fitaram o Palmer.

— Se não fosse por ela... – Não havia deixado de fitar o rosto pálido e ensanguentado nem por um segundo. – Seria eu o acertado por aquele carro.

— Muito suspeito, diga-se de passagem.

Todos — com exceção de Killian — fitaram Andrew, mas antes que ele pudesse explicar o porquê de suas palavras o som da ambulância chamou a atenção deles. O pessoal de dentro dele começou a se aproximar rapidamente, trazendo com eles uma maca.

— Maninha... – Sussurrou, apertando uma de suas mãos.

— Nós precisamos que se afaste.

A filha de Oliver começou a balançar a cabeça, se negando a soltar a irmã.

— Amy.

Ela não olhou nos olhos do garoto que gostava.

— Amy. – Chamou outra vez, mais firme, tocando seu rosto e fazendo-a fitar seus olhos. – Eles precisam levá-la. Eles precisam cuidar dela.

Uma paramédica se abaixou diante da jovem, chamando sua atenção.

— Sua irmã vai ficar bem, mas para isso precisamos levá-la ao hospital. – Diz, o mais gentil possível. – Eu sei que deve estar assustada, e eu entendo, mas se quer o bem da sua irmã..., precisa nos deixar cuidar dela.

Amily soltou o ar que nem sabia que segurava e fechou os olhos, soltando a irmã gêmea finalmente, sendo abraçada por Lyon; e ela se agarrou nele, chorando angustiada, temendo por April. E enquanto o garoto que a amparava, beijava sua têmpora, ele se preocupava com o melhor amigo a frente dele; ele parecia em choque, ainda que se mexesse de acordo que os paramédicos se mexiam a fim de cuidar da jovem inconsciente; não tirava os olhos dela, não soltava nem mesmo sua mão.

— Céus!

Ouviram, reconhecendo a voz de Thomas Merlyn, que tinha os olhos arregalados.

— Mas... o que houve aqui?

Amily chorou ainda mais.

— Ela me salvou, tio. Me salvou. – Ele não conseguia parar de pensar naquilo.

— Nós levaremos a jovem para o hospital geral. Você é o pai? – Um dos paramédicos se pronunciou.

— Não. – Por um momento não conseguiu dizer mais nada, por conta do choque; não esperava ver o que seus olhos viam naquele momento; havia acabado de falar com a sobrinha, como é que aquilo acontecia em tão pouco tempo. – Sou o tio.

— É melhor ligar para os pais dela.

Houve um momento de silêncio.

— Pai?

Thomy balançou a cabeça, se obrigando a voltar a si ao escutar a voz do filho.

— Vamos para o carro.

— Tio, eu quero ir com minha irmã.

— Você é muito jovem...

— Por favor. – Praticamente implorou para o paramédico que estava por perto — o único que não se encontrava com a irmã dela naquele momento. – Eu só quero segurar a mão dela. Só... para ela saber que estou com ela.

O rapaz suspirou, se compadecendo.

— Tudo bem. Se seu tio autorizar...

O Merlyn não demorou a fazê-lo.

— Nos vemos daqui a pouco, querida.

Foi a vez dela em balançar a cabeça, ganhando um beijo na testa antes de ver seu tio seguindo para o próprio carro.

— Amy.

Ela fitou Lyon.

— Vai ficar tudo bem.

Os olhos dela voltam a encher de água.

— April vai ficar bem.

A jovem balançar a cabeça, sem conseguir dizer uma palavra; e Lyon a compreendia, claro, então apenas se aproximou e lhe deu um beijo na testa antes de vê-la adentrar o carro da ambulância. Fitou seu primo, que não havia conseguido sair do lugar desde que acompanhou os paramédicos levarem a garota que ele gostava e que o salvou até o carro. Ele não havia deixado de fitá-la ou o carro após ele ser fechado nem por um segundo; nem mesmo piscava. Estava em choque. Tremia. Respirava de forma ofegante. Por isso se aproximou, tocando seu braço afim de fazê-lo voltar a si; o que não aconteceu.

— Nós precisamos ir.

Ouviram uma buzina, mas ainda assim o outro não se moveu.

— Killian.

E dessa vez o jovem voltou a si e fitou o melhor amigo.

— Ela vai ficar bem, mas precisamos ir.

Ele balançou a cabeça, limpando o rosto — mas não por estar envergonhado por ter deixado uma lágrima grossa descer — antes de seguir até o carro, com Lyon ao seu lado.

**--** **--**

Oliver achou que seus dias de dirigir em alta velocidade — com ou sem sua amada esposa ao seu lado — por conta de um acontecimento desesperador e — ou — problema com sua família havia acabado. Mas ele se enganou. Completamente. Por quê? Porque naquele momento ele estava dirigindo como louco — mais uma vez e a segunda naquele mesmo ano —, passando em tudo quanto é sinal vermelho que encontrasse para poder chegar ao hospital geral da cidade. Mais uma vez. E de novo, por suas filhas. Nesse caso, uma delas. April. Thomas havia ligado avisando que ela havia sido atropelada brutalmente na porta da escola e que estava naquele momento dentro de uma ambulância com sua — queria, desesperada e amedrontada — irmã gêmea ao seu lado. Ele achou que havia escutado errado. Por um momento, até pensou em pedir para que o amigo repetisse, de tanto que ficou chocado, mas tudo que fez, após um "Ollie, você está aí?", foi dizer que estava indo para o hospital. E então desligou e puxou a amada — que já tinha o coração apertado ao seu lado — contando no meio do caminho o que havia acontecido.

E durante o caminho pensou no pressentimento da esposa pouco antes de receber a ligação. Ela estava ao seu lado, sentada organizando a festinha das gêmeas, quando de repente, começou a ficar inquieta e angustiada. Ela levou a mão ao peito, parou de teclar, respirou fundo várias vezes, o que chamou sua atenção. Ela deixou o notebook de lado e foi neste momento — já preocupado — que questionou o que estava acontecendo.

"Estou sentindo algo estranho. Uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo... tão... familiar. Eu já senti isso antes. Esse pressentimento. Essa angústia. Esse medo. Algo vai acontecer, Oliver. Estou sentindo que algo muito ruim vai acontecer"

E então ele se preocupou. Nas outras vezes que ela havia pressentido algo, sentindo-se mal por pressentir que algo aconteceria com alguém, realmente havia acontecido. E mais de uma vez aconteceu depois da primeira vez. Ela tinha aqueles sextos-sentidos que ninguém entendia. Ela pressentia sempre que algo ruim aconteceria na família. Ela sentiu quando a mãe ia morrer, sentiu quando quase o mataram, pressentiu no dia em que foi sequestrada...

Todas as vezes que ela pressentiu algo, ele se viu desesperado e angustiado; por ela, pelas filhas, por ela de novo...

Mesmo assim expulsou aquele sentimento ruim de lado e fez ela acreditar — ou pelo menos tentou — de que era bobagem. Ela então falou nas gêmeas e ele novamente a tranquilizou — ou tentou —, dizendo que elas estavam com Thomy. Ou deveriam estar, já que ele acabou por se atrasar. E esse era o motivo de ter acontecido todo aquele desastre. Não que o culpasse. Jamais. Nem ele e muito menos sua esposa o culparia pelo que houve.

Felicity mal conseguia respirar ao seu lado de tão desesperada, e mesmo que estivesse quase que igualmente a ela, expulsou aquele sentimento de si para poder acalmá-la. Ela tinha motivos para estar branca como papel, quase que tendo uma crise enquanto respirava de forma ofegante; as mãos ao peito, totalmente em choque. Ela havia se lembrado da mãe. De tudo de ruim que aconteceu. Ela temia o que poderia acontecer com April. Temia perdê-la. Com certeza estava se passando tudo quanto é coisa ruim em sua mente, e ele realmente tentou tranquilizá-la, mesmo que não tivesse notícias de sua garotinha desde que seu melhor amigo ligou para avisar o que havia acontecido.

Ele a compreendia completamente. Ele mesmo estava apavorado. Thomy havia dito que o impacto havia sido brutal. Que sua garotinha estava desacordada. E temeu pelo pior. Foi impossível não pensar no pior. Queria acreditar que ficaria tudo bem, mas seu coração estava tão apertado, como se pressentisse que acabaria por perder sua garotinha. Balançou a cabeça, se negando a pensar naquelas coisas ao mesmo tempo em que chegava — finalmente — ao hospital. Estacionou, desceu do carro e seguiu — de mãos dadas com a esposa — em direção as portas.

Ambos adentraram já a procura de alguém que pudesse lhes dar informação. Infelizmente ninguém as tinha. De repente, seus olhos se encontraram com os dos amigos de suas filhas e de Thomy.

— Finalmente. – O Merlyn diz, suspirando.

Amily, que estava entre Lyon e Killian, finalmente foi encontrada pelos olhos de ambos seus — preocupados e desesperados — pais. Ela não demorou meio segundo para se levantar e correr até eles, abraçando a ambos ao mesmo tempo, ainda que a maior parte de seu corpo encostasse no corpo de sua mãe. Felicity beijou seus cabelos ao mesmo tempo em que Oliver os acariciava; e então, uma troca de olhar antes de fitar o único adulto que se encontrava com os pré-adolescentes a pouco.

— O que houve?

Antes que Thomy pudesse responder ao melhor amigo, Lyon foi mais rápido.

— Ela foi atropelada, tio Ollie.

— Estávamos do lado de fora da escola, esperando pelo tio Thomy quando de repente ela empurrou Killian e foi arremessada pelo carro. – Adam completou.

Os mais novos e os mais velhos fitaram o Palmer, que olhava para suas mãos ensanguentadas; aquele era o sangue de April. Ele parecia em choque; para todos, ali, ele se encontrava totalmente em choque; não havia dito uma palavra desde que Thomy apareceu para buscá-los.

— Ela está em cirurgia.

Felicity reagiu às palavras do irmão.

— Cirurgia?

— A pancada foi forte. Ela estava perdendo muito sangue, bateu a cabeça, viram que havia algo de errado com o baço quando fizeram exames. Entraram às pressas e pediram por meu consentimento. Eu precisei dar.

— Você fez o certo. – Oliver diz. – Obrigado. – Desviou os olhos para sua garotinha, que parecia apavorada; e com razão.

— O carro ia acertar ao Killian, tio. – Andrew queriam. – Seja quem fosse dentro daquele carro, queria ao Killian.

— Pelo menos foi o que pareceu. – Adam completou, vendo o irmão apoiá-lo.

— O carro ficou parado há alguns metros de nós. E seja quem fosse lá dentro, parecia observar o estrago que havia feito.

— Até sair cantando pneu. – Completou novamente pelo irmão gêmeo.

— Eu não vi nada, mas os gêmeos sim. Eu estava mais preocupado com April, Amily... – Lyon fitou a garota que gostava e então seu melhor amigo. – Killian.

O menino não fez qualquer movimento, mesmo após o amigo dizer seu nome; provavelmente nem mesmo havia escutado de tão longe que parecia estar. Felicity, fitando o jovenzinho — e imaginando como ele deveria estar se sentindo —, deixou sua filha com o marido e se aproximou do menino, se abaixando diante dele já tocando suas mãos — mais especificamente, os pulsos, vendo-o se mexer finalmente; seus ombros, que foram um pouquinho para trás, e sua cabeça subiu.

— Vamos lavar essas mãos, querido.

Ele não respondeu, e Felicity o puxou com todo o carinho — fazendo-o se levantar — que o menino merecia naquele momento, deixando para trás sua dor para poder ajudar na dor do sobrinho de apenas quatorze anos. E diante dos olhos de todos, o levou ao banheiro afim de ajudá-lo, sabendo que ele não conseguiria sozinho.

— Ligou para os pais dele? – Questionou, preocupado.

— Assim que terminei de falar com você.

O outro balançou a cabeça.

— Estou preocupado, ele não disse uma palavra o caminho inteiro.

— Bem, foi chocante, pai.

— Ainda assim, para ele parece ter sido pior.

Oliver não pode deixar de concordar com o melhor amigo. O menino — que viu crescer — parecia não estar naquele mesmo plano. Sua esposa quase que o carregava enquanto andavam, e ele continuava a fitar as mãos sujas de sangue. O sangue de sua menina. Podia até imaginar o quanto aquilo era ainda pior para o pré-adolescente. Ele viu tudo acontecer diante de seus olhos, tem o sangue dela em suas mãos, a viu desacordada e talvez, havia também a culpa. Qualquer um naquela situação se culparia. Não que ele culpava o sobrinho. Jamais. Sabia que o único culpado era aquele que havia atentado contra a vida do garoto que já não se encontrava diante de si.

— April é importante para ele. – Lyon diz, fitando Amily, que correspondeu ao olhar. – E ver tudo aquilo... não foi fácil. – Completou, imaginando que poderia estar em uma situação semelhante se fosse a garota a sua frente. – Não foi fácil para nós, imagina para ele. – Fitou o tio, que compreendeu suas palavras rapidamente, mas não disse nada a respeito; sabia dos sentimentos de Killian por April, e apesar de sentir-se extremamente enciumado, compreendia os sentimentos do menino naquele momento; tudo que ele sentia com tudo o que viu e agora o fato de ter que esperar para ter certeza de que ela ficaria bem. Ele mesmo já havia passado por algo parecido, afinal de contas; e na época já era adulto, pai, quase que casado; imagina o outro, que era apenas um garoto de quatorze anos.

— Nossos amigos. – Thomy avisou, vendo o amigo se virar para trás.

— Como ela está? – Laurel quem perguntou.

— Ela está em cirurgia. – Oliver respondeu.

— Thea ficou de pegar os pequeninos? – Caitlin perguntou, enquanto via uma de suas amigas olhando ao redor, a procura do filho.

— Sim. – Balançou a cabeça, se lembrando de ter ligado para ela no meio do caminho, explicando a situação; ela deveria estar desesperada. – Por falar nisso, preciso ligar e avisar sobre as últimas notícias.

— Espere, amigo. – Barry pediu. – Não é a Meredith?

— É ela quem está cuidando da sua filha, Oliver. – Thomy contou, e todos fitaram a mulher, ansiosos; em especial o pai e a mãe — que já se aproximava com Killian — da menina que se encontrava hospitalizada.

— Boa tarde. – Cumprimentou a mulher.

— Boa tarde. – Cumprimentaram todos de volta.

— Como está minha filha? – Felicity questiona rapidamente, ao mesmo tempo em que Helena se aproximava de seu filho mais novo, abraçando-o.

— Vamos nos sentar.

Mesmo com o coração na mão, a loirinha o faz, ao lado do marido, pegando em sua mão.

— April chegou aqui com uma grave hemorragia. Identificamos rapidamente e a levamos às pressas para o centro cirúrgico. Descobrimos que havia um problema com o baço, e depois que a abrimos, descobrimos que a única maneira de estancar a hemorragia, era retirando-o.

— Isso não é preocupante. Várias pessoas vivem normalmente sem o baço. – Caitlin diz, ao perceber a preocupação no olhar de seus amigos.

— Sim, exatamente.

— Então ela está bem? – Ray quem questionou.

— No momento ela está se recuperando, mas para ficar realmente bem, precisamos fazer uma transfusão de sangue.

— Eu sou A positivo. – Oliver diz.

— Você não pode doar para ela. O tipo dela é O negativo. E só pode receber...

— Do mesmo tipo de sangue. O negativo.

Todos fitaram Felicity.

— Exatamente.

— No caso, eu.

E então a surpresa, no olhar de todos; não que não achassem que ela fosse fazer algo do tipo, mas sim por ela ter o mesmo tipo de sangue que a filha não biológica dela.

— Felicity. – Sentia-se emocionado.

— Eu posso. – Diz, fitando ao marido. – E eu vou. Ela precisa de sangue? – Fitou a médica. – Então pegue o tanto que for do meu.

— Ela realmente vai precisar de bastante. Se tivesse duas pessoas... seria melhor.

— Eu não posso? Se eu tiver o mesmo tipo de sangue que minha irmã..., não posso doar?

— Não é recomendável. Você tem apenas treze anos. Só é aceito a partir dos dezesseis. – Viu a tristeza nos olhos da menina. – É lindo o que quer fazer por sua irmã, mas pense pelo lado positivo. Sua mãe pode fazer isso. Ela vai precisar de repouso pelos próximos dois dias, tomar bastante água e suco, se alimentar bem..., mas vai ficar bem, e vai poder ajudar sua irmã. Vai salvar ela.

A menina balançou a cabeça.

— Quando foi a última vez que doou sangue, Felicity?

— Eu... tenho pavor de agulha, nunca fiz doações. – Confessou, sentindo o amado apertar sua mão.

— Então vamos fazer um exame detalhado antes de fazermos a transfusão.

Ela balançou a cabeça, de acordo.

— Seu marido pode acompanhá-la.

— Doutora?

Meredith se virou quando foi chamada.

— Sim?

— Ela está tendo uma parada.

Os familiares arregalaram os olhos, e no instante seguinte a médica começou a dar as ordens para a enfermeira enquanto corria em direção ao quarto da jovenzinha; ela deveria cuidar de Felicity, pedir por rapidez no resultado e então levar a mãe da menina até o quarto. Fariam uma transfusão direta. O casal seguiu — de forma desesperada — a médica jovem, deixando os amigos com o coração na mão. Eles sabiam que aquela não era uma situação nada boa.

— Parada? – Killian finalmente se pronunciou, fazendo com que todos o fitassem. – Isso quer dizer que o coração dela não está batendo?

Helena sentiu seu coração apertar e seus olhos marejarem por ver o sofrimento de seu filho; e então o abraçou forte, beijando seus cabelos enquanto trocava um olhar — sofrido — com o marido — que se encontrava do outro lado do filho, tocando seus cabelos negros —, que se sentia da mesma forma.

**--** **--**

A luz incomodava tanto que ela franziu o cenho; até tentou enxergar algo, mas foi impossível. Levou as mãos aos olhos, fechando-os. Era irritante. Não conseguia ficar com os olhos abertos e menos ainda enxergar o que fosse; tudo ao redor era apenas luz; forte e clara demais. Não conseguia se lembrar como havia chegado seja lá qual era aquele lugar. Não era seu quarto, não era sua casa, mas mesmo com a luz irritante, a sensação que sentia por aquele lugar era algo bom. Sua mãe sempre dizia que seu corpo revelava sempre que tivesse algo de errado; o lugar, a pessoa, ou seja o que fosse, sempre poderia sentir por qualquer reação de seu corpo.

Retirou a mão dos olhos e então percebeu que não havia mais luz; havia um céu lindo e azul cheio de nuvens que flutuavam por todo ele, havia uma grama verdinha debaixo de seus pés e árvores lindas ao seu redor. Parecia o jardim de sua casa, mas ela sabia que não podia ser, já que não havia a casa na árvore que seus irmãozinhos tanto amavam, não havia o lago bonito que os pequeninos estavam sempre fugindo para poder brincar perto dele — mesmo que soubesse que se sua mãe os pegasse, estariam ferrados. Era como se estivesse em casa, mas não fosse sua casa. Não sentia que era sua casa.

Ao longe, pode ver uma mulher de costas; ela estava perto de uma árvore bonita, grande e cheia de flores amarelas. Se aproximou um pouquinho para poder vê-la mais de perto. Sentia-se curiosa, mas mais que isso, sentia que a conhecia. Seu coração dizia que era alguém conhecido, alguém que seu coração a cada passo batia como se dissesse que esperou tanto por aquele encontro.

Seu coração bateu mais forte. Desenfreado.

Não podia ser.

Seus olhos só podiam estar lhe pregando uma peça.

Não era possível.

— Olá, querida.

Sua respiração ficou alta e irregular. Não conseguiu nem mesmo se mexer. Estava a poucos metros da mulher loira de olhos tão claros quanto os seus e de sua irmã gêmea, a mulher que ela sonhou tanto conhecer, e não conseguiu dizer uma palavra.

Ela se virou com um sorriso nos lábios.

April a reconheceria mesmo se ela não estivesse mais loira. Tinham os mesmos olhos. E todas as fotos que tinha dela, a fazia reconhecê-la não importa o quê. E era isso que a fazia não conseguir dizer uma palavra. Estava surpresa, mas também estava em choque e um pouquinho emocionada. Estava sonhando, era isso? Era apenas um sonho? Não fazia sentido, não quando ela começava a se lembrar de que deveria estar na escola ainda. A espera de seu tio. Ou talvez já se encontrava dentro do carro tendo aquele sonho tão estranho, mas ao mesmo tempo tão bom?

— Não é real. – Sussurrou.

— É muito real. – Diz, carinhosamente. – Só não do jeito que eu sempre sonhei. Ainda assim, muito real. E muito especial.

— Mamãe. – Voltou a sussurrar.

— Você é igualzinha a mim quando eu era mais nova. Acho que muito mais parecida agora que quando você era mais nova. A mais parecida comigo, mas não que isso faça de sua irmã menos amada por mim. Muito pelo contrário.

April sentiu seus olhos marejarem e então, quando se deu por si, estava abraçando a mulher diante de si; apertou seus braços em volta dela e sentiu quando ela não só se abaixou para poderem ficar quase que na mesma altura, mas também corresponder seu abraço com o mesmo carinho. Não queria soltá-la. Não queria jamais soltá-la. Queria poder sentir seu cheiro e poder ficar com ele para sempre em sua memória.

— Como isso pode ser real? Como? – A olhou nos olhos. – Eu posso te sentir. E sentir seu cheiro. E seu calor.

— É tudo resultado daqui. – Tocou sua têmpora com a ponta de seu dedo indicador. – A mente é maravilhosa. Ela te leva a ver coisas que você nem imagina que é possível. Te leva a uma realidade criada por ela. Ou... por alguém que tem esse poder.

— Você?

— Eu? – Deu uma risada. – Não, não eu, querida. Alguém muito maior que eu. – Sorriu. – Ele nos deu essa oportunidade porque você precisava de mim.

— Precisava?

De repente, April viu tudo em sua mente; como um filme; viu o momento em que recebeu a ligação de seu tio, o momento em que percebeu um carro estranho em alta velocidade, o momento em que empurrou Killian e foi acertada em cheia por aquele automóvel; viu quando foi jogada como se fosse uma boneca de pano.

— Você foi muito corajosa. – Diz, vendo-a com os olhos arregalados.

— Eu estou...

— Morta? – Completou pela menina. – Não, amor, você não está.

Se lembrou do garoto que gostava.

— Killian.

— Ele está bem. Você o salvou.

Ela suspirou, aliviada.

— O que fez foi muito corajoso, mas também muito perigoso, April. Neste momento vários médicos estão lutando para salvar sua vida.

A jovem pensou em sua família e sentiu seu peito apertar.

— Seu corpo recebeu um impacto muito forte. Ele está em colapso. Perdeu muito sangue. Seu coração está batendo, mas muito fraquinho agora.

— Eu só queria impedir que Killian se machucasse. Eu não pensei muito.

— Eu sei, querida, e eu entendo.

— Meus pais estão sofrendo?

— Seus pais, sua irmã, seus primos..., Killian..., seus tios, avós. Todos estão sofrendo.

— Nunca quis isso.

— É claro que não.

— Eu... vou... morrer?

Havia um medo em sua voz.

— Você acha que eu deixaria minha garotinha morrer? – Diz, tocando seu rosto com as pontas dos dedos. – Eu faria qualquer coisa pelas minhas meninas. Além disso, alguém que te ama muito já sofreu demais, ela não suportaria se algo acontecesse a você. E eu tenho uma dívida com ela. Uma dívida eterna.

— Está falando da minha... mãe?

— Não tem o porquê de ficar constrangida por chamar Felicity de mãe, Apple. Ela é sua mãe. A mãe que foi extremamente essencial na sua vida e na vida da sua irmã, quando mais precisavam, lá estava ela. Ela fez muito por vocês. E por seu pai. – Sorriu ao falar em Oliver. – Ele precisava dela para que fosse o homem que eu conheci de novo. Um homem por inteiro. E vocês... puderam ter uma mãe. Uma segunda mãe. Uma celestial e uma terrestre. Eu cuidava de vocês daqui e ela cuidava de vocês de lá. De pertinho. Dando a você e sua irmã, tudo que eu um dia desejei a vocês.

— Tia Laurel acredita que a mamãe foi enviada por você.

— Bem... – Riu. – De certa forma, foi mesmo eu. Só precisei esperar pelo momento certo para que ela conhecesse todos os Queen. E consequentemente entrasse na vida do seu pai e na sua e de sua irmã para nunca mais sair.

— Você é incrível, mamãe.

A mulher voltou a sorrir.

— Não incrível, mas com um bom coração. – Piscou para a menina. – Talvez por isso sou beneficiada em não só conhecer a mulher que entrou na vida de vocês pessoalmente, como conhecer uma de minhas filhas. Quem sabe eu não conheça a outra?

— Se não acontecer, Amy vai ficar com muita inveja.

Sara riu, ao mesmo tempo em que April escutava um som estranho; ela se virou, um pouco confusa, se perguntando que som era aquele.

— Eu acho que conseguiram fazer seu coração voltar a bater.

Seus olhos voltam a se encontrar.

— Então... está na hora de nos despedir?

— Tem algumas pessoas que estão ansiosas para ver seus olhos se abrirem. – A viu ficar triste. – Eu sempre estarei com você, Apple. Com sua irmã. Com Oliver. Com nossa família. – Tocou seu coração. – Bem aqui.

— Queria só... ficar mais um pouquinho com você.

— April.

A menina se virou ao escutar alguém lhe chamar.

— Estou aqui, meu amor.

Era a sua mãe.

— Eu e seu pai estamos. Não deixe de lutar, por favor.

April tinha certeza de que sua amada mãe estava chorando.

— Ela está chamando por você.

A menina voltou a fitar sua mãe biológica.

— Ela precisa que você volte.

April estava dividida. Era errado estar dividida?

— Não, não é.

A mais nova arregalou os olhos.

— Vou te contar um segredo, Apple. – Sorriu. – Quando pensamos muito em alguém que amamos, nós sonhamos com ela.

— Vou sonhar com você de novo?

— Bem, isso aqui não é exatamente um sonho normal. Mas se você desejar muito, sim.

Ela balançou a cabeça.

— Nesse momento, tem pessoas sofrendo muito com o que houve com você. Seu pai. Sua irmã. Seus primos. O garoto que você ama.

Ela corou.

— Ele é um amor, se quer minha opinião.

— Ele é muito importante para mim.

— Eu sei, eu vejo, eu sinto. E ele sofre por você. Se culpa por não ter percebido o que estava acontecendo antes. Ele mal consegue respirar. – Limpou seu rosto ao ver lágrimas descerem por ele. – Eu não quero te fazer triste, querida, quero apenas que entenda o que está acontecendo no outro plano enquanto estamos aqui nos falando.

April balançou a cabeça outra vez.

— Você também é muito importante para Killian. E sabe para quem mais?

Seus olhos — que estavam para baixo — sobem, para fitar a mãe que nunca pode conhecer pessoalmente.

— Sua mãe. Felicity. Ela sofreu muito. Por anos. Foi perseguida, perdeu a mãe, foi sequestrada, passou pelo pior nas mãos de um homem horrível...

— Ela nunca fala sobre o que aconteceu.

— Porque ainda dói. As lembranças... são difíceis. E ela não quer voltar ao que era antes, então ela tenta apagar de sua mente tudo que passou. É uma forma de ela se ver sã, e ser para você e seus irmãos, o que vocês precisam que ela seja. E neste momento, tudo que ela mais precisa é de ver você bem. Ver você abrir seus olhos e dizer a primeira palavra que sair de seus lábios.

Mais lágrimas desciam por seus lábios.

— Mamãe. – Completou. – Estou aqui para devolver você para ela.

A menina fungou.

— Devolver você para seu pai. Que está quebrado por dentro agora, com medo de te perder. Sua irmã, que quer mais que tudo te abraçar para sentir que ficou realmente bem. O garoto que te ama mais que tudo. E isso eu não só vejo ou sinto. – Sorriu. – É algo que eu tenho o privilégio de ter o prazer de saber.

— Eu vou sentir sua falta.

— Vou sempre estar com você, April. – Repetiu.

— Eu te amo, mamãe.

— Eu te amo muito mais, filha. – A abraçou, tocando seus cabelos, sentindo as lágrimas dela tocar seu ombro. – Mais que o infinito. – Sussurrou em seus ouvidos. – Diga que eu amo sua irmã. – Sentiu os braços dela apertarem em volta de si enquanto balançava a cabeça. – Está tudo bem, querida. Você pode ir. Você pode voltar para sua mãe.

De repente, April já não estava mais nos braços de sua mãe, não estava diante daquele céu lindo e azul, não estava sentindo o vento contra seu rosto, esvoaçando seus cabelos. Seus olhos, mesmo de forma embaçada, encontraram sua mãe. Sua outra mãe. De seus olhos desciam lágrimas, ela fungava e tocava uma de suas mãos.

— Mamãe.

Felicity — que tinha os olhos sobre uma das mãos de sua garotinha — fitou a menina que a pouco estava desacordada, e o marido — que se encontrava ao seu lado, com um dos braços sobre seus ombros — fez o mesmo, surpreso por escutar sua voz e aliviado por ver os olhos claros da filha abertos. E no instante seguinte April sentiu sua mãe lhe abraçar, chorando ainda mais do que estava a pouco, ao mesmo tempo em que sentia seu pai lhe dar um beijo na testa.

— Seja bem-vinda de volta, filha. – Sussurrou após o beijo. 













Notas Finais

APRIL LEVOU A PIOR!

Tadinha.

Será que queriam mesmo Killian?

Vou colocar a dúvida em seus corações.


Quem gostou do reencontro de mãe e filha?

Eu chorei enquanto escrevia.

Me lembrei do dia em que escrevia o encontro — ou seria reencontro, já que elas se conheciam antes? — de Felicity e Sara.

Emocionante, concordam?

A conversa, o abraço, a dúvida de April, a forma como Sara fala de Felicity...

Tudo muito lindo, não?

Mal posso esperar pela reações de vocês nos comentários. 

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