- Sim - ela cruza os braços.
- Aliss te contou? Ou melhor, deixa eu adivinhar... Ela deixou essas cartas antes de morrer, não é? Isso é típico dela.
- Não acho que você conheça alguma merda sobre a Aliss. Nem o que seja "típico" dela - ela cruza os braços, virando o rosto.
- Vai defender ela? - uma interrogação se ergue na mente do rapaz, que abre um sorriso incrédulo - Vai me dizer que está triste pela morte dela?
- Olha... - a garota encara o homem - Se você me perguntasse alguns anos atrás se poderia matar ela, eu diria sim, e ajudaria, por que eu odiava ela. Com todo meu coração, eu realmente odiava ela. Aquela mulher nunca foi minha mãe - ela se levanta do sofá, apoiando os braços na mesa que dividia o espaço entre os dois - Alguns anos atrás eu fui sequestrada, sabe? Coisa típica. Aliss me ajudou a fugir. Ou pelo menos quase isso, por que ela me deixou no meio do caminho. Sabe porque? Ela disse que eu parecia você. Disse que eu parecia meu "pai"
A garota olha lucille de relance, e ri.
- Eu tinha matado um homem com um taco parecido com esse nesse dia, e ela se esperneou comigo, gritando sobre como estava apavorada. Mas sabe o que foi pior? A confusão que ficou na minha cabeça - encara Negan - Sabe como caralhos é confuso supostamente ter dois pais e duas mães e nenhum deles nunca realmente cuidar de você? E que nenhum desses dois pais e duas mães significam algo pra você?! Aliss estava mudando. Eu nunca acreditaria que pessoas realmente poderiam mudar, até ver ela. Ela só queria ser alguém melhor para meu irmãozinho, ser uma mãe! E você tirou isso dela. Tirou a chance do Glenn ser pai, e arrancou qualquer outra chance que Abraham pudesse ter.
- Você destruiu muitas famílias também, Kenny - o homem se apoia na mesa também, intrigado - Não acho que os Salvadores tenham sido os únicos que você matou - retorna com seu sorriso, dessa vez com uma feição de orgulho.
- Tem razão, eles não são os únicos - diz simplista - E eu realmente peço desculpas se eu sou incapaz de sentir remorso por matar alguém que tentou matar minha família. Se eu sou do jeito que sou, é sua culpa.
- O que?
- Você está certo, eu sou como você - se separa da mesa, e caminha até ficar ao lado do homem, o encarando de perto - Você causou isso! Se eu por acaso matei tantos dos seus, considere-se culpado. Você é o culpado por fazer Aliss me levar, e é o culpado pela morte dos seus vinte cinco homens.
- Você não pode achar que a culpa de você ser desse jeito é minha!
- E não é?! Você é um completo lunático com complexo de deus e é um louco magalomaníaco! - esbravejou, cruzando os braços - Aliss pode ter sido a pior mãe do mundo mas ela passou a saber da realidade e não mentia mais para si mesma. Já você... - solta uma risada nasal - Você se engana todos os dias.
- Isso aqui não é enganação! Essas pessoas precisam de mim, e elas trabalham pra mim e me admiram por isso!
- Ninguém aqui admira você, Negan - murmura - E aposto que quando eu te matar, vão me agradecer. E se não, que se foda, eu vou destruir esse lugar com você vivo ou não. Isso é uma promessa, e uma promessa minha nunca é descumprida - ela se aproxima mais dele - Não ache que só porque você pode ou não ser um "pai" pra mim, que eu não vou te matar. Porque ultimamente, tudo que eu sonho é com a sua morte, e meus sonhos sempre se tornam realidade.
Quebrando aquele clima de tensão, a porta se abre, com Carl abrindo a porta com o corpo, e Dwight, vindo logo atrás dele, tropeçando também.
- Negan! Esse caolho saiu entrando, não deu pra segurar ele!
O Smith observa o garoto se levantar e se aproximar de Kenny. A puxando para longe do homem, ele segura os braços dela e encara Negan.
- Acabaram sua conversinha? - Carl pergunta, mas Kenny sabia que ele queria uma resposta vindo dela.
- Na verdade não - Negan se senta novamente, e faz um sinal para o sofá diante de si - Sentem-se os dois, denovo.
Carl faz sem objeções, e puxa Kenny ao ver que esta relutava em seguir a ordem do homem.
- Me digam, o que vocês fazem pra se divertir?
Os dois adolescentes arregalam os olhos, e se entreolham, confusos.
- Seus mente suja! Não estou falando nesse sentido, e sim em outros... - tateia o próprio queixo, pensativo - Música? Gostam de música? Eu adoro - ele aponta com Lucille para Carl - Me canta uma coisa aí!
- O que? - Carl questiona.
- Vocês matam meus homens com metralhadoras,o mínimo que podem fazer para se redimir é me cantar uma cançãozinha!
- E-eu não consigo pensar em nenhuma - o moreno resmunga.
- Sua mãe não te cantava nenhuma canção de ninar? Seu pai não tocava nada no carro? Que vida de merda é essa, rapaz? - agora, se levantando, ele aponta o taco novamente para o rosto do garoto, dessa vez mais perto, com um tom de ameaça mais forte - Canta.
Kenny, que já havia esgotado suas gotas de paciência, tende a movimentar-se em direção ao homem, mas Carl, ao perceber isso, segura sua mão. Assim, a impedindo de fazer qualquer coisa.
Ele começa a proferir uma pequena melodia em menção a música “You are my sunshine” e Negan se afasta, passando a treinar tacadas no ar. Ao fim da melodia o homem se aproxima, agora encarando a garota.
- Lucille ama uma boa música. Você também ama.
- Não é como se você soubesse alguma merda sobre mim - ela cospe as palavras, e Carl a cutuca, tentando controla-la.
- Hm - resmungou, e se sentou novamente - A sua mãe... - olha para Carl - Ela que cantava isso pra você? Onde ela tá agora?
Carl suspira em resposta.
- Bosta, ela morreu foi? Você viu acontecer?
- Nós... que atiramos nela.
- E você, Kenny? Conheceu o seu papaizinho biológico?
- Ele morreu.
- Deixo adivinhar, você atirou nele? - ela assente, e Negan solta uma risada - Olha, não é atoa que vocês são futuros assassinos em série - o homem se levanta - Vamos lá, já deve estar pronto.
- O que você tá preparando?
- O ferro.
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Agora em outra região do complexo dos Salvadores, o casal de assassinos se encontravam diante do grande hall do lugar. Lá, diversas pessoas se reuniam em diversos setores, e sem excessão alguma, todas paravam para prestar atenção a Negan, que entrava batendo com seu taco nos canos metálicos, atraindo toda a atenção requisitada para si. Ele entrega a Lucille para Kenny e se apoia na espécie de cerca que encobria o mezanino, o dando uma visão superior aos outros Salvadores.
No andar de baixo, todos os capangas se organizavam ao redor de um homem amarrado em uma cadeira.
- Vocês sabem, o que está para vir vai ser duro de se ver. Eu não quero fazer isso, na verdade, gostaria de poder ignorar as regras, mas não posso... Porque?
“As regras nos mantém vivos” - os Salvadores respondem, feito um mantra.
- Exatamente! - exbraveja, descendo as escadas junto dos Alexandrinos - Nós sobrevivemos, nós trazemos segurança aos outros, nós trazemos a civilização de volta para o que ela já foi um dia! Nós somos os Salvadores - depois de uma pausa para respirar, ele põe as mãos na cintura - Não podemos fazer isso sem as regras, elas que fazem tudo isso funcionar. E eu sei que não é facil, mas aqui, se você tenta nos enganar, tenta pegar um atalho... - ele ri - Então você acaba ganhando ferro.
Em meio a multidão, Kenny avista Daryl. Em sequência, Negan ordena para que os Salvadores fiquem de pé e assim o fazem, dando espaço para o homem andar até uma espécie de forja e puxar um cabo que aparentemente era dito como o “Ferro”. Pedindo desculpas vazias, as mesmas que ele havia dado para Glenn e Abraham, ele crava o ferro quente no rosto do homem.
Enquanto a cena acontecia, Kenny encara Daryl. Negan, após finalizar seu trabalho com o homem, ordena para que o Dixon limpar sua bagunça. Com mais alguns discursos ameaçadores, a garota finalmente consegue entender qual é a do homem. Se virando de costas, fingindo que ia olhar para o outro lado, ela aproxima seu rosto ao de Carl.
- Trabalha com medo, é fácil de desestabilizar - sussurra, passando suas anotações mentais - Provavelmente é lunático.
- Vocês dois devem achar que eu sou lunático! - Negan diz alto, chamando a atenção dos dois, e andando até eles - Vamos descobrir o que fazer com vocês - se pondo no meio deles, ele rodeia os braços pelos ombros dos dois adolescentes, e passa a caminhar com eles até seu cômodo de reuniões.
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- Estou te dizendo, Maggie! - Dash suspira, tentando ser convincente - Carl e Kenny não podem ter saído tão rápido!
- Os dois vieram pra cá de carro, e passar despercebidos é uma habilidade deles - a mulher explica, tentando tranquilizar o jovem.
- Não, não! Olha, eu posso não conhecer eles tão bem quanto você, mas eles não tem como ter saído daqui tão rápido! O carro deles está na floresta, eu vi eles entrarem por outra passagem sem ser a principal!
- Talvez eles tenham saído para um lugar perto daqui.
- Meu irmão saiu também... tenho certeza de que eles saíram com ele!
- Se eles estão com Jesus, estão seguros.
- Eles não foram pra qualquer lugarzinho! Foram atrás dos Salvadores, eu tenho certeza!
- O que?! - a mulher pergunta, se levantando abruptamente. Ao mesmo tempo, a porta do trailer é aberta e dela surge Enid, com uma feição preocupada.
- Preciso de ajuda, Maggie! O Elliot, está tendo uma convulsão!
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Retornando ao cenário de interrogatório que estava mais para tortura psicológica, Carl e Kenny estavam novamente sentados lado a lado. O garoto tentava deixar sinais que queria conversar com a garota sobre alguma tática de fuga ou emboscada, mas ela estava ocupada demais encarando até o último fio de cabelo do homem em sua frente, Negan.
A dúvida em seu olhar era combatida com raiva. Não sabia o que sentir sobre o homem, e se sentia culpada por não ter o ódio como sentimento principal. No fim das contas, Carl estava certo. A confirmação de que o homem era realmente o pai de Kenny a abalou.
- Posso cobrir meu rosto agora? - Carl pergunta.
- Não. Não pode mesmo.
- Mas porquê não?
- Porque eu ainda não terminei nossos assuntos. E sinceramente, eu amo ver esse buraco na sua cara - ele percebe a forma qual o rapaz o encarava - Que foi?
- Por quê ainda não nos matou? Ou o meu pai, ou o Daryl.
- O Daryl será um bom soldado pra mim. O seu pai consegue coisas ótimas pra mim, já vocês... Por outro lado, é mais produtivo manter vocês debaixo da minha asa. Mais divertido também. Vocês pensam que eu sou estúpido?
- Você ainda pergunta? - a garota resmunga, revirando os olhos.
- Eu penso que somos diferentes - Carl diz mais alto.
- Porque tenta abafar o que ela diz, garoto?
- Não quero que ela se meta em confusão.
- Parece que vocês dois já são uma confusão por si só - Negan ri - Não posso deixar de falar que estou orgulhoso, garoto. Você é um bom partido, considerando que é um fodão. Mas me diga, se é tão fodão, o que acha que eu deveria fazer com vocês? Ferro quente na cara? Cortar um braço... o que me diz?
- Acho que deve saltar da janela e nos poupar o trabalho de te matar - o garoto diz, se levantando e encarando o homem. Kenny se levanta logo atrás, escondendo um sorriso orgulhoso com uma mecha de cabelo.
- De preferência não machuque a cabeça... Seria triste saber que você não voltou como um deles - a menina ri, também encarando o líder.
Os dois olhavam para baixo para enxerga-lo, o que para qualquer outro Salvador, parecia ser uma cena impossível de acontecer. Negan estava não apenas diante das prováveis maiores ameaças que ele poderia enfrentar, mas também estava diante de sua filha. Que no momento, parecia contente com a ideia de mata-lo.
- Aí estão os assassinos que eu me impressionei mais cedo! - ele diz com um tom de festejo, orgulhoso.
- Você só pergunta o que vai fazer porque no final, não vai fazer nada - Carl informa, se abaixando na altura do homem.
- Até por que, Carl... Se ele soubesse quem nós realmemte somos, ele já teria nos matado a muito tempo - ela cruza os braços, não fazendo questão de se abaixar - Ele não pode fazer nada contra a gente. E ele não quer.
- Vocês tem razão. Eu não posso - o homem se levanta - Porquê não damos uma volta?