ᴇᴜ ᴀᴍᴏ ϙᴜᴀɴᴅᴏ ᴇsᴛᴀᴍᴏs ғᴜᴍᴀɴᴅᴏ ᴀϙᴜᴇʟᴀ ʟᴀ-ʟᴀ-ʟᴀ-ʟᴀ-ʟᴀ
ғᴀᴄ̧ᴀ ᴏ ϙᴜᴇ ϙᴜɪsᴇʀ
ᴇsᴛᴏᴜ ᴅɪᴢᴇɴᴅᴏ ᴀ ᴠᴏᴄᴇ̂
ᴅᴇɪxᴇ-ᴍᴇ ᴇᴍ sᴇᴜ ᴄᴏʀᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ
ɴᴀ̃ᴏ ᴀɢᴜᴇɴᴛᴏ ᴍᴀɪs, ɪʀᴏɴɪᴄᴀᴍᴇɴᴛᴇ
ᴇʟᴇs ϙᴜᴇʀᴇᴍ ɴᴏs ᴠᴇʀ ɴᴏs ᴀғᴀsᴛᴀɴᴅᴏ
ᴠᴏᴄᴇ̂ sᴀʙᴇ ϙᴜᴇ ᴇᴜ ᴛᴇ ᴀᴍᴏ
ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ ᴅᴇɪxᴇ-ᴍᴇ ᴇᴍ ᴠᴏᴄᴇ̂
ᴅᴇɪxᴇ-ᴍᴇ ᴇᴍ sᴇᴜ ᴄᴏʀᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ
ᴠᴏᴄᴇ̂ ʀᴇᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ ᴍᴇ ᴀᴍᴀ?
ᴇᴜ ᴠᴏᴜ ᴘᴇɢᴀʀ ᴠᴏᴄᴇ̂, ᴍᴇɴɪɴᴀ, ᴀʜʜʜʜ!
ᴇsᴛᴇ ᴇ́ ᴏ ɴᴏssᴏ ғɪᴍ
ᴅᴏʀᴍɪʀ ᴄᴏᴍ ᴀ ʟᴜᴀ ᴇ ᴀs ᴇsᴛʀᴇʟᴀs
ᴇᴜ sᴇɪ ᴏɴᴅᴇ ᴠᴏᴄᴇ̂ ᴇsᴛᴇᴠᴇ
ᴠᴏᴄᴇ̂ ᴘᴏᴅᴇ ᴠᴇʀ ᴏ sᴏʟ
ᴅᴇɪxᴇ-ᴍᴇ ᴇᴍ sᴇᴜ ᴄᴏʀᴀᴄ̧ᴀ̃ᴏ
ᴏʜ, ɪssᴏ ɴᴀ̃ᴏ ᴇ́ ɴᴇɴʜᴜᴍᴀ ʙᴇsᴛᴇɪʀᴀ
ᴇᴜ ʀᴇᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ ᴀᴍᴏ ᴠᴏᴄᴇ̂, ᴍᴇɴɪɴᴀ
ᴏʜ, ᴏʜ ᴅᴇᴜs
ɢᴀʀᴏᴛᴀ, ᴠᴏᴄᴇ̂ ʀᴇᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ ᴍᴇ ᴅᴏᴍɪɴᴏᴜ
ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ, ɪsᴛᴏ ɴᴀ̃ᴏ ᴇ́ sᴏ́ ᴜᴍᴀ ᴘᴀɪxᴏɴɪᴛᴇ
ɢᴀʀᴏᴛᴀ, ᴠᴏᴄᴇ̂ ʀᴇᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ ᴍᴇ ᴅᴏᴍɪɴᴏᴜ
ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ, ɪsᴛᴏ ɴᴀ̃ᴏ ᴇ́ sᴏ́ ᴜᴍᴀ ᴘᴀɪxᴏɴɪᴛᴇ
ᴇᴜ ᴇsᴛᴏᴜ ᴀᴘᴀɪxᴏɴᴀᴅᴏ ϙᴜᴀɴᴅᴏ ᴇsᴛᴀᴍᴏs ғᴜᴍᴀɴᴅᴏ ᴀϙᴜɪʟᴏ
ᴏʜ ᴍᴇᴜ ᴅᴇᴜs, ᴇᴜ
ᴍᴇ ᴅᴇɪxᴀʀ ᴇɴᴛʀᴀʀ
ɢᴀʀᴏᴛᴀ, ᴠᴏᴄᴇ̂ ʀᴇᴀʟᴍᴇɴᴛᴇ ᴍᴇ ᴘʀᴇɴᴅᴇᴜ, ᴡᴏᴏ!
Observando Aliss, Abraham e Glenn bêbados na calçada, Kenny ri, enquanto segurava as chaves do carro. Estava a espera de seu Grimes, que sem demora se faz presente, aparecendo com sua mochila.
Pela primeira vez em toda história de vida dos dois pombinhos enamorados, Carl e Kenny estavam finalmente saindo sozinhos em uma patrulha. Uma das grandes, digna a carro e tudo!
Rick havia pedido para que eles procurassem em meio aos lugares ainda não explorados da cidade, suprimentos, munições e se tudo desse certo, um remédio para CJ, que ainda peidava compulsivamente.
A leve brisa fria da manhã exigiu que os dois se aquecessem, mas nada tão urgente. Agora, os dois estavam no carro, qual Kenny dirigia, a destino da primeira coisa interessante que vissem nas redondezas.
- Podemos procurar uma farmácia - Carl diz, fazendo Kenny soluçar a se lembrar de tal coisa.
- Farmácia? - a morena lembrou-se de quando Maggie compartilhou uma memória intima com ela, e não conseguia parar de pensar nisso agora - Podemos passar naquele pequeno subúrbio e ver as casas, não seria melhor?
- Entre uma casa e uma farmácia você acha que uma casa é melhor pra achar remédios?
- Sim.
- Okay, vamos pra farmácia - o rapaz puxa o volante para o lado, fazendo a curva no lugar da morena, que supostamente deveria estar dirigindo na direção oposta.
- Ei! - ela o empurra de leve, retomando o controle do volante - Ta louco?
- Você é uma boa motorista, não tenho com o que me preocupar.
Colocando seu chapéu em frente ao rosto, o garoto anuncia que iria cochilar, levando uma leve cotovelada da garota, que repreendia os atos folgados do moreno.
Assumindo que dali, ele não iria sair até eles chegarem na tão desejada farmácia, a garota retoma o caminho, agora com um destino fixo.
As estradas vazias agilizavam o trajeto, e em menos de vinte e cinco minutos, eles já estavam em frente ao edifício.
A morena chacoalha Carl no banco do carona, o fazendo acordar em um susto, como se estivesse sonhando acordado. Depois de rir de sua feição e ajuda-lo a se recompor, os dois deixam o automóvel em frente a calçada, e caminham até a farmácia.
Os vidros estavam tapados por um papelão externo, que é removido por Kenny, que dá leves (ou não) batidinhas no vidro, para checar se haviam zumbis ali dentro. Como nenhum havia se manifestado, ela deduziu que o lugar estivesse livre, e chama Carl, que procurava uma saída dos fundos, em caso de emergência.
- Tem uma porta dos fundos e uma janela de um segundo andar - o rapaz puxa a arma do cinto, posicionando-se em frente a porta - Pronta?
- Pronta.
Assim, o Grimes chuta a maçaneta, fazendo a porta se abrir "delicadamente". Kenny tosse ao entrar no local, e limpa os próprios olhos varias vezes, devido a poeira que parecia ter tomado conta do pequeno prédio.
- Aqui - o rapaz encontra um óculos de laboratório, daqueles que prendiam atrás da cabeça, e entrega para morena.
- Sério? - ela avalia o objeto, e o coloca, torcendo para não se deparar com nenhum espelho e ver o quão ridícula estava - Como eu tô? - dá uma voltinha, exibindo seu novo óculos anti-poeira.
- Linda - ele a ilumina com sua lanterna, e depois volta sua atenção aos remédios da prateleira - Denise vai adorar esse estoque - diz entusiasmado, jogando diversos recipientes e caixas de remédios em sua mochila.
- Aposto que sim - a morena confirma, passando o dedo nas estantes empoeiradas.
Caminhava em busca de algo útil, até chegar a sessão de "produtos femininos" o que a despertou uma certa curiosidade ao ver a prateleira de testes de gravidez. A confusão causada durante a semana por Rick, Abraham e Carol relacionada a esse assunto a fez ter um interesse genuíno sobre o motivo, e como uma boa fofoqueira, ou melhor, como uma pessoa bem informada, ela não poderia deixar de perguntar ao Grimes o que ele achava.
- Anm, Carl - ela o chama - Por acaso o Abraham ou alguém andou te importunando com um lance de grávidas e tal?
- Gravidez? Não - ele se levanta, caminhando até outra prateleira - Ele só ficou me chamando de cenourinha e me olhando feio quando eu tava perto de você, fora isso nada.
- E você não acha isso meio estranho?
- Acho, mas não quis me preocupar com isso.
- Hm - a menina se convence de que Carl nada iria acrescentar ao assunto - Justo.
Se afastando da sessão feminina, ela encontra uma escada, que provavelmente levaria ao andar superior. Ao subir, ela se depara com diversos corredores confusos, e quase se perde em algum deles. Depois de algum tempo, ela encontra uma espécie de depósito caindo aos pedaços, que até possuía um buraco no chão, que dava visão a farmácia por completo. A visão certamente era privilegiada, pois o escuro do andar inferior não conseguia fazer com que aquela fenda fosse perceptível sem o auxílio de uma iluminação artificial, o que deu a Kenny a oportunidade perfeita de assustar o Grimes.
Puxando um emaranhado de caixas de remédios vazios e leves, ela os amarra em uma sacola que havia lá em cima, do Grimes, que dá um pulo em reação. A morena tapa a própria boca para conter a risada e não entregar o seu lugar secreto, mas se surpreende ao ver o garoto cair no chão, agora por um soco, de alguém desconhecido.
Se esgueirando no canto da parede para conseguir a angulação perfeita a ponto de enxergar quem havia feito isso, ela enxerga cerca de quatro homens, vestidos respectivamente do mesmo modo qual os Salvadores se vestiam.
Franzindo o senho de imediato, ela puxa sua pistola e aponta para eles, ainda escondida, sem que ninguém percebesse. Ela mora que Carl não havia pedido por ajuda, o que confirmava que os Salvadores não sabiam de sua presença.
Os homens são grosseiros e agressivos com Carl, fazendo perguntas desenfreadas e muitas vezes o ameaçando de morte. Ela sabia, pelo feitio deles, que os homens não mataria Carl sem que ele desse um motivo.
Contudo, Carl acabava de dar esse motivo;
- Podem fazer o que quiser - o garoto diz, brincando com o perigo - Eu não moro em nenhum lugar, só ando por aí!.
- Vai me dizer que esse cabelo brilhante, essa pele limpinha e essas roupas cheirosas são vitamina D? - o salvador pergunta, rindo com seus amigos - Desembucha, garoto - ele aponta sua arma para Carl - Onde você mora?
- Eu já disse - o de chapéu franze o cenho - Lugar nenhum.
- Ei! - um outro salvador chama seu amigo que intimidava o Grimes - Tem outra mochila aqui, e olha o que tem dentro dela! - o rapaz tira uma caixa fechada de absorventes - Ele tá com alguém!
- Aha! - o outro capanga pateta esbraveja, apontando para Carl - Sabia! Eu sabia!
- Sabia do que? - o que apontava arma pergunta.
- Sabia que ele tava acompanhado!
- Então por que não disse antes?
- Achei que vocês tivessem visto ela lá em cima - ele aponta para a fenda no teto, fazendo Kenny se levantar de lá, e correr para porta do segundo andar de imediato.
- Merda! - o Salvador diz, correndo, dando a entender de que subiria até lá.
- Puta que pariu! - Kenny murmura, empurrando uma estante do depósito até a porta.
Pensando em uma solução rápida que não incluísse se jogar do segundo andar, ela observa Carl rapidamente, que estava apenas com um dos capangas o observando, e assim, a morena deduz que os outros três estivessem tentando encontrar a sala em meio aos corredores que simulavam labirintos, o que a daria um pouco de tempo.
O
lhando as estantes de produtos provavelmente vencidos, ela enxerga Álcool Hidratado, algumas bacias vazias, e desodorantes. Obviamente ela teve uma ideia.
Ela pisa três vezes no chão próximo a fenda, chamando a atenção do Grimes, que estava parado sem poder reagir em frente ao Salvador que apontava uma arma ao seu rosto. Ao enxergar a feição no rosto da garota, ele percebe o olhar arregalado de de olhos azuis, que fazia alguns sinais com o olhar que o confundiram, mas ele acena com a cabeça, dando a entender que entendeu o recado ocular.
Voltando ao plano e finalmente pegando a bacia, ela a enche com o líquido, colocando o recipiente totalmente cheio acima da porta semiaberta, e se posiciona atrás de uma estante, a espera dos Salvadores.
Ao escutar xingamentos sobre a confusão das portas do segundo andar, ela deduz que os mau feitores estivam próximos, e não demorou muito para que eles chegassem até a porta.
Assim que a abrem fortemente, a bacia com álcool hidratado cai sob suas cabeças, os fazendo proferir diversos xingamentos, junto do que sacam suas armas.
Ao encontrarem a garota com o olhar, a morena puxa seu isqueiro, e o posiciona em frente do desodorante, o ascendendo no mesmo instante em que aciona o aerosol, criando uma enorme labareda em cima dos três homens, que possuem o fogo espalhado por seus corpos facilmente, devido ao álcool que se ascendeu ao fogo.
Eles cambalheavam para trás enquanto gritavam, e Kenny escuta um tiro vir de baixo. Correndo enquanto os inimigos pegavam fogo, ela passa pela poeta, encontrando a escada logo depois, e descendo em seguida.
Assim que pisa no primeiro andar, ela corre de imediato ao lugar de onde o tiro havia sido proferido, enxergando Carl levantar sua mochila, e um salvador morto ao seu lado.
- Vamos! - o garoto a puxa pelo braço, correndo com ela para a porta dos fundos, alcançando seu carro.
- Você tá bem?! - a morena pergunta, ligando o carro.
- Eu tô - ele suspira, colocando o cinto de segurança - Você que colocou fogo neles? Genial! - dá um beijo da bochecha da morena, jogando sua mochila pro banco de trás.
- Eu tenho meus truques - ela ri, dando partida rapidamente a sua fuga - Eles te acertaram feio, né? - avalia a mandíbula do rapaz, levemente roxa.
- Nada demais - o rapaz suspira denovo - Daryl disse que tem um celeiro um pouco longe daqui - Carl diz, olhando o mapa no banco do carona - Podemos ir lá dar uma olhada, antes de voltar para casa.
- Quantos quilômetros?
- Uns 6.
- Não é melhor voltarmos? Acabamos de ser encurralados por Salvadores.
- É o caminho de casa. Apenas iremos dar uma paradinha e aí voltamos.
- Podemos de - ela diz, pegando algo no porta luvas - Qual você quer? - ela mostra três pacotes de chocolate diferentes.
- Que? - ele tenta pegar, mas a menina puxa - Onde você conseguiu isso tudo?
- Eu tenho meus contatos - ela guarda dois dos chocolates, dando um pra ele, que agarra de imediato.
A morena ri mentalmente ao se perceber as tamanhas aventuras que havia se metido com o garoto em um só dia, e ainda sim, eles estavam ansiosos por mais.
Algumas horas depois, eles finalmente chegam até o celeiro inexplorado, estacionando o carro um pouco distante do lugar.
Descendo do automóvel, eles caminham pela grama alta, e aos poucos, observam uma espécie de plantação preservada.
Carl comentava sobre como as folhas tinham um formato interessante, mas Kenny não conseguia deixar de reparar o quanto aqueles símbolos eram familiares.
- Será que é hortelã? Boldo? - ele questiona, enquanto se aproximavam do celeiro - Tem um cheiro familiar.
- Ah, já sei - a garota pega uma folha, a cheirando - É maconha.
- Maconha?! - o garoto encara as plantas denovo, agora boquiaberto - Eu nunca pensei que pisaria numa fazenda de maconha.
- Será que tem cigarros lá dentro?
- Vai fumar maconha?
- Não posso desperdiçar né - ela tenta abrir a porta, mas como era de se esperar, estava trancada.
- Tem uma abertura ali em cima - Carl aponta, pegando a garota em suas costas, fazendo-a alcançar a portinha.
- Pronto, entrei - ela diz, adentrando no mezanino do lugar.
- Tá tudo limpo aí? - ele pergunta, do lado de fora.
- Sem zumbis. Sem meninas perdidas - a garota desce do mezanino.
Observando as pequenas estufas e materiais de formar cigarros de maconha, Kenny faz uma careta ao pensar que em um mundo civilizado, isso tudo seria ilegal.
Caminhando até a porta, ela a abre, permitindo que o Grimes entrasse no lugar, e denovo, boquiaberto.
- Tadinho de quem perdeu isso tudo - ele diz, explorando o lugar - Era uma boa fazenda.
- Tem razão - a morena diz, enquanto vasculha as mesas e gavetas - Minha mãe ia adorar esse lugar.
- Meu pai ia odiar.
Kenny olha para ele com um sorriso irônico, revirando os olhos em seguida.
- Olha! - ele pega algo atrás de alguns entulhos - Isso te trás lembranças?
Caminhando até ela com as mãos atrás da cintura, ele faz uma leve surpresa, antes de revelar dois "copofones".
- Copofones! - ela exclama nostálgica, pegando-os na mão - Porque será que um maconheiro precisava disso?
- Pra não ser rastreado pela polícia - Carl brinca, e a de olhos azuis o empurra de leve.
- Tem uma cama de picape ali - a morena aponta para uma grande picape azul marinho, com colchões forrando sua parte traseira - Podemos dormir aqui, já vai anoitecer.
- Tem razão - ele diz, observando o estado do céu pela fresta da madeira - Acho que vai chover.
- Achei! - ela grita, esbanjando um pote de vidro com alguns maços de cigarro dentro.
- Você estava procurando por isso esse tempo todo? - ele revira os olhos, a abraçando por trás - Achei que era algo útil.
- E isso é útil - teima, tentando abrir o pote - Toma, abre - o entrega para o Grimes.
- Fracote - ele brinca, abrindo o pote e levando um soco no ombro - Ai! - reclama, segurando o próprio ombro em protesto a dor.
- Me desculpe, não deve ter doído, sou muito fracote, né? - ela faz uma cara manhosa em provocação, se sentando a beira da cama improvisada na picape, e colocando os cigarros ao seu lado.
Tirando suas botas, e em sequência, seu casaco, ela se deita no colchão de barriga para cima, observando a pequena fenda no telhado, que a dava uma visão das estrelas aparecendo no céu.
Enquanto acende um cigarro, ela sente Carl deitar ao lado dela, e olha para ele.
- Acende pra mim - ele diz, com um cigarro em mãos.
- Vai realmente fazer isso?
- Quero descobrir o porque de você gostar tanto disso - ele a olha.
- Não seria perigoso? Nós dois chapados em um celeiro abandonado no meio do nada? - perguntou sugestivamente, se aproximando dele.
- Eu tranquei tudo - ele a recebe em seus braços, a aconchegando - Se alguém for abrir isso aqui, seremos nós.
- Até a portinha lá de cima? - a morena aponta com seu cigarro.
- Até a portinha - ele pega o cigarro em sua mão, de forma desajeitada.
A de olhos azuis tira o cigarro de sua boca, e conecta a ponta dos dois, os acendendo com uma pequena faísca.
Carl, que fazia aquilo pela primeira vez, tosse na primeira tragada, arrancando uma risada da morena, que o observava.
Depois de um tempo, o Grimes havia se acostumado com aquilo, e agora, os dois estavam sentados frente a frente, conversando sobre coisas aleatórias, já que os efeitos da planta já estavam em seus corpos.
- Que foto é essa no seu bolso? - a morena pergunta, vendo o pedaço de papel escapar da calça do rapaz.
- É a minha namorada, Kenny - ele mostra uma foto dela - Ela é a pessoa mais forte, bonita e habilidosa com facas que eu conheço.
- Bom, o meu namorado, Carl Grimes, tem dezesseis anos. Ele adora chocolates e livros. Na minha opinião, ele é a melhor pessoa da história deste mundo inteiro.
Eles soltam uma risada das loucuras um do outro, e Carl apaga seu cigarro, agora, apenas observando a morena com o silêncio da noite.
Ele se perguntava como havia conseguido conquistar ela.
Afinal, entender o aspectro da personalidade da Kenny é muito difícil. Ainda mais para Carl, que a conheceu em um de seus piores momentos. Ela é uma pessoa de camadas e pilares, baseados em três, cigarros, morte e amor.
O cigarro representa a autodestruição. O descaso com si mesmo, e a falta de expectativa de futuro. A morte, é o que ela esta acostumada a vivenciar. Seu cotidiano gira em torno de morte. Matar, quase ser morto, ver alguém que ama morrer e matar denovo. É um ciclo vicioso, algo que ela se acostumou.
E falando em amor, esse é o último pilar. Constituído por aqueles que ela apenas escolheu amar. Aqueles quais a garota entregaria sua vida sem fazer nenhum questionamento
No entanto, viver em um mundo onde um de seus pilares, o amor, é constantemente destruído, consegue mostrar a verdadeira face de Kenny.
Alguém vingativo, sem remorso, arrogante, teimoso, egoísta e ardiloso.
Carl conhecia esse lado da garota, e simplesmente não se importava. Para ele, isso que era o amor. Estar ciente que a pessoa é imperfeita, mas ainda sim, escolher ficar ao seu lado.
Já Kenny, não conseguia encontrar defeitos no garoto em sua frente. E também, ela sabia que simplesmente não tinha a opção de escolha com ele. Ela precisava dele. Amando ou não, ela necessitava do garoto para se manter viva.
Para ela, isso era o amor. Para outros, isso seria uma dependência emocional.
Não é como se Carl soubesse como viver sem ela, mas ele tem noção de que teria que seguir em frente. Já ela, não.
Para ela, ele era perfeito. Da cabeça aos pés. Tudo nele remetia a perfeição, para ela. Com o passar do tempo, ele se tornou a pessoa mais importante para ela, e certamente a de olhos azuis não saberia reagir caso o perdesse.
A persistência do Grimes em continuar ao lado da morena mesmo quando ela errava não só consigo, mas com ele, assustava a Anderson. Ela ainda tinha o pressentimento, de que em um dia, eles se afastariam, por culpa dela.
Algo que certamente não é improvável, isso já aconteceu uma vez.
Riggs.
- Eu acho que vou dormir - ela diz, apagando o cigarro em sua calça - Você quer que eu fique de vigia ou você fica?
- Pode dormir, eu fico - ele toca a coxa dela, com um sorriso gentil no rosto - Preciso voltar ao normal antes de descansar.
- Está bem. Até amanhã.
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O amanhã havia chegado. E com ele, mais um pesadelo.
Neste, a garota estava acorrentada, enquanto diversas mesas com pratos fechados por uma cúpula estavam em sua frente. Um homem desconhecido as abria um a um, revelando coisas estranhas em cada uma.
Na primeira, uma boneca. Na segunda, um diário. Em seguida, na terceira, um gume de flores. Na quarta, um estetoscópio, na quinta, um broto de feijão, e na sexta, um fio de cabelo loiro.
Traduzindo os sinais como um todo, ela acredita que fossem metáforas para aqueles que ela havia perdido.
A boneca, Sophia.
O diário, Riggs.
Um gume de flores, Lizzie e Mika.
Um estetoscópio, Liz.
E por fim, um broto de feijão, Jack.
Mas de quem seria esse fio loiro?
- Kenny! - Carl a acorda, a sacudindo - Tem algo acontecendo.
- O que? - a morena acorda, ainda atordoada enquanto olha os arredores - Não tem nada aqui, Carl.
- Escuta isso - ele põe a mão em volta dos ouvidos dela, que consegue escutar alguém bater na porta.
- Merda - ela se levanta da cama, vestindo suas calças - Será que é o Daryl?
- Ele não sabe que estamos aqui - o moreno diz, calçando suas botas - Será que é são os caras da farmácia.
- Matamos todos - ela murmura - Será que sobrou um?
- Que merda - o moreno resmunga, puxando Kenny para perto - Podemos matar ele e...
- Espera - a garota se atenta em ouvir mais - Tem um motor de carro ligado, e pessoas conversando.
- Então é mais de um, hm? - ele analisa - Vem, vamos subir no mezanino.
- Pra quê?
- Eu tenho um plano.
E assim, os dois sobem na espécie de suporte de madeira, no tempo correto. Exatamente em seguida, o carro qual Kenny havia reconhecido, invade o celeiro de forma agressiva, enquanto de dentro dele, dois caras.
- Merda! - um homem empurra outro homem - Eles passaram por aqui, olha isso! - chuta o automóvel, que jorrava gasolina.
- O que falaremos para o Negan? Aqueles dois mataram quatro dos nossos e nem conseguimos achar eles!
- Falamos que forasteiros acabaram com eles - um homem de bigode diz - Ele não vai saber que foram aqueles dois.
- Negan já está de olho naquele grupo, e você sabe disso! Ainda mais naquela garota! Ninguém que enfrentou aquele grupo sobreviveu pra contar história, mas com ela? Eles nem tem tempo de pensar! Ela já matou mais de 20 dos nossos!
Enquanto a conversa do andar inferior se transformava em uma discussão, Carl e Kenny pensavam em uma maneira de se livrar daquela situação.
Até que a morena se lembra o que estava em seu bolso, tirando de lá, um isqueiro.
- O que pretende fazer com isso? - Carl sussurra.
- O carro tá despejando gasolina, jogamos o isqueiro lá, e bum, eles morrem.
- Incendiar um celeiro? Denovo? - ele olha para ela - Tô dentro.
Caminhando até a pequena portinha de acesso ao mezanino, qual eles haviam entrado noite passada, o Grimes segura Kenny pela cintura, enquanto ela se inclina para a direção da poça inflamável. Assim, ela joga o isqueiro sem muitas preocupações, e faz um sinal para Carl, que a puxa, e a ajuda a descer do celeiro agora em chamas.
Após descer atrás dela, os dois correm para seu carro escondido na mata, enquanto escutam os gritos dos capangas, e o celeiro despencar aos poucos.
Ao chegarem em sua lata velha, Kenny logo da partida, parando um pouco em frente ao celeiro, apenas para ela e Carl contemplarem levemente a braza queimando os capangas do tal "Negan".
E assim, Kenny e Carl saem daquele lugar, dando fim a sua primeira de muitas patrulhas.
Ao chegar em casa na manhã seguinte, as notícias da morte de Denise e o encurralamento do grupo pelos "Negans" em uma determinada região da estrada os abalaram; e agora, a situação contra o grupo de Salvadores se mostrava mais urgente.
Kenny, que matutava estratégias em sua cabeça, se surpreende ao ver que Aliss estava atrás de si.
- Precisamos conversar.
- Pode falar - a morena diz tranquila, organizando algumas roupas de Judith e CJ em suas respectivas gavetas.
- É sobre o Negan.
- Bom, pode falar - a morena fecha a gaveta, se virando para Aliss. Atrás da loira, estavam as alucinações típicas da garota, a pequena criança e sua mãe.
- Eu conheço ele. Na verdade, eu acho que conheço.
- Você se encontrou com ele? - pergunta, se aproximando da mais velha.
- Não, não é isso - ela põe a mão na própria cabeça - Eu conheço ele antes. Antes de tudo.
A mais nova inclina a cabeça, com interesse naquilo que a mulher tinha a dizer.
- Se ele for quem eu acho que ele é, eu já estou morta - suspira, colocando a mão no ombro de Kenny - E se eu morrer, você precisa ficar com isso - ela levanta um gume de envelopes do bolso, mas Kenny recua antes que ela os entregasse.
- Como assim? Você aprontou tanto assim pra ele querer te matar só de te ver?
- Bom, sim.
Elliot abre a porta brutalmente, se apoiando na parede para recuperar o oxigênio que havia perdido por conta da corrida até o quarto da amiga. Olhando para ela, ele respira fundo antes de anunciar;
- Carol foi embora.
- Merda! - Kenny puxa o garoto para fora, caminhando com ele até o final do corredor - Tem alguma ideia de onde ela foi?
- Não, nenhuma.
- Puta merda - a garota respira fundi - Eu sabia que isso ia acabar acontecendo! ela tava com esse papo maluco de não se apegar as pessoas, e agora fugiu pra não matar ninguém!
- Podemos ir atrás dela - o rapaz sugere - Por favor, Kenny!
- Tá, ta bom!
Não romantizo cigarros ou qualquer outro tipo de vicio, entretanto, eles podem ser uma grande representação de desleixo consigo mesmo, oque caracteriza-se na situação dos dois.