𝐂𝐀𝐑𝐋 𝐆𝐑𝐈𝐌𝐄𝐒
- Conversar? Agora? Eu ia me despedir do Glenn e da Maggie nesse momento, e-
- É rapido, e... - olho para os lados, vendo se havia alguém por perto - Importante também.
- Tá, pode falar - ela cruza os braços, impaciente como sempre.
- Aqui fora - puxo ela pela mão, fechando a porta pra garantir que ninguém aparecesse "sem querer"
- To esperando - ela disse com aquele tom irônico, se apoiando na parede.
- É... é - sorrio pra ela com uma clara expressão de vergonha, e ela faz aquela cara de duvida sarcástica, acompanhada de seu sorriso sádico. Aquele maldito sorriso.
Como eu posso falar isso? "Gosto de você, lide com isso" ou... "Você gostaria de alguém como eu?" Porquê é tão difícil escolher um conjunto simples de palavras?!
Eu tive tanto tempo pra pensar em como dizer isso, e agora, parece que não sai nada além de um monte de emaranhado de letrinhas.
Talvez nem eu sei o que eu sinto, né? Afinal, quando eu começei a ter sentimentos por ela? Se eu falar que foi no dia em que queimamos um celeiro juntos ela quebra minha boca, então...
- Eu gosto de você - joguei as palavras pra fora da minha boca como se não fossem nada. Algo que pareceu surpreender mais ela do que eu mesmo.
- An? - sua cara muda de sarcástica para confusa.
- Bem, é isso, tchau - ajo inconscientemente e caminho até a porta, mas ela me puxa pelo braço, me fazendo ficar frente a frente a ela.
- Como assim? "Eu gosto de você, bem é isso e tchau"?
- Era só isso que eu tinha a dizer - digo nervoso, tentando evitar contato visual, mas ela fazia questão de olhar no fundo da minha alma.
- Porquê?
- Eu- Eu não sei, okay?
- Então porque você me disse? - ela franze as sobrancelhas, me fazendo perceber o quão idiota eu fui de ter dito isso.
- Porque eu não conseguia mais guardar isso só pra mim! Não é algo fácil! Tem noção de como é ter que quase te perder todos os dias e saber que você não sabe o que eu sinto sobre você?! É torturante!
- Quando? - ela pergunta, ignorando o que eu acabei de dizer.
- Quando o que?
- Quando você começou a gostar de mim, idiota!
- Eu não sei! Eu não to contando, tá?
- Você sabe sim!
- Não sei não! - na verdade, eu sabia sim, mas não ia revelar isso.
- Tá, e agora?
- Agora não acontece nada, eu gosto de você e a vida é assim, agora tchau.
- Não! Não é assim que funciona!
- Então como funciona?
- Me diga você!
- Anm... - eu olho pros lados esperando uma dica divina mas deus me abandonou nesse momento, então o que eu faço é simplesmente dar um beijo na bochecha dela, como se isso fosse um pedido de casamento.
- Que? - ela toca na própria bochecha, com uma expressão estranha no rosto, e uma vermelhidão nas bochechas - Vou dizer tchau pro Glenn, te vejo depois - diz antes de sair, me deixando na companhia de ninguém, além das árvores, que pareciam me julgar naquele momento.
Pela reação dela de fingir que nada aconteceu, ela provavelmente estaria pensando nisso por um tempo. Será que eu me precipitei?
Que merda acabamos de fazer?
𝐊𝐄𝐍𝐍𝐘 𝐀𝐍𝐃𝐄𝐑𝐒𝐎𝐍
Que merda ele acabou de fazer?
Incrível, mais uma coisa pra eu me preocupar.
"Eu gosto de você"
E agora o que? Eu tenho que lidar com isso?! Eu nunca sequer parei pra pensar sobre isso. Na verdade, será que é porque eu gosto dele também, e eu não sei?
Claro que não, não é preciso estar nem consciente pra saber que tudo que eu sinto pelo Carl é amizade. Muita, muita amizade.
Afinal, eu sempre tive muitos amigos, né?
Riggs, Elliot, Liz, Sophia... Carl.
Por quê meus amigos acabam gostando de mim?! Primeiro a Sophia e agora o... Carl.
E porque eu tenho dúvidas sobre ele? Quando a Sophia disse que gostava de mim, eu tinha certeza de que não sentia o mesmo, e porquê com ele é diferente?! Por que ele tinha que dizer isso justo agora?!
- Merda, Carl! - murmurro, andando pra parte da frente da igreja.
E que beijo foi esse? Um pedido de casamento? Que garoto confuso, eu deveria me preocupar com outras coisas agora, ao invés de encher a cabeça por coisas bestas desse tipo.
Patético.
Daryl e Carol ainda estão lá fora, perdidos, afinal. Essa é minha prioridade no momento.
៚
- Este é nosso caminho até DC - Abraham entrega um mapa para Rick - Ficaremos lá enquanto der. Quando o Eugene chegar aos cientistas que ainda estão lá as coisas irão voltar ao normal. Este grupo deveria estar lá para ver.
- Nós estaremos - Michonne diz, e Rick confirma.
Assim, enquanto Abraham e seu grupo fechado entravam no ônibus, Glenn e Maggie caminhavam até Kenny, para dizer seu breve até logo.
- Não se esqueça de se alimentar, e beber água, e ficar longe de encrencas - Maggie alerta Kenny, bagunçando os cabelos dela.
- E nada de se jogar na boca de zumbis denovo - Glenn completa, mostrando a cicatriz de mordida coberta na mão da garota - Não morra por besteiras.
- Essa dor eu vou evitar - a morena brinca, enquanto abraça Glenn - Prometem não morrer também?
- Prometemos - Maggie afirma sorridente, e Glenn assente em confirmação.
- Isso não é um adeus, aliás - Glenn diz.
- É um até logo.
Eles se abraçam, na esperança de se verem novamente.
E assim, Abrahan, e seu pequeno grupo de "Busca à cura" partem para Washington DC.
៚
- Que merda você ouviu do que eu ensinei?! Não é assim que se faz, Carl! - Elliot dá um tapa na parte de trás da cabeça do garoto, o repreendendo - Você tem que deixar os sinais no ar, dar umas trocas de olhares, e aí, não vai precisar falar que gosta dela, por que já vai ser óbvio!
- A Kenny não iria perceber, e sim iria ficar irritada por eu ficar olhando pra ela que nem um zumbi!
- É, você tem um ponto... - o loiro para para pensar.
- Foi horrivel, acho que ela me odeia agora.
- Ela não te odeia - ele tenta tranquilizar o amigo - Talvez nem tanto.
- Idiotas! Dois idiotas! - Liz entra no cômodo batendo o pé no chão.
- O que houve?
- Kenny veio falar comigo! Carl, você não ouviu nada do que eu e Elliot te dissemos?
- O que ela disse? - o Grimes pergunta.
- Disse que acha que você tá doente por dizer coisas estúpidas do nada! E o clima?! E a troca de olhares?!
- Eu não consegui! - o moreno pigarreia, cruzando os braços.
- Você é tão idiota - Liz põe a mão na testa, esbanjando sa decepção. Depois de dias tentando ensinar o garoto a conquistar a amiga, ele ainda conseguia falhar numa simples declaração.
- Não é minha culpa! Vocês sabem do olhar sarcástico dela! Ela não me leva a sério!
- Bem, ela me leva a sério - Liz diz de forma indiferente.
- É, ela não me olha assim - Elliot concorda, fazendo Carl perceber que o problema era ele.
- Então ela só olha pra mim assim? Então sou só eu que ela acha idiota?
- Eu não acho que seja isso, na verda--
- Não, isso explicaria tudo... Ela não me leva a sério! - o rapaz sai do local.
៚
Michonne estava do lado de fora da igreja, à noite, observando a floresta, atenta a possíveis novos problemas, e esperando que milagrosamente Daryl e Carol aparecessem.
Kenny, que não conseguia dormir, a encontra.
- Você deveria estar na cama essa hora - a mais velha diz.
- Não consigo, o cocô do CJ fede demais.
- E é só isso que anda te incomodando lá dentro?
- Como assim? - pergunta, se sentando nos degraus ao lado da mais velha.
- Eu vi você evitando um Grimes hoje.
- Ah, isso? - Kenny ri de constrangimento, tentando dizer que não significava nada - Não é nada demais, bobagem.
- Ele veio me procurar para falar sobre você, sabia?
- Ele foi?! O que ele disse?!
- Ué, mas não era nada demais?
- Qual é, Michonne!
- Na verdade, ele não me procurou... Mas pela sua reação, acho que o problema é realmente ele - a de dreads ri, vendo que pegou a menina no pulo.
- Você é ridícula! - Kenny brinca, a empurrando de leve.
- Bem, seja lá o que esteja rolando entre os dois, eu não posso ajudar sem você me contar.
- E eu não vou, por que não tá rolando nada.
- Bem, se essa é a sua verdade...
- O que você faz quando alguém gosta de você... hipoteticamente.
- Bem, hipoteticamente, você tem que avaliar muitas coisas. Quem é a pessoa, se vocês são próximos ou não, se você considera ter sentimentos pela pessoa ou não.
- Hm...
- Mas, se a pessoa for alguém próximo de você, e você pensa que as vezes trata ele mais do que apenas amigos, você pode suspeitar que possui sentimentos recíprocos.
- Você tá passando do hipoteticamente, Michonne.
- É, acho que sim - um som ecoa na floresta - Você ouviu?
- Sim - Kenny puxa sua arma, levantando dos degraus.
As duas passam a andar levemente em direção ao som, na espectativa de ser um berrante, ou algum animal.
No entanto, quem sai em meio a mata e é iluminado pela lua é alguém.
Daryl.
- Quem é vivo sempre aparece, né? - Kenny diz sorridente, abaixando sua arma.
- Onde está a Carol? - Michonne pergunta, abaixando sua espada também.
- Pode vir - o fedido diz para alguém ainda escondido da mata, revelando lá, um menino de estatura mediana, que aparentava ter 17 anos.
៚
Daryl havia explicado o porquê ele e Carol haviam sumido na noite anterior. Segundo a história dele, eles estavam tentando seguir pistas para encontrar Beth, e no meio disso, encontraram Noah, mas acabaram perdendo Carol para o mesmo grupo que havia pego Beth.
Noah, explicou também que estava preso junto com ela, e graças a mesma, conseguiu fugir.
Agora, Kenny e Elliot estavam na parte de trás da igreja, "interrogando" o novato.
- Ela tá bem mesmo? Tipo, saudável de bem ou bem de viva? - o loiro pergunta.
- Aquele corte no rosto que você mencionou é forte? Vai ficar cicatriz? - Kenny pergunta.
- Ela ta se alimentando bem?
- Tem homens ruins lá ou é só a líder doida?
- Ela ta bem mesmo?
Noah permanecia em silêncio perplexo com as tamanhas perguntas.
- Olha, ela tá bem - finalmente responde - Ela até mencionou sobre você - aponta para Elliot - Ela é esperta, tenho certeza que ela está bem no momento.
- Ufa - Elliot põe a mão no peito e suspira aliviado - Obrigado por cuidar dela - ele diz, abraçando Noah.
- Na verdade, ela que cuidou de mim - brinca.
Kenny, que já havia conseguido suas respostas sobre o paradeiro da amiga, dá meia volta e contorna a igreja até chegar a parte da frente, onde Daryl, fincava alguns canos de metal no chão, na intenção de criar uma cerca em volta da porta da frente.
Além dele, Gabriel estava no local, observando sua igreja ser depravada.
- Sabe, eu nunca tinha visto uma igreja de perto antes do apocalipse - Kenny diz, tentando quebrar o silêncio.
- Você nunca foi batizada ou catequizada? - Gabriel pergunta, com sua cara de espanto típica.
- Nah, minha mãe não ligava pra essas coisas - Kenny cruza os braços, observando Daryl trabalhar duro - Você também nunca foi batizado, né, Daryl?
- Meu pai tinha sido expulso da igreja - finca mais um cano na areia - Então não.
- Em que lugar vocês viviam? - Gabriel pergunta.
- Atlanta - os dois respondem.
- Não imaginava que esse tipo de coisa acontecesse perto daqui.
- Nem todas as famílias são iguais - Daryl diz - Inclusive, Kenny, você vai com a gente pra Atlanta?
- Elliot já vai, então vou ficar aqui por agora, mas manda um oi adiantado pra Beth por mim, quando chegarem lá.
- Pode deixar.
៚
Do lado de dentro da igreja, Michonne e Carl terminavam de pregar as madeiras na porta da frente, garantindo uma segurança reforçada e útil.
Além de Elliot, Liz e os demais do grupo também haviam ido para Atlanta, deixando na casa, Chris, Carl, Michonne, Gabriel, Kenny e os bebês.
- Eu não confio nele - Kenny, que estava sentada ao lado de Chris, diz, apontando para Gabriel com o nariz.
- Nem eu, nem o CJ - o mais velho ajeita CJ em seu cesto improvisado como berço provisório - Ele é covarde. Daria as costas para qualquer um de nós na primeira oportunidade.
- Acho que ele vai morrer cedo.
- É uma forma ruim de ver as pessoas, Kenny - repreende - Mas acho que nesse caso eu concordo com você.
- Aliss sempre dizia isso das pessoas. No início, ela me explicava quem tinha chances de sobreviver, e quem não tinha.
- E ela estava certa nos chutes dela?
- Bem, sim - a morena se lembra de Sophia - Você conheceu ela numa época boa, ela mudou muito. Acho que você mudou ela.
- Não, Kenny, você mudou - ele toca o ombro dela - Quando eu conheci ela, tudo que ela falava era sobre você. Falava que precisava se redimir, precisava te salvar, precisava vingar você e coisas do tipo. Ela só é orgulhosa demais pra admitir tudo isso.
- Orgulhosa ou não, eu perdoei ela. Se ela pisar na bola denovo, ela pode ter certeza de que nunca mais vai me ver na vida - Kenny coloca Judith em seu cesto - Vou ver se Michonne e Carl precisam de ajuda.
Passando por Gabriel, que limpava o chão de forma obsessiva, Kenny observa Carl distribuindo armas brancas em frente a ele, que fingia não ver.
- Escolhe uma. Podemos te ensinar a se defender e coisas do tipo - o Grimes diz.
- Me defender? - Gabriel o olha com desdém - Pra quê? Vocês são monstros... Os caras do Terminus... eles iam embora... não precisavam ter matado eles e-
- Eles eram assassinos, caso você não se lembre - Kenny se intromete, ficando ao lado de Carl - Canibais. Deus não abomina a violência?
- Eram eles ou a gente. Nós só dos defendemos, é assim que as coisas funcionam - Carl completa - Você tem sorte da sua igreja ter durado tanto tempo. Nada dura tanto assim. Quando estiver la fora, sozinho, vai precisar aprender a lutar.
Gabriel, parecendo dar-se como convencido das palavras dos dois jovens, escolhe um facão simples.
- Você tá segurando errado - Kenny diz, virando o rosto para enxergar melhor - Desse jeito você não vai conseguir enterrar ela no crânio dos errantes
- Desculpa, desculpa... - ele se levanta, ainda com a faca na mão - Acho que já deu de treino por hoje - diz enquanto se retira.
- Que estúpido - Carl murmura.
- Kenny, Carl - Michonne, que observava os dois de longe - Vocês podem ir lá no lago perto daqui buscar água? Se forem agora, acho que conseguiram voltar antes do anoitecer.
- Claro! - Kenny diz, indo em direção à porta traseira, sendo seguida por Carl.
- Eu deveria ir com eles? - Chris, que estava ao lado de Michonne, pergunta.
- Não, eu tenho planejado isso a um tempo - ela diz risonha.
៚
Os sinais do entardecer pairavam no céu, e os grilos começavam a realizar sua sintonia sincronizada. Enquanto Kenny, liderava o caminho, cortando alguns galhos a frente com um facão, enquanto Carl, cobria o caminho.
O silêncio constrangedor acompanhava o som das folhas sendo quebradas. Algo que era de se esperar, depois de um dia conturbado e uma declaração do dia anterior.
Ambos estavam com os sentimentos confusos em relação a isso, e certamente não saberiam como explicar-se, muito menos tentar chegar a uma conclusão.
Carl observava pequenas flores da estação se formando no chão, e pensava se deveria entrega-las para Kenny, mas ela certamente não iria gostar, certo? Afinal, para ele, ela não o levava a sério. Algo que o irritava, mais que profundamente.
Então, já que não teria nada a perder nesse momento, o moreno toma a iniciativa de perguntar;
- Kenny, você me leva a sério?
- An? - ela se vira para ele para ter certeza de que era ele que havia feito uma pergunta tão ridícula, e em seguida se vira para frente para continuar caminhando - Claro que eu levo, que pergunta idiota.
- As vezes não parece, por isso eu perguntei - ele da de ombros.
- Como assim? Eu sempre te levo a sério - ela olha pra trás denovo, com sua cara de descontentamento.
- Bem, é só comparar como você age com o Elliot e a Liz, com o modo que você age comigo.
- Como se você fosse uma criança?
- Então é verdade? - ele se aproxima mais dela.
- Claro que não, seu idiota - ela revira os olhos, mesmo que ele não pudesse ver - Já tivemos essa discussão antes, não quero repetir isso.
- Então por que você não disse nada sobre o fato de eu gostar de você?
- Anm... - ela olha pro lado, tentando pensar em uma forma de desviar o assunto.
- Kenny?
- Eu não sei, falou? - e ela realmente não sabia - É difícil reagir a essas coisas, tem tanta coisa acontecendo no momento, tem a Beth, o Bob e...
- Sempre teve muita coisa acontecendo, Kenny - ele alcança ela, fazendo com que ambos ficassem lado a lado - Se você não gosta de mim, tudo bem - dá de ombros, fingindo não se importar - Não vou te forçar a sentir algo irreal.
- Não é como se eu te odiasse - ela diz, se decepcionado da própria fala quase imediatamente - É estranho, na verdade... Eu nunca tinha parado pra pensar por esse lado, sabe?
- Nem eu sei quando começei a pensar sobre isso.
- Que constrangedor - ela diz risonha, tapando o rosto com a manga do casaco.
Ele ri também, empurrando ela de leve.
Depois de alguns minutos, eles finalmente chegam ao lado. Como a extensão de sua era pequena, eles conseguiram contornar o lago, ficando um a frente do outro, enchendo seus respectivos cantis de água.
"E as trocas de olhares?" - Carl se lembrou dos ensinamentos de Elliot.
E em um simples movimento, ele inclina sua cabeça milimetricamente para cima, fazendo com que seus olhos cruzem com os de Kenny.
Assumindo aquilo como uma competição e não como um flerte, Kenny se inclina ainda mais e começa a o olhar nos olhos também, mas ao invés dele, ela fazia de uma forma intimidadora, na intenção de faze-lo desviar, a conseguindo logo depois.
- Anm... Nós seríamos bons juntos... - ele murmura.
E é ignorado.
- Você não acha?
- Bom, não - diz naturalmente, continuando a ter atenção em encher os cantis de água.
- Porquê? - diz intrigado, se levantando, e caminhando até ela.
- Eu provavelmente acabaria quebrando seu coração - diz simplista, arrancando uma careta dele.
- Talvez eu quebrasse o seu - assume como uma competição.
Ela ri.
- Ninguém quebra meu coração - ela disse, estando frente a frente a ele - Bem, sabe... - muda de assunto - eu sempre gostei das suas orelhas... O formato delas é engraçado - ela as toca com a ponta do indicador.
- As minhas? - o moreno olha para o lado, escondendo o rubor em suas bochechas - Bem, eu sempre gostei das suas sardinhas - aponta com o nariz para as maçãs do rosto da morena.
- Sério? Eu queria cobrir elas porquê... você sabe - a Anderson ri, desviando o olhar.
Silêncio.
- Kenny.
- Hm? - ela olha pra ele.
- Me concede essa dança? - ele puxa um Mp3 do bolso, com um fone de ouvido plugado no mesmo, enquanto sua outra mão, era estendida para ela.
Sorrindo, ela assente, dando sua mão à ele, permitindo que seus corpos se aproximassem.
Com um fone no ouvido de cada um, eles começam a dançar em movimentos lentos e aleatórios. Sem muita coordenação, mas precisavam ficar juntos para que os fones não caíssem.
A musica tocada era um clássico da cantora Lana del Rey. Os dois desconheciam a música até então, mas a letra conseguia ser cativante.
“𝐸́ 𝑣𝑜𝑐𝑒̂, 𝑒́ 𝑣𝑜𝑐𝑒̂, 𝑒́ 𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑝𝑜𝑟 𝑣𝑜𝑐𝑒̂
𝑇𝑢𝑑𝑜 𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑓𝑎𝑐̧𝑜, 𝑒𝑢 𝑡𝑒 𝑑𝑖𝑔𝑜 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑡𝑜𝑑𝑜
𝑂 𝑝𝑎𝑟𝑎𝑖́𝑠𝑜 𝑒́ 𝑢𝑚 𝑙𝑢𝑔𝑎𝑟 𝑛𝑎 𝑡𝑒𝑟𝑟𝑎 𝑐𝑜𝑚 𝑣𝑜𝑐𝑒̂
𝑀𝑒 𝑑𝑖𝑔𝑎 𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑖𝑠𝑎𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑞𝑢𝑒𝑟 𝑓𝑎𝑧𝑒𝑟
𝑂𝑢𝑣𝑖 𝑑𝑖𝑧𝑒𝑟 𝑞𝑢𝑒 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑔𝑜𝑠𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑔𝑎𝑟𝑜𝑡𝑎𝑠 𝑚𝑎́𝑠
𝑄𝑢𝑒𝑟𝑖𝑑𝑜, 𝑒́ 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒?
𝐸́ 𝑚𝑒𝑙𝒉𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑢 𝑗𝑎𝑚𝑎𝑖𝑠 𝑖𝑚𝑎𝑔𝑖𝑛𝑒𝑖
𝐸𝑙𝑒𝑠 𝑑𝑖𝑧𝑒𝑚 𝑞𝑢𝑒 𝑜 𝑚𝑢𝑛𝑑𝑜 𝑓𝑜𝑖 𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑑𝑜𝑖𝑠
𝑄𝑢𝑒 𝑠𝑜́ 𝑣𝑎𝑙𝑒 𝑎 𝑝𝑒𝑛𝑎 𝑣𝑖𝑣𝑒𝑟 𝑠𝑒 𝑎𝑙𝑔𝑢𝑒́𝑚
𝐸𝑠𝑡𝑎́ 𝑎𝑚𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑣𝑜𝑐𝑒̂
𝑄𝑢𝑒𝑟𝑖𝑑𝑜, 𝑎𝑔𝑜𝑟𝑎 𝑣𝑜𝑐𝑒̂ 𝑒́ 𝑎𝑚𝑎𝑑𝑜”
Colando suas testas uma a outra, eles se permitem olhar nos olhos um do outro mais uma vez.
- Acho que eu também gosto de você-
Antes que ele pudesse reagir ao que acabava de sair dos lábios da garota, ele sente a mão gélida da morena entrar em contato com sua bochecha.
Kenny o olhou com atenção. Ela conseguia ver nitidamente a explosão de sentimentos que transbordavam no simples olhar do garoto a ela. Fazendo-a rir de como ele conseguia demonstrar o quanto gostava dela apenas por um simples olhar.
E talvez agora, ela já não tivesse mais duvidas, nem questionamentos.
Era simples, pelo menos, para ele era.
Alguma coisa o prendia naqueles olhos azuis-claro marcados pelas olheiras típicas da vida adolescente conturbada pela morte e destruição. Alguma coisa a qual ela não podia lutar contra, afinal, séria inútil. É inútil correr do inevitável.
Ele gostaria de dizer que preferia os olhos castanhos, verdes, pretos e até lilazes. Mas sabia, que a partir daquele instante, os únicos olhos que o interessariam eram aqueles azuis.
Ela gostava dele, ele gostava dela.
O que poderia dar de errado?
E assim, Kenny escorregou sua mão até a nuca do rapaz, selando seus lábios em seguida, em um beijo doce, puro e duradouro.
Carl, que conseguia sentir seu coração em todas as extremidades de seu corpo, retribui o beijo na mesma intensidade, aproximando ainda mais seus corpos ao puxa-la pela cintura.
A atmosfera em volta parecia contribuir a favor deles, dando a sensação de quietude, e paz.
No entanto, Kenny sente um mau pressentimento.
- Você sentiu isso? - ela pergunta, se afastando do beijo, e olhando para trás através do pescoço do garoto.
- Oque, amor?
- Não, outra coisa - levando sua mão até a mão do garoto, ela caminha junto a ele para um pouco além do lago.
Esgueirando sua visão através da mata, ela consegue ver Gabriel passar correndo para a igreja.
E logo atrás dele, uma série de errantes.
0.1 - FAVELA VENCEU!!!!! *fogos de artifício* *alarde* *festa* *gritaria* *buzina* *furdunço* *criança chorando* ERA BEIJO QUE VOCÊS QUERIAM?????