Alfonso Herrera
A manhã passou e Brayan já havia contado sobre o aborto para Anna. A mesma ganhou alta no mesmo dia e entravamos no apartamento com ela muito quieta. Fisicamente estava bem, mas emocionalmente estava destruída. Era bem notável o olhar triste, a boca fechada e o comportamento, parecia desconfortável com ela mesma.
— Quer comer alguma coisa?
Ela negou e andou em direção ao corredor. Brayan foi atrás dela, ele era outro que estava bem quieto.
— Ela vai superar amor. Está muito recente, mas com o tempo irá superar.
— A Ruth quer vir para cá, mas a Anna não quer ninguém por perto. Acho que ela não quer nem mesmo nós dois.
— É melhor deixar ela e Brayan sozinhos, a última coisa que ela quer é uma multidão sentido pena dela.
— Verdade.
— Vou fazer o almoço. Depois tenta faze-la comer alguma coisa. Nem que seja pouco. - Tocou no meu ombro.
— Vou tentar. - Assenti.
Quando Anahi entrou na cozinha, fui para o escritório trabalhar um pouco, tentar me distrair desse terrível momento. Ver minha irmã que é sempre tão falante, alegre e rebelde desta maneira está me destruindo. Prefiro vê-la aprontando algo do que desse jeito.
Meu celular tocou assim que sentei na minha cadeira. Respirei fundo e atendi.
— O quê quer?
— Saber da sua irmã. Como ela está?
— Deve estar contente, não? Você nunca quis esse bebê, até sugeriu que ela abortasse e olha só o que aconteceu!
— Alfonso, eu falei aquilo em um momento de raiva querido. Acha que quero ver sua irmã sofrer? Ela é minha filha e a amo tanto quanto você.
— Sua negatividade, sua recusa e a sua raiva fizeram isso.
— A culpa é minha agora?
— Sim.
— Eu não fiz nada. Estava até me acostumando com a ideia de ser avó, sinto muito o que aconteceu, mas ela ainda poder ser mãe, né?
— Pode sim.
— Quando estiver mais adulta ela engravida de novo.
— Não quero falar sobre isso com você. E nem tente falar com a minha irmã, ela está muito mal. Não me ligue de novo. - Desliguei.
💠
Tinha acabado de deixar Anahi na faculdade, Anna continuava trancada no quarto e Brayan estava na sala no sofá com uma mala ao lado.
— Vai para onde?
— Estava esperando você chegar. Vou para um hotel. - Levantou - Sua irmã não quer me ver aqui, me mandou embora e terminou comigo.
— Sabe que não é isso que ela realmente quer, não é?
— Eu sei, ela só quer ficar sozinha. Só vou dá espaço a ela, mas não significa que vou abandona-la ou que vou deixar que termine comigo.
— Vou conversar com ela.
— Se conseguir, ela só falou comigo para me mandar embora e voltou a ficar calada - Puxou a mala - Amanhã volto - Se aproximou de mim - Devolva isso à ela por favor. - Tirou de dentro do bolso uma caixinha preta.
— E o que seria?
— Não é um anel de noivado. Relaxa! É um anel de compromisso que ela decidiu me devolver. - Peguei a caixinha - Diga que a amo e que vai precisar mais do que me mandar embora para desistir dela. - Dito isso saiu do apartamento em silêncio.
Encarei a caixinha antes de andar até o quarto da minha irmã. A porta estava entre-aberta, por isso entrei sem bater, ela estava deitada na cama encarando o teto sem emoção.
Não falei nada, apenas fiquei ao seu lado na cama e encarei o teto também.
Ficamos em silêncio por longos minutos, até ela começar a soluçar, minha reação foi abraça-la de imediato e esperar ela colocar para fora tudo o que estava sentindo. Uma parte de mim morria ao vê-la daquele jeito.
Se eu pudesse faria e daria tudo o que tinha para mudar tudo. Mas a única coisa que poderia fazer era não sair do lado dela nesse momento.
O choro durou por muito tempo. E em todo esse tempo ficamos abraçados, o que me fez voltar ao passado e lembrar de quando ela tinha sete anos e corria para o meu quarto chorando com medo do escuro e dizendo que tinha monstros debaixo da cama, não tinha nada que eu fizesse para que ela voltasse ao quarto dela, então dormia comigo desse mesmo modo que estamos.
— Por que mandou ele embora? - Perguntei baixo.
Fiquei esperando a resposta, quando achei que ela não ia responder sua voz soou mais baixa que a minha.
— Porque ele merece alguém melhor do que eu.
— E você o perguntou para saber o que realmente é o melhor para ele?
— Não.
— Você é o melhor para ele.
— Não sou. Não fui capaz de segurar o nosso filho. - Voltou a chorar.
A encarei.
— Não foi sua culpa! Não tinha nada que pudéssemos fazer. O bebê se foi porquê Deus quis assim.
— Era um menino...
— Agora ele é um anjinho e não deve estar gostando de ver a mãe desse jeito. Afastando todo mundo, não querendo se alimentar, banhar, dormir... você está quase entrando em depressão maninha. Eu sei que é difícil, mas não pode ficar desse jeito, não foi sua culpa, não pode se culpar por algo que não fez.
— Não consigo olhar para o Brayan. Ele está me odiando agora, amava o bebê tanto quanto eu e agora o perdi.
— Estamos falando do mesmo cara que está destruído por ter perdido o bebê e ainda mais destruído por que a garota que ele ama o mandou embora? Logo nesse momento que deveriam ficar ainda mais juntos. - Anna ficou calada. - Toma! - Coloquei a caixinha preta em suas mãos. - Ele disse que te ama tanto que precisara mais do que manda-lo embora para desistir de você Anna.
Ela encarou a caixinha.
— Não quero que ele sofra mais...
— Pois está o fazendo sofrer se afastando dele.
— Eu sou uma idiota!
— Não. Você só está triste. - Voltei a abraça-la - E ele sabe disso.
Anna não falou mais nada e eu também. Apenas fiquei com ela até dormir, o que demorou algumas horas, a cobri com o lençol e dei um beijo em sua testa. Deixei o quarto olhando as horas no celular, ainda tinha que buscar Anahi.
Já estava com as chaves na mão quando meu celular tocou.
— Já estou indo amor.
— Poncho, não precisa vir. Vou sair daqui muito tarde, vou ter que ficar para terminar um trabalho que tem que ser entregue ainda amanhã de manhã. Vou sair apenas quando fechar a universidade, não só eu como meus outros colegas também.
— Tudo bem. Vou te buscar do mesmo jeito.
— Não precisa amor. É o caminho da Mafe, ela vai me deixar aí. Não se preocupe, tá? Agora preciso desligar, tenho muita coisa para fazer. Te amo!
— Ok. Eu...
Ela desligou.
Acabei rindo. As loucuras da faculdade.
💠
Olhei as horas novamente era quase uma e meia da madrugada e nada dela chegar. A universidade fecha as uma em ponto. Os últimos funcionários que ficam tem carro ou moto, por isso fecha tarde.
Tentei ligar no celular dela, mas estava desligado. Já estava começando a me preocupar quando ela entrou no quarto me fazendo suspirar.
— Demorou.
— Pensei que estivesse dormindo.- Anahi deixou a bolsa na poltrona.
— Como se eu conseguisse dormir sem você.
— Desculpa! A Mafe fez o motorista dela parar em um drive-tru, meu celular acabou a bateria e não liguei do celular dela porquê achei que estivesse dormindo. - Se explicou tocando na própria nunca - Vou tomar banho. - Quase saiu correndo para o banheiro.
Franzi o cenho.
Ela parecia meio nervosa.
Esperei ela terminar o banho, quando voltou já de pijama sorriu ficando ao meu lado e se ajeitando na cama.
— Está tudo bem?
— Sim. Por que? - Me encarou.
— Está estranha! Um pouco nervosa. - Comentei.
— É que... que estou nervosa com o trabalho, fizemos as pressas, o professor tem que viajar de manhã e quer eles bem cedo. Estou com medo de levar nota baixa. É isso. Só isso.
— Só isso mesmo?
— Sim. Estou com dor de cabeça também. - Fechou os olhos. - Preciso apenas dormir e vou voltar a ser como antes, prometo! - Murmurou.
— Não vai me dar um beijo?
Ela me encarou.
— Claro que vou meu amor. - Se aproximou e me um selinho.
Quando eu ia aprofundar o beijo ela se afastou colocando a cabeça no meu peito e me abraçando.
— Eu te amo Alfonso!
Alfonso?
— Any você está bem mesmo?
— Só cansada e com sono.
A abracei ainda mais.
— Ok. Descanse! Te amo!
Em questão de minutos ela dormiu em meus braços. Fiquei a observando, achando um pouco estranho sua atitude, mas deixei para lá. Ela ainda não estava acostumada com a vida maluca de universitária.