Anahi Portilla
O dia havia passado lentamente, parece que quando queremos muito que algo aconteça logo o destino lhe prega uma peça e faz com que demore ainda mais para chegar aquele dia. Mas quando queremos que o momento passe bem devagar para poder ser aproveitado ao máximo, o destino aparece novamente e passa voando.
E isso é o que estou sentindo neste exato momento, desde que passei para o curso de medicina sonho com o dia que teria a minha primeira aula, mas os dias e o tempo passaram lentamente e agora que o dia finalmente chegou, eu não caibo dentro de mim.
— Não acha que está cheirosa demais? - Alfonso cheirou meu pescoço, enquanto eu terminava de arrumar meu cabelo.
— Eu sou cheirosa... - Fechei os olhos sentido seus beijos - É melhor irmos ou vou me atrasar. - Respirei fundo me controlando para não avançar em cima dele.
— Vamos minha universitária.
Peguei minha bolsa e saímos do quarto, Maite já nos esperava na sala conversando com Anna e Brayan, quando me viu tanto Anna quanto Brayan assobiaram alto.
— Vai estudar ou vai para algum concurso de beleza? Está linda! - Anna bateu palmas.
— Não exagera...- Sorri.
Na verdade eu estava bem simples, usava uma wide leg de lavam azul clara, um body branco de alças fina, uma jaqueta jeans e um tênis plataforma preto.
— Se eu fosse você tomava cuidado Poncho, a Any irá ter colegas mais bonitos que você - Brayan o provocou - Sua namorada irá arrasar corações!
— Quem ainda fala "arrasar corações" hoje em dia? - Maite riu.
— Eu, claro. - Brayan revirou os olhos.
— A minha namorada é linda mesmo, tem mais que ser apreciada - Beijou meu rosto - Desde que não passe disso - Olhou no relógio do pulso - Agora precisamos ir. - Avisou.
— Tenham paciência, toda aula é chata. - Anna desejou.
— Boa aula garotas! - Brayan encostou a cabeça no ombro de Anna.
— Se comportem enquanto eu estiver fora. - Alfonso mandou.
— Caso não lembre, ela já está grávida Poncho. - Maite zombou indo para porta.
— May, sério eu te amo garota! - Anna gargalhou alto.
— Até depois! - Falei antes de sair.
Durante todo o caminho até a universidade fomos conversando, tanto Maite quanto eu recebemos mensagem de Dulce desejando boa aula. Depois de quarenta minutos, Alfonso entrava no lindo campus e parava em frente a movimentada universidade.
— Vou te esperar lá fora. Tchau Poncho! - Maite sorriu antes de sair do carro.
— Tchau... - Esperou Maite fechar a porta - Já te falei o quanto está linda? - Sorriu.
— Estou normal. Tem certeza que quer vir me buscar? Porque estou sentindo que estou abusando de você, parece meu motorista indo me buscar e trazer sempre.
— Estou adorando ser seu motorista - Tocou no meu cabelo - É um prazer te levar e te buscar em qualquer lugar - Me deu um selinho - Assim que sair já vou está aqui te esperando, boa aula amor.
— Obrigada - Acariciei seu belo rosto - Por tudo! - Dei um longo selinho nele antes de sair do carro.
Assim que entrei na universidade, que estava bastante cheia, Alfonso deu a partida e Maite segurou no meu braço olhando ao redor.
— A minha sala, segundo o e-mail que recebi, fica no terceiro andar e o seu no quarto, prefere ir de escada ou de elevador? - Me encarou.
— Elevador... - Olhei para os três elevadores que chegava a fazer fila com o tanto de pessoas a espera - É melhor de escada, assim fazemos um exercício e não perdemos tempo.
Maite sorriu enquanto íamos para a enorme escada que também estava cheia, pessoas subiam e desciam apressadas, o primeiro dia sempre era uma loucura em qualquer lugar.
— Eu acho lindo como o Poncho está sempre te elogiando, e como a Anna gostou de você em tão pouco tempo - Começou a falar - Aquela garota te chamou para ser madrinha do bebê dela, tem noção do quanto ela gosta de você? - Me olhou rapidamente - É até capaz dela ficar contra o irmão e ao seu favor em qualquer situação.
— A Anna é incrível. Eu adoro aquela garota e fico tão feliz e aliviada por ela gostar assim de mim. - Sorri.
— Uma da família você já ganhou, agora só falta o resto.
Andamos por um longo corredor até começarmos a subir as escadas novamente. Em todo canto tinha grupos de pessoas, rindo, conversado, mexendo no celular e alguns com expressões de perdidos igual a nós duas.
— Não sei, mas algo me diz que com os pais dele vai um pouco mais difícil. - Confessei olhando para ela.
— Por que?
— Porque eu...
— Cuidado! - Falou um cara cheio de livros descendo apressado, não percebi que ele estava tão em cima que acabei batendo de frente com ele fazendo alguns livros caírem nos meus pés.
— Meu pé...- Gemi de dor tirando os livros pesados de cima de mim.
— Me desculpe moça, de verdade me desculpe! - Pediu apressado sem me olhar juntando os livros.
— Tome mais cuidado! - Maite falou com raiva - Poderia ter machucado de verdade a minha irmã, seu idiota!
— Eu sei, desculpe... - Levantou com os livros novamente em mãos - Desculpe mesmo, não tive a intenção de machucar a sua i... - Me encarou com os olhos azuis brilhantes - Irmã.
— Tudo bem. Só cuidado na próxima, você também pode acabar se machucando assim. - Disse enquanto ele ainda me encarava fixamente.
— Ei moço, planeta Terra chamando. - Maite estalou os dedos.
— Desculpe! - Piscou rapidamente - Você está bem?
— Sim. Foi nada demais.
Ele me olhava de um jeito estranho, parecia que queria ler minha alma. Tinha um jeito desengonçado, mas era elegante, era alto, loiro com os cabelos penteados para trás, possuía olhos azuis um pouco mais escuros que os meus, usava roupas sociais e aparentava ter entorno dos vinte e cinco anos. Não poderia negar, ele era um pouco atraente.
Assim que um sinal tocou, percebemos que as pessoas começaram a entrar em suas respectivas salas. Acho que era um sinal estilo de escola avisando que está na hora de entrarmos nas salas.
— Só cuidado moço... vamos logo, não podemos nos atrasar no primeiro dia - Maite me puxou para volta a subir - Ele é até atraente, mas muito desastrado - Sorriu - Mas o mais engraçado foi ele completamente hipnotizado por ti, te falei que esses olhos azuis arranca suspiros de qualquer um. E Brayan tinha razão, você está arrasando corações.
— Não viaja May.
— Fico por aqui - Parou na frente de uma sala - Boa aula e boa sorte! - Me abraçou.
— Para você também, arrasa!
Assim que Maite entrou na sala, continuei subindo as escadas até o "meu" corredor.
Quando entrei na sala, a maioria das cadeiras já estavam ocupadas, restando apenas as últimas duas na frente ao lado da porta, sentei na segunda cadeira atrás de uma garota loira.
Mais um sinal tocou e todas as cadeiras foram ocupadas, a porta da sala fechou e ainda não tínhamos nenhum professor. Todos começaram a se olhar e a puxar conversar, fui uma das poucas que preferiu ficar quieta.
— Meu Deus, vamos ficar a noite toda sem professor logo no primeiro dia de aula? - A loira se virou para mim.
— É o que parece... - Falei no mesmo tom que ela.
— Me chamo Maria Fernanda, mas prefiro Mafe e você? - Puxou assunto.
— Anahi, mas pode me chamar de Any. - Sorri.
— É um prazer Any.
A porta foi aberta chamando atenção de todos da sala e por ela passou o mesmo homem que esbarrou em mim no corredor, mas agora ele usava um terno cinza por cima da roupa social de antes, nas mãos segurava uma pasta preta que parecia estar bem pesada.
— Uau, pegava. - Maria sussurrou para mim.
— Boa noite a todos! Desculpe-me pela demora tive alguns imprevistos - Deixou a pasta na mesa - Mas ainda temos muito tempo ficaremos apenas cinco anos juntos. - Sorriu.
Alguns riram, incluindo a loira da minha frente.
Ele passou os olhos por toda a turma até parar em mim, não conseguindo esconder a surpresa em me ver por ali, eu apenas o encarei.
— Vou começar me apresentando, me chamo Manuel Velasco e sou médico cardiologista, ou como muitos dizem por aí, o médico do amor - Me olhou rápido antes de voltar a encarar a turma - E fui escolhido para ser o professor de vocês até o final do curso, claro que isso pode mudar, mas por enquanto sou eu mesmo - Sorriu - Espero que saibam que terão outros professores também, mas eu quem será responsável pela turma. Cada professor tem o seu método de ensino e logo eu não seria diferente, por isso irei explicar como irá funcionar o meu, não se preocupem sou bonzinho - Sorriu - Não gosto de faltas, acredito que estudar medicina não é fácil e muito menos para ser utilizado como algo em vão apenas para se acharem e não adianta falarem que estou errado, eu sei que muitos estão cursando por puro status e isso é inadmissível, afinal estão sendo preparados para salvar, cuidar e zelar por vidas e um único erro que você comete, um erro que seja, pode matar alguém. E as faltas significam irresponsabilidades, perder matéria é perda de conhecimentos e só mostra o quanto desinteressado a pessoa está, o que para esse curso, é um erro fatal. Mas sei que existe emergências, motivo de força maior e por isso falte apenas se for restritamente necessário, caso fiquem doente traga atestado.
— O senhor irá fazer provas surpresas? - Um garoto muito novo perguntou.
— Sim, com certeza. As provas surpresas são para analisar quem realmente está estudando. Não faço prova em dupla nunca, alguns professores fazem, mas eu não. Vou passar vários trabalhos em grupo, também faço prova oral e sempre estou aberto para ajudar vocês em qualquer dúvida, questionamento ou apenas para auxiliar - Fez uma pausa - Esse é o meu método. E saibam que só vou passar quem realmente estiver pronto.
— Eu estou prontinha... - Maria murmurou.
A encarei e ela sorriu mais.
— Espero que gostem de mim e que tenhamos uma boa relação durante o ano - Me olhou novamente - Mas hoje não quero começar passando matéria ou trabalho, gosto de conhecer meus alunos e só por hoje nossa aula vai ser para nos conhecermos - Sorriu - Vou começar com você - Apontou para mim fazendo todos me olharem - Seu nome, idade e por que escolheu medicina.
Sorri sem graça com tanta atenção.
— Me chamo Anahi Portilla, tenho vinte e dois anos e amo a medicina desde quando era criança, sempre quis ser médica, nasci para ajudar e cuidar das pessoas.
— Anahi Portilla... - Manuel repetiu - Bonito nome - Sorriu - Vejo paixão nas suas palavras, gosto disso. Acho que vamos nos dar muito bem durante o ano.
Apenas sorri e ele encarou a Maria Fernanda.
O restante da aula foi com outras apresentações, e após quarenta e cinco minutos o sinal tocou novamente e outro professor já esperava na porta. Antes de sair Manuel me olhou mais uma vez e sorriu em seguida, eu apenas desviei o olhar.
Após várias horas e a troca de mais dois professores, o primeiro dia de aula acabou e eu estava mais preparada ainda para essa minha nova conquista.
— Mai... - A abracei - Essa daqui é a minha colega de classe, Mafe.
— Prazer, faz qual curso? - Maria esticou a mão.
— Jornalismo. E todos os meus colegas são um porre. - Maite apertou sua mão enquanto revirava os olhos.
— Os nossos não são tão diferentes assim. Mas temos um professor muito mais muito gato, e que por coincidência, não usa aliança. - Ficou animada.
— É o mesmo cara que esbarrou em mim.
— O desatento de olhos azuis é seu professor? - Maite gargalhou - Ai Any, essa sua sorte ninguém tem, hein?
— Parem, ele nem é tão bonito assim. - Sorri negando com a cabeça.
— Você está bem? - Maria tocou na minha testa - Estamos falando do cara que parece um Deus grego, egípcio, romano e todo tipo de Deus que existir. Você olhou o corpo daquele gostoso? Ele deve malhar todos os dias - Respirou fundo - Como pode falar que não é tão bonito assim?
— Porque eu tenho o meu próprio Deus grego, egípcio, romano e todo tipo de Deus que existir - Imitei sua fala - O meu namorado é o cara mais lindo do mundo e não é porquê é meu namorado, a May está de prova.
— É verdade, o namorado dela é realmente bonito e eles são perfeitos juntos, parece aqueles casais de cinema, sabe? Mas o desatento de olhos azuis não fica atrás... - Sorriu.
— Ótimo! Assim tem menos uma para chamar atenção dele - Maria brincou - Sério, acho que me apaixonei meninas.
— Só por que ele é bonito? - Sorri.
— Exatamente e seria o que mais?
— Você é doidinha da cabeça... - Olhei as horas no meu celular - Vou ao banheiro antes que o Alfonso chegue.
— Vou junto. - Maite guardou seu livro no armário e o trancou.
— Eu é que não vou ficar só... - Começamos a andar procurando o banheiro feminino.
Ficamos uns bons minutos apenas conversando no banheiro, sem fazer nada, após perceber que já havia passado alguns bons minutos descemos para a saída da faculdade, e com uma rápida olhada pude encontrar Alfonso encontrado no carro enquanto mexia no celular.
— Misericórdia...- Maria parou de andar - Vocês estão vendo aquele gato encostado no carro? Que homem é esse? Meu Deus! Acho que estou passando mal...
Sorri.
— Pois é, eu te falei - Dei de ombros - Aquele ali é o meu namorado. - Sorri.
— Menina... Acabei de descobri que tenho muita inveja tua - Sorrimos - Até amanhã meninas. - Se afastou.
Eu e Maite fomos caminhando até o carro, a mesma não querendo atrapalhar o momento, como disse, falou um oi rápido com Alfonso e entrou dentro do carro.
— Olá - Me aproximei vendo o mesmo guardar o celular - Boa noite! - Sorri antes de beija-lo.
Poucas horas longe já foi o suficiente para ficarmos morrendo de saudades.
— Como foi? - Alfonso falou assim que desgrudou da minha boca e me abraçando pela cintura.
— Foi bom. É o primeiro dia e já estou amando. - Sorri.
— Estão com fome? Anna quer que eu leve um lanche para ela. - Entramos no carro.
— Seria bom, você quer May?
— Sabe o que eu quero? É parar de ficar de vela, meu Deus... - Sorriu.
— Posso resolver isso apresentando algum amigo. - Alfonso deu de ombros, já manobrando o carro.
— Não gosto de encontros arranjados, desiste cunhado. - Maite sorriu.
— Então não reclama! - Sorri.
— Vou ter que me acostumar, é o jeito... - Deu de ombros.
Fomos o caminho inteiro falando sobre a faculdade, as aulas e os professores. Era perceptível que estávamos extremamente felizes e isso o deixava feliz também.
Uma nova fase começa aqui, boa ou ruim? Eu não sei, mas muitas surpresas os reserva.