ᵐⁱⁿʰᵃˢ ᵍʳᵃⁿᵈᵉˢ ᵉˢᵖᵉʳᵃⁿᶜ̧ᵃˢ ᵉˢᵗᵃ̃ᵒ ᶠⁱᶜᵃⁿᵈᵒ ᵇᵃⁱˣᵃˢ
ᵖᵒʳᵠᵘᵉ ᵉˢˢᵃˢ ᵖᵉˢˢᵒᵃˢ ˢᵃ̃ᵒ ᵗᵃ̃ᵒ ᵛᵉˡʰᵃˢ
ᵃ ᵐᵃⁿᵉⁱʳᵃ ᶜᵒᵐᵒ ᵉˡᵉˢ ᵖᵉⁿˢᵃᵐ ˢᵒᵇʳᵉ ᵗᵘᵈᵒ
ˢᵉ ᵉᵘ ᵗᵉⁿᵗᵃˢˢᵉ, ᵉᵘ ⁿᵘⁿᶜᵃ ˢᵃᵇᵉʳⁱᵃ
ᵐⁱⁿʰᵃˢ ᵍʳᵃⁿᵈᵉˢ ᵉˢᵖᵉʳᵃⁿᶜ̧ᵃˢ ᵉˢᵗᵃ̃ᵒ ᶠⁱᶜᵃⁿᵈᵒ ᵇᵃⁱˣᵃˢ
ᵐᵃˢ ᵉᵘ ˢᵉⁱ ᵠᵘᵉ ⁿᵘⁿᶜᵃ ᵉˢᵗᵃʳᵉⁱ ˢᵒᶻⁱⁿʰᵒ
ᵉˢᵗᵃ́ ᵗᵘᵈᵒ ᵇᵉᵐ, ᵛᵃᵐᵒˢ ˢᵒᵇʳᵉᵛⁱᵛᵉʳ
ᵖᵒʳᵠᵘᵉ ᵒˢ ᵖᵃⁱˢ ⁿᵃ̃ᵒ ᵉˢᵗᵃ̃ᵒ ˢᵉᵐᵖʳᵉ ᶜᵉʳᵗᵒˢ
Você matou Sophia?!
A culpa é sua?
É claro que é.
៚
Kenny estava sentada na varanda de Hershel.
Suas unhas cravaram a pele de seu braço, fazendo pequenas marcas. A dor controlada em seu corpo reconfortava a dor interior. Seu rosto possuía lágrimas secas, e seu cabelo, continuava com as trancinhas que Lori havia feito, dessa vez mais folgadas.
O que mais ela poderia dizer? Ou ainda, pensar? Tudo parecia se desmoronar aos poucos, a esperança já era desconhecida.
Se sentia culpada. Por tudo. Culpada por Sophia ter sumido, culpada por Carl ter sido baleado, culpada por magoar Carl, Riggs e Eliot. Culpada por ter levado uma bronca de sua mãe. E se é que Aliss poderia ser chamada de mãe.
Kenny não a via dessa forma a muito tempo, na verdade, nunca viu. Elas simplesmente não tinham memorias felizes juntas. Apenas dor, raiva, angústia, rancor. Todos os mistos de sentimentos negativos possíveis, mas nenhuma pitada de felicidade. Aliss estava mais para uma companheira, que põe comida e ensinamentos à mesa. Enquanto o essencial; enquanto o amor nunca foram prioridade.
Sua válvula de escape sempre foi recorrer aos seus amigos. Mas agora, ela não tinha mais nada. Não quando todos estavam tão ocupados tentando proteger suas próprias vidas, enquanto a dona das trancinhas castanho-avermelhadas, estava preocupada com seus próprios problemas familiares.
— Shane está procurando por você — ela sente alguém se sentar ao seu lado. Uma voz feminina.
— Estou fugindo dele por hoje — resmunga — Não sei se ele quer treinar ou me dar uma bronca — diz sem olhar para pessoa ao seu lado.
— Dizem que os pais dão bronca por que se preocupam.
— Shane não é meu pai — ela se vira, conseguindo identificar Beth — Ele só… Age como se ele se importasse comigo mas… não é meu pai.
— E quanto a sua mãe?
— Não sei se ela é uma boa mãe... — esconde a cabeça nos joelhos.
— Eu queria que você tivesse conhecido a minha — Beth sorri e leve — Ela era incrível e… ia adorar costurar roupas para você — a loira olha para jaqueta da morena — Mesmo que seu estilo seja mais Bad-boy.
— Badboy? — Kenny pergunta.
— Uhum, tipo os motoqueiros descolados — Beth sorri.
— Por que está sendo legal comigo, Beth? — Kenny questiona, se virando para garota — Até uma hora atrás, não havíamos trocado nem 5 palavras.
— Maggie me disse que você precisava de uma amiga da sua idade — sorri — Eu sei que sou 6 anos mais velha mas… acho que é o mais perto de 11, né?
— Talvez — a morena olha para longe — Eliot também é mais velho — dá de ombros — 4 anos de diferença.
— Sério?! — a garota pergunta entusiasmada.
— Uhum — Kenny olha para a loira, que brincava com uma flor — Olha Beth, você não precisa de forçar a falar comigo. Eu agradeço mas…
— Olha, eu achei que ia ser chato, mas você é legal, então, considere que agora, eu estou aqui porque eu quero, e não por que a Maggie pediu.
— Você que sabe.
Um silêncio constrangedor paira no local.
— Talvez sua mãe seja uma louca sociopata a solta.
— Eu não duvido nada... - suspira - Ela... parece se odiar tanto, que tenta concertar os problemas dela em mim.
- Isso é uma droga.
- É, uma droga - se levanta - Eu... vou pra barraca.
— Tudo bem, até a janta!
— Até.
៚
E ela mentiu. Como sempre, mentiu.
Não iria falar com Rick sobre Aliss, nem muito menos sobre os garotos. Não iria passar esse problema para frente, iria simplesmente ignorá-lo, como sempre faz. Só queria se distanciar de algo que lembrava Aliss. Por mais que a Greene apenas quisesse ajudar.
Não era de seu costume ter pessoas se preocupando com seus problemas, muito menos tentando resolvê-los. E tudo que a Anderson conseguia pensar, era a melhor forma de ignorar a discussão, ignorar a briga com os meninos, ignorar o celeiro. Ignorar tudo, até que as coisas sumissem magicamente. Como costumava acontecer.
As palavras de Aliss ainda martelavam em sua cabeça. E como não martelariam? A garota se culpava por se deixar influenciar tão facilmente por essa mulher. Se culpava ainda mais por levar cada palavra daquela maldita loira em consideração, como se realmente fossem palavras racionais.
A vergonha de qualquer mãe. Era isso que ela realmente era? Kenny realmente foi a culpada pela morte de Sophia?
Ela era fraca?
Dúvidas, dúvidas e mais questionamentos. Todos eles batiam subitamente nos pensamentos da pobre criança. Uma menininha, que deveria estar preocupada em brincar, ao invés de estar preocupada com problemas de adulto. Talvez Lori estivesse certa. Não existe mais a verdadeira felicidade. É realmente possível encontrar algo de bom? Nesse mundo?
Mas, no antigo mundo, era possível encontrar a verdadeira felicidade?
Talvez antes, para algumas pessoas a resposta fosse sim. Mas para Kenny, sempre foi quase impossível encontrar essa verdadeira e cega felicidade.
Sempre esteve rodeada de pessoas. Mas se sentia sozinha. Em pensar que se Eliot ou Riggs não estavam presentes, ela passava o dia sem falar com ninguém.
Sempre solitária, arrumando suas próprias distrações. Nunca se importando com o que os mais velhos falavam ao seu respeito. Sempre dependendo de alguém para fazer sua própria "felicidade"
Sempre sendo a velha e clássica Kenny. Então ela percebe, que mudou. Como se uma outra versão de si viesse à tona.
Meses atrás, ela nunca responderia sua mãe, nunca discutiria com alguém importante, ou nunca brigaria com Riggs e Eliot. Talvez por ser uma boa filha ou boa amiga. Ou talvez, pelo medo de fazer isso, e acabar estando realmente sozinha.
O que era irônico. A solidão nunca foi um problema, não até então. Por que agora, estar sozinha poderia significar duas ou uma.
Seus amigos morreram.
Ou seus amigos te odeiam.
Ela queria que eles estivessem bem. Mesmo que isso significasse que eles estariam distantes dela. Mas ao mesmo tempo, seu egoísmo gritava, e a fazia esperar tê-los próximos a ela.
Mas ela era encrenca, certo? Se lembrou do dia que Lori a considerou como ameaça ao seu filho. E talvez estivesse certa. Kenny é uma criança descontrolada. Que não sabe o que quer. Não sabe distinguir o que é certo e o que é errado. E age no impulso. Sendo extremamente influenciável. Nunca teve alguém para educa-la de uma forma decente, e agora, o resultado estava aí.
E ao mesmo tempo que tenta ser um orgulho, fazia tudo possível para ser a pessoa mais desobediente o possível, e se meter em todas as encrencas. Se não fosse por sua curiosidade e impulsividade, talvez sua amiga, a qual ela sequer se lembrava mais, estaria viva.
Talvez ela não teria sido tirada do KERC. Por que não teria ido fuxicar o celeiro.
Talvez ela não teria levado tantas broncas de Aliss.
As vezes, sentia que sua necessidade em provocar sua mãe, fosse apenas um reflexo da carência por atenção que sentia. Sua cabeça estava confusa. Completamente embaralhada.
E para uma criança. Sem rumo, sem valores morais e sem nenhuma figura fraternal. Ela enxergou Aliss como culpada.
Kenny já não conseguia imaginar mais nada com essa mulher. Mas nenhum futuro, nenhum vínculo, nada. Talvez o rumo de acontecimentos repentinos estivesse fazendo-a se precipitar, mas ela não se importava. Estava cansada. Mais do que cansada. Não se importava se a mulher a esquecesse completamente. Se sumisse de sua vida. Se simplesmente desaparecesse.
Começava a pensar que, se só existisse elas duas no mundo, que preferiria viver sozinha pela eternidade. Preferiria ter outros pais do que ter Aliss como mãe.
Preferiria morrer, do que ter Aliss como mãe.
E então. Em seu pequeno e desestruturado coração, um ódio começou a surgir. Ou melhor dizendo, desencadear. E ela começou a enxergar Aliss, como a culpada de tudo.
៚
Lori e Carol ajudavam os meninos a fazerem algumas atividades “escolares” No entanto, os Grimes estavam levemente afastados dos três.
— …o Shane e a Aliss acham que a Sophia tá morta? — Carl pergunta a Lori.
A morena suspira.
— O Shane e a Aliss só estão… com medo.
— Dos errantes no celeiro?
— É…
— Mãe… eu não vou embora até a Sophia aparecer e… não quero ir nem depois disso.
— Não vamos embora. Eu prometo.
O menino se mantém inquieto.
— O que é?
— Você acharia certo se… fizessem o castigo do silêncio com Glenn ou Dale… porque eles não contaram do celeiro antes?
A morena faz uma expressão confusa.
— Não — afirma — Obvio que não. Que tipo se pergunta é essa?
— Promete não contar pra ninguém?
— Prometo.
— Nós quatro… eu, os meninos e a Kenny… Temos um lugar secreto.
— E?
— É como uma sala de reuniões e… O Elliot e o Riggs estão fazendo castigo do silêncio com a Kenny…. por que ela não contou. Na verdade, o Riggs foi na pilha do Eliot, e eu não sei o que fazer.
— Você concorda com isso?
— Não! De jeito nenhum! — ele olha para baixo, decepcionado consigo mesmo — Eu já sabia que tinha algo de errado, eu estou vendo ela sair da barraca todo dia mais cedo a quase uma semana e não disse nada!
— Hm…
— E ainda tem a mãe dela! Parece que ela brigou com ela porque ela não disse e tudo mais! Eu não acho justo ela estar sofrendo um castigo porque tentou proteger a gente!
— Então você deveria falar com Eliot sobre isso.
— Eu tentei! Mas ele não escuta! Ele disse que odeia traidores, e o que a Kenny fez foi uma traição pra ele.
— E você tentou falar com ela?
— Eh…
— Você não tentou, né? — ela sorri, já sabendo a resposta do garoto.
— Não…
— E o que você tá esperando?
— E se eles fizerem o castigo do silêncio comigo?
— Quem liga pra isso? Qual é, eles vão esquecer isso em dois dias!
— Tem razão! — ele se levanta — Eu vou falar com ela!
— Antes, termine sua lição!
— Aaaah!
៚
Shane estava sentado no trator. Em frente ao celeiro. Olhando tudo, e pensando em muitas coisas ao mesmo tempo.
Uma delas, era de fato, o celeiro. Mas outra o intrigava.
Kenny.
Como ela sabia? E o que a fez não contar?
No entanto, seus pensamentos são interrompidos por Rick.
— Que que vai ser cara? Como é que vai ficar essa situação? — o careca questiona.
— Eu não sei ainda.
— Tá e o que Hershel disse?
— Estamos negociando — Rick diz e Shane bufa.
— O tempo tá passando Rick.
— Não. Não está, okay? O celeiro está bem seguro, e ninguém sabia disso até hoje de manhã.
— Glenn sabia. Kenny sabia. E nós sabemos disso agora. Sabe o que sabemos também? Que tem mais de uma dúzia de errantes lá dentro, e que eles estão muito perto do nosso acampamento. Das nossas crianças.
Aliss se aproximava na mata, podendo se juntar à conversa.
— Se vocês estão falando do celeiro, já sabem minha resposta — cruza os braços — Temos que entrar lá e limpar tudo que tem lá dentro.
— E pra isso precisamos das nossas armas!
— Isso não é…
— Vem cá Rick — Aliss vai até ele — Por que você quer tanto ficar aqui? Aqui não é seguro, não é nosso, não tem nada que nos faça querer ficar aqui.
— Aqui não é seguro, mas pode se tornar seguro!
— E como é que você sugere que a gente faça isso? — Shane pergunta.
— A gente pode! Okay?
— Não! A gente não pode, Rick! — Aliss berra.
— A Lori tá gravida!
Shane e Aliss param de falar por um momento. E se entreolham incrédulos.
— Nós temos que ficar!
— Precisamos das armas, Rick!
— Não! Eu já disse! Iremos resolver tudo!
— Isso não é mais como na academia de polícia ou na escola, Rick! Seu bom senso não vai levar a lugar nenhum! Vai acabar matando todos nós! — Aliss diz.
— Talvez você poderia voltar a ser aquela adolescente que não precisa de uma arma para conversar com alguém, Aliss!
— Não temos mais 14 anos!
— Não, nós não temos!
— Ah qual é! — Shane intervém — Vocês agora vão discutir por causa de uma amizade adolescente no passado? Nós três mudamos, okay? Mas... — ele olha para Rick — Parece que alguns para pior.
— Era só o que me faltava — Rick sai bufando.
Aliss bufa alto, se sentando no trator e pondo a mão na cabeça.
— Um bebê — ela questiona incrédula — Como se nada pudesse piorar.
— E um bebê que pode ser meu… — Shane diz para si mesmo, desacreditado.
— Ele é seu.
— An?
— Você realmente acha que a Lori ia engravidar do Rick em tão pouco tempo? — ri sarcástica — Você já foi mais inteligente.
— E você mais dócil — cruza os braços — Pelo menos eu tenho certeza de que Lori não vai fazer o que você fez.
— Eu tinha 22 anos, estava começando minha carreira!
— E jogou uma criança nas mãos da sua irmã e do marido dela.
— Eu não sabia o que estava fazendo.
— E mesmo assim escondeu toda essa história de mim.
— Isso não importa.
— E quando teve ela denovo, continuou escondendo.
— …
— Irônico que eu precisei de um apocalipse pra descobrir que tinha uma filha, não é, Aliss?
— Você têm uma filha? — uma voz infantil soa.
Quando ambos se viram para trás, eles veem Carl.