ᵛᵒᵘ ᵈᵉⁱˣᵃʳ ᵇⁱˡʰᵉᵗᵉˢ ᵖᵃʳᵃ ᵛᵒᶜᵉ̂
ᵃᵇᵃⁱˣᵒ ᵈᵃ ˢᵘᵃ ᵖᵒʳᵗᵃ
ᵃᵇᵃⁱˣᵒ ᵈᵃ ˡᵘᵃ ᶜᵃⁿᵗᵃⁿᵗᵉ
ᵇᵉᵐ ᵖᵉʳᵗᵒ ᵈᵒ ˡᵘᵍᵃʳ ᵒⁿᵈᵉ ˢᵉᵘˢ ᵖᵉ́ˢ ᵖᵃˢˢᵃᵐ
ᵉˢᶜᵒⁿᵈⁱᵈᵒˢ ⁿᵒˢ ᶠᵘʳᵒˢ ᵈᵒˢ ᵗᵉᵐᵖᵒˢ ᵈᵉ ⁱⁿᵛᵉʳⁿᵒ
ᵉ ᵠᵘᵃⁿᵈᵒ ᵛᵒᶜᵉ̂ ᵉˢᵗⁱᵛᵉʳ ˢᵒᶻⁱⁿʰᵃ ᵖᵒʳ ᵘᵐ ᵐᵒᵐᵉⁿᵗᵒ
ᵇᵉⁱʲᵉ-ᵐᵉ ᵠᵘᵃⁿᵈᵒ ᵛᵒᶜᵉ̂ ᵠᵘⁱˢᵉʳ
ᵇᵉⁱʲᵉ-ᵐᵉ ᵠᵘᵃⁿᵈᵒ ᵛᵒᶜᵉ̂ ᵠᵘⁱˢᵉʳ
ᵇᵉⁱʲᵉ-ᵐᵉ ᵠᵘᵃⁿᵈᵒ ᵛᵒᶜᵉ̂ ᵠᵘⁱˢᵉʳ

Sophia não estava lá. Não estava ao seu lado. Um vão sobrava sobre a corda. Um vazio. Mas não era o único lugar que algo faltava.
Kenny sentia que, mesmo que não soubesse como, uma parte dela faltava também.
Ainda confusa com a situação, ela se vira para o lado, e observa os arredores. Mesmo que observasse de longe, não havia nenhum rastro. Nenhum sinal de direção, de caminhar. Como se Sophia tivesse simplesmente desaparecido.
Ela desamarra a corda e começa a torcê-la devagar, e guardá-la na mochila. Seu olhar estava fixo em um pequeno ponto da mata. O qual ela usava para concentrar seus pensamentos ruins.
Sophia havia deixado ela. Essa era a conclusão.
E na altura do campeonato, não era mais Sophia.
Kenny desce da árvore, e bate suas roupas. Lágrimas não escorriam de seu rosto, nem sequer uma gota de frustração. Ela não compreendia o que havia ocorrido ao certo, mas agora tinha que se concentrar em sobreviver.
Por mais que a situação não fosse 100% exata, é fácil supor o que ocorreu, e como ocorreu.
Sophia simplesmente... a deixou. Na calada da manhã ou madrugada, ou até mesmo após a morena adormecer. Mas de fato, a deixou.
Simplesmente partiu, sem um abraço de despedida ou um sorriso final.
Antes de pensar em uma trajetória, ou em algum plano, ela observa o tronco da árvore a qual ela havia passado a noite.
E nela, havia letras.
"Kenny, não tenho um papel para fazer uma carta para você, mas no lugar, tenho uma árvore. O que é bem romântico.
Foi difícil escrever, então, se a letra estiver ruim, desculpe.
Só quero que saiba que eu te amo. Me desculpa por deixa-la, mas eu nunca, nem irracionalmente, poderia matar você.
Então por favor, me perdoe.
Mesmo que você não goste dessa melosidade, você seria uma ótima romântica se quisesse. Talvez devesse praticar.
Agora acho que tenho que ir.
Viva por mim, Kenny.
Com amor, Sophia"
[S + K]
Ela tateia as letras. Especialmente no lugar onde continha as iniciais de ambas.
- Por que você fez isso, Sophia... - encosta a cabeça no tronco - Nós não éramos... Melhores amigas?
Ela sente algo a mais em seu bolso, e quando estende suas mãos para ver, percebe ser o colar de Sophia. O Sol.
- Sol, Lua e Pizza, hm? - sorri de leve - Agora são só Lua e Pizza.
Suspira por um momento, e se afasta da árvore. Marcando uma assinatura também, não delicada como a de Sophia, estava mais como uma pichação de uma pequena delinquente. Como Daryl a chamava.
E lá, realiza sua pequena escritura.
[ Sol e Lua ]
Ela se afasta observando a árvore de longe, e põe sua mochila verde nas costas. Segurando suas correias com força, ela se vira.
E por fim, consegue deixar aquele lugar.
៚
Kenny faz um nó em um tronco de uma árvore fina, e depois um nó em si. Ela decidiu olhar ao redor e decorar todos os caminhos, e tentar se lembrar de onde havia vindo.
E assim fez. Deu voltas e voltas. Uma, duas, seis vezes, e outras mais.
Mas ela não se lembrava. Não conseguia lembrar. Por mais concentrada que ela pudesse estar, estava sendo impossível. Em sua mente, tudo que continha era Sophia, Sophia e Sophia. Nada além disso. Ela não conseguia pensar. Não conseguia ser racional. Não conseguia deixar de ver a imagem da garota em cada esquina. Era como sonhar acordado, mas dessa vez, estava pesa em um pesadelo.
E então, ela parou.
Se sentou em uma pedra. E enquanto amaciava suas têmporas com os dedos. Ela respirava fundo diversas vezes. Tentando lidar com a situação. Ela tinha certeza que acordaria morta, já havia até se conformado com a possibilidade. Mas, para sua surpresa, acordou viva. E sozinha.
Era muita informação pra digerir em um tão pouco período de tempo.
Nunca havia sido enganada de tal maneira. Traída de tal maneira. E ainda sim, não conseguia sentir 1% de raiva de Sophia. A morena pensou, e chegou a conclusão que faria exatamente o mesmo no lugar da loira. Então, seria hipocrisia ficar com rancor da loira.
Mentir para proteger aqueles que ama, hm. Certamente Kenny já pensou sobre isso antes. Mais de uma vez.
Matutava em sua mente a existência de grupos de busca para elas. Ou se apenas foram deixadas à floresta. Sozinhas. Para sempre.
Nunca mais veria Eliot, Riggs, Carl. Nem sequer poderia xingar Glenn por não arrumar o papel higiênico na papeleira. Nunca mais ouvir sua mãe gritar com ela, e nunca mais atirar facas na arvore com Shane. Ainda mais, nunca poder zoar com Daryl denovo. Chamar ele de catinguento ou coisas do tipo.
E quando um misto absurdo de pensamentos moribundos se acumula, finalmente ela se permitiu chorar.
Ela já estava farta de perder pessoas. Farta de estar sempre sozinha no final. Farta de sentir essa dor. Farta de ter uma incerteza constante sobre como seria sua vida.
Aos poucos, ela sentia que a cada dia que se passava, a cada pessoa que ela perdia, mais uma parte dela se perdia junto.
E talvez, nesse ritmo, ela não aguentaria mais. Se continuasse dessa maneira, no final, só restaria mais um ser vazio. O mesmo que um irracional. Restaria apenas o desejo de sobreviver. Ou talvez, nem isso. Talvez apenas a obrigação. Obrigação de estar viva para não magoar aqueles que ama. Mas se ela tinha essa obrigação, porque outros não tinham? Por que os outros não lutavam com unhas e dentes para sobreviver? Por que ela deveria se importar com a dor que causava para os outros, sendo que eles morriam e a deixavam sozinha?
Denovo, denovo e denovo, sozinha.
Joe, Amy, Jim, e Sophia. Quem é o próximo? Riggs? Shane?
Isso é uma pergunta impossível de responder.
Costumam dizer que a morte é a única certeza que temos neste mundo. Mas Kenny estava começando a acreditar que além dela, outra certeza que pessoalmente, ela tinha, é que estaria sozinha.
10 vezes. 10 vezes as quais ela poderia ter morrido. Desde que tudo começou, houveram 10 chances de sua vida se encerrar. De ela estar em paz, de descansar. Mas nestas 10 oportunidades, ela insistia em viver. Seu corpo insistia em lutar, todas as vezes.
Poderia facilmente brincar que era imortal, ou que a vida gostava muito dela, ou a odiasse bastante para fazê-la viver todos os sofrimentos que sofre.
Mas, já que a vida reuniu mais uma oportunidade, por que não aproveitá-la e achar seu grupo?
Ela controla seus devaneios. Controla suas lágrimas. As enxuga com frieza, como se as mesmas nunca tivessem existido, e segue seu caminho.
As árvores densas, recheadas de galhos, tapavam grande parte da luz solar, tornando difícil ter noção do tempo. Mas uma certeza que a morena tinha, é que independente da hora, estava cansada.
Então, fez o que melhor sabe fazer, subir em árvores. Se amarrando no galho de uma, ela se lembra dela, de novo. Mas segue em frente.
Por um momento, tenta recordar de onde seu amor por subir em árvores surgiu, mas sua memória é vaga. Vaga demais.
Seus olhos começam a pesar, e aos poucos, seu corpo também.
៚
De pernas para o ar.
Literalmente.
A morena acorda e desde já sente algo estranho. Diferente. Como se o mundo tivesse virado de cabeça pra baixo. Mas não no sentido figurado.
Ela tenta se apoiar em algo para virar sua cabeça para cima, e ver o por que estava daquele modo, mas via que estava amarrada, no tronco, de cabeça para baixo.
Como diabos ela chegou naquela posição era impossível saber, porém o que ela também não sabia, era como se soltar.
Tentando mover os braços em direção ao tronco o qual ela deveria estar sentada, ela consegue agarrar com um dos braços, já sentindo um forte atrito entre a madeira e sua pele, devido a força que estava fazendo para seu braço não soltar o tronco.
Com muito esforço, ela tenta direcionar o outro braço, mas é em vão. Seu tronco estava devidamente amarrado. Amarrado até demais, então, a única opção seria cortar a corda.
Tateando seus bolsos, ela acha sua faca facilmente. Por um segundo, parar para analisá-la, e percebe o quão útil os ensinamentos de Shane foram. Por mais que pequenos.
Começa a sentir pequenos turvares em sua vista, e percebe que o sangue já estava subindo à sua cabeça. Concluído que o melhor a se fazer era sair o mais rápido possível aquela situação.
Ela corta uma das voltas da corda, e rapidamente sente seu corpo despencar, mas havia apenas uma sensação de leveza. Devido ao corte, de um dos nós - que eram três - ela se sentiu mais próxima da liberdade. E agora, iria para o segundo nó.
Passando sua faca por ele, teve de fazer certa força para cortar, visto que estava mais longe de seu tronco.
Agora, o último nó. E agora, Kenny deveria pensar não só em se soltar mas também em como cair. Se ela caísse daquela forma, bateria com a nuca no chão, e provavelmente daria muito, muito errado.
Entretanto, não havia outros pensamentos disponíveis em sua mente. Não quando ela já estava ocupada por uma certa pessoa. Então, ela opta por ir no improviso.
Respira fundo, e corta o último nó.
E como imaginava, o inevitável aconteceu, e ela despencou da árvore.
Por sorte, enquanto caia, conseguiu apoiar seu braço na árvore, e suas unhas cravaram profundamente no tronco robusto e rígido, diminuindo o impacto. Porém ainda sim, quando bateu forte ao chão, toda a dor foi dividida igualmente pela sua cintura. E ainda mais, em sua cabeça.
Ainda zonza pelo baque, ela, ainda deitada no chão, observa suas mãos.
Suas unhas sangravam, e sua mão também.
Ela sente uma leve pontada na cabeça, e depois, tudo fica escuro.
៚
- AH! - Uma flecha surge ao seu lado, fazendo-a acordar - MAS QUE MERDA...? - se levanta bruscamente.
A menina se senta no chão rapidamente. E consegue sentir uma ardência enorme em suas mãos, mas desvia a atenção, para a flecha.
Era uma flecha preta com a ponta verde, e a morena reconhecia bem essa flecha.
- DARYL?!
- KENNY?! - a morena ouve uma voz soar próxima, mas sua visão ainda estava confusa.
Ela põe a mão sob a cabeça, ainda zonza. Acreditava ser uma miragem, ou um sonho extremamente lúcido. No entanto, essa possibilidade é descartada ao sentir seu corpo ser aconchegado por um quente e caloroso abraço.
Ainda não conseguindo ver quem a abraçava, ela apenas dá dois tapinhas nas costas daquele que acreditava ser seu salvador.
- Você ta viva... - uma voz trêmula soa - Você ta viva! - suspira - Achamos você! - as mãos robustas batem de encontro com os ombros de Kenny, fazendo-a ver quem estava lá. Era Daryl.
- Vocês vieram! - ela abraça ele novamente, mas dessa vez, em um abraço desesperado, como se acabasse de ver alguém morrer, e depois ressuscitar.
- Sim, viemos - ele solta um assobio para a mata atrás dele, e de lá, saem Rick, Shane, e o resto do grupo.
- Kenny! - Riggs e Elliot gritam em unisom, e correm até a menina. As soltando dos braços de Daryl, e a abraçando-a apertado.
Os dois amigos choravam nos ombros da menina, e Elliot murmurava palavras como "Não faz essa merda de novo" e também "Eu achei que você tinha morrido, idiota".
Quando eles a soltam, é a vez de Shane ir até ela, ele a ajuda a levantar o chão, e a ajuda a caminhar para perto de todos os integrantes.
- Kenny! - ela escuta a voz de Rick, que agora a abraçava também. O homem se ajoelha diante dela, com seu olhar de arrependido, e começa a se desculpar.
- Me perdoe por deixar vocês na mata, me perdoe por não conseguir cuidar de vocês, me..
- Ei Rick, acho melhor levarmos ela primeiro pro acampamento - Shane sugere, ainda sorridente pela volta da menina.
- Sim! Ela precisa descansar - diz Riggs.
- Certo, vamos lá.
A menina dá pequenos passos até Riggs e Eliot e segura suas mãos, se pondo entre os dois. E agora, os três caminhavam juntos até o acampamento.
Segundo Daryl, eles haviam saído pela manhã apenas para rever os rastros, mas acabaram achando novos. E um errante morto, o que os fez acreditar que as amigas ainda estivessem vivas.
Nenhum deles pergunta sobre Sophia. Não sabiam o que havia acontecido, mas não queriam destruir os vestígios de felicidade genuína da garota e de seus amigos.
No caminho para o trailer, ela contava para os meninos que passou a noite amarrada em uma árvore, e como matou um errante.
Quando se aproximam mais, Glenn, que estava usando seu binóculos, observa o grupo. Quando percebe que lá havia uma pessoa a mais, ele desce imediatamente do teto do trailer e corre até eles.
Ele abraça a menina, a tirando do chão, com um sorriso e incontestável no rosto. A partir desse reencontro, todos do grupo se reúnem.
Estavam felizes por ter achado a garota, que agora estava com um curativo sendo feito em mãos por Dale. Entretanto, alguém não parecia 100% despreocupado diante dessa situação.
- Kenny... o que houve com Sophia? - Carol pergunta ao lado da pequena.
- Sophia? - a morena olha para grisalha - Quem é Sophia?