ʀɪᴍᴏs ᴀᴛᴇ́ ᴘᴇɴsᴀʀ ϙᴜᴇ ᴠᴀᴍᴏs ᴍᴏʀʀᴇʀ, ᴅᴇsᴄᴀʟᴄ̧ᴏs ᴇᴍ ᴜᴍᴀ ɴᴏɪᴛᴇ ᴅᴇ ᴠᴇʀᴀ̃ᴏ. ᴇ ɴᴀs ʀᴜᴀs ᴄᴏʀʀᴇᴍᴏs ʟɪᴠʀᴇᴍᴇɴᴛᴇ, ᴄᴏᴍᴏ sᴇ ғᴏssᴇ sᴏ́ ᴠᴏᴄᴇ̂ ᴇᴜ.
ɴᴏssᴀ, ᴠᴏᴄᴇ̂ ᴇ́ ᴀʟɢᴏ ᴘᴀʀᴀ sᴇ ᴠᴇʀ.
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7 anos antes do apocalipse. O antes,
sem medo, e sem a previsão futura de que o
mundo estaria acabado.
Naquele vasto gramado, caminhava com um pé após o outro, a pequena garotinha com suas botas amarelas, pulando de poça em poça que compuziam o vão entre a grama e as pedras.
Em sua mão, ela segurava um pedaço de barbante, conectado à uma latinha de milho em conserva vazia, a qual ela chutava para frente. O que para uma garota de 6 anos entediada, conseguia ser a maior diversão do mundo naquele momento. Era seu brinquedo favorito, sua mãe havia feito, por isso, possuía significado.
Enturmar-se em um novo ambiente nunca é fácil, ainda mais quando um lar estável nunca é algo que a garota um dia pode conhecer. Contudo, a portadora dos cabelos castanho-avermelhados, sentia-se positivamente ansiosa com cada "recomeço" ao seu redor.
Tentava se lembrar de algumas das instruções de segurança de sua mãe, precauções que a mulher preferia esclarecer. Contudo, uma perda de memória repentina afetava a pequena constantemente. Algo que já era rotineiro, esquecer regras, informações, lembranças importantes, ainda mais quando se trata dos anos em que era menor.
Não se lembrava de ter amigos duradouros, uma casa de verdade, ou sequer nenhuma lembrança de seus parentes; Contente com isso ou não, ela tentaria superar essa questão, afinal, estava em um lugar novo, tempo de recomeço.
“O Centro Comunitário de Atlanta”
6 anos antes do apocalipse. 1 ano
morando em uma comunidade
rodeada do maior leque de
pessoas desprovidas e necessitadas
da cidade.
— O que? — questionou sem tirar as mãos do carrinho qual tentava (miseravelmente) concertar — É claro que não, senhor Doodles! — retruca para o ursinho de pelúcia em formato de raposa que estava logo atrás de si — Eu não vou jogar esse carrinho fora! - aperta o veículo de plástico - Não antes de ter certeza que...
As rodas do carrinho produzem uma auto-ejeção, arremessando-se a caminho da liberdade, sendo assim, bem distante da garota.
— Quer que eu te jogue fora? - olha ameaçadora para o carrinho desprovido de rodas - Tabom então — bufa em desistência, jogando o carrinho para longe e se deitando na grama. Depois de assistir Toy Story, ela nunca forçaria um brinquedo a ficar com ela.
O cheiro das flores surte um misto de cheiros agradavelmente alergizantes para menina, que puxa a manga de seu casaco para assoar as narinas que escorriam com o pólen invasor.
Por mais que as alergias a atrapalhasse de coexistir com o ambiente, o jardim do C.C.A ainda conseguia ser a parte mais bonita e esplendorosa de toda a expelunca qual morava. Era de se impressionar que, um lugar onde nem os ratos querem morar, poderia ser lar de tantas espécies de flores.
A brisa gélida bagunçou os cabelos castanhos, e o Sol, por sua vez, mal iluminava seu rosto avermelhado. Os prédios altos que formavam em suas estruturas conjuntas um "O", permitiam que a única iluminação natural viesse do Sol do meio dia, que fica bem ao centro do jardim.
A melodia cotidiana era composta pelo barulho alto e rudimentar das máquinas da fábrica ao lado, as senhoras fofoqueiras jogando truco na área de recreação, crianças correndo e chorando porque seus pais foram comprar cigarro e nunca mais voltaram, e esposas jogando roupas de seus ex maridos pelas varandas. Ao redor de tantas pessoas, a pequena garota se sentia solitária, ao ver que dentre tantos barulhos, nenhum era seu.
Mas mesmo silenciosa, sua fama era tamanha. Não por ela, mas por sua mãe. Aliss Anderson. Todos a conheciam como uma ex-policial, era a mulher que botava as coisas em ordem quando os homens chegavam bêbados dos jogos de futebol. Em uma comunidade de necessitados, todos se ajudam. O que sustentava essa "fama" de Aliss, era seu jeito nada convencional de ajudar as pessoas.
Chutes, pancadas, cadeiradas, gritaria, autoritarismo e as vezes um pouco de preconceito, compuziam os adjetivos que descreviam a "Mulher do Bloco B"
As crianças, que escutavam os murmurinhos dos pais, concluíram que a menina possuía o mesmo temperamento da mãe. Por isso, se mantinham o mais afastados possível. Isso não magoava a garota de 6 anos. Tal desconfiança, a fazia sentir-se protegida e intocada por uma má reputação que nem era dela.
— Ei! - uma voz irritante soa em sua direção - Seu carrinho caiu na minha pipa — o menino reclama, parando em frente ao corpo deitado da garota.
— Eu nem taquei tão longe assim — responde enquanto se senta na grama, com uma careta — Ele tomou vida própria, aprendeu a voar.
— Isso aqui não é Toy Story — ele revira os olhos enquanto se senta ao lado dela de forma desajeitada, jogando o carrinho pra longe mais uma vez — Uma vez, eu tentei usar a torradeira da minha mãe, e uma torrada voou no meu rosto — ela franze as sobrancelhas — Bem aqui! — aponta para própria testa.
- Por que ta me contando isso? - não conseguia entender o porquê alguém falaria com ela por pura e espontânea vontade.
- Porquê foi engraçado.
Ela ri da objetividade do rapaz.
— Bom, pelos menos não foi uma bola de futebol que caiu em você.
— Uma bola de futebol? Uou! Onde foi?
— Bem aqui! — a morena aponta para o próprio ombro com um sorriso no rosto, e o garoto a encara boquiaberto - O Antônio do bloco E que fez em mim, ele disse que foi sem querer, mas aposto que foi sem querer querendo!
— Com certeza foi sem querer querendo!
Mostraram outros roxos e cicatrizes recentes, apontaram lugares de quais eles já caíram, pessoas e meninos com quem já haviam se desentendido, e conversaram sobre como Toy Story poderia soar como um filme de terror para crianças específicas. Tudo que sabem, é que depois desse dis, tornaram-se melhores amigos.
2010.
1 semana antes do apocalipse.
— Eu ainda nem sei como você consegue ficar de pé depois daquela corrida — disse Riggs, o moreno dos dentes tortos, colocando um prato devidamente limpo na pia a qual a morena lavava louça, algo que ela detestava, e era justamente por isso que ele insistia em fazer isso - A Mariana quase fez você engolir poeira.
— Correr é meu forte, aquela fedorenta nunca ia ganhar de mim — ela sorri para ele, fecha a palma da mão em uma conchinha, a mergulha na água e arremessa nele — Eu posso até ter perdido, mas só foi porque o Eliot me desconcentrou.
— Ahan, sei — dá de ombros enquanto pega uma caixa de cereal na parte superior do armário da cozinha — Inclusive, o Eliot anda meio bravo com as pessoas por aqui, soube dessa? — diz encostando os braços na bancada enquanto mordisca pequenas bolinhas de cereal.
— Me diz algo que seja uma novidade — revira os olhos — É o lance com os meninos denovo? Eles já saíram do reformatório? — continuo a lavar os pratos.
— Não, e não — arremessa uma bolinha de cereal na própria boca — É melhor a gente perguntar para ele, sei lá — coça o nariz — Ele tava meio estressado com as coisas da escola — faz aspas com as mãos — Acho que esperar ele esfriar a cabeça pode ser melhor.
— Podemos fazer isso então — diz secando as mãos após terminar de lavar a louça, e olha as horas em seu relógio — Tenho que ir.
- Mas já? Você nem me ajudou a arrumar minha casa toda - ele faz uma cara manhosa, se derretendo pelas paredes.
- Para de preguiça Riggs, eu tenho mais oque fazer - revira os olhos, pegando suas chaves - Manda um beijo pra sua mãe.
— Tá bom - o garoto diz, esticando as palavras.
A incógnita de Elliot rodeou os pensamentos da menina enquanto ela caminhava pelos corredores. Não era difícil ver o menino bravo ou estressado, difícil mesmo era ver ele esboçando alguma outra categoria de humor, como se o seletor de emoções dele tivesse sido limitado a caras feias e resmungos. Ao menos para morena, ela acredita só o ver calmo quando está entre amigos. Onde talvez, ele consiga acalmar os ânimos. No entanto, não é muito anormal não estar nos piores temperamentos ultimamente. Não quando o mundo estava sendo constantemente ameaçado de acabar.
Coisas estavam acontecendo nos arredores dos continentes, coisas que nunca havíam sido vistas ou presenciadas antes, algo que as pessoas não sabiam lidar. Seres humanos comendo uns aos outros? Uma piada. É só isso que poderia ser. Uma pura e total piada de mal gosto vinda diretamente dos países asiáticos (isso o que a parte racista do Bloco A dizia)
Grande parte da comunidade, ou pelo menos, os que acreditavam na baboseira, até se sentiam seguros em relação a esses boatos, afinal, morávam em um abrigo, o suposto lugar mais seguro o possível.
Contudo, para Kenny, dizer "grande parte da comunidade", incluía sua mãe, que vinha a cada dia nervosa com tais acontecimentos. E ao dizer isso, também englobava todas as outras pessoas que compartilham desse lugar conosco. As pessoas da comunidade, o lar reservado àquelas famílias com extrema dificuldade financeira, ou, parentes portadores de alguma deficiência de mobilidade, ou cognitiva, ou até, reabilitação, na maioria dos casos.
Na teoria, é um lugar incrível, uma iniciativa bacana, buscando inclusividade e ajudando aqueles sendo desprovidos dos bens maiores da sociedade, entretanto a prática se tornava algo assustadoramente diferente. Nunca passou de um projeto mal terminado. Alguns prédios, sequer tem paredes ou portas que dividem os cômodos. Como Elliot costumava dizer; o muquifo dos homens, mas o paraíso das baratas.
Diversos viciados, não desapegados aos seus vícios, viram aqui uma forma de deixar seus filhos ao mundo mesmo sem condições para criá-los, entretanto com a desculpa de um lar perfeito. Como uma válvula de escape, descartando suas crianças feito lixo.
A morena gostaria de se destacar nesse aspecto, como o Riggs conseguia fazer. Mas, infelizmente, ela não era muito diferente nisso. Sua mãe, após ser demitida da polícia, tornou-se uma ex-viciada e vendedora de drogas. Este lugar foi o que ela encontrou como definitivo lar. E o único qual Kenny conseguia se lembrar.
Ela já vendia suas drogas antes mesmo de ser afastada de seu cargo na polícia, não era denominado um tráfico em massa, mas era sim, tráfico, e ajudava a suprir seus luxos, e, bem, pagar as contas. Já que o dinheiro da delegacia não parecia ser suficiente para uma cadete que engravidou de um oficial.
Aliss nunca quis ser mãe, e também, nunca escondeu isso. Sempre agindo da forma mais transparente possível, deixando claro que foi apenas um mero -acidente- durante o fim da adolescência, o qual descobriu tarde demais para dar um fim. Desde sempre fazendo pouco caso. Todavia, seu motivo de começar a traficar, foi por Kenny. Ou pelo menos era isso que ela dizia para justificar suas vendas.
Nem tudo é um mar de rosas. E como a justiça tarda mas não falha, os crimes de Aliss foram descobertos, mas por sorte, ela conseguiu se livrar da prisão com ajuda de um amigo policial encarregado do caso.
Gradualmente, os fundos que foram juntados para emergência, passaram a ser usados como principal fonte de renda, a venda das drogas já não ajudavam o bastante. Tudo que a morena se lembra, é de um dia acordar em outra cama e ter suas coisas sumidas.
A mudança havia acontecido, e agora, sete anos depois, elas continuavam no mesmo lugar.
Capítulo Introdutório