◇ Capítulo 70 ◇
◇◇ O QUE ESPERAR DO QUE VOCÊ JÁ ESTÁ ESPERANDO ◇◇
POV AUTORA
Não se sabe quanto tempo, ao certo, ela ficou desmaiada. Apenas que parecia ter sido um logo e torturoso tempo para Steve, o mesmo não teve outra ação ao não ser levar sua esposa para o hospital mais perto. Obviamente que o capitão da Segunda Guerra Mundial estava completamente surtado, não era nenhum pouco acostumado a situações como essas e tampouco sabia como agir.
Talvez a pressão que ela sofria nos últimos meses tivesse atingindo um pico impossível de suportar e o resultado foi esse, seu corpo e mente desejavam descanso em meio a tudo isso e agora que poderia fazer isso, não houve hesitação de sua parte mesmo que não fosse em momento que propício. Sua visão ficou turva, as pernas bambas e a vontade de fechar os olhos era gigantesca até que o fez sem pensar duas vezes.
Steve se encontrava sentado em uma poltrona ao lado da cama de sua esposa. O quarto do hospital era totalmente branco em um nível desconfortável, a janela fechada mas um pequeno raio de sol invadia o recinto pelo vidro, no entanto isso não o impediu de continuar ali esperando ansiosamente pelo momento que ela fosse acordar. Segurou sua mão com cuidado para não mexer no acesso do soro ligado a sua veia, seus olhos azuis focados em sua forma adormecida. Sem saber quanto tempo passou, Sam e Bucky estava na recepção com Pepper e não havia quem os tirasse dali.
Atmosferas de hospitais nunca eram as melhores. Todos que entravam não viam a hora de sair e não voltar tão cedo, mas Steve também não se importou com isso, ficaria o tempo necessário até ver os olhos de Katie se abrirem novamente.
- Olá, Sr. Rogers - Steve se virou rapidamente ao escutar a voz às suas costas.
Suspirou aliviado ao ver a mulher de jaleco. A médica andou sorridente até cama de Katie, pegou uma prancheta afixadas aos pés da cama e leu silenciosamente a ficha da morena. Aquilo deixou Steve ainda mais impaciente do que já estava, se é que isso é possível.
- O que ela tem? É muito sério? - perguntou ele, movendo involuntariamente sua mão para a barriga dela.
- Nada sério e nada com o que deva se preocupar - tranquilizou a médica - Os exames de sangue já ficaram prontos e posso afirmar com toda a certeza do mundo que os dois estão perfeitamente bem.
Por um momento ele não pareceu entender as palavras da médica, a encarou com uma expressão confusa.
- Desculpe, mas eu não estou...
- Sua esposa está grávida, Sr. Rogers. - simplificou a médica. - De duas semanas para ser mais exata, meus parabéns.
Definitivamente o Capitão América chegou em um ponto que era impossível proferir qualquer frase coerente que fosse, sua mente não o acompanhava da forma correta. Continuou boquiaberto por vários segundos ainda assimilando o que ouviu e quando a notícia finalmente pareceu ter chegando ao seu cérebro que as emoções vieram todas de uma única vez: um sorriso acompanhado pelas lágrimas, a vontade imensa que tinha de abraçá-la se ela estivesse acordada.
Depois do Soro do Supersoldado, Steve nunca pensou que formaria uma família e que seria feliz com alguém que amasse tanto. Tinha uma visão de futuro quando era apenas um garoto magricela cheio de problemas de saúde, depois uma outra visão quando foi introduzido ao soro e uma terceira visão quando encontrou Katherine pela primeira vez. Mas agora, diante daquela situação onde a notícia que seria pai caiu em seu colo, ele viu a quarta visão do futuro, aquela que ele não imaginava o quanto desejava em seu interior.
O menino que apanhava de valentões nos becos do Brooklyn e que foi escolhido para ser o defensor da América, agora se tornaria pai. Ele ainda estava tão absorto com essa notícia que nem ao menos viu quando a médica deixou o quarto ou quando Katie se mexeu e finalmente abriu os olhos.
- Eu detesto hospitais - resmungou ela - O que eu estou fazendo aqui, Steve?
- Você desmaiou, mas está tudo bem agora. Não foi nada grave - Steve sorriu, se aproximando da mulher antes de despistar um beijo carinhoso em sua testa.
- Então porque você está com essa cara? Os médicos descobriram alguma outra anomalia dentro de mim? - Katie perguntou.
- Não, nada disso. Você está ótima, perfeita como sempre.
- Se eu estou perfeita como sempre porque você está com essa cara de choro?
- Você está grávida, Kat.
Ela demorou alguns minutos até que a realização lhe atingir por completo. A mão de Steve continuava em sua barriga com leves carinhos.
- Quer dizer que tem um pequeno ser humano dentro de mim? - murmurou Katie, com os olhos marejados.
- É, na teoria ele é bem pequeno - Steve sorriu.
- Eu sei o tamanho de um bebê, Steve - ela respirou fundo, olhando para sua barriga ainda sem o volume que em alguns meses seria imenso - Tem um bebezinho dentro de mim, o nosso bebezinho.
- Eu te amo muito - murmurou ele, se colocando na cama junto à ela. Sem se importar com o espaço estreito.
- Eu também te amo - Katie inclinou a cabeça para o lado, descansando sobre o ombro do marido - Será que vamos dar conta?
- Vamos ter que aprender juntos - disse Steve.
- Eu sei uma coisa ou outra quando eu cuidava da Morgan bebezinha. - Katie acariciava sua barriga por cima do tecido fino de sua camisola hospitalar.
- Você vai ser perfeita como mãe, eu tenho certeza disso - ele a encarou com os olhos brilhantes e cheios de amor.
- Podemos treinar com o Sam e o Bucky - sugeriu ela com uma risada. - Não há muita diferença entre eles e uma criança.
- Ah, isso eu não posso discordar - Steve entrelançou seus dedos sobre a barriga.
Acabara de criar o hábito de não tirar a mão daquele lugar, a sensação era perfeita.
Katherine tinha noção de que era muito cedo para sentir qualquer coisa em relação ao bebê, mas isso só aumentou a necessidade dela de ver sua barriga crescer e então pegar seu filho ou filha no colo.
Uma batida na porta havia tirado o casal de seus pensamentos, Steve olhou para a mulher embusca de confirmação antes de autorizar a entrada. Três pessoas entraram repletos de balões e ursinhos de pelúcia em mãos, sorrisos e gritos animados vierem de Bucky, Sam e Pepper.
- Sua médica nos contou a novidade - Pepper toda chorosa se aproximou da cama, envolvendo a filha em um abraço caloroso - Querida, estou tão feliz por vocês.
- Fizeram uma visitinha na lojinha do hospital? - Steve perguntou rindo ao ver a dupla de amigos carregando um conjunto exagerado de balões cada um.
- Claro, meu afilhado merece isso e muito mais - Bucky disse, sorridente.
- Seu afilhado? - Sam repetiu, se voltando para o amigo com a sobrancelha arqueada.
- Ah, não, vocês não vão brigar por causa disso - Katie os repreendeu.
- Então, vai ser menino ou menina? - Barnes perguntou, ansioso.
- Buck, ela está com duas semanas - respondeu Steve.
- E isso significa o que?
- Que o bebê está menor que o seu cérebro - Sam falou em voz baixa.
- Escuta aqui, seu...
- Eu quero os dois calados, agora. - Katie ordenou.
Imediatamente os dois homens se silenciaram, mas ainda se encaravam como se quisessem matar um ao outro apenas dessa forma. Apesar disso, das discussões frequentes que envolviam aqueles dois, Katie tinha a certeza que eles fariam qualquer coisa pelo bebezinho que ela esperava.
Seu filho teria a família mais disfuncional possível, mas ainda assim seria imensamente amado por todos.
◇◇◇
Quando recebeu alta e chegou em casa, Katherine foi direto para o banheiro. Necessitava de um banho urgentemente para tirar qualquer resquício do hospital que poderia estar em seu corpo.
Agora seria um momento apenas dela, o momento em que Katie poderia olhar para si mesma e imaginar quando sua barriga começar a crescer e a sensação de carregar um ser vivo em seu corpo era imensamente satisfatório.
Katie sentou no chão gelado do box com a água quente escorrendo por suas costas, as mãos continuavam esfregando sua barriga e ela tinha a impressão que não pararia tão cedo. Mesmo com essa felicidade, mesmo com todo o amor que poderia sentir agora, ela ainda se preocupava. Era inevitável, afinal, aquele sentimento poderia não ser o ideal em um momento tão bom quanto aquele mas não poderia ser diferente.
Além de se preocupar com o seu marido, com sua família e amigos, agora tinha mais um acréscimo que a faria passar noites em claro. O bebê já era a coisa mais preciosa que Katie poderia ter, não negaria nada a ele e tampouco hesitaria em tomar medidas drásticas em prol de sua segurança. Sabendo disso, ela começava a sentir angústia de imaginar o mundo dali para frente, não era um lugar seguro mesmo que tentassem ao máximo manter qualquer risco longe, mesmo assim havia perigos rondando eles a cada passo.
Katie herdou os inimigos de seu avô e de seu pai, da mesma forma que Morgan também os herdou, era quase como uma maldição, havia números infinitos de pessoas que os odeiam, pelo menos um inimigo a cada esquina.
Katherine não queria isso para o bebê, não para o seu filho.
- Katherine! - ouviu a voz de seu marido gritando do outro lado da porta.
- Estou bem, querido! - gritou de volta.
Tinha suas inseguras, era normal para uma mãe de primeira viagem, mas elas estavam ali e atormentariam nos nove meses que tinha para enfrentar. Katie adorava crianças e também possuía uma certa experiência em cuidar de bebês quando passava seu tempo com Morgan. Mas a diferença era clara, Morgan é sua irmã e não filha, quando tiver o seu bebê em mãos braços ela sentirá claramente a mudança: Não seria o bebê de outra pessoa que cuidaria, seria o seu.
Quando percebeu que havia passado muito tempo desde que ligara o chuveiro, ela decidiu que era hora de sair. Vestiu uma camisola e penteou seus cabelos, deixando-os secar naturalmente. Assim que saiu do banheiro, ela viu Steve parado em frente à cômoda procurando por um blusa.
Ele abriu um sorriso ao vê-la.
- Achei que iria ter que tirar você lá de dentro - comentou em tom de brincadeira.
- Eu estava pensando e acabei perdendo a noção do tempo - Katie falou arrastando-se para a cama em meio aos vários travesseiros.
- No que você estava pensando? - perguntou Steve, alcançando uma camiseta qualquer entre as outras na gaveta e a vestiu antes de se juntar a sua mulher na cama.
- Nosso filho não vai crescer em um mundo seguro, Steve - Katie murmurou, pensativa.
- Kat...
- Esse lugar está cheio de perigos e coisas que podem machucá-lo, eu não quero que o nosso bebezinho veja as coisas ruins que esse mundo ainda tem.
- Querida, não vamos deixar nada chegar até ele - Steve prometeu, segurando suas mãos - Eu também sinto medo do que o nosso filho possa ver ou sofrer, mas não vamos deixar nada de ruim sequer pensar em encostar nele ou nela.
- E se eu ser uma péssima mãe? - indagou ela, visivelmente muito nervosa.
- Você já se viu cuidando da Morgan e do Peter? Querida, é impossível você não ser uma boa mãe.
- A única figura materna que eu tenho é a Pepper, a minha mãe biológica literalmente me odeia.
-E a Pepper não é suficiente? - Steve sorriu e a puxou, fazendo a morena deitar com a cabeça em seu peito. - Você será uma mãe incrível.
- O bebê podia ter os seus olhos - Katie comentou, sonhadora.
- Se ele já tiver a sua inteligência e a sua beleza, por mim já vai ser sufciente. - disse Steve.
Katherine fechou os olhos e podia ter o vislumbre perfeito do rostinho do bebê, como ela queria que fosse. Não importava se era menino ou menina, Katie queria aquela criança mais do que qualquer outra coisa.
Não era segredo para ninguém que durante a noite, ambos sonharam com o bebê. Foi a melhor notícias que eles poderiam ter recebido em meio à tanto caos que os rondava diariamente, saber que existia uma pequena vida dentro de Katherine e que essa vida estaria correndo pela casa em alguns anos, já era motivo para uma felicidade gigantesca.
A maioria dos momentos, Katie se encontrava parada e pensando no que sua vida se transformaria em alguns meses. Se viu tendo que colocar de lado, pelo menos por enquanto, a ideia de unir uma nova equipe de Vingadores. Mas também com isso poderia ter a certeza que seus tormentos em relação à Elena iriam se intensificar quando a notícia de sua gravidez chegar até ela.
E Deus proteja Elena se ela pensar em chegar perto do bebê...
◇◇◇
Na manhã do dia seguinte, Sam e Bucky não amanheceram no apartamento como de costume. Ambos foram atrás de Zemo, era literalmente um tiro no escuro que eles queriam arriscar, apesar de estarem sem nenhuma pista real do paradeiro do Barão. Óbvio que Katherine não gostou nenhum pouco dessa ideia dos amigos, tentou convencê-los do contrário logo cedo mas foi a mesma coisa que nada, estavam decididos e não voltariam atrás.
- Amor, você quer ovos mexidos ou omelete? - gritou Steve, da cozinha.
- Mexidos - respondeu Katie com os olhos fixos na televisão - Você está preparando o café?
- Ovos eu sei preparar - disse Steve.
Ela estava indo muito bem desde que acordou, sem enjoos ou tontura. Mas até o cheiro dos ovos sendo preparados na frigideira chegar até o seu nariz.
Seu estômago revirou desgostosamente, uma forte sensação de náusea lhe atingiu a fazendo correr em direção ao banheiro. Quando chegou ao pequeno cômodo, ela vomitou tudo o que tinha e até o que não tinha na privada.
- Tudo bem, querida, eu sei que não sou um bom cozinheiro mas você nem chegou à provar os ovos - brincou Steve, ajudando a mulher a levantar e dando descarga.
-Foi o cheiro - disse Katie com uma careta.
- Vai ser assim por nove meses?
- Não sei, Steve. Quer desistir? - perguntou ela abruptamente.
Ele não ficou em choque com a mudança repentina de humor, sequer vacilou o sorriso que havia no rosto.
- Desculpa - Katie murmurou, esfregando os olhinhos - Eu não quero ser uma grávida chata com um humor diferente a cada dois minutos.
- Nem se você tivesse múltiplas personalidades durante nove meses eu iria desistir - disse Steve baixinho, segurando as laterais de seu rosto e implantando um beijinho em sua testa. - Está bem para tomar um pouco de café?
- Posso ter uma rosquinha? - Katie perguntou com os olhinhos brilhando.
- Rosquinha?
- É. Aquelas coloridas e fofinhas, cheias de granulado por cima.
- Donuts. Você quer Donuts?
- Esse mesmo - Katie balançou a cabeça repetidas vezes com um sorriso. - Pode pegar para mim?
- Claro - Steve não hesitou em concordar.
Katherine não lembrava ao certo quando pôde parar e ter um momento tranquilo com Pepper, normalmente seus planos eram adiados ou cancelados em cima da hora por algum imprevisto que surgia inesperadamente.
A praça de alimentação do shopping não estava cheia então puderam tranquilamente encontrar um lugar desocupado. Morgan comia um hambúrguer com batata frita enquanto Katie terminava seu refrigerante, Pepper falava alguma coisa a qual não chegava aos ouvidos da morena cuja a atenção estava totalmente voltada para um mulher com barriga de grávida sentada a poucos metros de onde elas estavam. A moça deveria estar beirando os nove meses, se é que já não estava na reta final de sua gravidez.
As vezes, sem perceber, Katherine se pegava esfregando sua barriga em gesto carinhoso. Mesmo que o bebê ainda não estivesse formado e demoraria para isso acontecer, mas era tão instintivo de sua parte que fazia e nem se dava conta. Ela estava notoriamente muito ansiosa e feliz com a novidade recente e não podia esconder isso.
- Você está me ouvindo, Katherine? - indagou Pepper, estalando os dedos em frente ao rosto da morena.
- Claro que estou - respondeu a mulher.
- Não está, não. E eu sei no que está pensando. - a mais velha repôs um sorriso carinhoso.
- Só espero que nada estrague o que eu estou sentindo - Katie suspirou, roubando uma batata frita da bandeja de Morgan.
- Por que diz isso? - Pepper franziu o cenho.
- Bem, ultimamente nada parece colaborar e todos os dias aparecem pedras no meu caminho.
- Por que a partir de agora você não se concentra apenas no bebê e esquece do mundo lá fora? Você precisava viver seu mundinho com o Steve e deixe o resto para as outras pessoas resolverem.
- O meu mal é me preocupar com os outros, não é?
- Não, Kat. O seu mal é se preocupar com os outros e nunca com você mesma.
Katherine permaneceu em silêncio, considerando as palavras de Pepper. De fato havia uma certa verdade nisso, ela nunca parou para pensar em si mesmo, nem que fosse por pouco tempo. Isso significava que, pela primeira vez, Katie tinha que pensar em si.
- Steve conseguiu um emprego no Museu, na seção sobre a Segunda Guerra Mundial - ela contou - Quem melhor que ele para isso, não? É estranho não tê-lo em casa o dia todo, mas Steve gosta de contar histórias da década de 40 e as pessoas estão ansiosas para ouvirem relatos do próprio Capitão América.
- Isso é ótimo, excelente na verdade - disse Pepper.
- Essa é a parte mais normal da nossa vida, meu marido com um emprego e eu estou grávida - Katie riu, apesar do humor não tem chegado aos seus olhos - Essa também foi a parte mais normal que o meu pai já teve.
- Vocês estavam sempre dispostas a voltar.
- Esse é o problema, mãe, nós nunca queriamos parar, mas sempre existia alguma coisa que nos impedia de continuar.