Capítulo 11

41 5 21
                                    

Thalita tentava se concentrar à aula, lutando contra a gravidade e o desejo indecente dos olhos de se fecharem, quando os smartphones de toda a sala começaram a vibrar, e, alguns, a tocar.

Imediatamente buchichos e comentários irromperam pela sala.

Alguns, ainda, atenderam, fazendo ressoar o característico "ALÔ", sussurrado, pela sala.

Sem necessidade, protestou a garota mentalmente. Um bando de idiotas, como se mostrar os aparelhos mais modernos, alguns até lançados naquele mês, fosse torná-los mais inteligentes.

Thalita sabia que, na verdade, eles tinham medo de alguém pensar que vieram da escola pública, como ela. O único objetivo da maioria ali era usar a advocacia para manter seu poder econômico, não se tornarem bons profissionais.

Thalita conferiu o seu, de forma discreta, quase encolhida em sua carteira.

Era uma mensagem de texto, não uma ligação...

"Que os jogos comecem", dizia.

Instintivamente ela olhou para seus adversários naquela disputa idiota.

O sujeito obeso era o único que escrevia algo, vidrado no visor do celular. Os demais pareciam importar-se pouco com o que leram.

Ou queriam que ela pensasse isso...

Letícia, ao seu lado, falava algo para ela, mas tudo começou a rodar.

Thalita levantou a mão, trêmula.

A professora, sentada, frustrada pelo conteúdo, já atrasado pela intromissão do dia anterior, e que, mais uma vez, não seria dado, o que não a impediria de cobrá-lo na prova, fez sinal com a mão para que Thalita se aproximasse da mesa.

— Posso sair um pouco? — pediu ela, visivelmente mais pálida do que o normal. — Não estou me sentindo bem e está muito barulho aqui...

A mulher jovem e muito bonita, sem entender além de "posso sair um pouco?", analisou a aluna com indiferença, apenas mais uma que iria desistir já no primeiro ano.

Conhecera várias do tipo.

Entravam na faculdade para agradar aos pais e, depois de pouco mais de um semestre, desistiam para tentar algo "mais condizente com seu perfil".

Como se isso existisse.

Ela mesma, quando adolescente, viu-se obrigada a fazer direito pelo pai advogado, acabou gostando do curso a ponto de se tornar uma das criminalistas mais requisitadas de Brasília. Além, é claro, do alto salário que ganhava por aquelas aulas.

Sem paciência, devido à enxaqueca que a acometia, apenas fez sinal para que a menina sumisse de sua frente.

O troteWhere stories live. Discover now