Capítulo 6

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Veteranos e calouros se transformaram em uma só turma quando o sinal tocou.

Bruno pretendia segurá-los para suas considerações finais, porém ninguém mais tinha paciência para ouvi-lo.

Levantaram e correram para fora, deixando-o falando sozinho. A maioria queria aproveitar os minutos finais do intervalo e, quem sabe, comer algo na cantina.

Thalita, no entanto, permaneceu lá, olhando para o palco.

Desolada.

Ferida.

Maldizendo a todos e, principalmente, a si mesma.

Ela estava sozinha, podia desabar.

Depois de ser ofendida.

Agredida.

Abusada.

O sinal tocou novamente, porém seu subconsciente não permitiu que se movesse.

As lágrimas insistiam em descer por sua face.

Malditas lágrimas.

Por que não paravam?

Por que ela não conseguia parar de chorar!?

Sua voz interior estava inconsolável.

Furiosa com que permitiu Thalita passar.

Devia ter descido do pedestal e arrancado os cabelos daquela vaca.

Seu subconsciente estava mais ofendido do que ela mesma.

Passou-se metade da terceira aula antes de a menina, sozinha no auditório, conseguir retomar o controle do próprio corpo.

Sua mente, entretanto, gritava que ninguém ali se importava com ela.

Que estava sozinha naquela cidade.

Voltou para a sala e sentou-se no mesmo lugar de mais cedo.

Todos a encararam quando entrou.

Sentiam pena.

Sentiam orgulho.

Sentiam raiva.

Cochichavam.

Riam.

Thalita, todavia, manteve-se trancada dentro de si.

Era como se um morto-vivo estivesse sentado em sua carteira.

Das duas horas-aulas e meia em que seu corpo esteve presente, ouviu uma ou outra palavra.

Havia um nó na garganta que a obrigava ficar longe.

Aquelas duas horas que permaneceu naquela cadeira pareceram durar centenas de anos.

O sinal tocou e seus colegas mais que rapidamente saíram às pressas, deixando o professor do último período falando sozinho.

Thalita ainda precisou de uns dois ou três minutos para notar que havia ficado sozinha. Mal ouviu o professor falar com ela. Na verdade, nem lembra de ter respondido que estava tudo bem.

O professor saiu da sala preocupado com a menina, mas precisava se apressar senão chegaria atrasado à escola distrital que dava aula nas segundas e quintas-feiras, no período da tarde.

Thalita saiu de seu esconderijo mental uns dez minutos depois de o professor sair do campus.

Levantou-se de sua carteira e saiu para o corredor, quase vazio na hora do almoço.

Apressou-se para sair o quanto antes do prédio e, depois, do campus.

Voltou andando, lentamente, para seu apartamento.

Enxugava o rosto a cada dez, quinze metros.

Já havia superado todo o estresse emocional causado pelos veteranos. Porém continuava irritada.

Não havia motivo para tanto sentimentalismo.

Passou pela portaria sem nem cumprimentar o porteiro.

Não tinha tempo para interrogatórios. Para a simpatia alienígena do porteiro.

Subiu as escadas correndo porque não queria ficar esperando o elevador. Não queria que ninguém que um dia pudesse falar com ela soubesse que chegou ao apartamento no primeiro dia de aula chorando como uma criancinha do maternal.

Não se deu ao luxo de fechar a porta.

Correu para o sofá, deitou-se e, segundos depois, dormiu.

O troteWhere stories live. Discover now